Samara ouviu o toque do celular avisando que era hora de acordar, mas nem se mexeu, ficou ali deitada sentindo o travesseiro molhado de lagrimas, pois havia chorado enquanto dormia, um bom tempo se passou e Mariana abriu a porta do quarto para ver o motivo pelo qual a filha não havia descido para tomar café.

Mariana: _Sam, filha, tá acordada, meu bem? –Mariana ficou surpresa ao ver a garota deitada na cama àquela hora.

Samara fechou os olhos e mante-se imóvel, então Mariana se aproximou e acariciou suavemente os cabelos ruivos da filha o que a fez voltar a chorar.

Mariana: _Tá chorando filha? –pergunta Mariana preocupada.

Samara: _Posso ficar em casa hoje? –replica Samara tentando manter a voz a mais controlada possível.

Mariana: _Porque, filha? Tá se sentindo mal? Quer ir pro hospital?

Samara: _Não, mãe, eu só não to em condições de ir pra escola. –Samara tentou usar um tom firma, mas a voz saiu falhada e chorosa. –Posso ficar?

Mariana: _Oh, filha... –começa Mariana abraçando a filha, o que a faz chorar ainda mais. –Claro que pode, filha. Quer que eu fique com você.

Samara: _Nã-ão, mã-ãe. E-e-eu só-ó que-que-ro fi-icar so-o-ozinha. –soluça Samara chorando desesperadamente.

Mariana: _Tem certeza? –pergunta Mariana apertando mais o abraço e o choro de Samara se intensifica tanto que ela não consegue mais falar, só fazer sim com a cabeça. –Tá bom.

Mariana saiu do quarto de Samara desconsertada e a contra gosto. Samara chorou até cair no sono novamente.

Eram aproximadamente 10h45min quando Samara acordou novamente, se sentia péssima e não tinha vontade de levantar, então ela ficou deitada ouvindo e reouvindo a conversa dos pais em sua cabeça. Os minutos passam vagarosamente até que ela ouve o som da porta de abrindo, ela não se vira para olhar, pois poderiam ser seus pais e ela não queria encara-los.

Derick: _Ei, Sam, tá acordada. –Derick e Amanda tinha se aproximado silenciosamente a cama de Samara.

Samara: _Estou sim. –a voz de Samara denunciava que ela havia chorado.

Amanda: _O que aconteceu que você não foi pra escola, princesinha?

Samara se levanta e vira rapidamente ao ouvir a voz de Amanda, permitindo que a namorada e o amigo vissem seus olhos inchados de lagrimas, ou pelo menos a namorada, pois Derick estava prestando mais atenção ao pôster que Amanda havia dado de presente a Samara em seu aniversario a meses atrás, mas só agora ele prestava atenção.

Amanda: _Oh, meu amor. Porque estava chorando?

Samara olha para Derick como se estivesse pedindo pra ele sair, mas ele ainda estava distraído com o pôster até Amanda dar-lhe uma cotovelada nas costelas.

Derick: _Hm? O que foi? –diz Derick virando o rosto para encarar Amanda que indica a porta. –Ah, entendi.

“Não sei como os pais dela ainda não perceberam nada.” –pensa Derick ao sair do quarto.

Amanda: _Então, princesinha? O que foi? A conversa com seus pais não foi boa?

Samara: _Não teve conversa, my favorite. –Samara estava se controlando para não começar a chorar de novo.

Amanda: _Porque não? –Amanda sentou ao lado de Samara na cama.

Samara: _Eu disse pros meus pais que queria falar com eles, então eu subi pra trocar de roupa, quando eu desci, eu os escutei conversando, a minha mãe disse pro meu pai... –então Samara contou palavra por palavra a conversa que ecoava em sua cabeça desde a noite anterior, fazendo pausas para não chorar. Amanda a abraçou e ficou ouvindo o que Samara dizia sem saber como reagir. – ...aí ela me encontrou na escada e eu devia esta pálida ou vermelha porque ela perguntou se eu estava bem, então eu dei uma desculpa qualquer e vim pro meu quarto e chorei até dormir. Tá chateada comigo porque eu amarelei?

Amanda: _Claro que não, meu amor. Nem imagino como deve ter sido horrível pra você ficar parada escutando isso. É claro que não fiquei chateada com você.

Samara: _Já foi difícil me preparar pra dizer aos meus pais que sou lésbica, agora vou ter que me preparar pra dizer a dois homofobicos que a filha deles é “machuda”.

Amanda: _Oh, amor, não se tortura com essas palavras.

Samara: _Mas é verdade. Não sei como vou fazer isso agora.

Amanda: _Princesinha, eu não vou ti pressionar pra fazer isso agora, pode pensar com calma e depois fala com eles. Mas mesmo se você não falar, eu e você vamos continuar namorando, então você vai ter que contar um dia.

Samara: _Eu sei, my favorite. Eu não vou fugir disso pra sempre, só preciso de um tempo.

Amanda: _Tudo bem, amor, vou te dar um tempo pra pensar.

Um mês se passa e era o fim do segundo bimestre na escola, então todos já estavam se preparando para as férias de meio do ano.

Adriana: _Pessoal. PESSOAL. Obrigada. –diz a professora de português quando os alunos finalmente se calam para ouvi-la. –Eu não quero estragar o climinha gostoso das férias de uma vez com assunto novo quando voltarmos às aulas, então eu vou passar um deverzinho pra vocês...

(Ahhhh)-os alunos dizem.

Adriana: _Calma. É bem light só pra introduzir o assunto do próximo bimestre sem estragar o clima das férias. Como a gente vai estudar poesia, quero façam um poema ou uma música para apresentar nas primeiras três aulas do 3º bimestre, pode ser individual ou grupos de dois ou de três.

Alice: _Professora, não pode de quatro? –diz Alice, líder do quarteto de patricinhas da sal.

Adriana: _Oh, Alice, não pode de quatro por que é imoral.

(risos)

Adriana: _ (risos). Se os grupos ficarem grandes demais, um acaba carregando todo mundo nas costas, então de dois ou três tá bom.

Lucio: _Qual o tema do poema, professora Adriana? –pergunta Lucio, o garoto considerado o mais “nerd” da sala.

Adriana: _É livre, Lucio, fale sobre o que você gosta ou ama.

Inevitavelmente, Samara e Amanda se entreolham.

Adriana: _É isso. Viram? Não vai doer, nem dar trabalho.

Alguns alunos começam a falar coisas como “é, tá certo”, “haham”, “nem vai ser difícil”, enquanto outros começavam a formar duplas e trios. A professora se sentou e ficou observando os alunos até o sino tocar.