Câncer escrita por judy harrison


Capítulo 8
Intimação do Mal


Notas iniciais do capítulo

Então eu me virei para chorar. Logo me recompus. Afinal, como disse a doutora, o jeito era só esperar. E eu tinha certeza de que não seria uma espera longa, não mais.



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Intimação do mal--------


Quando soubemos que todos os procedimentos haviam sido feitos por Bete e que sua piora era um sinal de que devíamos nos conformar, tudo parecia começar a mudar.

Ver Bete com uma sonda estomacal em seu nariz e gemendo em agonia me desgastou, mas não tanto quanto aos seus entes queridos. Seus netos se revesavam para ficar com ela todas as noites e quando eu não estava, e Marta chegaria somente no fim da semana, Alberto havia ficado doente também afastando-a da cidade. enfim estariam todos ali para resolver coisas importantes sobre Bete no momento certo.

Foi assim que descobri que não era sozinha em minha má relação com a família, e também que vivemos em um mundo cheio de "laranjas podres". Marta já havia me falado sobre sua irmã, e eu estava vendo a mesma ali, a abraçar Bete, como se nunca a tivesse deixado. E ao saber sob quais circunstancias ela estava ali, avisei Célio. A revolta foi imediata por parte de todos. Eu mesma a repudiei ao vê-la. Por que nunca apareceu antes? E por que tiveram que arrasta-la para ver sua própria mãe? Eram assuntos que não me diziam respeito, mas algumas pessoas são tão prejudiciais que afetam até mesmo quem ouve falar sobre elas. E eu já me sentia afetada, até eu amava Bete mais do que ela.

Quando Marta chegou, quando estávamos apenas observando Bete e sua respiração, conversamos mais sobre ela. Muitas coisas foram ditas e reveladas, eu entendi que Marta compartilhou comigo, sem saber, o desprezo de uma família inteira, não fazia ideia do quanto eu a entendia.

Minha dúvida era se eu passaria pela mesma situação que ela.

Mas agora era inevitável que ela tomasse providencias, sabia o que estava por vir e parecia preparada.

Para mim não havia outra esplicação, ela tentava não desabar perto de seus filhos. Ela mesma me disse isso depois, disse que chorou muito depois de falar com a doutora.

Quanto a Bete, ali, apenas recebendo as medicações para controlar sua dor e o refluxo, começou a respirar com dificuldades. Notei isso logo depois que cheguei na última manhã e David se foi. Eu notei que seu corpo estava mais inchado e que ela de vez em quando parecia se sufocar sem ar e depois voltava a respirar, porém menos que antes.

A doença de Bete era do Peritônio, estava comprimindo o abdomen, fazendo com que os orgáos envolvidos por ele parassem de funcionar aos poucos. Naquela altura vários já estavam paralizados, e agora ela estava fria, não respondia mais como antes às nossas perguntas. Amigos chegavam para ve-la e eu não saia de seu lado.

Assim terminou mais uma noite, enquanto ela ainda respirava, ainda estava consciente, mas não fazia mais nada.

Fui embora quase certa de que não a encontraria mais viva. Era duro, mas eu tentava ser como Marta, forte e decidida, ao menos nessas horas, em que sou tão sentimental. Era difícil para mim em alguns momentos não pensar que ela ia morrer, por que eu estava ali o tempo todo e ela ainda conseguia achar meus olhos e sua boca se mexia, querendo falar.

Num dado momento eu pedi a ela que me dissesse o que fazer, mas algo que eu pudesse fazer, mas ela olhou para mim, fixou o olhar, e aquilo me cortou o coração. Então eu me virei para chorar. Logo me recompus. Afinal, como disse a doutora, o jeito era só esperar. E eu tinha certeza de que não seria uma espera longa, não mais. Só outro dia dirá agora, por que até agora não sei mais como ela está. Certamente contarei no próximo capítulo, quando terei vivido mais um dia com a família mais diferente que conheci.


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Notas finais do capítulo

Para quem está lendo essa história, eu a terminarei assim que as coisas acontecerem, o que certamente não está longe de acontecer. Questão de horas...
Obrigada pela leitura.



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