The Secret Circle escrita por Carol Abreu


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que o capítulo esta meio grande, mas vale a pena ler.



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A marina era realmente pacata. Não era do tipo que a gente costuma vez nas fotos de Los Angeles com várias lanchonetes e uma roda gigante. Na verdade, era bem pequena. Havia um píer com alguns barcos estacionados, a maioria de pesca. O chão de madeira era mal pintado e parecia sempre precisando de conserto, mas o mais curioso naquela marina era o único restaurante. Um estabelecimento particularmente grande. As paredes de madeira, assim como o chão, as janelas abertas e arejadas, permitindo que a luz dominasse o ambiente. Por dentro, o restaurante era incrivelmente retrô, estilo anos 70. Violões e discos de vinil pendurados nas paredes, as cadeiras acolchoadas de um vermelho vivo e brilhante e dava para ver o piso de madeira por baixo do porcelanato preto desgastado. Bem no fundo a direita, havia um bar com uma estante cheia de bebidas de todos os tipos e bancos altos brancos igualmente brilhantes. Mas o que havia de mais curioso no restaurante não era sua decoração ou o fato de ela não corresponder nem um pouco com o resto da arquitetura da cidade. O que havia de mais curioso é que ela estava aberta, e cheia de gente. Ótimo, Cassie pensou, alguma dessas pessoas deve saber onde fica a Crowhaven Road.

Ela observou bem as pessoas no local, não queria ser petulante ou inoportuna, atrapalhar algum tipo de café da manhã em família ou alguma discussão importante. Ela optou por um velhinho sentado na bancada perto da janela. Ele tinha a coluna curvada e apenas três fios de cabelo, os olhinhos já pequenos apertados correndo pelo jornal.

– Com licença, o Senhor sabe me informar onde fica a Crowhaven Road? – Perguntou na voz mais simpática que conseguiu.

O velho olhou para ela com os olhinhos azuis arregalados, que juntavam uma combinação de medo e nojo. A inocência que percebera nele antes agora já não era assim tão clara. Ela pensou em se retirar, mas continuo parada, encarnando-o com um meio sorriso.

– Não, desculpe, não sei. – Disse o velho com o tom de voz assustado, depois pegou sua xícara de café e se retirou.

Cassie passou para a mesa ao lado, com a esperança gotejando.

– Desculpe, não quero incomodar, mas a senhora poderia me dizer onde fica a Crowhaven Road?

A mulher de cabelos cor de fogo a olhou com o mesmo medo e nojo do velho, e assim como ele, pegou sua xícara e se retirou. Ela tentou outras, e outras, e outras mesas. A resposta era sempre um olhar apavorado e uma saída grosseira. Cassie se sentou no bar, exausta.

– Procurando pela cada de sua avó? Crowhaven Road, número 06, certo? – Disso o garçom, para a surpresa de Cassie.

Ela o fitou com curiosidade. Não se lembrava de ter dito o nome da rua a ele, muito menos o número da casa.

– É... Como... Como você sabe?

Ele pegou uma garrafa de uísque e encheu seu copo calmamente.

– Sou um amigo da família. É uma cidade pequena. A propósito, como vai sua mãe? Faz tempo que não nos vemos...

Sua mãe. Cassie sentiu uma pontada no estomago ao lembrar-se dela. Queria dizer que estava bem, que estava em casa, na California.

– Ela faleceu há um mês. – Cassie teve que reunir todas as suas forças para terminar a fala.

Os olhos do garçom, que eram de um azul-esverdeado rígido, se tornaram aguados e distantes.

– Amélia morta? Oh, meu deus. – Ele parecia estar falando mais com sigo mesmo do que com Cassie. Ela podia ver as lagrimas se formando e escorrendo em seu rosto. Eles a enchugou e depois se virou para ela e disse: – Sinto muito por sua perda. Se ajuda, você é exatamente igual a ela. Os olhos azuis aguados e bondosos e o cabelo sedoso e loiro. A forma como você franze testa quando esta confusa, tudo isso lembra muito a sua mãe. – E lembrava mesmo, pensou Cassie. – Eu e sua mãe namoramos sabia? As pessoas costumavam dizer que éramos perfeitos uns para os outros. E éramos mesmo. Nos amávamos mais que tudo nesse mundo, até que seu pai chegou e...

– Pai... – Ela ouviu um garoto chamar o suposto “ex-namorado” de sua mãe por trás de si. Era uma voz suave, profunda e confortavelmente familiar. – Andou passando da conta de novo? –

Bom dia, filho. Cassie, esse é o Adam, meu filho único. Adam essa é a Cassie, filha da Amélia. – A voz do garçon ainda era distante e magoada, mas agora parecia haver um fundo de esperança nela.

Adam estendeu a mão para cumprimenta-la, e no momento que suas mãos se tocaram foi com se alguém tivesse ligado um fio de alta voltagem entre os dois. Sua mão formigava de uma forma estranhamente intensa, com se ao redor do formigamento houvesse um fio, que subia pelo braço, e cada vez mais intenso, passava pelo ombro, depois pelo peito, até o coração. Essa sentia como se tivesse se conectado a esse fio pela mão de Adam, e assustada, ela recuou.

Cassie olhou bem para Adam, estatura media, cabelos castanhos lisos e bagunçados e uma pele clara. Ela deu uma segunda olhada, tentando entender o que a chamara tanta atenção, ele era um garoto bonito, mas... Nada em especial, nada que lhe fizesse sentir aquilo. Talvez a boca, ela pensou. Sua boca tinha uma coloração especial e um sussurro convidativo, e quando ele sorriu pareceu que o mundo se iluminou mais. Só que não era isso, Cassie já havia conhecido muitos garotos daquele com esse sorriso e poderia afirmar que esses eram os mais perigosos... Havia algo mais. Ela se limitou a dar uma última olhada em seu rosto... Seus olhos... Tinha quase certeza que era isso... Seus olhos eram de um cinza-azulado espectral, profundos e objetivos, e a cada vez que ousava penetrar mais fundo neles sentia o mistério que os envolvia. Ele apontou para um canto, e quase de forma automática, ela o seguiu.

– Desculpe pelo meu pai ele... – Adam se interrompeu, tentando achar as palavras certas. – tem alguns problemas com bebida. A propósito, sinto muito pela sua mãe. – e depois acrescentou: – Você realmente parece com ela.

Cassie franziu a testa, confusa. Como ele sabia disso?

– Você também conhecia minha mãe?

Ele riu um pouco, meio sem graça.

– Eu sei que isso parece um pouco estranho, mas meu pai tem uma foto de sua mãe quando era jovem na carteira, uma vez o peguei olhando para ela.

– Um pouco estranho? – Perguntou Cassie, surpresa.

Ele soltou uma risada, e foi como se o mundo se iluminasse de novo. Como se aquele sorriso fosse única e exclusivamente para ela. Cassie olhou para o pai de Adam. O mesmo sorriso, o mesmo rosto e até o mesmo cabelo que o filho, mas não os mesmo olhos.

– Ele parece ser um bom homen. – Acrescentou ela, sem querer deixar a impressão errada.

– Ele é. – Disse Adam, olhando para o pai. Depois de alguns segundos ele acrescentou. – Eu posso te levar para a Crowhaven Road se quiser. Tenho que ir lá de qualquer jeito.

Diga que não... Dizia uma voz dentro dela. Você esta de carro, não pode aceitar. Diga que não... Mas eu quero aceitar, relutava ela. Você nem o conhece, replicava a voz. Diga que não...

Mas por mais que tentasse, Cassie não conseguia diz que não, e também não conseguia dizer que sim. Sua voz estava presa na garganta, ardendo para sair.

Adam ergueu as sobrancelhas, esperando por uma resposta.

Diga que não... Diga que não...

– Seria ótimo. – Disse ela, por fim.

Com um sorriso – aquele sorriso – Adam tirou as chaves do bolso e foi em direção à porta.

– Na verdade, – Cassie soltou as palavras num ruído alto, como se ela estivesse prestes a cometer um erro. – Eu não posso aceitar, estou dirigindo. Só preciso que me diga onde fica a Crowhaven Road.

Negar foi mais difícil do que ela imaginou.

– Em Foe’s hill, colina oeste. É a última rua. – Disse ele, o olhar profundo parecia decepcionado.

– Vocês têm uns nomes bem estranhos para os locais aqui.

Ele riu, mas era um riso triste.

Ela retribuiu com um sorriso e saiu andando, esforçando-se para não olhar para trás. E quanto mais se aproximava do carro mais tudo aquilo parecia um sonho. Um lindo sonho, mas aos olhos da realidade, ridículo e idiota. Era assim que ela se sentia. Ridícula, idiota e boba. Ela só havia visto o garoto uma vez e já estava apaixonada por ele? Tudo o que sabia sobre Adam era seu nome e que o pai dele foi namorado de sua mãe na adolescência e era garçom do restaurante na Marina. Mas ela jurou que ainda podia sentir o formigamento em sua mão, mas forte ainda do que quando Adam a tocou. Besteira, pensou ela. Cassie girou a chave no carro, o coração martelando e os dedos tremendo. Ela estava confusa com o que acabara de acontecer. Mesmo que tudo parecesse uma besteira, isso ainda a intrigava. Sua cabeça girava tão rápido que ele nem percebeu que já virara a chave diversas vezes e o carro ainda não saíra do lugar. E ela realmente achou que as coisas não poderiam piorar. Quando ela finalmente achou o endereço, não havia nada que a levasse lá. Cassie girou a chave mais uma vez, com esperança de que o carro pegasse. Nada. E quando ela pensou que já estava no fundo do poço, o carro começou a exalar fumaça.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Tá, não foi tão mais animado assim mas pelo menos entrou o Adam >.<.