Aquele era um lugar bastante triste. Esse foi o primeiro pensamento de Cassie Blake ao chegar à pequena e isolada cidade de Chance Harbor,o que fazia conexão com seus sentimentos. A cidade parecia estar sempre no outono, com uma estranha combinação de mar e montanha. As árvores em tons pastel e o ar frio e gélido. Chovia a maior parte do ano. Pelas montanhas se concentrava a parte residencial; casas de arquitetura antiga construídas com pedras e madeira. Na parte plana concentrava-se a parte comercial que incluía uma pacata marina. A população de Holly Hills era de 10.104 moradores. Resumindo, uma cidade pequena.

   Ela imagina sua mãe na sua idade, andando com os amigos pelas ruas largas e solitárias, procurando por algum tipo de diversão. Era difícil imagina-la daquele jeito. Sempre pensou nela como uma mulher forte, madura e responsável. E fitando a pequena cidade, Cassie tentava imaginar a vida de sua mãe antes de sair da lie ir para a California, o que só a fazia pensar o quanto ela não a conhecia direito. E agora, nunca mais teria a chance de perguntar. Sentiu a garganta apertar após esse pensamento.Nunca... Nunca... Ecoava a voz na sua cabeça. Mas nunca lhe parecia tempo demais.

   Tentando afastar o doloroso pensamento, ela abriu o porta-luvas do carro e pegou um mapa. Crowhaven Road, número 06. Era o que estava escrito no canto da folha. Cassie apertou os olhos para ler as letrinhas do mapa.Crowhaven Road... Crowhaven Road... Seu olhar percorria toda a extensão do mapa, mas não havia nenhuma Crowhaven Road. Ótimo, pensou ela, escrevi o endereço errado. Ela estava perdida numa cidade estranha, onde nunca estivera antes, indo morar com uma mulher que a visitava a cada dois anos. A única família que lhe restara. É só ligar para sua avó e perguntar, lembrou Cassie. Ela tirou o telefone da bolsa, meio tremula, a ideia de uma vida nova cada vez mais perto a assustava. Primeira chamada... Segunda chamada... Terceira chamada... Cada segundo parecia um século.

– Alô? Vovó?

– Cassie! – O tom de voz de sua avó era mais de alivio do que de animação. – Já esta perto?

– Alô? Vovó...Eu... A ligação esta falhando.

– Ah, sim. O sinal aqui em Chance Harbor não é muito bom... É melhor ir se acostumando com isso. O que?... Cassie eu... Cassie...

Cassie estava cruzando os dedos para que a ligação não caísse.

– Vovó, poderia repetir o endereço da sua casa? Acho que anotei errado...

– Ah, claro, Querida. Crowhaven Road, número 06.

Ela releu o endereço escrito no mapa.

– Mas...Alô? Vovó?

Ela discou novamente. Primeira chamada... Segunda chamada... E caixa postal. Cassie podia sentir a vida rindo dela. De toda essa situação. Ela tinha acabado de perder a mãe num incêndio, havia dirigido durante três dias e dormido em motéis de beira de estradas nojentos, desses que os caminhoneiros costumam se hospedar para descansar, e agora estava perdida numa cidade á 120 quilômetros de Salem que nem havia no mapa. Ela teve de comprar um mapa em uma lojinha de suvenires na entrada da cidade. Tudo bem, é só parar e pedir informação, lembrava a si mesma. Ela olhou em volta. Não passava das oito da manhã e as ruas estavam praticamente desertas. Nenhuma loja se encontrava aberta. “Se você fosse uma moradora da cidade, onde você estaria ás oito da manhã?” “Em casa dormindo, é claro!” “Vamos, pense direito... Na escola, talvez? Não posso entrar na única escola de Chance Harbor somente para pedir informação. Vamos, pense...pense...” Ela encostou o carro no meio fio, observando a cidade fantasma, nada mais nada menos que o nada e o barulho das folhas das árvores no chão arrastadas pelo vento. De repente lhe veio uma súbita visão, não como se algo tomasse sua vista, mais como um tipo de pensamento. Você tem que ir para a marina, dizia sua intuição, e nela Cassie sabia que podia confiar, raramente era enganada.