Amor E Morte escrita por LittleWriter


Capítulo 3
Verdades inconvenientes


Notas iniciais do capítulo

Desculpem o atraso, esqueci de postar ontem, mas aí está...



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 - Só uma pergunta: o que impede que você minta pra mim?- a voz dela era inquisitiva.

   - Você é muito desconfiada queridinha. – com essa frase ele pegou a faca e abriu um grande corte na mão, deixando que o sangue tingisse a faca de púrpura, o objeto absorveu o sangue, quando um lado da faca estava completamente vermelho ele abriu e fechou as mãos fazendo o corte desaparecer. – Não é uma faca qualquer, o sangue impede que eu minta. Agora é sua vez.

   Em silêncio ela abriu um corte na própria palma e observou o sangue escorrer. Em outros tempos teria chorado devido a dor, mas não a sentia mais, não tinha mais lágrimas. Quando o outro lado da faca se tingiu de sangue, ela abriu e fechou a mão imitando-o.

   - Parece que não funcionou.

   - Toma. – disse ele jogando-lhe um pacote com gases e faixas, que tirara do bolso ela não sabia como.

   Ela foi ao banheiro lavar a mão e fazer um curativo mal feito.

   - Pronto. Podemos começar.

   Samantha se ajeitou na cadeira e Galadriel girou a faca com força, que começou a girar de modo hipnotizante até finalmente parar com a ponta apontada para ela.

   - Verdade ou desafio? – a voz dele não se preocupava em esconder o sorriso de triunfo.

   Ela ponderou por um momento e decidiu que responder qualquer tipo de pergunta dele não poderia ser pior do que ser obrigada a realizar qualquer tarefa que ele lhe impusesse. Ela estava errada.

   - Verdade. – sua voz era firme, disposta a não demonstrar medo.

   - Sabe, eu me lembro de uma coisa muito interessante que eu observava você fazer antes de me conhecer, - começou ele vagarosamente. – todas as noites sem exceção eu a via repetir nomes antes de dormir. Primeiro eu pensei que fosse apenas um devaneio, mas depois eu comecei a perceber que eram sempre os mesmos nomes, na mesma ordem, ditos quase como uma prece. O que eu quero saber é: por quê? Por quê você repetia aqueles nomes toda noite?

   O estômago dela se revirou. Droga, pensou, aquilo era algo muito pessoal, muito dela, não queria responder, mas se sentiu compelida a falar, devia ser o sangue na maldita faca. Droga.

   - Eu tinha medo… Medo de esquecer, de esquecer o nome de quem fez parte da minha vida de quem eu amava… Os nomes significavam lembranças e as lembranças eram pedaços da minha vida. Não se pode esquecer, assim como não se pode perder pedaços de sua própria vida, boa ou ruim, você precisa se lembrar sempre ou não saberá mais quem você é. Por isso eu repetia os nomes, para não esquecer de mim, pois deles eu sabia que não esqueceria.

   - Interessante… – a voz dele soava intrigada.

   Ela tremia pela confissão, mas ainda sim girou a faca com força como que para fazê-lo esquecer as últimas palavras que dissera. Mas Samantha sabia que ele jamais esqueceria, não quando se tratava de algo para usar contra ela.

   A faca parou com a ponta virada na direção de Galadriel o que fez Samantha sorrir. Finalmente a sorte parecia estar do lado dela.

   - Verdade ou desafio? – a voz dela tinha uma ponta de malícia.

   - Verdade. – respondeu ele com a expressão anuviada.

   - Bom, você aparece do nada na minha vida, faz a maior bagunça e simplesmente não diz nada, não diz por que, da onde vem, nada. O que eu quero saber é: como você se tornou o que é?

   A expressão dele ficou mais carregada do que nunca. Galadriel quis mentir, quis gritar com ela e desaparecer, mas não podia, então se amaldiçoou pela idéia idiota da faca. Como ela sempre o surpreendia?

   - Em 1490, eu era um jovem de dezenove anos e morava com minha mãe nos arredores da capital da Espanha. Nessa época era também o auge da inquisição espanhola. E minha mãe era o que se pode chamar de bruxa, era uma das mais poderosas da região e nessa época já era a última delas. Antes que a levassem presa ela preparou uma poção por dias e noites inteiras, colocou em um frasco e o colocou em uma bolsa com várias coisas estranhas que eu não soube o que eram de início, uma delas era essa faca. Então ela me mandou com a bolsa para a floresta e disse que se um dia eu quisesse vingança eu deveria tomá-la.

   “Naquela mesma tarde levaram a minha mãe e dois dias depois e a vi queimando em praça pública. Eu assisti a carne dela virar cinzas e ouvi as pessoas aplaudindo. As palavras de minha mãe não saíam de minha cabeça, então eu andei até uma gruta isolada e tomei todo o conteúdo do frasco em um só gole. Fortes espasmos e dores insuportáveis tomaram conta do meu corpo por dias e noites que eu não consegui contar.

   Terminado o sofrimento eu me sentia melhor, mais forte, mas ainda precisava de explicações, foi então que revirando a bolsa achei um fundo falso onde havia uma carta de minha mãe explicando que eu seria a sua maior vingança contra os humanos desprezíveis, pois eu poderia ir a qualquer lugar, viveria o tempo que quisesse e poderia escolher quem me veria ou não, não precisaria comer e dormir, teria diversas vantagens, e os humanos jamais poderiam me controlar. Mas havia um preço a se pagar por tamanho poder, aquilo despertaria o que havia de pior em mim, como um efeito colateral, me faria esquecer o que é ser humano. Mas pouco me importei com isso, a humanidade é uma doença, já havia aprendido essa lição. Primeiro minha fúria caiu implacável por aqueles que assassinaram a minha mãe. Por anos eu matei, torturei e brinquei com a mente das pessoas, mas depois de um tempo ficou sem graça e me limitei apenas a observar. Até que apareceu você e me despertou novamente.”

   Ele terminou de falar e ficou encarando-a, como que a desafiando a esboçar uma reação, qualquer uma, mas ela não conseguiu, se sentia tonta. Era muita informação. Era como se todo o peso e culpa pelas mortes de seus amados caísse sobre os ombros dela. Por que ele a escolhera? Ela não queria saber, tinha medo da reposta, tinha medo que ele pudesse abalá-la ainda mais.

   - Chega. – disse ela levantando-se e empurrando a faca para o lado.

   Samanta foi até a escrivaninha e abriu uma das garrafas de vinho com um abridor que tinha escondido em uma das gavetas (objetos afiados eram proibidos no internato, até mesmo os talheres no refeitório eram sem corte). Encheu uma taça e sentou-se no chão no canto do quarto.

    - Deixe-me acompanhá-la querida. – disse ele sentando-se ao lado dela com sua própria taça.

    Eles beberam e conversaram. Samantha bebeu bem mais, bebeu até ficar bêbada o suficiente para dormir. Não sabia que horas eram, provavelmente já passava das três da madrugada quando Galadriel a levou para cama, pois ela estava tão grogue que não conseguiria ir sozinha. Então ela fechou os olhos. E mais uma vez os pesadelos começaram.


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Notas finais do capítulo

-Obrigada por lerem e pelos reviews
—Leiam também: Liberdade Morta
—Até sexta feira *-*



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