Mar De Monstros - Brittana escrita por Ju Peixe


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Noite!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/343026/chapter/11

Golpeei a rocha com a minha espada diversas vezes, mas apenas saíram algumas fagulhas. Senti-me frustrada, pois o único jeito de tirarmos a rocha era com Polifermo. Então teríamos que espera-lo voltar.

Sentei-me ao lado de Santana que tinha os olhos fixos no horizonte. Observamos Polifermo alimentar seus monstrinhos peludos comedores de gente com alguma carne misteriosa. Fiquei mordendo meus próprios dedos, pois estava nervosa e não tinha mais unhas para roer.

- Um truque. – Concluiu Santana.

- Boa. Que truque? – perguntei.

- Ainda não pensei nessa parte. – ela respondeu frustrada.

Assenti e passei meu braço ao redor de seu corpo. Os monstrinhos ainda devoravam a coisa nojenta que Polifermo dera a eles.

- Temos que deixar Polifermo mover a rocha. – San murmurou.

- Certo. E o que faremos então? – retruquei.

- Eu posso me esgueirar com o meu boné. – ela respondeu.

- E eu? O que faço? Que fique claro que você não vai fazer nenhuma bobagem sem mim.

Santana fitou o horizonte por alguns momentos e depois voltou seu olhar para mim com um sorriso travesso no rosto.

- Você gosta muito de carneiros?

- Só não se solte, B! - disse Santana, invisível em algum lugar à minha direita. Para ela, era fácil falar. Ela não estava pendurada de cabeça para baixo na barriga de um carneiro.

Agora, admito que não fora tão difícil quanto eu pensara. Já tinha me arrastado para baixo de um carro antes, para trocar o óleo para minha mãe, e isso não era tão diferente.

O carneiro não se importou. Até mesmo o menor dos carneiros do ciclope era bastante grande para suportar meu peso, e eles tinham uma lã espessa. Eu simplesmente a torci, formando alças para as minhas mãos, enganchei os pés nos ossos das coxas do carneiro e pronto: eu me sentia como um pequeno canguru, zanzando acomodado contra o peito do carneiro, tentando manter a lã longe da boca e do nariz.

Caso você esteja intrigado, a parte de baixo de um carneiro não tem um cheiro assim tão bom. Imagine um suéter de inverno que foi arrastado pela lama e deixado no cesto de roupa suja por uma semana. É algo assim.

Nem bem fiquei em posição, o ciclope rugiu:

- Oi! Bodinhos! Carneirinhos! O rebanho, obediente, começou a caminhar laboriosamente ladeiras acima, em direção à caverna.

- É isso aí! - sussurrou Santana. - Vou estar por perto. Não se preocupe. Vai dar tudo certo, meu anjo.

Fiz uma promessa silenciosa aos deuses de que, se sobrevivêssemos àquilo, diria a Santana que ela é um gênio. O assustador era que eu sabia que os deuses iriam me cobrar.

Meu táxi-carneiro começou a subir a colina. Depois de uma centena de metros, minhas mãos e meus pés começaram a doer. Agarrei a lã com mais força, e o animal fez um ruído inarticulado. Não o culpei. Eu mesmo não gostaria de alguém escalando por meus cabelos. Mas, se eu não me agarrasse, certamente cairia ali mesmo, bem na frente do monstro.

- Hasenpfeffer! - disse o ciclope, afagando um dos carneiros na minha frente. - Einstein! Widget... Ei, Widget!

Polifermo deu uns tapinhas no meu carneiro e quase me derrubou no chão.

- Ganhando um pouco de lã extra, hein?

Epa, pensei, é agora.

 Mas Polifermo apenas riu e deu uma palmada no traseiro do carneiro, empurrando-nos para frente.

- Vá andando, gorducho! Logo Polifermo irá comê-lo no café-da-manhã!

E, simples assim, eu estava dentro da caverna. Pude ver o último dos carneiros entrando. Se Santana não começasse logo a distraí-lo... O ciclope estava para rolar a rocha de volta a seu lugar quando de algum canto do lado de fora, Santana gritou:

- Olá, feioso!

Polifermo ficou rígido.

- Quem disse isso?

- Ninguém! - gritou San.

Aquilo provocou exatamente a reação que ela esperava. A cara do monstro ficou vermelha de raiva.

- Ninguém! - Polifermo berrou de volta. - Eu me lembro de você!

- Você é estúpido demais para se lembrar de alguém - provocou San. - Muito menos de Ninguém.

Pedi aos deuses que ela já estivesse em movimento quando disse aquilo, porque Polifermo urrou furiosamente, agarrou a rocha mais próxima (que por acaso era sua porta da frente) e a atirou na direção do som da voz de Santana. Ouvi a pedra se despedaçar em mil fragmentos. Por um momento terrível fez-se silêncio e eu senti meu coração apertar e as lágrimas começarem a transbordar em meus olhos. Arrependi-me de ter concordado com aquela ideia. Então Santana gritou:

- Você também não aprendeu a atirar pedras melhor!

Polifermo uivou.

- Venha para cá! Deixe-me matar você, Ninguém!

- Você não pode matar Ninguém, seu imbecil estúpido - provocou ela. - Venha me achar!

Polifermo disparou colina abaixo na direção da voz dela. Essa coisa de "Ninguém" poderia não ter feito sentido para outras pessoas, mas San me explicara que era esse o nome que Ulisses usara para enganar Polifermo séculos atrás, antes que ele acertasse o olho do ciclope com uma grande estaca quente. San calculou que Polifermo ainda guardaria rancor daquele nome, e estava certa. Ela sempre estava.

No frenesi para encontrar o velho inimigo, ele se esqueceu de fechar novamente a entrada da caverna. Parecia nem ter parado para pensar que a voz de Santana era feminina, enquanto o primeiro Ninguém era homem. Por outro lado, ele queria casar com Finn, portanto não era assim tão brilhante nessa questão de masculino/feminino. Eu só esperava que Sanny pudesse permanecer viva e continuar distraindo o monstro por tempo suficiente para que eu encontrasse Finn e Kurt.

Desci da minha carona, dei uma palmadinha na cabeça de Widget e pedi desculpas. Procurei na sala principal, mas não havia sinal de Finn e Kurt. Forcei passagem por entre a multidão de carneiros e bodes, em direção ao fundo da caverna.

Muito embora tivesse sonhado com aquele lugar, foi difícil encontrar meu caminho pelo labirinto. Desci corredores atulhados de ossos, passei por salas cheias de tapetes de pele de carneiro e carneiros de cimento em tamanho real, que reconheci como obra da Medusa. Havia coleções de camisetas de carneiro; grandes tonéis de creme de lanolina; casacos, meias de lã e chapéus de lã com chifres de carneiro. Finalmente, encontrei a sala do tear, onde Finn estava agachado num canto, tentando cortar as amarras de Kurt com uma tesoura.

- Não adianta - disse Kurt. - Essa corda parece ferro!

- Só mais alguns minutos!

- Finn - gritou ele, exasperado. - Você está trabalhando nisso há horas!

E então ela me viu.

- Britt? – disse Kurt sorrindo. – Você não explodiu!

- Briiiiiiiiiiiiiiit! - baliu Finn, e se atracou em mim com um abraço de bode. - Você me ouviu! Você veio!

- É claro que eu vim, Finn! Como eu deixaria meu melhor amigo na mão? – respondi.

- Onde está Santana? – Kurt perguntou e senti meu coração apertar novamente.

- Lá fora - respondi. - Mas não temos tempo para conversa. Kurt, fique parado.

Destampei Contracorrente e cortei as cordas. Ele se pôs em pé, rígido, esfregando os pulsos. Olhou-me sorridente por um momento, depois pulou no meu pescoço me abraçando com força.

- Obrigado. – disse.

- De nada - falei. - Então, havia mais alguém a bordo do seu bote salva-vidas?

Kurt pareceu surpreso.

- Não. Só eu. Todos os outros a bordo do Birmingham... bem, eu nem sabia que vocês tinham escapado.

Uma explosão ecoou pela caverna, seguida por um grito que me fez agoniar e deixou minha visão turva e corpo trêmulo. Era Santana gritando de medo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mar De Monstros - Brittana" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.