– Eu? Bom, não sei me descrever muito bem... – sorri e ele retribuiu o sorriso.

– Vai lá, me conta um pouco sobre você, afinal, você já deve saber tudo sobre mim.

– Na verdade, não. – eu disse sinceramente – Eu sei o que a imprensa diz sobre você e não quem você realmente é.

– Ninguém nunca me disse isso. – ele pareceu assustado com o que eu disse – Você é minha fã?

– Sim, demais. – disse aquelas palavras com lagrimas nos olhos, me controlei ao máximo.

– Eu não entendo... – ele fez uma pausa longa – Por que você não fez como as outras quando me viu no camarim? – ele pareceu muito confuso enquanto falava.

– Eu não queria ser como as outras. Quero que seja especial.

– Há algum interesse nisso? – ele pareceu triste quando pronunciou a palavra “interesse” e eu me enfureci um pouco.

– Não, é claro que não. Eu sei que a maioria das pessoas se aproximam de você só por interesse, mas eu não sou assim. Pode confiar.

– Algo me diz que eu devo confiar em você. – ele sorriu e de repente soltou uma gargalhada, parecia uma criança rindo e aquilo era lindo.

– Por que a risada? – perguntei confusa.

Ele parou, se endireitou e ficou em silêncio por alguns segundos.

– Eu não te conheço, mas algo me diz que isso não vai acabar quando você sair por aquela porta e for embora. – ele disse aquilo olhando nos meus olhos.

Eu não sabia o que dizer. Alguma coisa dentro dele sabia que algo iria acontecer e aquilo era ótimo. A minha vontade de abraça-lo estava quase me dominando então resolvi procurar em minha mente algo que pudesse quebrar aquele silêncio terrível.

– Vamos começar de novo. – sorri – Olá, meu nome é Julia, tenho 19 anos, moro em São Paulo com a minha mãe e minha irmã. Sou sua fã á incríveis quatro anos. Trabalho em um dos salões de cabeleireiros mais famosos da cidade, sou cabeleireira. Amo minha família mais que tudo na vida. Bom, essa sou eu. – ele sorriu bobo e eu continuei – E esqueci-me de dizer que sou uma tagarela.

Ele começou a rir e eu também.

– Adorei isso. Você se parece comigo, a não ser o fato de que eu moro com meu pai. – ele sorriu e parou, percebeu que aquilo não me fez bem, continuou – Desculpa, eu não devia ter dito isso.

– Não, não tem importância. Eu estou bem. – sorri falsa.

– Oque houve? Se quiser não precisa dizer, é claro. – disse ele constrangido.

– Meu pai foi embora quando minha mãe estava gravida de minha irmã. Eu tinha seis anos. – meus olhos se encheram de lagrimas e eu me conti. Ele percebeu minha tristeza e tocou minha mão que estava sobre a mesa e aquilo me fez arrepiar.

Ficamos em silencio. Ele me olhava profundamente e eu tentava desviar o olhar, mas era quase impossível. Ele me hipnotizada e isso me deixava com um pouco de raiva, mas como sentir raiva de uma criatura tão perfeita?

Finalmente a pizza chegou. Enquanto eu lutava para conseguir comer um pedaço de pizza, ele devorou os outros sete pedaços. Eu ri um pouco daquilo, não é sempre que vejo alguém comer sete pedaços de pizza de uma vez só. Quando finalmente consegui comer meu pedaço, tomei um pouco de vinho. Havia uma pergunta que na qual, eu queria muito saber a resposta, porém, tinha medo de perguntar. Respirei fundo e a coragem veio.

– Ei – eu estava com a voz tremula.

– Sim? – ele parou de comer rapidamente.

– E a Jade? Sua namorada. – me senti estranha quando perguntei e percebi que aquilo o entristeceu.

– Oque quer saber sobre ela? – ele parecia frio e toda a alegria que havia naqueles olhos, sumiu.

– Como vai o namoro? Ela te faz feliz?

Por um momento ele parou, talvez estivesse pensando na melhor resposta.

– Ela... Ela é legal. – não foi a resposta que eu queria ouvir.

– Cara, sou sua fã e acho que te conheço o suficiente para saber que você não esta feliz.

– Esta tão na cara assim? – aquela tristeza me comovia.

– Sim. – talvez não fosse o que ele queria ouvir, mas foi o que ele merecia ouvir.

Um garçom veio até nossa mesa para avisar que o restaurante iria fechar em cinco minutos então nos levantamos e fomos em direção á porta. Olhei no relógio e já era muito tarde e havia uma chamada perdida no meu celular. Era minha mãe.

– Já esta tarde. Tenho que ir embora. – meu coração apertou implorando para que eu não fosse.

– Você poderia ficar e ir quando amanhecer. – disse ele e eu tive a impressão de que ele queria que eu ficasse.

– Melhor não. Minha mãe deve estar preocupada comigo. – foi ai que eu percebi que ela devia estar muito preocupada.

– Tudo bem então. Vamos, vou te levar até o carro.

Fomos até o carro em silencio. Quando chegamos, eu parei, olhei-o e disse:

– Foi uma noite incrível, obrigada.

– Eu também achei, obrigada você. – disse ele.

Ele pegou em minha mão e eu me arrepiei. Não sei o significado, talvez, nunca saberei. Só sei que nunca irei esquecer-me do macio de sua mão encostando-se à minha.

– Não quero que você suma. Pode passar-me seu número de celular? – perguntou ele, parecia triste.

– Prometo não sumir se você prometer não me esquecer. – respondi sorrindo.

– Prometo. – isso me fez sorrir com vontade, foi a melhor coisa que ouvi nesta noite perfeita.

Eu passei meu número e, por incrível que pareça, ele me passou seu número também. Quando eu estava estrando no carro, parei e o vi parado logo atrás de mim e não me controlei. O abracei e foi o melhor abraço do mundo. Pude sentir aquele corpo quente e aquele coração batendo ali, perto de mim. Foi a melhor sensação do mundo.

Quando eu finalmente o soltei, ele me olhou e abaixou a cabeça.

– Desculpa. – foi à única coisa que consegui dizer antes de entrar no carro e ir embora, talvez, para nunca mais voltar.

A cada metro que eu me distanciava o coração apertava a cada vez mais. Aquela noite sem duvida nenhuma foi a melhor da minha vida.