Não havia lágrimas em meus olhos, mas em meu coração. Algumas coisas não se disfarçam e são impossíveis de deixar para lá, porém tentamos afugentar isso com um sorriso.
Sempre achei que isso era impossível, mas percebi o quanto estava errada. Apesar de eu querer negar, somente eu sabia o quão mágico pareceu aquele último beijo. Enquanto os lábios dele estavam nos meus, os nossos corações batiam como um só. Mas ele escorregou entre meus dedos.
Só temos uma vida para viver e não temos tempo para desperdiçar, mas, às vezes essa ideia passava-se abatida, com toda a complicação que tem o mundo.
Eu tentava pensar e agir com a cabeça, porém meu coração falava mais forte e eu sinceramente não tinha forças para nada, por que sabia que mesmo negando, eu estava incontrolavelmente apaixonada por ele.


- Não, eu não posso simplesmente esquecer o que ouvi. eu disse nervosa.
- E porque não? perguntou Bruno.
- Porque essas coisas não são simples Bruno... Larissa disse.
Estávamos, os três, na casa de Bruno, discutindo sobre o que havia acontecido no fim do dia passado. Eu contara tudo e estava um pouco desanimada no domingo que seguia.
Eu entendia que não podia ficar assim e me prender a chorar, com tantos problemas que tinha a frente para enfrentar. Minha cabeça se embaralhava cada vez mais, como se tudo o que eu pudesse fazer era deitar e dormir.
Dormir parecia ser a solução de todos os problemas ultimamente, mas não gostava nada de fugir como uma covarde. A vida abriu as portas para mim desta vez, e isso foi brutal o suficiente para me derrubar de primeira. Mas eu não era assim. Eu nunca fui o tipo de pessoa que aceita o que a vida te dá. Eu sempre vou atrás do melhor para mim.
Depois da morte dos meus pais, minha vida mudou da água para o vinho, e eu ainda não tinha me acostumado com isso. Totalmente sem família, eu estava sozinha no mundo, forçada a enfrentar tudo o que a vida me mostrava a partir de agora, sozinha.
Sabia que tinha um emprego, mas essa não era a solução perfeita. Eu precisava me manter forte o bastante para trabalhar com Isabella, e eu mesma sabia que se não acontecesse, seria demitida.
Por mais que Miguel não estivesse ali, no país no momento, eu ainda gostava dele. E apesar de tudo o que vivi aqui com Thiago, sabia que no fundo ainda estava magoada com tudo o que tinha acontecido conosco na última vez que mantivemos contato.
Eu nunca vivi, e nunca nem imaginei estar em uma situação como está, dividida entre dois garotos. Nunca pensei que teria que passar por isso um dia.
Eu não sabia como resolver tudo isso. E por, provavelmente, o resto do dia inteiro, desejei que pudesse voltar no tempo e aproveitar os meus pais.
A responsabilidade de uma vida adulta me atingiu em cheio, toda de uma vez, e eu poderia sorrir o quanto fosse, sabia que o estresse estava ali, tomando conta do meu corpo todo, aos poucos.
Larissa e Bruno estavam ali, do meu lado, ajudando-me e me dando apoio, mas até eles sabiam que isso nunca seria comparado ao estar com a suavidade e proteção dos meus pais.
Na maioria do tempo, do que se passaram esse mês todo, eu falava tudo o que estava engasgado em minha garganta, e depois de uma ou duas palavras que os dois formavam, passávamos o resto do final de semana ali, deitados no chão, olhando o céu, no silêncio, e eu nunca, nunca mesmo, vou saber o que os dois pensavam tanto àqueles dias.