Rika já não aguentava mais. Chegava ao ponto de sentir seu coração acelerar sempre que via aquele homem, por quem já nutria uma paixão profunda havia quatro anos, quase cinco. Aos 14 anos e cursando a 8ª série, se perguntava com frequência que futuro essa paixão poderia ter. Provavelmente nenhum. Afinal, o homem em questão era o seu professor, Terada. Já poderia ser considerado um absurdo pelo fato de ele ter praticamente o dobro da sua idade, e somado ao fato de ele ser o seu professor, era absurdo em dobro.

Desde que tinha 10 anos, quando ainda estava na 4ª série, tinha sentimentos por ele. Chegou a considerar a hipótese de ser apenas uma daquelas típicas paixonites passageiras, ou então mera admiração. Mas não, era algo mais, e ela sabia disso. E Rika definitivamente já tinha descartado há muito tempo que gostasse dele por ele ser parecido com seu pai, porque ele nem era tão parecido assim. Na verdade, o professor Midori era mais parecido com seu pai do que Terada, e ela nem ia muito com a cara do professor Midori.

O professor Terada era simplesmente encantador, e a tratava muito bem. O problema é que ele era muito educado e tratava todos os alunos e alunas muito bem, e era praticamente impossível que ele estivesse dando uma atenção especial para ela.

Ela adorava olhá-lo enquanto ele dava aula, mas prestando bastante atenção em tudo o que ele dizia, pois ela fazia o possível para tirar as maiores notas da classe, e assim, impressioná-lo. E de fato, Rika tinha as maiores notas da classe em matemática. Ela nunca faria algo assim por qualquer outro rapaz. Se dava bem com os garotos de sua sala, mas eles eram muito infantis e imaturos, mas Terada não, Terada era maduro e civilizado. Costumava sorrir para ela quando ela tentava conter a bagunça da sala enquanto ele escrevia algo no quadro-negro.

Ela costumava corar sempre que ele a elogiava por ser a única a ter feito toda a lição, ou por qualquer outro motivo. Mas um dos momentos em que ela se sentiu mais envergonhada foi quando ela estava na 5ª série e havia lhe dado um ursinho de pelúcia, e ele aceitou de bom grado.

Rika estava deitada em sua cama, agarrada com um ursinho de pelúcia. Faltava menos de uma semana para o fim das suas aulas. Lembrou-se de seu professor e, quase que por acidente, começou a falar sozinha, baixinho.

- Quase cinco anos apaixonada, quase cinco. – encarou o teto. – E o pior é que a oitava série está acabando. E ele não dá aula para o colegial. – abraçou seu ursinho com mais força. – Talvez eu nem vá mais vê-lo.

Fazia alguns dias que Rika já estava triste com isso. E ela nunca teve coragem para declarar seus sentimentos para ele. Mas mesmo que se declarasse, ele jamais a corresponderia. Ela era aluna, e ele professor, a carreira dele correria risco se eles se envolvessem, isso sem contar a diferença de idade entre eles, que talvez nunca fosse aceita pela sociedade. Mas era a sua última chance, se não tomasse coragem logo, jamais poderia se livrar dessa angústia. Se ele a desprezasse, certamente ficaria triste, mas pelo menos tiraria aquele peso de sua consciência.

Rika continuou pensando em Terada por mais alguns minutos, olhando a Lua cheia pela janela do seu quarto, segura da decisão que havia tomado. Até que subitamente, pegou no sono.

***

O professor Terada estava passando as notas dos alunos, citando seus nomes e em seguida dando-lhes o valor de sua nota. Rika olhava para o professor enquanto apoiava seu queixo na palma da mão, sentindo-se quase hipnotizada.

- Rika Sasaki! – disse ele.

A garota tomou um susto quando teve seu nome pronunciado, o que fez com que seus colegas imaturos achassem engraçado o espanto dela. Mas o professor abriu um sorriso.

- Você tirou 10, a melhor nota da classe, parabéns. – disse ele, contente.

Mais uma vez, corou ao ser elogiada por ele. Por sorte, seus colegas não haviam percebido.

Os minutos foram passando, até que o sinal tocou. Era o sinal da liberdade para os alunos, pois significava férias. Os estudantes daquela 8ª série começaram a pular animados, com exceção de Rika, que permaneceu sentada. Recolheram seus materiais e começaram a sair da sala, se despedindo do professor.

- Você não vem, Rika ? – perguntou Sakura.

- Ah, ainda não, eu ainda tenho uma coisa... pra fazer. – foi dizendo, meio sem jeito. 

- Deixa ela, Sakura. Vamos indo. – disse Tomoyo, puxando Sakura pela mão. Tomoyo parecia até perceber o que acontecia com Rika.

Os outros tinham saído, só restavam Rika e Terada na classe. O professor guardava alguns papéis em sua pasta. Rika ficou de pé e respirou fundo.

“É agora ou nunca”, pensou.