Mar De Monstros - Brittana escrita por Ju Peixe


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde! Finalmente acabei um dos meus 205403257230 trabalhos pra entregar, então acho que posto mais um hoje.



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A ilha era provavelmente o lugar mais bonito que eu já vira. Ao contrário do que eu pensava que seria, ela era cheia de árvores e rodeada por um mar verde. Uma faixa de areia branca cobria grande parte do local, e me perguntei se seria magia.

- O Velocino. – San disse, lendo meus pensamentos.

Ela estava certa. Mesmo sem estar perto dele, podia senti-lo. Poderia curar qualquer coisa, até a árvore de Quinn.

- Se nós o levarmos embora, a ilha vai morrer?

 San sacudiu a cabeça.

- Ela vai se esgotar. Voltar ao que seria normalmente, o que quer que fosse.

Eu me senti um pouco culpada por arruinar aquele paraíso, mas lembrei a mim mesma que não tínhamos escolha. O Acampamento Meio-Sangue estava em dificuldades. E Joe... Joe ainda estaria conosco se não fosse por aquela missão.

Na campina na base da ravina várias dúzias de carneiros andavam em círculos. Pareciam bastante pacíficos, mas eram enormes – do tamanho de hipopótamos. Logo além deles havia um caminho que levava às colinas. No topo do caminho, perto da beira do cânion, estava o grandioso carvalho que eu vira em meus sonhos. Algo dourado brilhava em seus galhos.

- Isso está fácil demais – disse eu. – Podemos simplesmente subir até lá e pegá-lo?

Os olhos de Santana se estreitaram.

- Deveria haver um guardião. Um dragão ou...

Foi quando um cervo emergiu dos arbustos. Ele trotou para a campina, provavelmente em busca de grama para comer, quando os carneiros baliram todos de uma vez e assustaram o animal. Aconteceu tão depressa que o cervo tropeçou e se perdeu em um mar de lã e cascos batendo. Grama e tufos de pelo voavam pelo ar. Um segundo depois todos os carneiros se afastaram, de volta às suas pacificas perambulações. Onde estivera o cervo, havia agora uma pilha de ossos limpos e brancos. San e eu nos entreolhamos.

- Eles são como piranhas – disse ela.

- Piranhas com lã. Como é que nós...

- Brittany! – arfou Santana, agarrando meu braço. – Olhe.

Ela apontou para a praia, logo abaixo da campina dos carneiros, onde um pequeno bote fora arrastado para a terra... o outro bote salva-vidas do navio em que estávamos.

Concluímos que não havia como passar pelos carneiros comedores de gente. San queria se esgueirar invisível pelo caminho acima e agarrar o Velocino, mas no fim eu a convenci de que alguma coisa iria dar errado. Os carneiros poderiam sentir seu cheiro. Outro guardião poderia aparecer. Alguma coisa. E se aquilo acontecesse eu estaria longe demais para ajudar, e não ia arriscar quase perdê-la pela segunda vez só hoje. Além disso, nossa primeira obrigação era achar Finn e quem quer que tivesse chegado à costa naquele bote – supondo que tivesse conseguido passar pelos carneiros. Eu estava nervosa demais para falar sobre minha esperança secreta... de que Joe ainda pudesse estar vivo.

Ancoramos o Vingança da Rainha Ana no lado de trás da ilha, onde as falésias subiam em linha reta uns bons sessenta metros. Imaginei que seria menos provável que vissem o navio ali. Escalar as falésias até parecia possível – com um grau de dificuldade mais ou menos igual ao da parede de lava no acampamento. Pelo menos não havia carneiros. Eu esperava que Polifermo não criasse também cabras montanhesas carnívoras.

Remamos num bote salva-vidas até a base das rochas e começamos a subir, muito devagar. Santana foi primeiro porque escalava melhor. Ficamos perto de morrer uma seis ou sete vezes só, o que considerei muito bom. Em certo momento deixei escapar uma das mãos e me vi pendurada por um braço numa saliência quinze metros acima da arrebentação rochosa. Mas achei outro ponto de apoio e continuei escalando. Um minuto depois Santana pisou em musgos escorregadios e seu pé deslizou. Felizmente, ela encontrou alguma outra coisa em que apoiá-lo. Por azar, tratava-se da minha cara.

- Desculpe – murmurou ela.

- Tudo bem – respondi, embora na verdade não quisesse saber qual era o sabor do tênis de San. Preferia o de seus lábios.

Finalmente, quando meus dedos já pareciam chumbo derretido e os músculos do meu braço tremiam de exaustão, nos arrastamos sobre o topo da falésia e desmoronamos.

- Ugh - disse eu.

- Ai - gemeu Santana.

- Grrrr! - Urrou outra voz.

Se eu não estivesse tão cansada teria pulado mais uns sessenta metros. Girei o corpo, mas não pude ver quem rosnara. Santana tampou minha boca com a mão. Ela apontou.

A saliência sobre a qual estávamos sentadas era mais estreita do que eu pensava. O lado oposto era um desfiladeiro, e era de lá que vinha a voz - logo abaixo de nós.

- Você é bem agressiva para uma biba! - rugiu a voz profunda.

- Enfrente-me! - Era a voz de Kurt, sem dúvida. - Devolva minha espada e lutarei com você!

O monstro riu estrondosamente.

San e eu nos arrastamos até a beirada. Estávamos logo acima da entrada da caverna do ciclope. Abaixo, estavam Polifermo e Finn, ainda de vestido de noiva. Kurt estava amarrado, pendurado de cabeça para baixo acima de um caldeirão de água fervente. De certa forma, torcia para que Joe também estivesse lá embaixo. Mesmo que ele estivesse em perigo, ao menos eu saberia que estava vivo. Mas não havia sinal dele.

- Hummm - ponderou Polifermo. - Comer a biba fanfarrona ou esperar o banquete de casamento? O que acha minha noiva?

Ele se voltou para Finn, que recuou e quase tropeçou cauda de seu vestido, terminada.

- Ah!, ahn, eu não estou com fome agora, querido. Talvez...

 - Você disse noiva - perguntou Kurt.

- Quem... Finn?

Ao meu lado Santana murmurou:

- Cale a boca. Ele tem de calar a boca.

Polifermo olhou enfurecido. - Que "Finn"?

- O sátiro! - berrou Kurt.

- Ah! - ganiu Finn. - Os miolos do pobrezinho estão fervendo por causa daquela água quente. Puxe-o para baixo, querido!

Os cílios de Polifermo se estreitaram sobre o maligno olho leitoso, como se ele tentasse enxergar Kurt mais claramente. O ciclope era uma visão ainda mais horrível do que nos meus sonhos. Em parte, porque seu cheiro rançoso agora estava muito próximo. Em parte, porque ele vestia sua roupa de casamento - um saiote tosco e uma manta nos ombros, feitos de smokings azul-bebê costurados um no outro, como se ele tivesse despido uma festa de casamento inteira.

- Que sátiro? - perguntou Polifermo. - Sátiros são boa comida. Você me trouxe um sátiro?

- Não, seu grande idiota! - berrou Kurt. - Aquele sátiro! Finn! Aquele de vestido de noiva!

Eu quis torcer o pescoço de Kurt, mas era tarde demais. Tudo o que pude fazer foi olhar enquanto Polifermo se virava e arrancava o véu de noiva de Finn - revelando seu cabelo encaracolado, a barba desmazelada de adolescente, os pequenos chifres. Polifermo respirou pesadamente, tentando conter a raiva.

- Eu não enxergo muito bem - rosnou. - Desde muitos anos atrás, quando o outro herói me furou o olho. Mas VOCÊ... NÃO É... UMA DAMA... CICLOPE!

O ciclope agarrou o vestido de Finn e o arrancou. Embaixo, o velho Finn reapareceu, com seu jeans e sua camiseta. Ele gemeu e se abaixou quando o monstro desferiu um golpe que passou acima de sua cabeça.

- Pare! - implorou Finn. - Não me coma cru! Eu... eu tenho uma boa receita!

Estendi a mão para minha espada, mas Santana sussurrou:

- Espere!

Polifermo estava hesitando, uma grande pedra na mão, prestes a esmagar sua pretensa noiva.

- Receita? - perguntou a Finn.

- Ah, s-sim! Você não pode me comer cru. Vai pegar uma infecção, e botulismo, e toda sorte de coisas horríveis. Vou ficar muito mais gostoso grelhado em fogo lento. Com chutney de manga! Você pode pegar algumas mangas agora mesmo, lá embaixo no bosque. Ficarei esperando aqui.

O monstro pensou naquilo. Meu coração martelava contra as costelas. Calculei que morreria se atacasse. Mas não poderia deixar que o monstro matasse Finn.

- Sátiro grelhado com chutney de manga - pensou Polifermo. Ele olhou de novo para Kurt, ainda pendurado acima do caldeirão de água fervente.

- Você também é um sátiro?

- Não, seu grande monte de estéreo! - berrou ele. - Eu sou um menino! Filho de Afrodite!

- Afrodite - repetiu Polifermo. – A deusa da beleza.

- Ponha-me no chão!

Polifermo ergueu Finn como se ele fosse um cachorrinho desobediente.

- Agora tenho de pastorear carneiros. Casamento adiado para de noite. Então comeremos sátiro como prato principal!

- Mas... você ainda vai se casar? - Finn pareceu ofendido. - Quem é a noiva?

Polifermo olhou na direção do caldeirão fervente. Kurt soltou um som estrangulado.

- Ah, não! Você não pode estar falando sério. Eu não sou...

Antes que San ou eu pudéssemos fazer alguma coisa, Polifermo a arrancou da corda como se ela fosse uma maçã madura e a jogou junto com Finn no fundo da caverna.

- Fiquem à vontade! Voltarei ao pôr-do-sol para o grande evento!

Então o ciclope assobiou e um rebanho misto de bodes e carneiros - menores que os comedores de gente - saiu da caverna, passando por seu amo. Enquanto eles seguiam para o pasto, Polifermo dava palmadinhas nas costas de alguns e os chamava pelo nome- Beltbuster, Tammany, Lockhart etc. Quando o último carneiro se afastou bamboleando, Polifermo rolou uma rocha na frente da entrada tão facilmente como se fechasse uma porta de geladeira, isolando o som dos gritos de Kurt e Finn lá dentro.

- Mangas - resmungou Polifermo consigo mesmo. - O que são mangas?

Ele foi caminhando tranquilamente montanha abaixo em sua roupa de noivo azul-bebê, deixando-nos sozinhos com um caldeirão de água fervente e uma rocha de seis toneladas.  


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Notas finais do capítulo

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