Fusion Art Online escrita por Snow


Capítulo 7
Rise of The Whip - I


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, eu sei que demorei DEMAAAAIS pra postar esse capítulo, mas tem todo um porquê, eu estava num bloqueio criativo enorme, e bem, os capítulos podem demorar mas nunca vão deixar de vir. Não planejo terminar FAO tão cedo, então espero que continuem sempre dando uma passadinha para ver se tem capítulos novos, pois vai ser normal eu demorar um pouco para postar.



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Um mês se passara desde aquele evento massacrante. Não é como se alguém se lembrasse, então não foi tão impertinente quanto deveria, embora não tenha deixado de ser.

Felizmente, tive amigos em quem me apoiar. Deste mês pra cá, mais chefes eram derrotados em detrimento de meu treinamento ao mesmo passo que a Army of Zero crescia e se renovava. Onde antes dava lugar apenas a um bar com mesas aqui e ali e um palco num salão, agora também cedia espaço a uma fonte de água, bem no centro do salão; o bar cresceu significamente, assim como o nosso palco, que, aliás, também ganhou mais efeitos de luzes, sons e tudo mais; as mesas se juntaram e se transformaram em uma mesa única, porém enorme o suficiente para que todos os membros pudessem se sentar; a construção do segundo andar terminou durante esse meio tempo, e agora podia-se fazer mais coisas por lá além de receber missões e juntar-se à guilda.

Capítulo VII: Rise of The Whip - I

Entre esse mês que se passou, as duas últimas semanas se resumiram a ficar exclusa da guilda. Não por que fiz algo de errado, mas por vontade própria – para que eu conseguisse liberar o meu segundo traço de personagem, era necessária terminar uma missão que durou todo esse tempo. Sentia-me exausta ao término dela, mas a visão de Hamada, um dia após o término, me confortou. Significava rever todas as pessoas de quem me excluí por todo esse tempo, inclusive de um certo alguém.

Ao longe, era possível notar o castelo renovado da minha guilda. Agora uma placa de madeira substituia o antigo letreiro. Enquanto eu me aproximava, os guardas me reverenciaram com um gentil “boa tarde”.

– Boa tarde – respondi. Os portões de aço, agora incrustados com algumas gemas, o que eu particularmente achei meio brega, abriram-se. - Caramba, isto aqui está enorme.

– Você acha mesmo? Ainda acho que, com um pouco mais de esforço, poderemos aumentar a capacidade ainda mais – cumprimentou-me a líder com o seu habitual cigarro em suas mãos. – Deu tudo certo na missão?

– Tudo ótimo. Além da experiência, recebi uma gorda quantidade em dinheiro. – O sorriso de orelha a orelha só confirmava a minha alegria.

– Meus parabéns – e fez um cafuné bagunçado na minha cabeça. – Agora você vai tomar um banho. Seu cheiro de sangue de animal e suor estão tampando o cheiro do meu cigarro. Vem comigo – puxou-me pelo braço até o segundo andar. Entrou numa sala que agora não era apenas a sua sala de líder, mas sim o seu quarto. Uma cama de solteiro bem arrumada estava no fundo, junto com um armário médio. Atrás da sua mesa, alguns títulos, troféus e medalhas estavam organizados num grande quadro pregado na parede e protegido por um vidro grosso. Abriu uma porta no canto da sala, do outro lado aonde a cama se instalava. – Divirta-se – e fechou a porta.

O banheiro era bem normal: logo à minha frente, um armário se instalava, com utensílios gerais para limpeza e um espelho portátil. Uma pia encontrava-se à minha esquerda, e o vaso sanitário à frente da pia. Virei-me para a esquerda para contemplar uma bela e espaçosa banheira, fechada por uma cortina e duas portinhas de vidro. Sem timidez, despi-me e me joguei nela. Fui obrigada a trocar a agua umas quatro vezes, pois ela sempre mudava a coloração para um tom de sujeira.

Não sei quanto tempo se passou, mas eu sabia que demorou bastante. Escolhi uma toalha, me sequei e usei-a como o meu vestido. Quando abri a porta, porém, a própria Lilioth me esperava, logo na porta.

– Agora você está bem cheirosa – disse Lilioth com um sorriso. – Toma, vista estas armaduras. Não são melhores do que as suas, mas estão mais cheirosas. É só até as suas ficarem menos… impregnadas. Agora vamos, vista-se.

Era uma armadura normal de brigantina que me deixava extremamente desconfortável pela falta de movimentação. As grevas também eram pesadas, mas pelo menos não precisei do elmo nem das manoplas. Saímos do quarto, seguimos pelo corredor estreito até o lance de escadas retas que nos levaram ao primeiro andar.

Notei que Laureen e Ash discutiam, mas não fui xereta o suficiente para descobrir do que se tratava. Acomodei-me numa mesa próxima, pois desta vez eu queria ser xereta o suficiente para descobrir do que se tratava.

– Você está roubando! – cuspiu o espadachim enquanto batia o punho direito no balcão.

Nani? Você só pode esta ven…

– O que me diz desse ás que acabou de sair dos sei… - quando percebeu do que se tratava, corou e virou o rosto enquanto pestanejava.

– Pare com isso, seu baka – xingou Laureen com as mãos na frente do decote.

Fui obrigada a segurar a risada, pois não queria descobrir como era receber um soco da Laureen; só o abraço era o suficiente para me sufocar.

Decidi dar uma volta pela guilda para me atualizar quando às suas mudanças. Enquanto checava as horas e a lista de amigos, porém, a Laureen percebeu a minha presença e me gritou.

Queria evitá-la, pelo menos por agora. Ela não tinha feito nada de mais, além de agir normalmente: ser bizarra. Virei-me até aonde a dupla estava, sem aparentar relutância.

– Oi, Laureen – respondi no meio do trajeto. – Como vai?

– Vou bem, e você? Como foi a missão? – Ajeitou-se na cadeira.

– Foi ótima. Comecei no nível 31 e agora estou no 42 – sorri, ainda orgulhosa de mim mesma.

Sugoi – percebi que estava checando os meus equipamentos e status – Você já conseguiu chegar ao máximo de habilidades com a Kula!

– E você, também treinou bastante? – indaguei.

Hai! Eu já estou na segunda classe…

– M… mas já? – Não pude deixar de expressar a minha surpresa.

– … porém, eu ainda fui lerda. A Lili-sama já chegou na terceira – concluiu enquanto limpava um caneco.

Meu queixo caiu e os meus olhos fitaram o chão. Era como se eu me vangloriasse por levantar um pedregulho pra quem já tinha destruído o quíntuplo do tamanho. Não, não é possível. Como elas evoluiram tão rapidamente?

– M-Milady? – Introduziu-se Ash à conversa que, até o momento, só observava. Segurou uma das minhas mãos.

– Todo o meu esforço foi insuficiente e em vão…

– É claro que não foi em vão, milady. Você é a quarta mais forte de toda a guilda – afirmou, numa tentativa de consolo.

– Poderia ser a primeira – respondi num tom bruto.

– Neste caso, basta se esforçar mais, e conseguirá chegar lá.

– Tudo bem, tudo bem – respondi, impaciente.

Foi só depois que eu processei direito o que me falaram. Se eu era a quarta, e tanto a Lilioth quanto a Laureen eram, supostamente, as duas primeiras, quem seria o terceiro indivíduo? Pensar nisso só me deixou mais desanimada.

Minha impaciência e tristeza só se desfizeram com a chegada de Ragel e Jin. Gritamos um pelo nome do outro e nos abraçamos com tanta força que me senti como se eu fosse o elo de uma corrente. Fomos interrompidos por um agudo alto vindo de Lilioth. Não foi ela quem gritou, mas ela retirou o microfone da base com tanta força que meu ouvido ficou piscando por um bom tempo.

– Opa, foi mal – desculpou-se com uma pequena risada. Deu uma última tragada no cigarro, amassou-o numa pilastra de ferro que estava ao seu lado e soltou a fumaça pela boca. Limpou a garganta e quase escarrou até se lembrar daonde estava. Puxou um lenço, cuspiu e dobrou-o para enfiá-lo no bolso. – Primeiramente, gostaria de agradecer pelo esforço contínuo de vocês, durante este mês que passou. Lembrem-se de nunca abaixarem o ritmo, pois o topo é o que almejamos. Dois meses separam o atual momento da guerra das guildas. Vamos dar o nosso melhor! – levantou o seu cajado para que todos gritassem em resposta. – Além disso – o público se silenciou -, gostaria que o grupo mais forte se aproximasse. – Usou o seu cajado mais uma vez, agora para apontar pra gente.

Ao nos entreolharmos, notei como eles, assim como eu, estavam surpresos, o que me deixou mais aliviada. A líder precisou bater o cajado no chão com força para que acordássemos para o mundo real. Assentimos para nós mesmos e começamos a abrir espaço em meio aos membros, que nos receberam com assovios e gritos de encorajamento.

– Primeiramente, parabenizo-vos pelos esforços e peço para que continuem dessa maneira. Segundamente – girou o grande cajado entre os dedos como se estivesse girando uma bola de basquete sobre o indicador -, tenho uma missão para vocês. Os portões de Castorian ainda estão trancados por algum chefão fedorento, e alguém tem que fazer o trabalho sujo.

– Considere-o morto - respondeu Jin. - Partiremos ao amanhecer - acrescentou.

Tchá, max... – Ragel percebeu que falar com um pirulito na boca não daria certo. - Você sabe o caminho para lá?

– Eu já treinei por aquelas bandas. Leva uma quatro horas de trem - respondi enquanto brincava com um cubinho de gelo.

Estava tudo combinado, então. Nos encontraríamos na frente da guilda de manhã. Enquanto íamos embora, destruí o cubo de gelo anterior, criei outro e modelei-o na forma de um anel que se encaixou perfeitamente nos meus dedos.

[2 de Outubro de 2030 | Entrada do Castelo | 09:15AM]

Já estava esperando os dois há um bom tempo. Não lembro há quanto tempo exatamente, mas meu tédio chegou ao ponto de eu criar um banco, similar àqueles de praças, de gelo. Já estava quase me deitando nele, quando um feixe de luz apareceu diante daonde eu estava. Dele, materializou-se Jin, que eu não sabia se estava com sono ou se era apenas a cara habitual dele.

– Bom dia – saudei, enquanto me levantava para ficar sentada.

– Bom dia... - bocejou. Foi só quando fechou a boca que percebeu no que eu estava sentada. - Foi... você quem criou? - Mesmo com o espanto, era pedir demais que os seus olhos subitamente deixassem as suas características asiáticas de lado, mas pelo menos foi o suficiente pra declarar que ele estava sonolento até então.

– Sim, por quê?

– Suas habilidades aumentaram mesmo. O que você está fazendo?

– Tô tentando criar um sorvete, fiquei com vontade.

– Vai criar o sabor também? Essa é boa - eu não havia pensado nisso, pra falar a verdade. Fiz uma cara de emburrada. - Me vê um de napolitano, já que é assim - brincou. Por isso, teria recebido uma pedra de gelo na cara, se não tivesse se esquivado - Você não foi a única a melhorar - e riu, o que me deixou mais emburrada ainda.

– Veio pra ficar tirando sarro de mim?

– Ah, agora você vai chorar? Tome um sorvete pra esfriar a cabeça - provocou com um sorriso de debilóide.

– Prefiro congelar a sua língua - respondi.

Esperem – gritou uma terceira voz – por mim!– Olhamos para a direção do grito apenas para controlarmos a risada, não por muito tempo. – Parem de rir de mim!

O cabelo de Ragel estava todo armado para cima, como se tivesse passado gel pelo cabelo todo. Além do mais, parecia estar extremamente sujo, a julgar pela coloração escura que o cabelo havia adotado.

– O que diabos você fez no seu cabelo? – Perguntei, tentando manter-me sã.

– Tropecei na gosma de um coelho-gosma, de cara – bradou. - Quando eu tentei arrumar, só piorei a situação e agora a gosma secou – sua voz gradativamente mudou para uma voz chorosa ao percebeu que Jin já estava sentado e batendo as mãos no chão, numa tentativa de parar de rir. – Dá pra parar de rir e me ajudar?

– E tocar nessa coisa gosmenta? Não, obrigado – respondeu, após juntar um grande esforço e parar de rir um pouco. - Aliás, você disse que tentou arrumá-lo, não foi? Não me cumprimente, por favor – voltou a gargalhar ao perceber que a cara dela só tinha piorado.

– Melhor você tomar um banho – sugeri, e ela aproveitou a boa desculpa para sair correndo para a entrada. Os guardas abriram os portões, mas não sem deixar de estranhá-la.

Mesmo depois dela ter ido embora, Jin continuava a rir. Demorou um tempo até que ele resolvesse parar e de fazer piadas. Demorou mais um tempo até que a Ragel voltasse, dessa vez com o cabelo solto pelos ombros. Seguimos andando pelas ruas da cidade até a saída norte a caminho de Glorian, pois era lá aonde pegaríamos o trem para Castorian.

Passamos por vários iniciantes combatendo uma infinidade de monstros sob uma fina garoa. Um deles pisou num buraco provocado pela lama e se assustou com a realidade que o jogo trazia ao perceber que quase torcera o tornozelo.

Pensar sobre a realidade do jogo me trouxe à tona alguns pensamentos. O ferimento, as mortes, mas, principalmente, como as pessoas se acostumavam tão facilmente a tudo isso. No meu caso, demorou até que eu percebesse até aonde realmente ia, mas grande parte das pessoas provavelmente também não sabem. Isso também me fez pensar sobre como nunca mais ouvi falar sobre eventos de PvP.

Todos esses pensamentos me carregaram até a estação ferroviária de Glorian, aonde embarcamos até um vilarejo próximo.

– Roswell é como se chama – apontou Jin no seu mapa. – Por onde seguiremos, quando desembarcarmos lá?

– Por que o trem não para direto em Castorian? – Perguntou Ragel, ingênua, enquanto retirava um pacote de doces do inventário.

– Porque Castorian está bloqueada, burrinha – respondeu Jin em tom de zombaria.

Eu me senti excluída da conversa entre os dois; achava a paisagem ao meu redor mais interessante do que uma discussão sobre quem é a pessoa mais estúpida. Passamos por florestas repletas de pássaros que gorjeavam e tomavam conta da nossa audição; planícies que iam até aonde o horizonte podia ser visto; passamos por cima de um rio cuja correnteza era fraca o suficiente para que não destruísse as vigas que suportavam as pistas de ida e volta. Após uma floresta menor do que a anterior, o trem começou a diminuir a velocidade. Um pouco depois, estávamos descendo em Roswell.

A cidade em si era rústica: as casas eram feitas de peças enormes e coladas de mármore que não davam a impressão de que seriam retiradas tão facilmente, além de não comportarem muitas janelas. Em sua maioria, elas chegavam apenas ao primeiro andar, ao passo que os telhados eram todos retos e à base de carvalho. As ruas eram meio vazias, como se já não fosse suficiente a cidade ser relativamente pequena, e as suas muralhas se extendiam a uma altura média de seis metros.

– Segundo o mapa, precisamos seguir rumo aos Campos Negros – apontou Jin mais uma vez.

– Melhor alugarmos montarias até lá – sugeri.

Nos deparamos com mais casas feitas de pedras e carvalho e uma exceção à regra: um grande castelo negro que ostentava uma bandeira, provavelmente uma guilda. Não nos interessou o suficiente para ir até lá e visitá-lo, porém.

Andamos até a saída norte, aonde os estábulos se localizavam, e tanto o Jin quanto a Ragel tiveram uma pequena surpresa, ao chegarmos lá:

Parecia-se mais com uma creche para garotinhas.

Era inteiramente rosa-choque, com arcos de entrada em forma de laços e arco-íris. A grama ao redor do local parecia mais verde do que deveria ser, embora tamanha verdura só se limitasse até aonde os cavalos podiam ficar. O molde das janelas era colorido e baseado em balões de pensamento e o telhado terminava a decoração com uma cor carmesim.

– Aqui estamos – disse, numa tentativa de quebrar o clima desconfortável - no Estábulo da Candace.

– Até o nome da pessoa é infantil – debochou Jin.

– Não fala assim… Até que ele é fofinho. – Ragel segurava um pirulito à moda antiga nas mãos. Viramo-nos pra ela pra ver se estava mesmo falando da casa, mas ela estava acenando para um pônei que relinchava à direita da entrada. Quando percebeu os nossos olhares, ficou desconcertada. – Vamos entrando logo – desconversou, e logo depois começou a nos empurrar para dentro da casa.

Mais paredes rosas se mostravam presentes no interior do local. Tanto rosa fez os meus olhos arderem um pouco, mesmo quando eu tentava encarar o pequeno balcão de madeira aonde Candace organizava as suas vendas, sentada numa cadeira logo atrás. Seus cabelos loiros eram repartidos por dois rabos de cavalo, cada um de um lado, similar a uma chiquinha, e trajava um vestido de lolita roxo com detalhes pretos. Seu rosto, além dos olhos azuis, tinha traços tão leves que quase te convencia de que ela era mesmo uma criança. Uma tiara prateada se posicionava ao lado do caixa aonde o dinheiro das vendas era protegido.

A vendedora levantou o seu olhar ao perceber a presença dos clientes. Logo depois, um sorriso brotou na sua face.

– Yuki! Oh, puxa, há quanto tempo! – Levantou-se, deu uma volta na mesa e ofereceu-me um aperto de mão que mais pareceu um puxão.

– Quatro dias não é muito tempo - respondi, desajeitada, enquanto me livrava das suas mãos.

– Pra mim, isso é uma eternidade, nessa cidade pequena. – Olhou para Ragel e Jin, cada um do meu lado. - Vocês devem ser os amigos dela, não é? Bom, eu já dei minhas boas vindas, mas ainda não me apresentei. Sou Candace, a dona do estábulo.

– Sou Ragel – introduziu-se educadamente.

– E eu sou Jin – acompanhou, que parecia meio incomodado com o barulho de lambição feito pela Ragel, ainda com o seu pirulito.

– Ah, o prazer é todo meu – respondeu a vendedora, sorridente. – Suponho que tenham vindo até esta cidade monótona para alguma coisa?

– Nós gostaríamos de comprar três montarias de curta duração – respondi.

– Ah, dessas eu tenho de monte. Venham, mostrarei-lhes a minha vitrine.

Uma porção de anéis com desenhos de animais estavam organizados dentro de uma vitrine. No final, pagamos e saímos a nordeste da pequena cidade: eu, com um enorme coelho roxo com uma sela negra; Jin, com um urso polar com uma sela de couro; finalmente, Ragel, com um urso panda com uma coroa e sela douradas e um pirulito semi acabado. A duração máxima de cada um era de seis horas, tempo mais do que o suficiente.

A estrada era normal, embora ela fosse rarefeita em alguns trechos. Uma floresta média se extendia pelas nossas extremidades. Já era mais ou menos meio dia, a julgar pela posição do sol no céu. A floresta acabava próxima a um rio, e uma pequena ponte de metal se mostrava necessária para atravessá-lo. Seguí-lo pela direita significava dar de cara com uma cachoeira imponente e incrivelmente alta. À esquerda do seu trajeto, ele se extendia até o final do horizonte. Logo à frente, a floresta continuava até certo ponto. Agora apenas planícies e um leve gramado testemunhavam a nossa viagem, com algumas borboletas e abelhas a passear pelos campos, até que finalmente começamos a avistar a ponta de uma muralha.

A cidade de Castorian se clareava ao passo que nos aproximávamos de suas muralhas – e quando eu digo isso, estou me referindo aos detalhes, desenhos e quaisquer outras coisas que as muralhas e talvez edifícios ainda maiores podem adotar -, que parecia contar histórias sobre o local em forma de desenhos e placas embutidas nela. As muralhas pareciam alcançar uns vinte metros, mas os portões só a acompanhava até três quartos da sua altura. A parte superior apresentava algumas cabeças de leões.

– Castelo de Cheverny – reconheceu Ragel, enquanto observava o gigante de pedra.

– Mais um lugar com aspecto francês? Que estranho – comentou Jin. – Que tumulto é aquele, na porta do castelo?

– Eu vou checar – ofereceu-se Ragel, de imediato. Pulou de sua montaria que se desmaterializou logo em seguida e moveu-se até a multidão.

No meio do caminho, porém, tropeçou em uma pedra e caiu de cabeça na coluna de alguma coisa realmente muito dura. Achamos que ela estaria em problemas, portanto, nos aproximamos, ainda em nossas montarias. O rapaz em quem ela tropeçou tinha cabelos rubros e parecia vestir uma armadura platinada, o que explica o grito que a Ragel deu ao bater a cabeça. Por sorte, não cabeçeou as escamas que emergiam das manoplas e das grevas do rapaz. Alguns acessórios e itens de emergência estavam afivelados na sua cintura. Ouvi-a sussurrar algum pedido de desculpas, e logo depois veio a resposta:

– Não me parece normal ser atingido por uma maluca que mal sabe andar – resmungou.

Ragel Pov On

– Eu tropecei, tá? Ou vai dizer que nunca fez isso na vida?

– Só quando eu era desajeitado, que nem você é – grunhiu e virou-se. Bufei, mas logo em seguida virei-me na direção do rubro à minha frente. Uma espécie de panfleto estava colado nas paredes do castelo com o desenho de uma arma, e eu já sabia o que fazer.

Peguei um objeto parecido com um moldador. Com magia, o objeto poderia se transformar no molde que eu quisesse. A partir dali, era só utilizar alguns materiais semelhantes à imagem. Apanhei um pouco de vidro, cimento e couro fervido e moldei à sua semelhança. Não parecia ter nada com gemas, o que facilitava o meu trabalho. Agora a arma estava pronta, e agora bastava enganá-lo.

– Por que toda essa amontoação? – perguntei, ingênua.

O homem ruivo virou-se e me encarou. O seu rosto carregava uma cicatriz horizontal na testa e outra no maxilar, que dava um aspecto quase que sombrio ao seu rosto quase quadrado e de olhos negros.

– Veio pra cá sem saber? Deveria ter suspeitado de que era uma gatuna de baixo nível – grunhiu mais uma vez. Toda aquela resmungação deixava Ragel cada vez mais ansiosa para enganá-lo.

– Você é durão demais pra minha conta – reclamei.


– É sobre aquela arma – ignorou enquanto apontava o indicador para o panfleto. Era um chicote, que poderia também ser usado como uma Morning Star¹, com um metal de dois gumes que prendia o corpo da arma e a bainha. As correntes eram mais grossas do que o normal, além de possuírem pontas espalhadas pelo seu corpo e, na sua ponta, um crucifixo tomava o lugar do tradicional globo de metal pontudo, que parecia ser extremamente afiado nas suas extremidades.– Todos estão tentando conseguí-la.

¹ Uma arma medieval que consistia em uma maça ou clava, cujo corpo era feito de carvalho, metal ou correntes, e cuja ponta era um metal mortalmente pesado e espinhoso.

– Nada melhor do que uma arma à sua altura, não acha? – prossegui.

– Do que você está…

Ragel puxou a arma antes que ele pudesse falar alguma coisa a mais. Os seus olhos negros se exaltaram com a visão do crucifixo, das correntes, a um ponto que pediu para segurar a arma. Aquilo parecia ter realmente atraído a sua atenção…

… mas não por muito tempo.

O homem girou a arma e avançou-a contra o chão, destruindo-a em pedaços e chamando a atenção de algumas pessoas ao redor.

– Uma arma de vidro? Acha mesmo que eu sou estúpido como você, sua gatuninha de merda? – Deu um passo à frente, e eu recuei, preocupada.

– C… como você percebeu? – indaguei.

– Quando alguém conseguir a verdadeira arma, este castelo desabará. Além do mais – prosseguiu -, dificilmente alguém como você conseguiria esta arma tão facilmente, quanto mais sair vendendo-a por aí.

– Quem você acha que é para me medir? – bradei.

– Oh, eu ainda não me apresentei – sua expressão rabugenta mudou para um sorriso sensual. Esfregou os cabelos para trás. – Chamo-me Caster.

De repente, ele ficou educado, pensei. Qual é a dele, afinal?

– É o dever de um guerreiro se apresentar aos seus serviços com alegria e boa educação, pelo bem da justiça – proclamou enquanto batia a mão no peito.

-Garoto... Você é retardado?! - Estranhei o jeito bipolar do ruivo e como se voltasse a me ignorar, virou-se e voltou a encarar o cartaz novamente.

– Quem era o ruivo? – Ouvi alguém perguntar. – Estava dando em cima de você, não é? – Uma segunda voz de risada tomou conta dos meus ouvidos.

– N-não é nada disso! Ele é… um esquisito – exclamei. A minha mente, como que se estivesse contribuindo com a brincadeira, começou a voltar a cena em que ele sorriu e esfregou os cabelos levemente.

– Ela está tão vermelha quanto o cabelo do cara – adicionou Jin, e agora os dois rindo e apontando pra minha cara. Falando nela, eu não sabia aonde enfiá-la.

– Qual era o nome do seu galã, hein? – Indagou Yuki, vermelha de tanto rir.

– Caster, mas no que isso importa? Vamos parar de falar dele – berrei, descontrolada. O ruivo olhou para mim ao ouvir-me citando-o, deu uma piscadinha, e virou-se novamente, o que não ajudou em absolutamente nada, no meu caso.

– Vamos voltar ao nosso objetivo – disse, impaciente após dois minutos de risadas.

Levou mais alguns segundos até que parassem e descessem das suas respectivas montarias.

– O que você descobriu? – Perguntou Jin.

– É um evento que vale uma arma original de personagem – respondi.

– O que é isso? – indagou mais uma vez, confuso.

– Armas originais são equipamentos baseados no personagem que você escolheu. Por exemplo, aquela arma é do Castlevania – Lord of Shadows.

– Então eu posso conseguir uma arma do Hei, do Darker than Black?

– Se você pôde escolher, sim, você pode, em algum outro evento. Pena que ninguém conhece esses animes de quinta categoria…

– Eu conheço – gritou uma outra voz.

Viramo-nos para descobrirmos Laureen, que corria atrás deles com o seu cabelo rabo-de-cavalo partido em dois. A sua roupa…

– Vim buscar vocês dois – agarrou os braços da Yuki e do Jin, antes que eu pudesse processar alguma coisa. – Até mais, Ragel-chan! – saiu em disparada, sem dar brecha para eles se soltarem.

– Como assim? Eu também faço parte do grupo! – gritei, mas sem sucesso. Como que para contribuir com o momento, um silêncio pairava no lugar. Virei-me, aflita por pensar que estavam olhando para mim, mas o foco estava numa mulher que descia dos céus.

As suas asas de borboletas batiam exaltada e vigorosamente, ao passo que purpurina era exalada delas. Trajava um vestido de seda branca e prateada enquanto um outro pedaço de cetim dourado começava numa extremidade do seu vestido, flutuava em forma de arco por trás de seu pescoço e terminava do outro lado. Seus grandes cabelos prateados estavam de pé – talvez por isso carregava uma tiara dourada em uma das mãos -, enquanto a sua outra mão segurava com firmeza um cajado cuja ponta superior apresentava uma esfera com asas abertas. Seus olhos esmeralda e lábios finos encantavam até mesmo a mim. Pousou ainda em pleno ar para se apresentar.

– Jogadores do Fusion Art Online, eu sou Ninfia Fairybell, a administradora de eventos e passatempos! – Uma chuva de gritos eufóricos fora dirigido a ela. O seu rosto corou levemente e a sua boca insistiu-a a prosseguir. - Gostaria de agradecê-los pela sua presença e paciência. Como muitos devem saber, este evento terá como recompensa a Combat Cross, uma arma do personagem Gabriel Belmont, do jogo Castlevania – Lord of Shadows. O objetivo é simples: recolham e me entreguem as três peças da Máscara de Deus. – A mulher levantou o seu cajado aos céus. – O evento começará… - uma luz no seu cajado vacilou e então acendeu-se intensamente. Os portões do castelo estavam agora abertos. - … agora!


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Notas finais do capítulo

Obrigado por terem lido, e desculpem mais uma vez a demora.



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