O Útimo Jogo - Em Cinzas escrita por Caderno Azul


Capítulo 4
Estratégia


Notas iniciais do capítulo

Demorei quase um mês, mas estou de volta! Muito obrigada a todos os comentários, esse capítulo quase não saiu. Foi graça ao apoio de vocês!



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"E a propósito, eu votei contra."

O som da porta se batendo fez com que eu pulasse. Não havia dúvidas, em menos de uma hora de Jogos eu já havia conquistado a raiva de meu mentor.

Dive me encarou, parecia tão chocado quanto eu com aquela novidade. Para meu alívio, ele resolveu quebrar o silêncio:

–Bom, isso muda algumas coisas, não?

Estreitei os olhos sem entender. Ainda estava me criticando por ser tão leviana.

–Do que está falando? – finalmente recuperei a voz.

–Antes achávamos que todos os vitoriosos eram contra nós, agora sabemos que alguns estão ao nosso favor. E o nosso mentor é um deles. Isso é uma boa notícia.

Ou era. Até eu abrir a minha boca.

As últimas palavras de Peeta se repetiram em minha cabeça. Uma voz acusadora me dizia como havia sido idiota em julgá-lo.

Como se eu já não soubesse disso.

–Se eu não consegui fazer com que ele mudasse agora... - comentei dando vazão ao que já desconfiava.

–Não - Dive disse se aproximando de mim. Com alguma hesitação, me envolveu com seus braços. Estava tão abalada que nem por um segundo pensei em lutar contra. - Peeta parece determinado em nos ajudar. Acho que vai ter que se esforçar mais para fazê-lo trocar de lado.

Encostei minha cabeça em seu peito, sentindo o contato do tecido de sua blusa contra minha bochecha. Inspirei seu cheiro familiar. Ele tinha cheiro de casa.

–Por que diabos fez isso? – murmurei, protegida pela temperatura de sua pele quente.

–Estou tentando animá-la - ele se defende achando que falo do abraço.

Afasto-me de seu enlace.

–Não isso. Se voluntariar para a Colheita. Aquilo foi algo muito idiota para fazer. Você não precisava estar aqui. – explico franzindo a testa.

Dive devolve meu olhar e cruza os braços em desafio.

–O que, e te atirar sozinha aos leões? – ele sorriu cúmplice como quando trocávamos bilhetes durante as aulas. - Vamos lá, isso não é minha cara. Você está brava comigo?

–Eu deveria estar – confessei me abraçando. Olho para trás e vejo que os guardas ainda estão lá, imóveis e silenciosos como estátuas. Contudo, sei que ainda estão nos vigiando.

Porque, aparentemente, somos indivíduos perigosos agora.

Reprimo o que sairia de meus lábios se não tivéssemos companhia. Eu sou egoísta e infelizmente, ter Dive como aliado significa que tenho mais chances de sobreviver.

Não, eu não tenho chances.

De repente, não sei o que pensar. Então, sem certeza de nada, só me resta aceitar seus braços em volta de mim e aguardar por mais informações. Já assisti edições dos Jogos suficientes para saber o que acontece agora. Vamos conhecer nossa equipe de preparação, haverá o desfile, o treinamentos, as entrevistas e então o massacre terá início.

Engulo em seco. Achei que a indiferença já havia me dominado. Achei que eu não faria mais questão de sentir o sol no rosto. Achei errado.

Não vemos Peeta até a hora do jantar. Eu e Dive já nos acomodamos em nossos quartos e percorremos todo lugar que há para fazer nesse vagão. Sinto que se não sair em breve, ficarei com um grave caso de claustrofobia nas mãos.

Ele chega atrasado e seu rosto já reprime qualquer comentário infeliz que eu tenha impulso de fazer. Depois de algum tempo preenchido pelos sons metálicos de nossos talheres em contato com os pratos, nosso mentor resolve se pronunciar.

–Amanhã vocês conhecerão a Equipe de Preparação de vocês. Já tem alguma ideia do que fazer?

Dive bufa e deixa que um dos talheres caie com estrépito na porcelana do prato a sua frente.

–Nunca entendi essa parte – ele confessou com a voz cansada. – Como se uma fantasia e um pouco de maquiagem fosse fazer alguma diferença quando estivermos dentro da arena sem comida, sem água, sem armas.

Peeta me surpreendeu mais uma vez e mostrou que tinha muito mais paciência que seu rosto demonstrava.

–Quando estiver na arena sem recursos, Patrocinadores podem salvar a sua vida. Sei disso, porque salvou a minha – falou com autoridade ao mesmo tempo que mantinha uma serenidade enervante na voz.

–Certo, porque somos a equipe campeã – debochou Dive com escárnio. Sem avisos ou preparações, ele se levantou.

–Onde você vai? – perguntei em pânico. Não queria ser deixada a só com Peeta.

–Vou para o quarto – ele respondeu parecendo estar com raiva. Mas se tratando de Dive, sempre havia algo a mais.

Quando fiz menção de me levantar, ele interrompeu meu movimento com apenas três palavras:

–Não me siga.

Olhei para os lados apenas para escapar do semblante de Peeta. Podia sentir que estava sendo encarada. Por ele. E por aqueles malditos guardas que não saem nem por um segundo do mesmo cômodo.

Eu prefiria os Avox.

–Suponho que você queira saber o que estou fazendo aqui? – a voz de Peeta me despertou de meus devaneios.

–Aqui no jantar? – indaguei confusa.

Ele ignorou meu lapso.

–Porque ninguém queria ser o seu mentor. - deu um sorriso sombrio, que revelava como desprezava aquela situação. - e os que queriam, era para garantir que você não sairia viva da arena.

Por mais que o cordeiro estivesse saboroso. Por mais que eu quisesse muito provar a torta de limão de sobremesa. Por mais que ainda estivesse com fome.

Uma frase dessas arruína o apetite de qualquer um.

–Que coisa gostosa de ouvir – consegui dizer. Como sempre, a ironia surgia como meu maior disfarce.

–Vixen, você representa tudo que essas pessoas odeiam. – explicou, se debruçando conforme seu discurso ganhava força e seus olhos voltavam à vida. - Então eu e Beete decidimos que um de nos seriamos seu mentor, tentaríamos dar um pouco de integridade ao evento.

–Integridade – zombei daquela ideia.

Não havia absolutamente nada de íntegro em lançar crianças inocentes em um evento televisivo e obrigá-las a se matar enquanto suas famílias assistem.

Uma pena que era tarde demais quando me dei conta disso.

–Achei que pudesse te proteger – Peeta confessou, desconfortável. Não sei se com a revelação ou com a impossibilidade de sua intenção.

–Você não pode. - retruquei categoricamente - Qual o ponto disso tudo afinal? Eu já estou morta. Salve Dive. Ele só está aqui por minha causa.

Peeta balançou a cabeça, discordando de minhas palavras.

–Vou proteger os dois, esse é o meu trabalho. E é hora de você reconhecer a sua situação real. Sim, você é o alvo dessa competição. Mas ao invés de resmungar pelos cantos, poderia aproveitar a oportunidade para chamar a atenção. Os patrocinadores adoram esse tipo de coisa.

A mesma raiva que Dive sentia começou a se infiltrar pelos meus poros, fazendo com que minhas veias fervessem. Pensar que eu estava no corredor da morte e havia pessoas preocupadas em vender alguma imagem da neta do Presidente Snow provocava em mim impulsos assassinos.

–Eu não estou à venda, Mellark – sibilei, prestes a sair da sala também.

–Vixen, essa pode ser a única chance de vocês. O que você faz reflete em Dive. Todos sabem que os vitoriosos não pensaram nesses jogos para entretenimento. Mas os patrocinadores querem audiência, querem algo que venda. Algo que aliene as pessoas mais uma vez. E você, como neta do Snow, é ouro líquido. Eles não vão querer que você saia de cena logo, principalmente se conseguir entreter as pessoas certas.

Vendo que eu ainda não havia entendido a sua ideia, ele deu continuidade:

–As pessoas que lutaram. Elas não querem ver que vocês não passam de um bando de mimados acostumados a viver numa jaula de ouro. Mas no momento vocês só representam isso para eles. Surpreenda-os.

Seu plano de estratégia por mais ultrajante que fosse, fazia sentido. Ouvi a tudo que ele dizia, tamborilando nervosamente os dedos pela mesa repleta de assados e tortas que jamais poderiam ser consumidos por nós três. A opulência da Capital, minha casa, começava a se tornar enfadonha.

–Como vou fazer isso? – tentei soar determinada, mas por dentro fraquejava.

–Mostre que você tem luta. Mostre que pode ser resistente. Eles querem ver algo aí dentro. Garra, força, raiva, qualquer coisa. Mostre que tem sangue correndo nas suas veias e assim, talvez, eles possam se identificar com você.

De repente, em algum ponto da minha cabeça, uma parte do meu cérebro que ainda não havia adquirido a consistência de uma geléia, uma ideia. Uma ideia perigosa demais para não ser falada.

–Já pensei no meu figurino.

O rosto de Peeta se ilumina.

–Nada com tranças, espero.

–Não, a garota em chamas já fez isso. – inspirei antes de prossegir - Quero dar algo novo. Algo que provoque.

–Tem alguma ideia?

Voltei-me para Peeta e sentimentos contrários preenchera a mente que tentava manter sã. Seu olhar me encorajou. Ainda não confiava em um fio de seu cabelo claro, mas precisava dele naquele momento.

Um sorriso travesso ganhou terreno em meus lábios.

–Algumas.

Se eu sou o alvo dessa competição, é exatamente que darei a eles.

A questão é: será que suas flechas vão conseguir me acertar?


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Notas finais do capítulo

Por hoje é só!
Se houver algum erro, por favor me avisem! Eu reviso, mas algo sempre escapa...
Aliás, eu ainda não tenho beta. Será que alguém se candidata aí?
Os capítulo terão mais ou menos esse tamanho mesmo, mas tento postar o mais rápido que conseguir.
Pra quem gosta de distopia, eu comecei a fazer uma distopia original. Se chama "Não esqueça".
Como eu tenho medo de fantasma, por favor não seja um!
Beijos



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