Over And Over escrita por Factory Girl


Capítulo 3
Be nice to Damon.


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores, acho que eu não demorei tanto assim, demorei? Demorei? É, demorei um pouquinho sim... Mas já não importa, porque aqui estou eu, e eu trouxe um capítulo escrito e revisado pra vocês!!
Então, sem mais delongas, espero que gostem!!



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Meu pai gritava. Eu podia ver sua boca se movendo. Mas a água o estava levando também, e eu não conseguia ouvir nada do que ele tentava me dizer. Meus olhos pesavam, como se pedindo para serem fechados, e eu queria isso desesperadamente, mas também queria entender o que ele se esforçava tanto para me dizer, e por isso os mantinha abertos.

Era difícil, porém, com a água agitada a minha volta, e levei alguns segundos até perceber que, se queria que a água parasse, eu precisaria parar de me debater como estava fazendo de modo completamente inconsciente.

No momento em que me acalmei completamente, ficou mais fácil ler seus lábios. “Elena” foi a primeira palavra que identifiquei, e pelos segundos seguintes, foi a única. Assenti, dizendo a ele que entendia o que estava dizendo, pedindo para que continuasse. As únicas palavras que se seguiram foram “eu te amo”.

Nenhuma acusação, nenhum pedido, nenhuma brincadeira. Apenas isso. Eu te amo. Briguei comigo mesma por ter duvidado disso em algum momento, e assenti suavemente, retribuindo suas palavras enquanto sua mão se agarrava à minha e eu via a esperança se esvair de seu olhar, com um pequeno aceno de cabeça, indicando para que eu também parasse de lutar e aceitasse a morte eminente, mas eu não queria.

Direcionei um olhar em direção à minha mãe, inconsciente, desde o momento em que o carro atravessara a mureta de contenção da ponde Wickery.

Então era assim que tudo ia acabar? E tudo seria culpa minha?

Se era assim que ia ser, então era melhor que eu morresse. Quer dizer, eu nunca poderia viver com a morte de ambos os meus pais nas costas. Se morresse agora pelo menos nunca teria de lidar com os efeitos da culpa. Então eu morreria.

Mas se eu já havia tomado essa decisão, porque continuava a me debater, ignorando a pressão dos dedos de meu pai nos meus, batendo no teto, forçando as janelas, gritando por socorro e comprometendo assim os últimos resquícios de ar que me restavam?

Apenas uma pequena parte de mim sabia a resposta. Aquela que estava alheia a qualquer decisão racional que meu cérebro pudesse tomar em um momento como esse, governada pelo mais básico dos instintos.

Sobreviver.

Porque, não importava o quanto eu soubesse que me arrependeria depois, o quanto eu desejaria ter morrido ali, e como me sentiria solitária quando percebesse que não tinha mais ninguém. Tudo o que eu queria era sobrevier...

Mas eu não podia, porque algo me puxava pra baixo. E não era o cinto de segurança, ou mesmo a estrutura de metal, pesada e completamente submersa.

- Você não merece viver. – Parei de bater no teto por um instante, me virando para todos os lados, procurando por alguém que pudesse ter dito aquilo. Meu pai e minha mãe estavam imóveis, seus olhos fechados, os rostos lívidos... O som não teria como ter partido dali. Mas então de onde mais teria vindo?

- Você causou tudo isso. Você devia morrer aqui, com eles. É tudo culpa sua. – Era uma voz conhecida. Eu tinha certeza que se me esforçasse seria capaz de descobrir de quem era, mas eu não conseguia. Não conseguia me esforçar, porque minhas forças estavam sendo tiradas de mim, sugadas cada vez mais rápido.

- Você merece morrer... Eles morreram. Você os matou. Matou todos eles. Todos os três... E sobreviveu... Mas talvez ainda consiga consertar isso. ­ – A voz grave e rouca continuava, mas eu não queria ouvir nada daquilo. Estava perdendo o foco e a força, e minha mente tentava se render ao estupor enquanto eu ainda lutava como podia para escapar.

- Não! – eu gritei, como se pudesse assim espantar o que quer que insistisse em dizer aquelas coisas para mim. – Não! Não é verdade! Vai embora!

Minha voz estava começando a ficar embargada, mas no meio da água corrente do rio minhas lágrimas não eram visíveis.

- Vai embora, eu não quero você aqui! – gritei mais uma vez, a ninguém em particular a quem dirigir essas palavras. Mas eu as gritava, mesmo assim, na esperança de que aquilo fosse embora, seguindo essas palavras com vários berros inteligíveis que só tinham a intenção de espantar a coisa.

*****************************************************************************

- Não­! – gritei, me levantando abruptamente, levando a mão à cabeça e respirando com dificuldade, ingerindo grandes lufadas de ar, desesperadamente.

Tinha sido só um pesadelo. Só um pesadelo. De novo. De novo, o mesmo pesadelo...

Olhei em volta rapidamente, tirando os fiapos de cabelo que se grudavam à minha testa graças ao suor com a mão, ainda arfando. Não havia ninguém ali. Nunca havia.

Era por isso que eu continuava a dormir no meu quarto na maior parte das noites, mesmo depois de Elijah e eu já estarmos casados. Meus pesadelos... Eles nunca paravam, e minhas reações eram tão intensas que normalmente, ao ver ele ou quem quer que fosse perto de mim, o desespero aumentava ainda mais, e eu tendia a me afastar, ou então atacar. Era como um animal selvagem com medo. E no final, eu não era mais do que isso mesmo.

Era por isso que nunca tinha ninguém lá quando eu acordava. Era por isso que ninguém nunca me acordava de manhã, deixando essa tarefa para o despertador, que não sentia dor ao ser atirado contra a parede. E isso era bom, de certo modo. Eu detestava assustar as pessoas, ou feri-las na pior das hipóteses. Se aquilo era assustador para mim, imagine para elas?

Então eu os mantinha longe. Já que não conseguia manter os pesadelos afastados.

Só um, na verdade. O acidente que matara meus pais.

É claro que nem tudo era real ali. Em meu pesadelo meu pai tentava me manter quieta, quando na realidade havíamos chego à conclusão de que no debater não adiantaria juntos. Em meu pesadelo Stefan não aparecia e me salvava; eu era sufocada e me afogava aos poucos, sendo desmotivada a lutar cada ver mais por aquela voz tão familiar, que me trazia todas as verdades que eu não queria ouvir...

Uma batida leve na porta me fez pular, sobressaltada, me desviando das reflexões que me tomavam com mais frequência do que o normal ultimamente.

- Pode entrar – gritei, me esticando para pegar um elástico na mesinha de cabeceira, prendendo meu cabelo, molhado na nuca, em um rabo de cavalo alto e frouxo.

Stefan abriu a porta um pouquinho, espiando por uma fresta antes de entrar, sorrindo amplamente, como sempre.

- Olha só quem acabou de acordar – disse, fechando a porta atrás de si e caminhando em direção à cama.

- Não precisa fingir que você não me ouviu gritar – respondi, fazendo uma careta, ciente de que meus gritos repercutiam por toda a casa.

- Até que você não fez tanto barulho dessa vez – disse, se sentando na borda, por cima dos cobertores.

- Dessa vez – ressaltei.

- Continua assim tão ruim? – perguntou, seu sorriso desaparecendo e dando lugar a uma carranca séria.

- Eles nunca vão parar, Stefan. Você sabe disso.

Um silencio pesaroso se instalou entre nós. Ambos sabíamos que aquilo era verdade. Mas não havia o que fazer, nem o que dizer a respeito.

- Então, soube que estão tendo problemas pra conseguir um segurança pra você – disse, mudando rapidamente de assunto, o sorriso se esgueirando em seus lábios novamente. Me permiti fazer o mesmo. Era quase impossível não sorrir quando ele sorria.

- Você conhece Elijah... Ciumento demais, possessivo demais... Assim fica difícil – falei, revirando os olhos e me atirando contra as almofadas e travesseiros que eu sequer havia me dado ao trabalho de tirar quando me deitara.

- Então acho que vai ficar feliz em saber que recomendei meu irmão – disse, me fazendo levantar as sobrancelhas.

- E pode me explicar porque um Salvatore trabalharia de guarda-costas?! – inquiri, debochada.

Aquilo era completamente ridículo, porque a família de Stefan era quase tão rica quanto os Mikaelson.

- Damon é... estranho. Ele não gosta de ser um Salvatore. Não quer depender de nossos pais e decidiu se tornar independente da pior forma possível – disse, suspirando. Percebi que o sorriso abandonou seu rosto completamente por um par de segundos, mas no instante seguinte já parecia tão alegre que deixei passar. – Mas você vai gostar dele. Eu acho.

- Uma versão maior de você? Quanto tempo acha que eu aguento? – ri, recebendo um olhar acusador em resposta, seguido por um dos macios travesseiros sendo erguido e depois lançado contra meu rosto, provocando uma enxurrada de risadas, minhas e dele, a medida em que os golpes de brincadeira continuavam.

- Retire o que disse! – exigiu, mas eu não conseguia formar palavra alguma em meio às penas que me sufocavam e às risadas, que não paravam. – Retire o que disse!

- Tudo bem, tudo bem! – exclamei algum tempo depois e ele parou, me dando a oportunidade de respirar fundo antes de continuar. – Eu retiro... retiro o que disse. – falei, ofegante, e Stefan largou o travesseiro na cama, se atirando no colchão ao meu lado.

- Além do mais, se ele for tão bom em salvar a minha quanto eu sei que você é, estarei segura – acrescentei depois de passarmos algum tempo regularizando nossas respirações.

- Nisso você tem razão, Gilbert – concordou, simplesmente porque não havia porque dizer que não. Stefan era e sempre seria o único motivo pelo qual eu estava viva, apesar de nunca ficar muito confortável quando o assunto era abordado. Eu também não ficava, e o entendia.

7 anos e meio atrás, quando eu tinha 17 anos e tinha fugido de casa para ir a uma festa; quando minha maior preocupação era decidir o que queria para meu futuro e esse era o motivo de eu ter brigado com um ex namorado do qual eu já nem lembrava mais o nome; quando eu ligara para meus pais no meio da noite, pedindo para, por favor, virem me buscar, porque eu queria ir pra casa, eu só queria ir pra casa...

Eu nunca teria imaginado que, naquela noite, estaríamos na Ponte Wickery, por minha culpa; nem que, por algum motivo, o freio fosse falhar; nem que, pelo que alguns chamariam de milagre e outros de destino, Stefan estaria passando naquela mesma ponte, dirigindo em direção à casa da família, em uma visita de fim de semana.

E tinha sido assim que eu tinha sobrevivido. Por um golpe de sorte. Pela coragem de Stefan.

Nunca mais tínhamos nos falado, depois do dia seguinte ao acidente, quando eu pedi para vê-lo, ainda no hospital.

Eu agradeci, e sabia que não tinha sido convincente, simplesmente pelo fato de que não tinha pelo que agradecer.

E ele voltara para a faculdade, em Nova York; e eu viera para Nova York; e continuamos sem nos encontrarmos até Elijah e Rebekah entrarem em nossas vidas.

Elijah me encontrara e Stefan encontrara Rebekah.

Nós nos detestávamos, Rebekah e eu, mas não fazia diferença. Se Stefan estava feliz, e se eles estarem juntos significava que nos veríamos com frequência, era o suficiente para mim.

Eles estavam juntos ao que já eram 5 anos agora, e eu ainda podia me lembrar de como tinha sido nosso primeiro encontro, no dia em que ela o trouxera para que Elijah o conhecesse.

- Sabe que vai ter que se casar com ela qualquer dia, não sabe? – perguntei, só depois percebendo que nada do que eu estivera pensando fora dito em voz alta e de que Stefan provavelmente não fazia a mínima ideia do que eu estava falando. – Com Rebekah, quero dizer. Já faz 5 anos... Vai ter que pedi-la em casamento, mais dia menos dia.

- Eu sei – suspirou, me fazendo rir ao fazer uma careta. – Mas isso não quer dizer que não posso enrolar um pouco mais.

- Qualquer dia desses ela vai se cansar de esperar, sabe... E você vai ser escorraçado de Manhattan por algum motivo besta... – conjecturei, rindo cada vez mais conforme sua expressão ficava cada vez mais sofrível.

- Acha mesmo que ela daria um jeito de me colocar pra fora? Quer dizer, você ainda ta aqui... Se vai me colocar pra fora, por que não colocou você?

- Oh não, a sua situação é completamente diferente da minha. Ex-namorado é muito mais grave do que cunhada irritante. É muito mais provável que ela solte os cachorros em você, já que...

- Stefan! Cadê você?! – A voz de Rebekah me interrompeu, vindo de trás da porta, ficando mais próxima no corredor.

- Falando no demônio – murmurei, me levantando para abrir a porta. – Aqui, Rebekah – falei, com um sorriso que julguei ser simpático o suficiente no rosto enquanto me encostava no batente e acenava um tchauzinho.

Seu rosto traia todo o desprazer que sempre a dominava quando me via enquanto ela andava em direção a mim, no final do corredor, e passava pela porta com um sorriso que era, provavelmente, um espelho exato do meu próprio. Nada convincente.

- Stefan, vamos? Já falou o que tinha que falar com Elijah, agora tem que se arrumar para o jantar dessa noite – exclamou, cruzando os braços.

- Ok, pode ir, eu já vou – disse ele, se levantando e fazendo com que diversas penas que escaparam do travesseiro destruído caíssem de seu corpo no processo.

Eu podia senti-la revirando os olhos e torcer a boca antes de se virar em direção à porta e passar novamente por mim, sem um olhar sequer.

Me voltei para dentro mais uma vez quando ela já tinha desaparecido na dobra do corredor.

- Você vai? – perguntou Stefan, se livrando nas penas com as mãos.

- No jantar da embaixada Suíça? Não, por mais que os chocolates pareçam irresistíveis – respondi quando ele assentiu –, dessa vez eu vou ficar em casa. Eu não durmo há dias, e convenci Elijah a me deixar de fora desse há um mês se eu fosse de bom grado ao das Nações Unidas.

- Tudo bem, parece que vou ficar sozinho hoje... Mas tudo bem. Te vejo amanhã – disse, me dando um beijo na testa.

- Você não trabalha não Salvatore? – perguntei, debochada.

- Mais do que você, Gilbert – respondeu, estreitando os olhos.

- Não que isso seja difícil... Mas vai logo, antes que ela volte e te arraste pela orelha – alertei, empurrando-o porta a fora.

- Tudo bem, até amanhã.

- Me traga chocolates! – gritei, e ele assentiu, acenando de costas.

- Seja boazinha com Damon.

- Eu posso tentar não fazê-lo ser demitido no primeiro dia, mas não posso prometer nada – repliquei, rindo.

- É só o que posso pedir, não é mesmo? – respondeu com humor, fazendo menção a olhar para trás antes de virar em direção à sala, me deixando sozinha novamente.

Eu não queria ficar sozinha de novo. Parecia assustador, como se agora que Stefan, a única pessoa que eu sabia que podia me proteger, tinha ido embora, eu estivesse sujeita aos pesadelos, gritos, chutes, tudo de novo e de novo, quando só o que eu queria era um pouco de paz.

Era irônico que, para conseguir paz fosse necessário que eu estivesse com outra pessoa, mas era assim que era, há 7, quase 8, longos anos...

Voltei para dentro do quarto, atirando a porta para que se fechasse atrás de mim, caminhando lentamente de volta à cama, me deitando sem me importar com as penas, espalhadas por todo canto.

Talvez agora que estava um pouco mais cansada eu conseguisse dormir um sono sem sonhos, pesadelos ou distúrbios.

E depois de minutos, ou talvez horas, virando de um lado para o outro, sem encontrar posição que me agradasse ou sequer vontade real de dormir, eu consegui.

Depois de dias, semanas, se não meses, eu finalmente tive uma noite completa de sono.

Mas eu não me deixaria enganar. Não era nada que impedisse o despertador de tocar pela manhã. Nada que impedisse o dia seguinte de vir, e meus olhos de se abrirem para o que devia ser mais um dia, tão cansativo e enlouquecedor quanto todos os outros. Mas o que eu podia fazer? Essa era minha vida, dia após dia, e era melhor do que nada.

Certo?


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Notas finais do capítulo

Entãao, me digam o que acharam, se ficaram com pena da Elena, se acharam legal a relação de amizade dela com o Stefan, se odiaram a Rebekah, ou se odiaram tudo. Não sei, me digam o que acharam!!
Até a próxima ;)



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