O dia não demorou muito para passar. Quando tive noção da hora, já estava deitado na cama prestes a dormir. Dia seguinte ainda tinha aula, minha sorte é que era quinta, e sexta-feira se aproximava. Quando repousei minha coluna - que latejava algumas vezes devido à queda - em minha cama macia, relaxei, fechei os olhos e logo adormeci, estava tão cansado.

O celular despertou, levantei sei hesitar. Estava calmo, nem parecia que tanta coisa acontecia em minha vida. Fui ao banheiro e lavei o rosto, um pingo de sangue escorreu junto com a água que estava em minha face. Olhei para o espelho e agora meu nariz sangrava. Senti uma tontura.

–Agora que está fazendo efeito mesmo. Droga! – Reclamei.

Como minha imunidade é baixa e meio descontrolada, eu não fiquei doente no mesmo dia em que peguei chuva, estou ficando agora. Isso é ruim... Muito ruim. Decidi não contar nada para meus pais. Talvez fosse passageiro.

Sequei meu rosto, voltei para o quarto, peguei uma roupa e fui tomar banho. Minha mãe me chamou assim que saí do banheiro, avisando que o café estava na mesa.

Eu não tinha apetite naquela manhã, mas se eu não comesse algo, minha mãe desconfiaria e não quero preocupa-la. Ela já sofreu muito com o meu acidente... Bem, desci para tomar café, assim que acabei, escovei os dentes, me despedi dos meus pais e segui meu caminho para a escola.

Vi Elesis saindo de casa. Minhas pernas travaram. Nunca mais havia presenciado sua saída de casa para a escola, até hoje. Comecei a andar, automaticamente, até Elesis.

–Bom dia! – Eu disse... EU DISSE? Eu tomei a iniciativa e falei com ela? Ou estou sonhando?

Perguntas tomaram conta de meus pensamentos.

–Bom dia, Ronan... – Ela respondeu um tanto acanhada. Parecia surpresa, até eu estava surpreso.

–Está indo para a escola, né? – Que pergunta idiota! Mas espero que ela me responda, já é uma tentativa de diálogo.

–Sim... O Lass está vindo me buscar. – Disse Elesis, guardando o molho de chaves na mochila.

–Ah... – Meu coração doeu tanto, as lágrimas que eu não derramei naquele momento, meu coração derramou por mim – O Lass... Claro, ele é o seu... – Não consegui dizer, na verdade, eu me recusava a admitir que aquele garoto era namorado dela.

–Sim, meu namorado e ele está chegando.

Percebi que uma moto se aproximava. Não olhei para trás. Lass desceu da moto e eu resolvi seguir meu caminho para a escola. Esbarramo-nos, para dizer a verdade, eu acho que foi proposital.

–Longe dela... – Lass murmurou isso para mim, eu sabia que ouviria alguma gracinha dele.

Não respondi e continuei andando.

–Bom dia, Lass! – Eu não vi a reação de Elesis, mas bateu uma sensação de tristeza, como se Elesis tivesse abraçado o Lass, ela estava feliz, dava para ver isso ao ouvir sua voz ao se encontrar com o seu namorado.

Durante meu trajeto, minha mente parecia querer me ver em depressão, porque toda hora voltava a cena de Elesis falando estranhamente comigo e alegremente com o Lass.

Cheguei à escola e Arme estava conversando com Lire, já estava fazendo parte do meu cotidiano ver essa cena.

–Quando irá voltar para a minha turma, hein minha baixinha? – Mexi nos cabelos dela, precisava me distrair, distrair a minha cabeça que teimava em me deprimir.

–Para com isso, Ronan! – Parece que ela não gostou, eu ri – Semana que vem eu voltarei para o terceiro ano, tá? Por quê? Sentiu saudades?

–Muita. – Respondi com um largo sorriso no rosto.

–Vocês dois são tão fofinhos juntos. – Disse Lire olhando para nós dois.

–Nós dois juntos não somos fofos, até porque a minha baixinha vive me perturbando e eu não acho nada de fofo nisso. – Brinquei, mas recebi um belo tapa no braço – Ai! Eu estava brincando.

–Fiquei chateada com você! – Resmungou Arme, cruzando os braços e fazendo uma expressão de emburrada.

–Você sabe que eu te amo, né? – Acho que não deveria ter dito essas palavras tão fortes como “eu te amo”. Por mais que Arme saiba que é apenas como amigo, eu mexi com os sentimentos dela, eu senti isso.

–Ui!! Ronan ama a Arme, que lindo! – Lire ficou toda entusiasmada, ela ainda não havia percebido a “gravidade” da situação.

Arme corou e não disse uma só palavra, tive que resolver logo a besteira que fiz em dizer aquelas três palavrinhas que complicam tanto a minha vida.

–Eu estou com saudades das nossas conversas em sala de aula. – A abracei, sentando-me ao seu lado, mas a minha baixinha me empurrou, desfazendo o abraço.

–Ainda estou chateada. – Ela me encarou e eu fiz uma carinha fofa, para que ela me perdoasse, acho que consegui. Arme, então, continuou – Mas... Quem sabe na hora do intervalo eu fique melhor se você comprar bolinho pra mim...?

Arme e suas indiretas bem diretas. Eu tive que rir e Lire também.

–Acho que comprarei um bolinho para a minha baixinha... – Entrei na onda dela.

–Eba! – Arme me abraçou e beijou minha bochecha.

–Parou de ficar chateada comigo? – Perguntei, ainda abraçando-a, não entendi muito a demora do abraço.

–Não... Você ainda não me deu o bolinho. – Ela começou a rir, era engraçado, porque suas bochechas ficavam infladas quando ela sorria e estávamos com os rostos próximos, então... Acabei me tocando que nossos rostos estavam próximos até de mais... Mas continuei na minha e não comentei nada.

–Interesseira. – Disse Lire, caindo na gargalhada.

Não imaginava que em plena manhã de quinta-feira eu estaria sorrindo de algo tão simples... Acho que é por isso que dizem que “a felicidade está nas coisas mais simples do mundo”.

Nenhum de nós três estávamos levando o que dizíamos a sério, é claro que eu iria comprar o bolinho para minha baixinha, mas tirando isso, era tudo brincadeira. O abraço que eu achei que estava muito demorado.

Elesis e Lass passaram perto do banco que estávamos, Arme me abraçou mais forte, estava começando a me sentir sufocado.

–Agora eu entendi. – Disse, desfazendo o abraço.

–Entendeu o que? – Indagou Arme, se fazendo de desentendida.

–Você me abraçou naquela hora naturalmente, mas permaneceu me abraçando porque viu a Elesis com o Lass, não foi? – Deduzi, sabia muito bem das intenções da minha baixinha, ela geralmente não demora muito quando nos abraçamos.

Havia estranhado, mas não disse nada, até porque estávamos brincando, agora... Vendo que Elesis tinha visão do que fazíamos, Arme com certeza fez isso tudo para implicar com a ruiva. Espero que isso não vire uma desavença.

Esperei pela resposta dela pacientemente. Lire percebeu que o clima mudou drasticamente e resolveu sair dali.

–Gente, eu vou beber água. – Disse ela se levantando – Como o sinal já irá tocar... Nos vemos na sala, Arme. E até, Ronan.

–Até... – Eu respondi e a minha baixinha continuou calada olhando para mim, esperei Lire sair e acrescentei – Anda Arme, responda. – Minha voz já estava alterada e minha paciência acabando.

–Ela tem namorado e ficou olhando para você, eu só achei conveniente da minha parte, mostrar que ela não faz mais parte da sua vida. A Elesis tem a vida dela e você a sua. As duas vidas não fazem parte da mesma história. – Ela soltou tudo como se estivesse com razão em cada palavra.

Encarei a Arme, uma dose de raiva subiu e eu respirei fundo para não fazer nada que a machucasse. Também não poderia me estressar mais do que já estava, caso acontecesse, eu poderia ter hemorragia e isso não seria agradável numa hora dessas. Não quero que ninguém da escola saiba o que acontece comigo, por causa do acidente. Só a Arme sabe e se eu começar a sangrar agora, sei que ela fará um alarde.

–Arme... Eu não quero que se meta na minha vida em que a Elesis esteja incluída. Tá bom? Sempre foi assim, não precisa ficar com ciúmes idiotas.

–Eu não estou com ciú-- – Antecipei-me.

–Está sim. – Levantei também – É melhor eu ir, nos falamos depois, tá?

–Desculpa. – Arme segurou na minha mão e abaixou o rosto – Eu deveria ter dito que Elesis o olhava, você ficaria feliz.

De fato... Eu estou feliz por saber que Elesis olhava para mim, um pequeno ponto de esperança surgiu em meu coração. Meu dia estava perfeito demais para uma manhã de quinta-feira... Já mudou tantas vezes de bom dia para péssimo dia, que estou com medo do que acontecerá daqui pra frente.

O sinal não demorou muito para tocar. Soltei minha mão da minha baixinha, mas não saí de perto dela. Virei-me em sua direção.

–Eu sempre irei tentar te fazer sorrir... Tente fazer o mesmo comigo. – Acariciei seu rosto e ela olhou para mim, acho que peguei pesado nas palavras, mas foi necessário.

Durante o percurso para a sala, um sorriso escapou de meus lábios. “(...) e ficou olhando para você...”, eu queria tanto ter cruzado nossos olhares... Se eu percebesse que a Elesis olhava para mim, a olharia imediatamente. Eu só espero que a Arme não fiquei com raiva da ruiva, isso seria um grande problema para mim... E eu já tenho um problema e ele tem até nome: Lass.