"A gente precisa ter o coração partido algumas vezes.

Isso é um bom sinal, ter o coração partido, quer dizer que a gente tentou alguma coisa."

(Comer, Rezar, Amar)

Capítulo V

Por que será que não demos certo?

No apartamento ...

– Seu idiota, a culpa é sua! Que historia foi aquela de "ela é meiga e doce"? Dissemos isso para nossa vó - reclamou Elena.

– E você! "Ele é perfeito" - falou Damon afinando sua voz.

– Eu não falo assim! - gritou Elena.

– Ah, não mesmo! Eu tentei dar uma melhorada na sua voz de taquara rachada - disse Damon as veias de seu pescoço visíveis.

– Damon, some da minha frente - falou Elena com ódio.

– Será um prazer - disse ele saindo da sala indo em direção a varanda para fumar.

~

– Vejo que velhos hábitos nunca mudam. Continua fumando. Lembro-me que disse que quando fosse adulto pararia de fumar - falou Elena aparecendo na varanda e sentou-se ao lado de Damon.

– Você parou? - indagou Damon que tentou ignora-la e continuou a olhar o céu estrelado.

– Sim, tem dois anos que não fumo - disse Elena toda orgulhosa.

Lembrando que começou a fumar para impressionar Damon. Como fui idiota - pensou.

– Que bom! Não é tão fácil parar - constatou Damon.

– Você foi embora e nem se despediu de mim - disse Damon recordando um dos dias mais tristes de sua vida. Quando percebeu que perdeu quem amava

por medo de expor seus sentimentos. Queria ter tido a coragem de contar antes a ela que sentia .

– Você deixou bem claro que não se importava comigo - falou Elena sua voz pressa em sua garganta.

– Por que será que não demos certo? - indagou Damon mais para ele do que para Elena - Todos pensavam que seriamos um casal - falou Damon olhando para Elena.

Depois de todo esse tempo ela continua bela. Minhas memorias foram um pouco falhas nessa parte, pois ela estava mais linda do que antes - pensou.

– Não sei, talvez incompatibilidade de gênios - respondeu Elena - Vivíamos brigando - disse sorrindo a lembrança.

– E isso não mudou! Veja no que nos metemos por sermos tão briguentos - falou Damon e esbarrou seu ombro no ombro de Elena fazendo-a olhar em seus olhos.

– Velhos hábitos nunca mudam - repetiu Elena o que ja havia dito antes.

– Pelo menos gostou da música que gravei num CD e pedi pra Rebekah entregar a você? - indagou Damon e viu um misto de surpresa e incompreensão no olhar da morena.

– Que música? Ela não me entregou CD nenhum - disse Elena franzindo o cenho.

– Que vadia! Ela me prometeu que entregaria - disse Damon exaltando a sua voz.

– Não sei se você se lembra mas ela vivia bêbada naquela época. Vai ver esqueceu - disse Elena dando de ombros. Mas a verdade era que estava curiosa em saber qual era musica.

– Qual era  a música? - indagou depois de um tempo.

– Esperaí ...

Damon levantou-se, foi ate o quarto e voltou com o violão em sua mãos.

– Bom, eu não tenho a voz igual ao do "Caleb Followill" mas essa musica fica melhor na minha voz - gabou-se Damon.

– Já imaginava que você diria algo do tipo - respondeu Elena e esboçou um singelo sorriso que foi imperceptível ao olhar de Damon. Pois estava com a cabeça baixa afinando as cordas do violão. Dando um ajuste final.

– Por que gravou essa música para mim?

– Quando soube que você estava de partida. Pensei que você não podia ir sem saber o que eu sentia por você ... Naquela época - falou Damon.

A última frase em contradição com os sentimentos que ainda nutria pela morena a sua frente.

Elena analisou mentalmente tudo o que ele disse. "Ele disse: O que sentia ... Naquela época ... Será que não senti mais? Claro que não senti mais!" - pensou.

– Esta esperando o que para cantar? - indagou Elena impaciente.

Damon ajeitou o violão em sua perna e passou seus dedos nas cordas. Após a introdução veio a voz suave e grave de Damon e a letra ...

~

I've been roaming around

Always looking down at all I see

Painted faces, build the places I can't reach

~

tradução: Tenho andado por aí

Sempre menosprezando tudo que vejo

Rostos pintados, preenchendo lugares que não alcanço

~

You know that I could use somebody

You know that I could use somebody

Someone like you, and all you know, and how you speak

Countless lovers under cover of the street

~

tradução: Você sabe que preciso de alguém

Você sabe que preciso de alguém

Alguém como você, tudo que você sabe, como você fala

Amantes incontáveis disfarçados nas ruas

~

Damon cantou o tempo todo olhando nos olhos de Elena. Analisando suas reações corporais e seu olhar ...

Achou incrivel que mesmo depois de todo esses anos a música ainda fazia tanto sentido para ele. Não perdeu seu significado pois Damon ainda se sentia do mesmo jeito. Agora mais do que nunca a musica tinha um sentido mais amplo. Seus sentimentos por Elena não mudaram.

~

You know that I could use somebody

You know that I could use somebody

Someone like you

Off in the night, while you live it up, I'm off to sleep

Waging wars to shake the poet and the beat

I hope it's gonna make you notice

I hope it's gonna make you notice

~

tradução: Você sabe que preciso de alguém

Você sabe que preciso de alguém

Alguém como você

Saio andando pela noite, enquanto você vive, vou dormir

Começando guerras para sacudir o poeta e a batida

Espero que isso faça você notar

Espero que isso faça você notar

~

Não posso chorar - pensou Elena. Seus olhos estavam marejados e uma tímida lágrima escapou por entre seus olhos e ela imediatamente a alcançou. Limpando-a antes que Damon a visse.

~

Someone like me

Someone like me

Someone like me, somebody

Someone like you, somebody

Someone like you, somebody

Someone like you, somebody

I've been roaming around,

Always looking down at all I see

~

tradução: Alguém como eu

Alguém como eu

Alguém como eu, alguém

Alguém como você, alguém

Alguém como você, alguém

Alguém como você, alguém

Tenho andado por aí,

Sempre menosprezando tudo que vejo

~

Com o ultimo acorde a musica chegou ao seu fim ...

– Kings of Leon ? - indagou Elena sua voz abafada. Estava se segurando para não debulhar-se em lágrimas.

– Sim, Use Somebody - respondeu Damon - Adoro essa musica - completou.

– É ... muito bonita - falou Elena ainda com certa dificuldade pois a vontade de chorar estava aumentando - Eu vou dormir, tenho que acordar cedo amanhã. Boa noite - disse ela levantando-se e nem esperou ouvir a resposta de Damon.

Deitou-se na cama e não pode conter seu choro. Por que depois de todo esse tempo eu ainda gosto dele? - indagou Elena em pensamentos. Ele só queria me fazer de idiota!

Me convidaria para o baile. A imbecil aqui ficaria esperando por ele. Porém ele estaria no baile se divertindo com outra. Como pude me enganar tanto com o Damon?

Eu ainda me senti mal depois de ter dado um fora nele - pensou Elena irritada.

Não vou chorar nunca mais por esse cara insensível - prometeu Elena para si mesma.

~

Damon deitou-se no sofá.

Não vou dormir ao lado de Elena depois do papel ridiculo que fiz- pensou o moreno.

Pensou o que ? Que era só cantar uma música idiota e ela cairia em seus braços - seu subconsciente o indagou.

Ela me humilhou na frente de todos na escola quando fui tolamente convida-la para o baile. Por que estou me importando com a garota que despedaçou meu coração no passado? Por que não pude simplesmente esquecê-la? Era como se ela nunca tivesse estado longe. Mesmo estando fisicamente. As lembranças são minhas piores inimigas - pensou ele.

Dia seguinte ...

–Damon, você bem poderia lavar as roupas. O cesto esta transbordando. Eu trabalho até tarde e você fica o dia inteiro coçando o saco - reclamou Elena.

– Bom dia, pra você também - disse Damon bocejando saindo do banheiro - Eu também trabalho. Só que meus horarios são mais flexiveis. Vou fotografar de manhã e de tarde lavo as roupas. Ok? - perguntou Damon.

– Ok - respondeu Elena - Já estou indo. Até mais - despediu-se.

– Até - disse Damon.

~

– Meu Deus! Isso é uma máquina de lavar roupas ou uma nave espacial? Pra que tantos botões? - indagou Damon - Quer saber, foda-se! Vou jogar tudo aí dentro e você se vira - disse Damon para a máquina como se ela pudesse entendê-lo.

Um tempo depois ...

– Caralho, esta tudo manchado!- desesperou-se Damon - A blusa de seda da Elena. Ela vai me matar! - Damon estava com a mão na cabeça. Não sabia o que fazer.

– Já sei! Vou colocar essas roupas no fundo do armario. Elena tem tanta roupa nem vai perceber - disse ele dando de ombros.

~

– Está chegando meu aniversário! - disse Caroline animada para as amigas.

– Ainda falta seis meses, sua cabeçuda! - disse Vick sem paciência para as futilidades da amiga.

– Eu sei, tenho calendário em casa! Só estou comentando, pois quero organizar uma festa perfeita e bem animada. Estou aceitando sugestões - disse Caroline e Vick revirou os olhos. Amava sua amiga mas as vezes era dificil lhe dar com ela.

– Que tal começar a se preocupar quando faltar uns três meses pra festa? - indagou Katherine - E agora para de nos amolar - irritou-se Katherine e Caroline mostrou a língua para ela.

Elena estava absorta a discussão de suas amigas. Ocupada pensando em seus proprios problemas.

– O que foi, Elena? Esta tão quieta - observou Bonnie indagando a morena.

– O Damon, estragou tudo ... - disse ela seus punhos fechados em ódio.

Elena contou as amigas o que aconteceu na terapia.Elas a ouviram com atenção e só opinavam quando necessário. Não queriam tomar partido naquela situação, pois sabiam que o assunto "Damon e Elena" era complicado demais para poderem escolher um lado. Então, tentavam - embora, as vezes sem êxito, mas faziam sua parte - manter-se imparciais.

Katherine foi a única que não se importou e falou tudo o que achava. Sem se perguntar se chatearia ou não sua irmã. Elena como conhece bem a irmã que tem. Já esperava por aquela reação. Se fosse o contrario, aí sim ficaria preocupada.

– Nossa, que vergonha que vocês passaram - disse Katherine com sua mão direita em sua barriga e com as risadas que fazia seu corpo sacudir - Estou tentando imaginar a cara de vocês - seus olhos estavam lacrimejando de tanto rir.

– Amiga, você tem que fazer esse casamento dar certo - disse Bonnie preocupada - Eu li uma entrevista a pouco tempo de um casal na mesma situação que vocês. A esposa fez de tudo para o casamento dar certo. Mas marido não, só infernizava e o juiz que analisou o caso deu causa ganha para a mulher. Pois ficou provado que ela não estava interessada só no

dinheiro e sim em salvar seu relacionamento - disse Bonnie de forma analitica.

– Mas o Damon é um nojento. Eu odeio ele! - disse Elena e não gostou que sua voz falhou na ultima frase e não pode dar tanta enfâse a ela.

– Mas se você quiser se livrar logo do Damon e ter sua parte no dinheiro. Terá que fazer isso - falou Bonnie e observou o brilho que a alguns segundos atrás não existiam no olhar de Elena. Seu olhar exprimia compreenssão.

– Então, terei que tentar salvar o casamento ... Fingir que me importo com o traste do Damon e ... Olá, dinheiro? - indagou Elena.

Bonnie assentiu. Caroline, Vicki e Katherine se entreolharam e assentiram também.

– Meninas, vocês estão olhando para mais nova milionária do pedaço. Esse dinheiro é meu! - gritou Elena.

Elas ergueram suas bebidas e brindaram.

~

– Estou te dizendo, cara! Li isso no jornal. Se você fizer sua parte. Tem grande chance de ficar com o dinheiro - falou Alaric para Damon que o fitava com um olhar cético.

– Eu também li essa matéria. A mulher tentou salvar seu casamento, mas o marido ficou de palhaçada e o juiz deu toda a grana para a mulher - disse Matt e em seguida sorveu um gole de sua bebida.

– Então, terei que fingir que gosto dela e blábláblá ... Ola, dois milhões! - exprimiu Damon de forma teatral.

– Não vai ser tão dificil assim - falou Alaric.

Matt, Tyler e Alaric deram uma risidinha abafada. Sabiam que a parte "fingir que gosto dela" não era verdadeira e sim, o motivo de toda aquela confusão que seus amigos se encontravam.

– Esse dinheiro é meu! - disse Damon levantando o copo para um brinde e seus amigos seguiram o seu gesto.

Em casa ...

Mais tarde naquela noite. Após construírem o muro de travesseiros que dividia o espaço de cada um na cama. Que sempre era motivo de riso para Damon. Eles se deitarem.

– Isso é ridiculo! - disse Damon chamando a atenção de Elena.

– O que é ridiculo? - indagou Elena.

– Isso - falou Damon apontando para os travesseiros - Eu não vou te agarrar a força, Elena. Eu não preciso disso! E alem do mais por que esse medo todo de ficar deitada ao meu lado? Tem medo de não resistir? - indagou Damon.

– Para tentar resistir a algo você tem que ter atração por ele e não é o caso - falou Elena fechando os olhos e crispando os labios.

– Pode ser! Mas não acredito em você ... Suas palavras dizem uma coisa mas as reações do seu corpo dizem outra - falou Damon - Sua respiração descompensada pelo assunto é um sinal que você esta mentindo. E que me deseja sim ... pois quando você mente, você contrai os labios - falou Damon encarando Elena na meia luz vinda da janela que estava aberta e a pouca claridade adentrava no quarto.

Elena ficou em silêncio. Pensando numa resposta. Mas se tentasse debater ela acabaria se entregando ainda mais. Então, achou o silencio sua melhor tentativa de não se comprometer mais.

– Você lembra do nosso primeiro beijo? - indagou Damon e Elena agradeceu mentalmente por ele ter mudado de assunto.

– Como esquecer? Nossos dentes colidiram. Doeu pra caralho! - Elena estremeceu a lembrança.

– Mas segundos depois nossos lábios se tocaram e esquecemos da dor - falou Damon seus olhos brilharam ao lembrar de uma de suas melhores lembranças com Elena.

– A Katherine nos viu e contou para nossos pais. Fiquei de castigo por uma semana - disse Elena sorrindo.

– Eu fiquei um mês sem poder jogar video game - Damon não contendo a gargalhada. Eram tantas lembranças e elas estavam invadindo sua mente. Poderia ficar a noite toda relembrando tudo.

– Quantos anos tinhamos?

– 11 ou 10 ... Se não me falha a memoria - respondeu Damon.

– Lembro-me que quando tinhamos 10 anos você assassinou a minha boneca - falou Elena sua voz um pouco ressentida.

– Quantas vezes terei que repetir! Foi um acidente - disse Damon fazendo Elena sorrir.

– Você cortou o cabelo dela e arrancou a cabeça. Isso não me parece um acidente - disse Elena incredula.

– Bem, o cabelo não foi eu ... - disse Damon tentando lembrar - Foi o Matt, aquele desgraçado! Disse que seria a primeira boneca com câncer e cortou o cabelo dela.

Damon estava com a mão direita na barriga que ja estava doendo de tantas risadas.

– Matt, sempre foi muito louco - disse ele enxugando seus olhos que estavam lacrimejando de tanto rir - E você de vingança contou para meu pai que eu quebrei o vidro da janela da casa da senhora Stone - Damon acusou Elena.

– Claro, estava chateada! Te pedi ajuda no enterro da boneca e você me chamou de boboca - disse Elena lembrando o quanto ficou irritada e agiu sem pensar.

– Bons tempos - disse Damon e Elena assentiu.

– Boa noite, Dam - falou Elena.

–Boa noite, Lena - disse Damon.

Duas semanas depois ...

– Daaaaaamon, seu filho da puta! - gritou Elena.

– Por que o elogio? - indagou Damon com um sorriso cinico.Aparecendo na porta do quarto.

– Minhas roupas! ESTÃO ROSAS! - vociferou Elena - Minha blusa "Dolce & Gabana" - falou quase chorando.

– Pelo menos estão limpas. "Obrigado, Damon! - ele afinou sua voz- Não tem de que! - zombou ele e Elena bufou.

– Você me pediu para lavar e ... bom tinha muitos botões e eu apertei alguns e **Voilà, roupas rosas - disse Damon de forma teatral.

– Damon - disse Elena e cabeça baixa tentando manter a calma - Se você tem amor a sua vida ... SOME DA MINHA FRENTE - gritou Elena.

Damon desapareceu em segundos. Evaporou-se!

~

"Esses dois têm muitos problemas, problemas sérios que precisam resolver; mas juntos, são perfeitos um para o outro, existe sentimento, vai entender..."

( Comer, rezar, amar )

**voilà: palavra de origem francesa. Pronuncia "vualá". significa eis aqui, vem de "vois là"= veja aí.