Paradoxo Temporal escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 20
Alianças profanas




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Hijikata ajeitou os óculos e soltou uma baforada de fumaça após dar um trago em seu cigarro. Seus olhos azuis penetrantes encaravam todos os presentes ali naquela ampla sala. Deu outro trago, liberou novamente a fumaça pela boca e disse:

– Eu já imaginava que o isolamento de Edo não era à toa, com o fechamento do Terminal há cinco anos. Aquele palhaço azul se acha muito esperto.

– Vice-Comandante – Yamazaki observou. – O Lorde Kasler é realmente esperto. Conseguiu enganar a todos com esse “isolamento”, porque atualmente ele possui, a alguns quilômetros da cidade, um terminal clandestino para receber o melhor da tecnologia Amanto. Foi por esse terminal clandestino que vieram, por exemplo, os microchips que foram implantados na gente.

– Se esses microchips que estavam nas nossas cabeças têm cinco anos, por que eu tenho um vácuo de dez anos na minha memória? – o Gintoki do futuro questionou.

– Porque você deve ter um vácuo permanente na sua cabeça desde que nasceu. – Hijikata ironizou.

– Antes ter um vácuo do que ter um cérebro contaminado de maionese!

– Dá pra pararem, vocês dois? – o Comandante Shimura fuzilou os dois com o olhar.

O trio Yorozuya vindo do passado apenas assistia aos outros discutindo. Gintoki e Kagura faziam limpeza de salão sincronizada enquanto Shinpachi limpava as lentes dos óculos com ar de tédio. Apenas prestavam atenção na conversa do restante do pessoal, que começara após retirarem o microchip de Hattori Zenzou, que, inacreditavelmente, estava implantado em uma hemorroida.

Yamazaki tomou a palavra novamente:

– Para quem estava há mais tempo sob o comando de Kasler, houve uma troca por microchips mais modernos, à prova de falhas. E o engraçado é que, de alguma forma, eles retardaram o envelhecimento de quem o usou por um longo período de tempo.

– Mas mesmo esses tiveram falha. – Gintoki afirmou. – Pelo menos o meu, quando eu vi o Shinpachi e a Kagura do passado. Não eram 100% como se afirmava.

O único que estava afastado de tudo ali era Ginmaru, que permanecia em um canto, completamente isolado do restante do grupo. O fato foi percebido pelo Yorozuya do passado, que perguntou:

– Ei, Ginmaru! Não vai fazer parte do plano do pessoal?

Nenhuma resposta do albino mais jovem.

– Terra para Ginmaru!! Tá me ouvindo?

– Estou, sim. Apenas prestando atenção.

– Não parece. – Kagura observou. – Tá mais fora do ar do que TV velha com interferência.

– Eu tô pensando no que eu meti vocês. Eu deveria ter mandado vocês de volta para seu tempo de origem. Aqui, os três correm riscos.

– “Três”, não. – a garota ruiva contestou. – “Dois”. Eu já tô morta aqui, esqueceram?

– Tem razão, Kagura-chan. – Shinpachi disse. – Além do mais, fomos “contratados” pelo Shinsengumi.

– E não vai dar pra gente voltar. – Gintoki completou. – Afinal, nós da Yorozuya não deixamos serviço sem acabar. Só não entendi por que chamaram o Zura pra ajudar o Shinsengumi.

– Não é Zura, é Katsura. – o famoso bordão denunciou a chegada de seu autor. – O Governo Central é inimigo em comum do Joui e do Shinsengumi. Até mesmo o Kiheitai tem ódio mortal, após ser enxotado da junta que tomou o poder após o golpe que derrubou o antigo shogunato.

– Você não disse que o Takasugi tinha morrido em combate? – o Gintoki mais velho questionou.

– Foi o que eu também pensei, Gintoki. Eu estive investigando com Elizabeth e depois pedi ajuda para o espião do Shinsengumi para cruzarmos todas as informações que conseguimos após decodificar os microchips retirados dele e do Hattori. E descobrimos que ele esteve gravemente ferido, mas tinha sido dado como morto, como você. Após se recuperar, foi exigir sua parte no trato, pois ordenara ao Kiheitai que fingisse lutar ao nosso lado, para facilitar a derrota revelando todas as nossas estratégias. Mas o traidor foi traído, e a facção dele foi escorraçada do governo Central.

– Quer dizer que o Takasugi tá é vivo nesta época? – o Gintoki mais jovem perguntou.

– Sim. – Katsura respondeu. – Não sei se o Shinsengumi concordaria, mas poderíamos propor essa aliança, já que certamente o Kiheitai quer também ir à forra com o Governo Central.

– Sem essa, Katsura! – Hijikata protestou. – Não vou aceitar mais um terrorista se aliando a nós!

– Hijikata-san – Okita fez-se ouvir ali com sua voz monótona. – Não faz diferença para o Governo Central. O Shinsengumi é considerado “terrorista” desde o momento em que não reconheceu a legitimidade deles.

– Olhando por esse ponto, Toshi – Kondo tinha ar pensativo. – O Sougo tem razão. E desde a luta que tivemos com os homens do Governo Central, provavelmente estamos sendo equiparados ao Joui e ao Kiheitai... Não apenas nós, como o pessoal da Yorozuya.

O Vice-Comandante olhou para todos ali de relance. De fato, tinha um terrorista como aliado e um ex-terrorista de cabelo ruim, e em dobro. E o Shinsengumi sendo considerado como farinha do mesmo saco...

... Isso realmente era terrível para ele, que sempre procurara zelar pelo Shinsengumi. Mas realmente não havia outra opção a não ser essa para poder sobreviver. Nesse caso, a finalidade de salvar a polícia de farda preta era suficiente para justificar todas as alianças profanas que estavam sendo feitas.

Agora tudo valia no jogo duro da luta pela sobrevivência.


*


– Perdoe-me pela demora, Lorde Kasler. – o ninja de cabelos castanhos, que cobriam seus olhos, disse. – Mas eu trouxe informações vitais a respeito do Shinsengumi.

– Finalmente, Hattori. Quais são as informações?

– Eles estão planejando um ataque em breve. O Comandante do Shinsengumi está querendo evitar a sua vingança, procurando atacá-lo primeiro. Ele pretende agir como um cão acuado.

– Eu pensei que aquele par de óculos ambulante fosse um pouco mais inteligente. Parece que me enganei.

– Eles pretendem atacar a partir do Quartel-General do Shinsengumi em dois dias. – Hattori deu um sorriso enigmático.

– Então, antes que eles saiam, nós os acuaremos no canil. Mexeremos primeiro as nossas peças, para aproveitar o enfraquecimento daqueles caipiras. Depois... Será o nosso xeque-mate!

Kasler abriu um sorriso triunfante. Quem diria que, mesmo com aquele ar de nerd intelectual, aquele quatro-olhos daria um vacilo desses? Certamente isso significava desespero, devido às baixas que seus comandados haviam sofrido na batalha.

Cães acuados não pensam direito antes de atacar. Os cães do Shinsengumi estavam prestes a agir assim, e com isso o líder da matilha ficaria exposto... Do jeitinho que ele queria.

Iria vingar aquela cicatriz humilhante que recebera dez anos atrás. E não apenas isso! Também acabaria com o Shiroyasha traidor e todos os outros arruaceiros!

E, assim, consolidaria de vez seu poder sobre Edo, sem nenhum opositor!


*


Enquanto Hattori Zenzou estava ali no palácio, sede do Governo Central, o Shinsengumi começava a se mover silenciosamente até os locais já pré-definidos pelo plano que fora traçado.

Shinsengumi e aliados se dividiram em quatro grupos. Um deles permaneceu no Quartel-General e os demais se deslocaram para outros pontos de forma sorrateira. E, logo que o deslocamento foi concluído, passos se ouviram ao longe, aproximando-se do QG.

O grupo que permaneceu estava sendo liderado por Hijikata e Okita. Contava com homens do próprio Shinsengumi, alguns homens do Jouishishi, e outros do Kiheitai. Todos estavam juntos por um acordo mútuo feito pelo Shimura, por Katsura e por Takasugi em não se atacarem, respeitando uma trégua.

O Vice-Comandante não se sentia tão bem assim com essa aliança tão profana, mas era necessária. Para enfrentar um inimigo maior e se defender, era preciso aliar-se com aqueles que tinham o mesmo interesse.

Para isso, o Shinsengumi se comprometera em não prender ninguém por pelo menos um mês, a menos que houvesse alguma espécie de traição. O traidor seria sumariamente morto e decapitado, sem direito a nenhuma defesa.

Okita colocou sua fiel bazuca no ombro, enquanto Hijikata jogava ao chão uma bituca de cigarro e a pisava em seguida. O moreno sorriu confiante. Estava louco para usar sua katana Muramasha para retalhar alguns adversários.

– Muito bem, Sougo. – disse. – Hoje vamos ter uma trégua, certo?

– Claro, Hijikata-san. – o Capitão da Primeira Divisão respondeu com seu típico sorriso sádico. – Só eu tenho o direito de atentar contra a sua vida. Vê se não morre... Não tem graça se tornar Vice-Comandante sem te derrotar.

– Pode deixar. – o moreno ajeitou os óculos. – Mas não pense que será fácil me matar. Mas, para tentar, temos que acabar com aqueles poodles adestrados do Mimawarigumi que estão chegando.

Hijikata se virou calmamente para os homens que se posicionavam logo atrás dele e de Okita. Ainda com o mesmo ar confiante, disse enquanto desembainhava sua katana:

– Muito bem, homens! Hora de mostrar a eles que nós, vira-latas, podemos nos defender sem medo! AO ATAQUE!!


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