Senti como se acabassem de me dar um soco no rosto! Minhas pernas falharam e quase caio para trás. A Ilha do Leste era assustadoramente bela. Havia uma enorme montanha cheia de pinheiros altos com tons de verde magníficos. No cume da grande montanha, as ruínas do que supostamente outrora fora um enorme castelo, pareciam se mover lentamente. Havia uma enorme baía cuja as areias brilhavam com a luz da tarde. Se fechássemos os olhos por algum tempo e voltássemos a abri-los, a ilha desaparecia, ela só aparecia novamente depois que os olhos se acostumassem com a claridade. Isso seria algum tipo de ilusão de ótica. 

Loren estava ao meu lado. Ela parecia tão perplexa quanto eu. Sai correndo. Eu a sigo assustada.

Ela pega o livro, este estava escondido debaixo de suas cobertas de lã. Ela olha para mim, havia um certo brilho em seus olhos. Ela abre o livro em uma página aleatória. Algo me fez desviar o olhar das páginas, senti que este era algum tipo de aviso. Depois de um tempo tive um pouco de medo do livro. Algo sempre me fazia hesitar. Então jurei a mim mesma que nunca o leria. 

–Não devíamos ter chego tão rápido!– Ela anuncia folheando o livro desesperadamente. – Outros levaram dias, semanas para lá chegar!

–Talvez o navio tenha se transformado em um jato navegante mágico enquanto dormíamos.– Ela me olha confusa. Eu estava tentando quebrar o clima tenso.

–Um o quê?

–Jato. Um tipo de avião... aquela coisa que voa... ah! Esqueça!– digo compassadamente.

–Seu mundo é muito curioso. As únicas coisas que voam por aqui são aves, dragões e fadas...– Ela sorri. Por um momento esquecemos que havíamos chegado em uma ilha maluca e que poderíamos morrer!

A porta abre devagar. Era o capitão.

–Dou a ordem para ancorarmos, my lady?– Sua voz era grave e poderosa. Essa era a primeira vez que ouvi sua voz.

Loren balança a cabeça sem tirar os olhos de uma das páginas do livro. 

Ela me mostra a página, mas desvio o olhar involuntariamente. Foi com um pouco de esforço que olho. Havia a imagem de uma ilha, como a ilha do Leste. No topo da montanha havia um palácio enorme. 

Na folha seguinte as seguintes palavras estavam escritos manualmente com uma letra elegante e difícil de entender:

"O Lar da paz, berço da magia. Águas traiçoeiras deram fim á vida da grandiosa Rainha da Espuma, amaldiçoaram sua baía, destruíram a paz. A ilha é protegida por um predador de escamas de prata e por um soldado gigante. A Ilha da Espuma esconde os segredos mais secretos e os tesouros mais preciosos. Aventureiros jamais cobicem as riquezas da Praia Dourada, um destino pavoroso os aguarda."

Sinto um frio percorrer a minha espinha.

–Rainha da espuma... Esse é o nome do navio, certo?

–Sim, é em homenagem á uma velha lenda. Dizem que havia uma enorme ilha rica e boa. Um feiticeiro destruiu o castelo e toda as cidades. Rainha da Espuma ficou conhecida por lutar contra o feiticeiro por anos até perder suas forças e cair no mar. Ele fez com que a areia da praia dourada fizesse todos os objetos se transformarem em ouro puro. No fim ele levou todo o ouro mas morreu durante sua viajem de volta para casa. O ouro estava amaldiçoado. A ilha se transformou em um lugar mágico e poucos conseguiram lá chegar.

Olho para o desenho mais uma vez. Havia algo estranho ali...

–É isso!– exclamo. –A ilha! É a Ilha da Espuma! Por isso chegamos tão depressa! E por isso a areia da praia transforma objetos em ouro! Hurt-Berg planeja algo ruim, Loren, temos que descobrir!

Ela balança a cabeça positivamente um pouco abalada.

• • •

Ancoramos. Loren e eu estávamos com armaduras completas, por questão de segurança. Cada bote transportava cinco monstros, ou dez homens. O Capitão foi o primeiro a descer. Antes que seus pés tocassem a areia seca eu grito sem querer:

–Não!– todos me olharam surpreendidos.– A areia seca não transforma carne em ouro! Tirem as botas!

Imediatamente todos o fizeram. Ja sabiam dos rumores.

Piso com os pés descalços na areia fofa com extrema hesitação. Como previ, meus pés estavam intactos. Loren sorri.

–Como sabia disso?

–Não sabia.– Respondo. Ninguém queria levar sapatos amaldiçoados para casa! 

Explicamos a todos sobre nosso plano.

–Teremos uma longa noite. Não descansaremos A ilha esconde perigos e não fraquejaremos.– Ela dizia muito alto. Por um momento tive medo de que eles (os inimigos) nos escultassem. Pensei na possibilidade de não haver ninguém na ilha alem de nós. Havia um grupo de navios de guerra ancorado ali. Eles ja deviam nos ter atacado. Loren explica sobre a coisa dourada e o cara grandão.

–Eles estarão preparados.– digo.– Uma parte do exército estará aqui, na praia. Outra parte subirá a montanha comigo e Loren. Não sabemos o que nos espera. Alimentem-se e descansem até o pôr do sol.

O Capitão nos ajuda a selecionar cuidadosamente os soldados que nos acompanhariam. Haveriam sentinelas por toda a ilha que mudariam de turno a cada duas horas. Haveriam também mensageiros, os mais pequenos e rápidos, que ajudariam a nos comunicar e a saber quando enfrentaríamos problemas. 

De fato éramos organizados. Nossas armas estavam escondidas e protegidas tal como os nossos suprimentos. 

Loren estava sentada olhando o mar pensativa. Estava triste.

–Não quero que Cedric se machuque...– suspira.

–Ele vai ficar bem. Eu tenho certeza!

Sento a seu lado e jogo uma concha dourada no mar. Tanto ouro para nada!

–E se...– Ela diz mudando de expressão, como se estivesse tendo uma ideia.– Você ama Cedric, certo?

–Hum... certo.

–E eu tenho certeza se que ele a ama do jeito que eu nunca amarei.

–Aonde você quer chegar, Loren?

Ela balança as mãos rapidamente alegre como uma criança extremamente feliz.

–Eu não posso me casar com ele! Mas você pode!

Arregalo os olhos. Que ideia louca! Eu não poderia me casar com dezesseis anos! Pensei como seria assustador ser a única estudante casada na escola, casada com um príncipe de outro mundo!

–Loren eu não posso me casar assim!– digo sorrindo.

–Claro que pode!– Por que não? Eles não se casam no seu mundo?

–Claro, mas... não tão cedo. Primeiro eles namoram e depois de muito tempo procurando a pessoa certas eles se casam. Raramente casamos com o primeiro namorado e definitivamente não é certo casar tão cedo. A maioria das pessoas pensam na faculdade antes de se casar, ter filhos, um carro...

Ela cai na gargalhada. Provavelmente não entendera nada do que eu havia dito.

–Mas vocês podem ficar juntos, não podem?

–Talvez...

–Bom, seria uma boa forma de unirmos Flosd com o Reino da Luz. Você é praticamente uma Flosdiana agora e é conhecida no mundo todo como uma heroína! As pessoas vão gostar de sua união com Cedric! Mamãe acharia uma ideia fabulosa e assim eu poderia casar-me com o meu Loui! Assim poderemos unir os três reinos de uma vez só! 

Era de fato uma ideia fabulosa, mas o Sol estava se pondo e não tínhamos muito tempo para pensar.