Ela me olhava com um olhar de pena e tristeza. Eu podia sentir que minha dor estava afetando-a e isso não era bom. Eu não queria ver minha mãe triste por minha causa, não mesmo.

Fiquei três dias internada e eu já estava começando a me acostumar com aquele quarto branco. Três dias sem nenhum sinal dele.

Fui para casa acompanhada de minha mãe. E quando cheguei minha irmã veio correndo me abraçar. Eu nunca tinha sentido o amor que minha irmã tinha por mim, mas naquele momento eu senti.

– Nunca mais faça isso, cabeça oca – disse-me ela em meio de sorrisos e lágrimas.

Me emocionei na hora e prometi a ela que não faria mais, mas eu não sabia se iria cumprir minha promessa. Subi para meu quarto e relaxei em minha cama que, depois de três dias em uma cama de hospital dura, parecia maravilhosa.

Ouvi batidas na porta.

– Entre.

Carolina passou pela porta com a cabeça baixa, como se quisesse me contar ou saber de alguma coisa. Sentou-se na beirada da cama e tocou minha mão.

– Bruna ligou enquanto estava no hospital.

– O que ela queria? - perguntei.

– Saber como você estava – respondeu séria.

Ela continuava a acariciar minha mão e isso me provocava cocegas e de imediato lembrei dele. Eu não queria me lembrar então pedi para que ela parasse.

– Ela pediu para você ligar para ela assim que chegasse em casa. Ela estava realmente muito preocupada – disse com a expressão triste e a voz fraca.

Ela levantou, pegou meu celular em minha bolsa e voltou para a cama. Estendeu a mão com o celular para mim. Eu o peguei e fiquei analisando, pensando em ligar ou não ligar. Eu não tinha escolha, Bruna era minha amiga e sabia que podia confiar nela em contar o que aconteceu.

– Alô, Julia? – disse ela quando atendeu.

– Oi Bruna, sim, sou eu. – respondi sem nenhum animo.

– Como você esta?

– Estou bem. – menti.

Ela suspirou.

– O que foi aquilo?– perguntou ela e eu resolvi que não iria contar.

– Nada.

– Não minta pra mim Julia.

– Eu não quero falar sobre isso, por favor– fingi interessa naquela conversa desnecessária.

Ela mudou de assunto rápido e começamos a conversar sobre outras coisas. Eu adoro conversar com Bruna, ela me entende, por mais que ela seja mais nova que eu.

Enquanto Rafael... ele, estava no hospital, eu e ela conversávamos muito. Ela, sem dúvidas, era minha melhor amiga.

Conversamos durante uma hora. Foi bom, ela me fez sorrir um pouco, mas tivemos que interromper nossa conversa por que ele estava perto e ela não queria que ele nos visse conversando. Eu também melhor desligar pois não queria ter de chorar, de novo.

Desliguei e pequei meu notbook para atualizar minhas redes sociais e tomei um susto quando vi que havia milhões de solicitações de amizade. Muitas notificações de várias meninas me xingando e várias fotos minhas saindo daquela boate de mãos dadas com Rafael.

Fechei tudo na mesma hora e coloquei o notbook na minha cama e agarrei meu travesseiro com a maior força possível.

Eu queria ouvir aquela voz, queria ver aquele rosto, queria sentir aquele toque, queria sentir aqueles lábios de seda de novo, queria poder abraça-lo, queria poder ama-lo de novo. Eu precisava ver ele.

Peguei meu celular para ver a hora e me deparei com uma foto de nós dois, que tiramos no jardim a algum tempo atrás. Pensei em ligar para ele e dizer que não posso mais viver sem ele, mas ele não iria querer falar comigo. Não importa, eu iria tentar.

Disquei o número, mas em privado. Chamou, chamou e até que ele atendeu.

– Alô?– parecia desconfiado e sua voz estava tremula.

– Ahm – respirei fundo tentando obrigar meus lábios a se mexerem – Oi.

– Quem é? O que você quer? – ele talvez não tivesse percebido que era eu.

– Sou eu Rafael. – consegui dizer e ele não reagiu.

Ficamos em silencio, mas eu sabia que ele ainda estava na linha, ainda podia escutar sua respiração.

Eu não sabia o que dizer, e nem o que pensar. Meu coração estava a mil e meus dentes estavam serrados.

– Eu tenho show agora. Se der depois te mando uma mensagem. - ouvi sua voz falhar – Preciso me concentrar em meus fãs agora.

– Tudo bem.

Desliguei e quase desmaiei por ter ouvido sua voz. Esperei por duas horas que pareceram eternas e ele me mandou uma mensagem. Quase tive um surto quando meu celular apitou indicando uma nova mensagem. A mensagem dizia:

"O que aconteceu?"

Respondi apenas:

"Pode parecer clichê, mas preciso de você"

Ele demorou um pouco para responder e eu já estava perdendo as esperanças e estava me odiando por ter corrido atrás. E de repente o celular apitou.

"Eu nunca vou conseguir te agradecer o suficiente por todas as sensações boas que te amar me trouxe. Você chegou na hora certa e mudou a minha vida me fazendo acreditar em mim mesmo quando nem eu mais acreditava. Queria que sentisse minha falta, que sonhasse comigo ou que pensasse em mim antes de dormir. Queria que tivesse fotos minhas espalhadas por todos os lugares e ao ouvir meu nome, sorrisse feito boba. Queria que minha voz te fizesse bem e que meu sorriso mudasse seu dia. Queria que você sentisse orgulho de mim e que eu fosse o motivo de você permanecer viva. Queria ser pra você tudo que você é pra mim, para que pelo menos por alguns segundos, você sinta, a infinidade do meu amor, mas naquela noite, parecia que você não me amava mais e não se importava comigo! Foi como um choque de uma dor estrema e você me destruiu por dentro. Eu achei que você nunca mais iria me ligar, mas agora, que ouvi sua voz, eu soube se uma vez por todos que você ainda me ama e eu queria te dizer que eu te amo mais que minha própria vida."

Eu não podia acreditar que ele mesmo que havia escrito aquilo. Com palavras tão simples, mas ao mesmo tempo tão lindas, ele me fez acreditar que eu ainda sou importante na vida dele.