Rosalya aproximou-se da cama e sentou-se à borda, olhando-nos. Não sabia bem o que lhe ia na mente. Olhei de novo  para Lysandre e ele parecia calmo. Também não fazia a minima do que ele estava a pensar naquele momento. Nós foramos descobertos... isso não deveria ser algo mau?

 -Vais contar a Leigh?

 A expressão de Rosalya mudou, ficando meia pensativa e culpada.

 -Tu sabes que não deveria esconder nada a Leigh, mas... não sei...

 -Por favor, Rosalya. - pediu ele.

 Ela o olhou por momentos, bem pensativa, e depois suspirou, fechando os olhos e passando os dedos sobre eles.

 -Não vou contar, mas por favor, não me fação esconder mais coisas de Leigh.

 Eu sorri verdadeiramente. No canto da minha mente eu já pensava na minha separação com Lysandre e no que aconteceria dali para a frente, mas esses pensamentos foram logo afastados e mal tive tempo de pensar neles. Num impulso, saí dos braços de Lysandre e cheguei-me a Rosalya, acabando-a por a abraçar.

 -Obrigada Rosalya! - disse inteiramente feliz.

 Ela me abraçou também e fez-nos cair de lado. Afastei-me então um pouco dela, olhando-a em seus olhos, que me fixavam também. Então ela desviou o seu olhar do meu, para olhar para Lysandre.

 -Tu nem deste tempo a Pupils para ela conhecer outros rapazes, Lysandre.

 -Não precisava.

 Pela forma da voz dele, ele deveria estar a sorrir.

 -Não se sabe. - respondeu ela.

 Desta vez respondi eu antes de Lysandre.

 -Eu gosto de Lysandre desde pequena. - admiti, corando.

 Ela voltou a olhar para mim, mal falei.

 -Desde... pequena? - ela parecia realmente admirada.

 -Sim... - disse eu timidamente.

 "Será que é algo errado?"

 -Mas vocês não tinham uns cinco ou seis anos quando se separaram?

 -Sim... - disse, fazendo que sim com a cabeça também.

 -E já gostavas dele nessa altura?

 Fiz que sim com a cabeça, desta vez não dizendo mesmo nada.

 -Como é possível isso? Vocês eram tão novos!

 -Hum... Bem... eu sempre gostei muito do primo Lysandre, bem lá no fundo. Quando me fui embora, eu chorava porque ele não estava lá para me fazer sorrir e me dizer para não chorar, sorrindo-me sempre. Durante todos estes anos, eu me lembrava de Lysandre e nunca fui capaz de me apaixonar de novo. Assim que eu o vi no sábado, soube que eu na verdade gostava dele.

 Dizer aquilo tudo e sentindo o olhar de Lysandre atrás de mim, era muito constrangedor. Sentia-me tão envergonhada, que só fechei os olhos e escondi a minha cara nos cabelos de Rosalya.

 Sabia que ela deixara de me olhar, pois o peso que sentia diminuíra um pouco.

 -Tu também...?

 Não ouvi sequer palavra de Lysandre. Forcei-me a olhar para trás, diretamente nos seus olhos e ele olhou nos meus olhos e sorriu-me, fazendo que sim uma vez com a conversa.

 -Então... Pupils tem sido "a musa" das tuas músicas?

 Olhei de repente para Rosalya.

 -Porquê "a musa"? - perguntei, de uma tal maneira envergonhada que minha voz se distorcera um pouco.

 -Porque é verdade. ... E porque ele se refere a ti como a sua musa, numa das suas músicas.

 Olhei para ele de olhos arregalados e totalmente corada e embaraçada. Ele desviara logo o seu olhar do meu, olhando para algo ao lado, totalmente corado também. Larguei Rosalya e fui ter com ele. Segurei-lhe a cara entre as minhas mãos, obrigando-o a olhar diretamente para mim. Eu queria observar a sua expressão, pois nunca o vira assim tão corado.

 -Lysandre... - disse eu baixinho.

 -Sim?

 -Tás fofo. - admiti.

 Num segundo, os seus lábios encontraram os meus e num beijo profundo mas rápido, ele apanhou-me de surpresa. Senti ele voltar-me a rodear com os seus braços e manter-me próxima dele.

 -Bem, vou deixar-vos então a sós... mas Pupils, devias ir vestir o teu pijama.

 Olhei com dificuldade para Rosalya.

 -Sim, sim! ... Tens razão... !

 Dei um beijo na testa de Lysandre e ele largou-me. Rosalya já estava de pé. Fomos até à porta e, ela ao abrir virou-se para Lysandre e disse:

 -Tchau Lysandre! Vemo-nos amanha, então!

 -Tchau Rosalya. - respondeu ele, sorrindo.

 Saímos então do quarto de Lysandre. Abri a porta do meu quarto e Rosalya entrou.

 -Posso-te preparar eu hoje?

 "É preciso preparar-se para se dormir?"

 -O-Ok... ! - respondi confusa.

 -Onde guardas a tua roupa interior?

 -Ali. - respondi, apontando uma gaveta.

 Ela foi até lá, abriu e olhou todos os meus conjuntos de roupa interior.

 -Não acredito! - exclamou ela. - Não tens nenhuma lingerie sexy!

 Fiquei sem saber como reagir.

 -Mas porque é que eu iria precisar disso? - perguntei confusa. - Só vamos dormir!

 Ela olhou para mim. Seus olhos estavam esbugalhados, mas não percebia o porquê.

 -Se não te mostrares sexy, Lysandre pode-se desinteressar facilmente por ti!

 Agora entrei eu em choque.

 -A-A sé-sério? - perguntei.

 Eu não queria que isso acontecesse. Só de pensar nisso, o ar até ficou mais frio.

 -Amanhã vamos às compras! - decidiu ela.

 Ela tirou então um conjunto delicado e depois perguntou-me onde eu guardava os pijamas e tirou de lá o mais delicado também. Delicado demais até para mim... no meu pensamento. Vesti tudo como ela me ordenou. Agora ela metia-me medo, depois da forma que ela me assustou com o seu ataque repentino. Eu nem dizia nada, para evitar que a bomba explodisse.

 -Ok! Perfeito! - disse ela por fim, no fim de me colocar algum perfume.

 -Rosalya, mal consigo respirar! - disse eu um pouco aflita.

 Eu não gosto muito de perfume exagerado, pelo que me incomodava bastante o cheiro a morango em excesso que agora eu carregava.

 -Estás perfeita! Isso já passa! Agora tenho que ir, antes que Leigh decida vir até cá acima!

 Saímos rapidamente do meu quarto. No corredor, ela me deu um abraço e sussurrou-me ou ouvido:

 -Faz com que aquele coração se derreta ainda mais.

 Quando ela me olhou, eu a olhei sem saber o que dizer.

 -Tchau!

 Ela então desceu as escadas e eu abri a porta do quarto de Lysandre, ainda pensando na frase que ela me dissera agora à pouco. Fechei a porta atrás de mim e olhei para Lysandre, que me olhava fixamente. Lentamente fui ter com ele, sentei-me e beijei-o. Ele me agarrou bem forte num abraço e me fez deitar sobre ele. Quando ele me voltou a olhar, perguntou-me:

 -Está tudo bem?

 -Sim, está. só estava a pensar em algo...

 -A pensar em quê? - ele parecia curioso.

 -Rosalya me disse "Faz com que aquele coração se derreta ainda mais." ... mas não sei onde ela queria chegar com isso.

 A sua expressão mudara um pouco e parecia que ficara meio em choque.

 -Que ela te disse mais?

 -Que amanhã vou às compras com ela.

 Então ele começou-se a rir levemente e afastou-me um pouco o meu cabelo da cara, prendendo-o à minha orelha.

 -Então boa sorte, pois ela não te irá largar mais.