Abri os olhos imediatamente, impedindo que a lembrança me machucasse ainda mais, mas eu seria completamente hipócrita se dissesse que apenas por um momento as lembranças me faziam felizes, mas depois apenas a dor ficava. A dor que eu sou obrigada a conviver todos os dias nos últimos meses.

        Lily costumava a dizer que isso iria passar, não totalmente, mas aliviar, eu não concordo, pois agora, depois de todos esses meses, a dor da perde deles tinha se intensificado. Agora tudo estava confuso, uma mistura de perda, saudade, mágoa, culpa e amor. Eu os amava mais que qualquer coisa e agora a única coisa que eu tinha deles eram lembranças e presentes, porém nenhuma dessas coisas duraria para sempre. No final, restaria apenas eu, morta por dentro e incapaz de amar novamente.

        Não percebi que estava chorando até me mexer e sentir meu travesseiro molhado pelas lágrimas. As lágrimas de uma dor que nunca iria embora, uma culpa que seria jogada na minha cara em todos os momentos que eu vivesse, pois mesmo inconscientemente, eu me culpava. Afinal, quem além de mim seria culpado pela morte deles? E justo eu, a pessoa que mais os amava. Os idolatrava.

        Os primeiros dias depois da batalha foram os piores. Ter que ouvir Nico dizer o que tinha acontecido, Percy contando os detalhes, as mortalhas sendo queimadas, os olhos de cada campista me culpando faziam a dor crescer de forma absurda, mas de tudo isso, o que mais doeu foi ouvir as palavras que Ethan disse para Nico.

“Ele só vai seguir em frente quando você fizer isso.”

        Eu não queria isso, não desejava isso. Eu não queria seguir em frente sem ele, eu não podia. Era errado, estupidamente errado.

        Em algum momento, acredito que ainda chorando, eu peguei no sono, agradecendo por não sonhar. Sonhar era apenas para pessoas felizes e felicidade é uma coisa que não se faz mais presente na minha vida.

        Quando acordei no dia seguinte, já deveria ser mais de dez horas. Fiz minha higiene matinal e coloquei uma calça jeans azul, uma blusa do Acampamento que um dia foi de Luke, meu vans preto e o colar que Ethan havia me dado.

        Saí do chalé indo direto para o pavilhão de jantar, tomei meu café da manhã e quando ia em direção da arena para que eu pudesse treinar um pouco e recuperar os dias perdidos, o cara de elfo me parou.

- E ai – ele disse.

- Cara de elfo – cumprimentei continuando a andar.

- Você está melhor, sabe... Depois de desmaiar em meus braços?

- Eu não desmaiei em seus braços e se você contou isso para alguém eu juro que acabo com você – ameacei ficando com o rosto a centímetros do seu.

- Uh. Se eu não tivesse visto você lutando aquele dia até podia sentir medo, mas então... Nós vamos jogar vôlei agora, quer jogar com a gente? Mas saiba que o “Time Leo” sempre vence, então se quiser ficar no meu time... -      mexeu as sobrancelhas de forma muito engraçada, contive a risada e o encarei.

- Eu não conheço você e, além disso, você é estranho. Porque eu iria jogar com você?

- Porque o Jason e o ruivão vão jogar.

- Tommas?

- Isso! Então, vamos?

        Apenas assenti, evitando maior contato com o garoto. Não demorou muito e estávamos na quadra de vôlei. Lá estavam Tommas, Jason, Lily e Piper.

        Piper McLean, tinha o cabelo castanho que era, de certa forma, cortado meio desigual e os lados eram trançados para baixo. Ela era bonita, um pouco mais que uma filha de Afrodite normalmente é. Seus olhos mudavam de cor, em tons de verde, castanho e azul.

        Jason era realmente bonito, mas nada que me atraísse. Seus olhos de um azul, iguais aos meus. Cabelos loiros bagunçados e uma cicatriz em sua boca, que de certa forma o deixava com um ar de perigoso. A sua cicatriz me lembrou Luke, foi inevitável não lembrar dele apenas por esse simples detalhe, mas antes que começasse a chorar ali, na frente de todos, tentei esquecer isso.

        O cara de elfo, que descobri se chamar Leo Valdez era, com toda a certeza, o mais estranho entre eles. Era magro e alto, com sua tão conhecida cara de elfo natalino, que passava uma única mensagem: deixem-me longe de objetos cortantes e fósforos!

        Lily sorriu, o seu tão famoso sorriso meigo, acho que nunca conheci alguém tão feliz quanto ela. Na verdade, ela era eu, no passado, antes de perdê-los.

- Ok, quem quer ser do Time Leo, o time vencedor? – de novo, mexeu as sobrancelhas daquele mesmo jeito.

- Porque não eu, Claire e Lily contra vocês três? – perguntou Tommas cruzando os braços.

- Porque eu curti a loirinha, queria ela no meu time – respondeu Leo.

- Eu gostei mais do time que o Tom falou, pode ser? – perguntei, ignorando o comentário desnecessário do Valdez.

- Claro – Piper sorriu.

        Eles ficaram com um lado da quadra é nós do outros. Começamos com a bola, pelo olhar de Tom para mim eu já sabia como seria o jogo. Tom não entrava em nada para perder. Ele a jogou para o alto e com força a sacou para o lado deles.

        Jason a pegou, se colocando na frente de Piper e cá entre nós, ainda bem que ele fez isso, pois eu conheço a força de Tom. Lily sorriu e rebateu a bola, porém foi fraco e não passaria da rede, mas sendo filha de Hécate, ela fez a bola passar pela rede sem problemas, deixando os nossos “adversários” abismados.

- Isso é roubo! – exclamou Valdez assim que a bola caiu no campo deles, marcando um ponto para nós.

- É jogo de vôlei de semideuses. Usem suas vantagens – Tommas sorriu ironicamente.

        Leo assentiu com um sorriso sacana nos lábios, não entendi o que ele planejava até ver a bola vindo em minha direção, não teria nada demais se ela não estivesse pegando fogo.

        Ela teria vindo direto em meu rosto se no último momento não tivesse se transformado em um balão.

- Desculpe – disse Lily – Era isso ou queimaria Claire.

        Quando eu me preparei para responder notei alguém parado atrás de Lily, com os braços cruzados e um sorriso no rosto. Retribui o sorriso e corri até ele.

- Nico! – exclamei abraçando.