Em Minhas Memórias escrita por Mary e Mimym


Capítulo 2
O inesperado.


Notas iniciais do capítulo

Dois capítulos num dia, mas nem sempre será assim =/, enfim, hoje bateu a inspiração pra escrever essa fic. Enfim, agora sim começa o drama (adoro drama *-*), mas não será algo muito meloso ou dramático demais. Espero que gostem. Nos vemos nas notas finais ^^



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Os anos se passaram e tivemos que nos separar. Não viajei para longe, ou ela viajou. Nada disso. Mudamos de escola. Na verdade eu mudei. A mensalidade da minha escola estava muito alta e meus pais resolveram me transferir para outra, além de outros fatores como transporte já que era longe, os horários das aulas que era desproporcionais, já que tinha Educação Física de tarde e muitas vezes eu não poderia ir, já que tinha outros compromissos. Enfim, era difícil ficar ali.

Quando meus pais me disseram que eu mudaria de colégio, meu mundo desabou. Pensei logo na Elesis, na nossa amizade, nos meus sentimentos... Contar aquilo pra ela foi horrível... Eu tinha 14 anos e ela 12 anos, uma amizade de tanto tempo pronta para ser estremecida pelo terremoto chamado vida.

–Elesis, eu... Como eu posso dizer isso? É... – Estava tentando evitar o inevitável.

–Fala logo, Ronan! Para de enrolar!

–Mas eu preciso enrolar, ora! É complicado falar isso.

–É complicado o quê? Hein? Diz logo! – Era melhor eu parar de enrolar, Elesis estava ficando irritada e isso nunca foi bom.

–Tá! Você que quis saber logo, lá vai: eu vou mudar de escola. – Falei num impulso, a encarei para ver sua reação e me espantei.

–O que? Você só pode estar brincando, né? Anda, Ronan, conta o que realmente você quer. E sem palhaçada!

Ela não acreditou... Falar isso de novo vai ser pior ainda, mas vamos lá.

–Não é brincadeira, infelizmente terei que mudar de escola. Meus pais conversaram comigo e eu tentei impedir, usei vários argumentos, mas com os deles nem tinha como discutir.

Elesis balançava a cabeça, desaprovando o que eu disse. Fiquei confuso. Ela parou, me encarou e começou a me bater.

–Por que você vai embora? Pensei que ficaríamos juntos como amigos para sempre! Como você pode fazer isso comigo? Não é justo você me abandonar no momento que eu mais preciso de você! Eu só tenho você, Ronan! E você vai me deixar como todo mundo!

Pausando um pouco esse momento arrasador na minha vida. A Elesis falou “E você vai me deixar como todo mundo!”, porque ela estava passando por um processo difícil em sua vida: a separação dos pais. O pai dela saiu de casa, o que foi um baque, já que ela era super apegada a ele. Eu piorei tudo com a minha notícia.

–Elesis. – Segurei seu braço – Eu não estou te abandonando. Nunca! Mas não posso impedir que aconteça o que irá acontecer. Eu preciso sair da escola, e pode ter certeza que isso está me matando por dentro.

–Tá bom. – Ela falou com certa ironia na voz, odeio quando ela faz isso – Você vai me esquecer, vai sair da minha vida como se eu nunca houvesse existido!

–Não fala uma besteira dessas!

Soltei a mão dela que teimava em querer me bater mais ainda. Elesis ficou de costas para mim.

–Eu sinto muito.

–Não sinta... – Ela foi embora sem ao menos se despedir, até parece que nunca mais nos veríamos. Moramos na mesma rua.

Mas Elesis fez com que parecesse como se que nunca nos conhecêssemos. Várias vezes a chamei, mas ela não me atendia. A situação na casa dela só estava piorando, ela não saía de casa, se trancava no quarto. “Perder” o pai e o melhor amigo deve ter sido o limite de onde ela poderia aguentar.

A mãe dela me deixava entrar, mas ao chegar à porta do quarto dela, sempre estava fechada e ela nunca respondia. Elesis criou uma barreira entre nós dois, e essa barreira eu não poderia quebrar, só ela tinha força para destruí-la.

–Elesis! Para de ser infantil! Se você não abrir essa porta, ou se você não me responder, eu não irei mais vir aqui! Já estou cansado de se ignorado, tá bom?! – Esperei um tempo, já estávamos no meio do ano, já tinha ido várias vezes na casa dela, mas chega um momento que não dá mais, e naquele dia eu apostei tudo, esperando que ela abrisse aquela maldita porta e voltássemos a sermos amigos novamente. Mas não deu em nada, então eu desisti. – Eu tentei, eu juro que tentei. Mas parece que a nossa amizade está se afundando no mais profundo oceano. Eu fracassei como amigo... Eu nunca quis magoá-la. Eu deveria ter insistido continuar na escola, sabia que você não tinha tantas amizades, que ficaria sozinha. Sei que éramos de turmas diferentes, mas eu sempre estava com você. Não te deixei porque quis, jamais faria isso e se eu tenho uma parcela de culpa por você estar assim... Perdoe-me...

Pairou um silêncio naquele momento, tanto da minha parte como da parte dela, que já não falava nada. Mas eu sabia que, mesmo Elesis sendo forte, ela sofria e, talvez, mais que eu. Porém, não voltaria atrás no que disse. Não iria mais persistir e aquele foi o ponto concreto de uma amizade abalada.

Voltei para a sala e a mãe dela estava me esperando com um sorriso esperançoso, eu, infelizmente, não pude dar a alegria que ela tanto queria de ver a filha bem de novo. Ela me abraçou forte.

–A Elesis ainda vai pedir desculpa a você, é só uma fase. – Ela falava ainda me abraçando.

–Eu não preciso que ela se desculpe, só queria que voltasse a ser tudo como era antes. – Desfiz o abraço.

–O passado não volta, você precisa construir um novo futuro através do presente. – Palavras sábias de uma mãe, e eu entendi muito bem o que ela quis dizer.

Eu abaixei o rosto, me despedi e saí. Fiquei caminhando pela rua pensando em um turbilhão de coisas, nem sei como fui forte o bastante para impedir que uma lágrima rolasse em meu rosto.

Durante três anos eu não tive muitas notícias sobre a Elesis, minha mãe ainda tinha contato com a mãe dela, mas eu nem me importava muito. Era como se nunca fossemos amigos. Como ela mesma disse, foi como se ela nunca houvesse existido. E só de pensar nisso, eu me sentia mal, me sentia triste, vazio...

Agora falando um pouco do meu presente, estou com dezessete anos e mudei de escola mais uma vez. Meu último ano numa escola nova, nem me importei muito, já não tinha muitos amigos na anterior, pouco me importava ter nessa nova. Mas a vida gosta de pregar peça, e, é claro, ela fez questão de me surpreender. Ô vida!

Antes de enfrentar meu primeiro dia de aula, na noite anterior fiquei pensando... Engraçado que na infância, nos meus primeiros anos na escola, eu tinha vários amiguinhos, me enturmava rápido, agora sou um completo isolado da turma. Quando a Elesis começou a estudar, na hora do intervalo, eu deixava meus amigos e ficava com ela. Até ajuda-la a ter mais amigos em sua turma, mas não durava muito tempo, pelo jeito que ela se comportava, não tinha muita paciência. As meninas não gostavam de ficar perto dela. Eu odiava isso. Mas foi numa dessas discussões entre ela e umas garotas que nossa amizade se fortaleceu de tal forma que eu nem sei como explicar direito.

–Você parece mais um menino! – Disse uma menina.

–Além de ser uma garota horrorosa! – Exclamou a outra.

–Até parece que me importo com o que estão dizendo.

Olhei para Elesis e me espantei com a firmeza dela. Eu estava ao seu lado. Pensei em intervir na discussão, mas ela não deixou.

As meninas iriam começar a falar de novo, mas Elesis tem pavio curto, para não criar confusão, me puxou e saímos dali.

–Eu odeio essas meninas! Queria sair dessa escola! – Ela gritava com muita raiva, era engraçado, porque ela era pequena e forçava a mão para baixo e levantava os pesinhos.

–Não! – Gritei também, mesmo sendo criança, nossos ânimos estavam a flor da pele.

–Por que não? – Ela me encarou.

–Se você for embora daqui, quem será minha amiga? Quem irá me pedir ajuda em algum exercício? – Como ainda era pequeno, não media o que falava. Pensei que dizendo aquilo faria ela se acalmar e deu certo.

Elesis riu, mas depois voltou a ficar com o semblante sério.

–Você nem é da minha turma para saber o que eu passo com aquelas garotas.

Senti-me destruído por dentro, só de imaginar que minha melhor amiga estava sofrendo e eu nem poderia ajuda-la. Dor de criança é tão intensa quanto de um adulto.

–Eu irei falar com aquelas meninas e elas nunca mais irão implicar com você, combinado?

–Não quero que me defenda, sei fazer isso sozinha.

–Então tá, irei deixar aquelas meninas falando mal de você. – Cruzei os braços.

–Tá bom... – Ela se deu por derrotada – Eu só irei aceitar, porque senão irei bater nelas e posso sair da escola por indis... indins... indi...

–Indisciplina?

–É.

Começamos a rir, o sinal tocou e, antes de as meninas entrarem em suas respectivas sala, as chamei.

–Oi.

–Oi. – Responderam as duas.

–Não irei demorar, só peço que parem de implicar com a minha melhor amiga Elesis, senão terei que avisar a tia e a diretora sobre isso.

As meninas me olharam assustadas.

–Tá...

–Obrigado. – Agradeci e fui em direção a minha sala.

Quando eu contei isso para Elesis, ela começou a rir. Agora nem as lembranças dessa época me fazem sorrir... Acho que acontece o mesmo com ela. Talvez porque precisamos um do outro para sentirmos a mesma alegria de termos vivido tantos momentos juntos.

Acordei numa plena segunda feira, uma manhã, que estava como todos os meus dias, cinza, as nuvens carregadas já indicando uma grande tempestade, mas nenhuma se comparou ao que eu vivi naquele primeiro dia de aula, os meus sentimentos ficaram pior que um dia de tempestade. Foi como se um dilúvio tivesse passado em minha vida e deixasse tudo revirado, me vi dentro de um furacão. Eram tantos fenômenos da natureza me atacando, que eu não tive forças para lutar.

Cheguei na escola e me deparei com uma cena que não me agradou. Minha melhor amiga, que eu não via há tanto tempo, estava aos beijos com um garoto. Era ela. Eu tinha certeza, tanta certeza que senti meus olhos umedecerem sem ao menos me avisarem de que a tristeza tomou conta de mim.

Elesis olhou para mim, acho que me reconheceu, como eu queria sumir dali. Desaparecer! Ela me olhava fria e, ao mesmo tempo, surpresa. Enquanto o meu olhar era sem vida, mas ao se encontrar com o dela, retomou a esperança de voltar a ser feliz. Mas aquela cena dificilmente sairia da minha mente.

Alguém esbarrou em mim. Tirando-me dos meus devaneios atordoados.

–Foi mal, cara. – Era um garoto de cabelo laranja bem arrepiado e de olhos verdes.

–Tudo bem. – Acabei desviando minha atenção da Elesis para ele.

–Você é novo? – Ele me perguntou.

–Sou sim, sou do terceiro ano do ensino médio.

–Legal!

–Por que é legal? – Estranhei a pergunta dele, não é nada legal estar no último ano escolar.

–Somos da mesma turma, mas eu não sou novo. Tá vendo aquele menino de cabelo meio acinzentado, de olhos azuis?

Ele olhou para frente e me deparei com o menino que beijara Elesis. Coincidentemente, ele olhava para mim, tentei disfarçar e voltei a olhar o menino de cabelo laranja.

–Sei...

–Então, ele é Lass, meu amigo e é da nossa turma. Elesis, a namorada dele, é do segundo ano.

Ele confirmou o que eu já sabia. Mas quando ele disse que a Elesis era namorada do tal Lass, o que também era óbvio, senti meu corpo pesar, querendo desabar em queda livre. Fechei os olhos e logo me recompus para que o menino não percebesse.

–Então... Você é amigo da Elesis? – Quis saber.

–Sou sim, olha, eu posso te apresentar a eles e a outras pessoas da minha turma. Não se preocupe se a ruivinha te tratar mal, ou com arrogância. É o jeito dela. O Lass também é assim.

–Eu sei...

–Sabe?

Percebi que havia dito besteira e comecei a me engasgar com minhas próprias palavras.

–É... Sei que... É que... Ela tem um jeito de ser assim, eu acho... – Passei a mão em minha nuca, fiquei sem saída agora. Que sufoco! – Mas então, qual é o seu nome? – Mudei de assunto.

–Enfim... Eu sou o Ryan. – Ele me estendeu a mão como gesto de cumprimento.

–Prazer, eu sou Ronan. – Apertei a mão dele.

–Então, Ronan, quer conhecer o povo?

–Povo... – Eu ri. Mas esse meu pequeno momento de diversão acabou pelo aviso do Ryan.

–Nem precisamos sair mais do lugar, a Elesis e o Lass estão vindo pra cá.

Depois dessa notícia, nem olhei para frente. Senti meu coração disparar fortemente, minha visão embaçou, senti minha mão formigar.

–Oi Ryan. – Disse Elesis – E...

Congelei naquela hora. Não consegui olhar para ela.

–Ronan. Ele é novo aqui. – Ryan fez o favor de me apresentar.

–O-oi. – Gaguejei.

–Eu sei que ele é o Ronan. Não sei? – Essa pergunta foi para mim. Elesis cresceu, mas continua me assustando.

–Ér...

–Vocês já se conhecem? – Perguntou Ryan, sorrindo. Por que ele sorriu? Estou no meio de um campo minado e ele sorri?!

Lass, até aquele momento, não havia pronunciado uma só palavra. A situação estava tensa.

–Diz você, Ronan, se nos conhecemos.

Elesis não estava facilitando as coisas para mim. Respirei fundo. Lembrei comigo mesmo que durante três angustiantes anos eu estava sem ela ao meu lado. E ela nem havia se importado de dar um aviso.

–Na infância sim, mas agora eu já nem sei mais quem você é. – Respondi frio e a encarando.

Ryan arregalou os olhos para mim tipo “Você é maluco de falar assim com ela?”, mas nem liguei e mudei logo de assunto.

–Ryan, poderia me mostrar a escola antes do sinal bater?

–Tá...

–Não! – Olhei para Elesis um tanto intrigado. – Eu o mostro a escola.

Percebi que Lass apertou a mão dela e me encarou. Ela me olhava com ódio nos olhos, mas eu também não estava feliz, estava com raiva.

–Seu namorado está com ciúmes de você, então é melhor... – Elesis me cortou, ela sabia muito bem que não tinha medo de falar, ainda mais na situação que me encontrava, onde nem pensava direito ou media o que falava.

–Ele não vai se importar.

–Mas eu me importo, não quero atrapalhar o casalzinho. Com licença.

Resolvi seguir sozinho para dentro da escola. Ouvi uma trovoada, mas parecia ser meu coração explodindo e se quebrando em mil pedaços. Meu dia não começou bem, eu não estou bem. Parei perto da escada e desabei. Sentei no primeiro degrau. Eu não mandava mais no meu corpo.

Abaixei meu rosto, deixando meu cabelo o esconder. Nunca pensei que encontraria Elesis novamente. Nunca imaginei que sentiria tanto ódio de mim e de alguém que nem conheço. Quem esse Lass pensa que é para namorá-la? E por que eu estou falando isso? Eu não faço mais parte da vida dela... Eu nem sei se minha existência vale mais a pena.

–Ronan... – Eu reconheci a voz, mas não tive coragem de olhar.


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Notas finais do capítulo

Quem será? '-', pode parecer o óbvio, ou não... A verdade é que nem eu ainda decidi quem será a pessoa que o chamou. E então... Gostaram?



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