Distress And Coma escrita por Leh-chan


Capítulo 2
Coma




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:: CAPÍTULO 02 - Coma ::


{R
eita’s POV}


           
Acordei sentindo o leve cheiro de margaridas encher meu ar. Todas as manhãs que acordava desta forma me sentia a pessoa mais satisfeita do mundo.

            Abri os olhos lentamente para notificar que o sol já havia nascido, então pisquei algumas vezes por causa de tal iluminação, logo me acostumando à mesma. Enxerguei um mar de madeixas loiras que exalavam aquele perfume tão inebriante. Seu dono permanecia deitado sobre meu peito nu, encolhido embaixo das cobertas, igualmente desprovido de roupas. Não sei bem o motivo, mas naquele momento, um ímpeto de abraçá-lo forte me acometeu. Assim o fiz, aproximando-o de mim.

            – Bom dia... – Ouvi a voz dele falando fracamente. Apertei-o mais ainda contra meu corpo, o que o fez sorrir levemente. Aqueles dentinhos infantis eram um colírio.

            – Bom dia... Koi. – Seu sorriso se intensificou enquanto ele se aninhava melhor em meus braços, enroscando nossas pernas.

            – Você... ‘Tá bem? – Me perguntou, sem me olhar, ainda quietinho.

            – Por que a pergunta? – Será que havia algo errado? Estou... Bem. Eu acho.

            – Depois de uma noite de sexo selvagem você geralmente apalpa minha bunda na manhã seguinte. – E soltou um risinho baixo, logo prosseguindo. – Não que eu esteja reclamando, que fique claro. – Seus dedos longos começaram a traçar caminhos pelo meu abdômen, delicadamente. Não sei o que há comigo. Eu só queria tê-lo todo para mim ao mesmo tempo, usufruir de todos os mínimos prazeres que ele me oferecia. Só... Ficar junto.

            Permaneci calado, e ao notar isso, ele se virou na cama, ficando agora completamente sobre meu corpo, me olhando bem de perto. Seus olhos me encantam. O olhar era meio opaco, e eu pude imaginar a textura de seus lábios cobrindo os meus, como de costume. Fantasia que não demorou pra se tornar realidade. Um simples selinho que me dizia tanto... Nesses três anos que vivo com Kouyou, aprendi a amar cada um desses singelos beijos.

            Estava me fitando, próximo de dar-me mais um quando algum barulho estridente cortou o silêncio. Telefone. Fitei a mesa e... Cadê aquela joça? Não tem nada na mesa! Somente quando os risos safados do meu bailarino se fundiam com os toques polifônicos me lembrei onde o aparelho estava. Aliás, onde ele não estava. E porque não estava.

            – Da próxima vez é melhor deixar a mesa fora do nosso caminho. – E o riso aumentou.

            – A minha perna ainda ‘tá doendo da batida, seu... – Antes que eu pudesse continuar a frase, ele colocou as mãos na cabeça, tampando os ouvidos.

            – Atende logo, Aki... Deve estar aí no chão... – Sentou-se em minha barriga para permitir o movimento de meus braços. Mesmo assim, o movimento era limitado.

            Demorou um pouco até que eu achasse o telefone (tinha muita coisa no assoalho), e fitei seu visor. Nele, o nome “Takanori” se fazia presente. Joguei aquela coisa o mais longe que pude.

            – Não vai...? – Questionou Shima, ainda na mesma posição de segundos atrás. A pressão que fazia com as mãos era notável.

            – NÃO. – Falei alto para que ouvisse, falando pausadamente para que pudesse ler meus lábios. Um segundo depois, o som sumiu e eu fiz um sinal com a mão de que ele poderia abrir os ouvidos. Assim o fez, aproximando-se de mim.

            Olhando-o melhor... Parecia abatido. Pálido. Cansado.

            – Kou... Você ‘tá se sentindo bem?

            – Um pouco mole... Mas preguiça não é nada grave nem novo. – E sorriu novamente, se jogando sobre mim.

            Sorriu.

            Ele sorriu.

           Várias vezes naquela manhã.

            Uma pergunta surgiu em minha mente. Ele... Estava feliz?

            Fitei-o em meus braços novamente. Ele analisava o vazio, vendo algo que eu não enxergava. Opaco. Ainda sorria, mas... Acho que ainda não é isso.

            – Kou...

            – Hm? – Falou, ainda olhando “nada”.

            – Você... Você é feliz?

            – Sim. – A resposta veio rápida, curta, simples. Impensada. Infundada. Não. Ele não é.

            – Não é verdade... – Comentei, o tom de voz meio longe.

            – Por que não seria?

            – Você... Nunca foi verdadeiramente feliz, né?

            – Eu sou feliz. De verdade.

            – Não diga isso, Kou... Não é verdade. – Insisti, e o silêncio se fundou. Depois de tanto falar, resolveu que iria pensar. Era algo que realmente merecia certo tempo pra ser respondido.

            Ao notar que ele não falaria nada, resolvi ajudar com a continuação.

            – Você está sempre sorrindo, mas... Eu sei que por dentro não é assim. – Sua mão apertou meu pulso inconscientemente. Parecia tenso. Acariciei seus cabelos levemente, o que o fez voltar seu olhar para mim, apoiando o queixo na saliência abaixo de meu pomo de adão.

            – Eu gosto de você. – Respondeu simples. Não era essa a pergunta.

            – Isso não faz de você uma pessoa feliz.

            – O que deveria fazer, então? – Não tive resposta. Ele continuou. – Se eu sorrio, é porque estou feliz. Se sorrio é por você... Se respiro é por você. – A frase tinha uma profundidade maior do que de fora se nota. Não é mentira. Sem mim ele teria morrido naquele hospital podre.

            – Você não precisa mentir pra mim. Eu sei que falta algo, Kou... Pode me dizer. Mesmo que eu não possa fazer muito... Pode dizer. – Eu sabia que provavelmente não poderia fazer nada... Mas esconder algo só o deixaria mais triste.

           – Não há nada... Não há nada.

Se responder que essa
É a sua verdadeira face,
Então poderá se magoar.

-

{Uruha’s POV}


          
Ele estava fazendo perguntas difíceis esta manhã. Ele estava estranhamente diferente do usual. E, incrivelmente, eu entendia isso também. Não faço muito o tipo, mas hoje reconheço que estava parecendo um gatinho manhoso. Poderia ficar horas e horas a fio sobre o corpo dele apenas imaginando como cada uma de nossas saliências se encaixava perfeitamente...

            Mas havia algo errado.

            Eu afirmo que sou feliz, porque eu realmente sou. Comparando com o Kouyou de três anos atrás, eu estava irreconhecível. Eu tinha um ótimo namorado, morava num apartamento adorável, nunca me faltava nada que eu queria. A verdade é que Akira me mimava um bocado. No início, isso gerou alguns conflitos: eu não sou uma mulherzinha que necessita de um buquê de rosas todos os dias. Mas lentamente ele foi descobrindo novas formas de me agradar.

            E agora mesmo, deitado sobre ele e tendo meu cabelo acariciado... Eu estava sendo agradado. E não poderia ter melhor lugar no mundo.

            Exceto...

            – Aki...

            – Sim, Kou? – Respondeu-me, prontamente. Queria a qualquer custo saber algo. Algo sobre alguma coisa que eu mesmo pensava desconhecer.

            – Eu sou feliz.

            – Você...

            – Eu sou muito feliz, mas ainda falta algo. – Com esta declaração, o loiro mudou um pouco o ângulo de sua cabeça pra poder me observar melhor. Apoiei meus cotovelos sobre o colchão macio e fitei-o.

            – E você saberia dizer o que lhe falta? – Pela primeira vez em muito tempo, vi algo em seu olhar: medo. Odiava ver o medo naqueles olhos. Fazia com que eu mesmo me assustasse também. Por que ele era minha fortaleza, e se ela desmoronasse...

            – Eu quero voltar a dançar, Aki. – E o medo transformou-se em surpresa.

            – M-mas... Kou! Você sabe que isso é perigoso, não sabe?

            – Vamos lá... Não é nada demais. Você está exagerando.

            E o silêncio tomou conta do ambiente. Só o tique-taque do relógio, perdido em algum canto do assoalho, ousava cortar a atmosfera que se formava. Precisamente. Cirurgicamente.

            – Eu... Não quero te perder. Também não quero te dividir com mais ninguém. – Sorriu, passando os braços grossos em volta da minha cintura. – Mas por que isso justo hoje?

            – Você não se lembra? Hoje faz três anos exatamente desde aquela apresentação onde te conheci. Todo o ano tem um tipo de comemoração, vários artistas são convidados, seja para cantar ou dançar.

            – Várias mulheres magricelas dançando balé ou homens gordos gritando e gemendo... Chamam isso de ópera, né? – Rimos baixo, simultaneamente. É de meu conhecimento que Reita nunca gostou desse tipo de evento.

            – O dono daquele lugar é um grande amigo meu... E me convidou para dançar lá hoje. Ele realmente aprecia meu trabalho...

            – Ele aprecia suas curvas, isso sim! – Sorri, ignorando o comentário.

            – ... E me pediu muito para que eu fosse. E Akira... Eu realmente quero. Dançar é uma parte da minha vida... Eu realmente não consigo mais me manter longe disso. Dói.

            – Dói...? – Repetiu baixinho, mais para si do que para mim.

            – Além disso... Eu vou ser o último a me apresentar. Tenho um camarim só pra mim, e... No final... O teatro vai ficar vazio, Aki. – Praticamente gemi o vocativo, e novamente seus olhos mudaram. Agora era o meu namorado malicioso que estava em baixo de mim.

            – Mesmo? – Lançou-me um olhar significativo, como se não soubesse da confirmação óbvia.

            – Mesmo mesmo. Vamos lá... Vai ser divertido! E a gente pode comer churros mais tarde! – Sorri-lhe um sorriso sincero. Logo vi um tímido sorriso ir tomando conta de seu semblante também.

            – É melhor ir pôr uma roupa então... Pelado você não vai. – Aquelas palavras... Ele permitiu. Eu nem pude acreditar! Abracei-o com força e dei vários selinhos consecutivos, falando pausadamente entre eles:

            – Eu... Te... Amo... Muito... Muito... Muito... Mesmo... Lindo!

-

           Minutos depois, os objetos haviam sido recolocados na mesa, a cama estava arrumada, estávamos vestidos e com tudo pronto. Reita só estava terminando de ligar a secretária eletrônica que por milagre ainda funcionava depois da queda. Peguei a chave do carro.

            – Vamos?

            – Eu dirijo hoje, koi... Não queremos que você se esforce antes da apresentação. – Incrivelmente, Akira nunca confiou na minha habilidade ao volante. Eu sei dirigir muito bem, poxa... Mas não vou discutir antes que desista.

            Tão logo já íamos saindo do quarto quando o telefone começa a tocar. De novo.

            Akira se dirigiu novamente ao aparelho, olhou o identificador de chamada e bufou.

            – Quem é? – Ainda o perguntei, já prevendo a resposta.

            – Takanori... Vamos embora, mais tarde, depois do seu show, a gente passa na casa dele.

            – Certo! – Sorri, abandonando o quarto enquanto o telefone ainda tocava insistentemente. Deixamos a casa antes que ele parasse.

Dance, dance...
Dance até dormir.

-


«~[Sem POV]~»


“Você ligou para Suzuki Akira ou Takashima Kouyou. No momento, não podemos atender. Deixe seu recado após o sinal...”

.  .  .

            Reita, sua besta, atende! É importante! Os remédios do Kou... Você levou trocado. Ele tomou uma dose ontem à noite... Não o dê a outra até que faça vinte e quatro horas que ele tomou. São muito, muito fortes... Idiota...

-

{Reita’s POV}


            E antes que eu notasse, lá estava eu. Três anos se passaram desde então, mas a cena parecia exatamente a mesma: o mesmo espelho, o mesmo camarim, a mesma apresentação.

            Um relógio ali próximo indicava que, no meio de toda essa agitação, eu esqueci de dar os remédios de Takashima. Meia hora de atraso... Talvez não tenha problema. Mas eu sou realmente um grande idiota por esquecer... Procurei cegamente nos meus bolsos até achar a cartelinha de comprimidos, retirando dois de lá e colocando sobre a penteadeira.

           – Toma, Kou... Seu remédio. Eu esqueci de te dar na hora, me desculpa...

            – Shiiiiu... Eu vou ficar ótimo, koi. Só não se preocupa. – Foi a frase que ouvi calmamente saindo de seus lábios. Provavelmente notou minha preocupação. Não retive o ímpeto de passar meus braços por sua cintura e apoiar o queixo em seu ombro enquanto ele passava algum tipo de maquiagem na frente do espelho. Terminando a parte que fazia, pegou os comprimidos um de cada vez e engoliu sem ajuda de água. Já devia estar habituado.

            – Eu... Kou, eu... Só estou meio ansioso. Só isso. – Por que tinha que ser justo hoje? Desde essa manhã, venho com algum tipo de mau presságio. Preferia não deixá-lo ir. Mas... Ele disse que dói. Essa é a palavra mágica... A dor dele sempre me deixa infeliz. Faço minhas as dores dele, e não são poucas.

Dance, dance...
Até quando dormir, dance.

            Estava tão imerso em devaneios que só notei a movimentação quando Kouyou estava em pé a minha frente dizendo “voi là”. E estava lindo... A mesma roupa branca que vestiu há três anos. Exatamente a mesma. Como ainda lhe servia tão bem?

            A mesma aparência angelical de uma noiva com saia curta. A mesma. Não contive o ímpeto de agarrá-lo, pegar no colo e jogar no sofá. Coincidentemente, o mesmo em que ele ficou desacordado da última vez. Nada mudou aqui.

            Passei cada uma de minhas pernas dobradas para um lado de seu corpo, logo me abaixando para receber um beijo caloroso, seguido de sorrisos safados.

            – Aki... Eu acabei de me vestir... Deu tanto trabalho... Vai me amassar todo assim mesmo?

            – Não... Eu aguento até o Grand Finale... – E, não obstante às próprias palavras, o loiro me puxou pela nuca, envolvendo em outro ósculo. Sem permissão prévia, aprofundou o beijo, nossas línguas guerreando por espaço ferozmente. E foi quando aconteceu.

            De repente, ficou estático por um momento. Comprimiu os olhos e os lábios com força, e eu imediatamente desfiz o contato entre nós.

            – Kou, você ‘tá bem? – Falei tão rápido que as palavras se embaralharam. Ele apenas passou os dedos pelas têmporas, logo depois levando as mãos aos cabelos, ato que só me fez ficar mais preocupado. – KOU?!

            – Shiiiiu, Aki... Eu ‘tô bem... Foi só...

            Nunca soube o que “foi só”. Ficou quieto, sorriu e selou nossos lábios singelamente.

Olá, minha querida noiva.
Com os pés queimando...
Precisa se aproximar
Daquele tinido nos ouvidos.

-


{U
ruha’s POV}


            Uma tontura. Uma insuportavelmente sutil tontura. Não era nada com que eu devesse me preocupar, afinal, não tinha nada a ver com minha doença. Era diferente do que eu sentia antes de apagar... Uma tontura absolutamente normal. Não é necessário assustar o Aki com isso. 

            Talvez, só por ironia, isso seja um sinal de que eu estou me aproximando do branco outra vez. Só um sinal de que eu não posso fugir do meu destino. Por outro lado... Pode não ser nada. Queria acreditar nesta última opção.

Gostaria de esquecer
A dor branca que passa.
Mas acredito e aviso:
As feridas não vão sumir.


            Eu não iria desistir, eu tinha que dançar. Eu tinha que fazer isso, senão levaria para o resto da minha vida essa sensação de não ser capaz de fazê-lo. E é a pior sensação que eu poderia ter. Esse sonho eu teria que terminar. Depois disso, eu até podia parar de dançar, se isso preocupa tanto o Aki... Mas... Hoje é meu dia. Devo aproveitar e afastar esses pensamentos bobos.

            – Você ‘tá bem mesmo, Shima?

            – Como você é teimoso, koi... ‘Tô sim, ótimo, na verdade... Me preparando pra fazer a coisa que eu mais queria com o namorado mais perfeito do mundo...

            – Dançar?

            – Isso também... – Sorri malicioso, mordendo a bochecha dele de leve e soltando um riso em seguida ao ver seu rostinho perplexo. Passei minhas duas pernas sobre sua cintura, fazendo-o se aproximar ainda mais de mim. Apenas segurou meu rosto com uma das mãos. Ia se aproximando gradativamente, mas parou no meio do caminho.

            – Kouyou, você está quente.

            – Ui, obrigado... – Sorri, inocente.

            – Não, Kouyou... Quente de verdade... Com febre. – E encostou sua bochecha fria em minha testa para medir a temperatura.

            – Só impressão sua... Acho que estando aqui embaixo de você, agarrado... É difícil não ficar quentinho. Além disso ‘tá tudo fechado, e... – Antes que eu terminasse, senti ele esfregando a manga se sua blusa úmida (provavelmente por saliva) em meu rosto, retirando toda a maquiagem que eu demorei um bom tempo pra fazer.

            – Akira, o que é...?

            – Você ‘tá pálido, Kou. – Me interrompeu, esfregando o tecido cada vez mais ferozmente contra minha pele. Estava gradualmente se desesperando sem motivo algum.

            – Aki, não é nada, eu ‘tô bem, já disse...

            – O que você comeu antes de vir pra cá? – Pergunta estranha.

            – A gente não comeu nada antes de sair. Mas não estou com fome, não se...

            – Vamos comer alguma coisa, Shima. Depois eu faço sua maquiagem de novo, mas pelo amor de Kami, vamos... V-vamos... – Estava muito nervoso, agora tremia sutilmente. Se tinha alguém que não estava bem, não era eu.

            – Tudo bem, vamos comer algo. Levanta de cima de mim... Vai ficar tudo bem, ‘tá? – Vi ele fazer que sim com a cabeça, que nem uma criança assustada e levantar-se. Logo depois, me apoiei nos braços para poder sentar no sofá, e a tontura irritante voltou. Tudo a minha volta ia adquirindo formas figurativas, e o tinido dentro da minha cabeça era insuportável. Levei as mãos até as mesmas num ato automático. Talvez eu devesse ter comido algo antes de sair de casa.

            Devagarzinho, coloquei-me em pé, na frente de Akira, que me questionava impulsivamente sobre qualquer coisa que eu não ouvi. Só pude ver o peito dele que me aparou quando eu caí. E o vazio.

No sonho que deveria ter terminado
O adeus floresce.

-

{Reita’s POV}


            Tudo que eu consegui foi segurá-lo, não sei com que forças, porque logo depois, minhas pernas fraquejaram. Mantive-me em pé por pura força de vontade, colocando-o novamente no sofá.

            Meu primeiro ímpeto foi sacudi-lo, gritar, chamar seu nome. Depois, uma crise de choro que estava presa desde sabe-se lá quando. Ele nem ao menos conseguiu fazer o que tanto queria... Essa apresentação... Nem da vez passada...

            Não vi o tempo passar. Sei que quando notei, algumas pessoas já me cercavam, dentre eles um moreno razoavelmente alto, de braços fortes, levava Kouyou para fora do camarim. E na porta, apareceu um Takanori irado, gritando coisas ininteligíveis. A única que ainda captei foi ele gritando “A ambulância chegou, Kai, leva ele”.

           Ambulância?

            Ruki sempre foi contra levar ele pra um hospital. Cada vez mais as lágrimas só caiam pela minha face, estava completamente desesperado. Não deveria ter saído de casa hoje... Só porque eu tentei fazê-lo ficar feliz... A vida é injusta.

-

            Horas depois, lá estava eu na sala de espera. Tudo branco. Um aperto no coração, minha cabeça parecia que ia explodir. As lágrimas ainda cismavam em abandonar meus olhos aos poucos, silenciosamente. A brancura do ambiente que chegava a irritar. Será que era assim que ele se sentia?

            Pra me distrair, fitei o chá de camomila que tinha em mãos. Disseram que eu precisava me acalmar, ou teriam que providenciar uma maca pra mim também.

            Passei muito do tempo que estou aqui apenas ouvindo Takanori brigar comigo, me chamar de irresponsável e daí pra pior, as palavras cada vez mais duras, saindo sem pensar. Entendia que ele estava triste também, era só seu jeito de se preocupar.

            Não ouvi muito do sermão. Só partes como “Sem comer nada!”, “Não pega minhas mensagens”, “Remédios na hora”... Agora o ruivo dormia do meu lado, pois o mesmo rapaz que carregou Kouyou do camarim colocou calmante num copo d‘água e o fez beber na hora em que esbravejava, dizendo ser água com açúcar. As pessoas do hospital estavam ficando assustadas, ninguém ousava se aproximar.

            Agora o moreno voltava, com uma caneca também em mãos e sentou-se ao meu lado.

            – Nenhuma notícia ainda? – Perguntou.

            – Não. – Restringi minha resposta à apenas isso. Não queria falar. Não queria mais fazer nada... Só vê-lo de novo, sorrindo. Falhei na minha missão.

            Diversas vezes o rapaz havia tentado puxar assunto. Descobri que se chamava Uke Yutaka, e que era o dono daquela casa de shows. Era amigo próximo de Takashima, e de Takanori também. Vai ver só por isso que conseguiu segurar o baixinho.

            Remexi a xícara que tinha em mãos, vendo o líquido tremular e meu reflexo oscilando ali dentro. Não sei quanto tempo passou, mas foi pouco. Antes mesmo que o líquido escuro voltasse a ficar plano, uma pessoa vestida de branco saiu pela porta que anteriormente eu encarava com insistência. Um senhor já não tão novo, sem uma expressão triste ou feliz no rosto. E isso só agravava minha preocupação. Tirou a máscara do rosto e se dirigiu a nós:

            – Vocês estão com o senhor Takashima Kouyou, certo? – Depois do pequeno escândalo de Ruki, éramos os únicos naquela ala do hospital, e todos sabiam com quem estávamos.

            – Sim, doutor. – Respondeu Uke, calmamente. Apenas coloquei a xícara de lado e me prendi em cada palavra que o médico dizia.

            – A boa notícia é que Takashima-san está vivo, atualmente estável. – Suspirei aliviado, cedo demais. – Entretanto... Ele não acorda, não reage a estímulos, não conseguiria respirar sem a ajuda dos equipamentos. Gostaria de fazer algumas perguntas... Alguém aqui vive com ele? – Mediante a pergunta, me levantei, silenciosamente me prontificando.

            – Muito bem, senhor...?

            – Suzuki. – Respondi, com simplicidade. Se apenas dizer meu nome já era difícil... Segurava as lágrimas impetuosamente agora. Precisava manter um mínimo de integridade neste momento.

            – Certo, senhor Suzuki. O senhor é um adulto e eu vou ser franco com você. Ainda não podemos dizer com cem por cento de certeza, mas... Takashima-san parece ter entrado em estado comatoso. – Meu cérebro demorou pra processar a informação. Kouyou estava... Em coma? O doutor prosseguiu. – Mas antes que comece a se apavorar, comas em doramas são diferentes do que na vida real. Existem vários tipos de coma e não é possível precisar ainda qual é o de Takashima-san, estamos fazendo exames e por isso é imprescindível que responda às minhas questões.

            – Vou fazer o possível...

            – Certo. Primeiro, deixa eu explicar a situação. – Notei que Yutaka também prestava muita atenção. – O coma pode ser causado por um tumor cerebral, excesso de álcool ou overdose de drogas, distúrbios convulsivos, falta de oxigenação no cérebro ou pressão sanguínea muito alta. O paciente pode ficar comatoso imediatamente ou gradativamente. Se uma pessoa bate a cabeça com força, o impacto pode fazer o cérebro se chocar com o crânio e voltar. Este movimento pode romper vasos sanguíneos e fibras nervosas, causando edema cerebral. Esse edema pressiona os vasos sanguíneos, interrompendo o fluxo de sangue para o cérebro. As partes do cérebro que não recebem o sangue oxigenado começam a morrer. Pode ser um processo muito lento, dependendo da lesão. Também há um tipo de derrame chamado derrame isquêmico. Este derrame acontece quando uma artéria que leva sangue ao cérebro é obstruída. Se esse bloqueio for muito grande a pessoa pode entrar em coma. Se, por exemplo, uma infecção ou outra doença causar o coma, a pessoa pode ter febre muito alta, pode sentir enjoos ou tonturas fortes antes de entrar em coma. Se a causa for um derrame ou traumatismo craniano grave, o paciente pode entrar em coma quase que imediatamente, entretanto, os danos desse traumatismo podem se manifestar lentamente, demorando anos pra aparecer como um problema. – Ele fez uma pausa longa, notando que nós precisávamos digerir a informação.

            Olhei para Yutaka, que apenas observava o médico com os olhos vidrados. Voltei a olhá-lo também.

            – Então, senhor Suzuki... Você estava com Kouyou quando ele desmaiou?

            – Sim.

            – Algum comportamento estranho?

            – Ele não bateu a cabeça nem nada. Minutos antes, ele estava deitado e colocou a mão na cabeça, fechou os olhos... Talvez uma tontura. E estava quente. Mas como ele não havia se alimentado direito e tomou remédio com o estomago vazio, isso pode não ser...

            – Que remédio? – Me interrompeu.

            – Este... – Tirei a cartelinha do bolso e entreguei ao médico, que arregalou os olhos inconscientemente.

            – Com que frequência ele tomou isso...?

            – Dois ontem de noite, dois doze horas depois... Mais ou menos meia hora antes de...

            – Esse é um remédio muito forte, além de ser uma droga perigosa também. Ele parece ter tido alguma alucinação?

            – Não.

            – Ele toma remédios para epilepsia com frequência?

            – Desde que o conheço, toma periodicamente.

            – Ele bebe?

            – Tem gosto por bebidas, mas eu não o deixo beber quando está comigo... A maioria do tempo...

            – Já bateu a cabeça com muita força?

            – Algumas vezes, mas já faz muito tempo; anos, eu diria... Algumas vezes chegou a desmaiar por conta das quedas, mas acordava relativamente bem depois.

            – Certo... Um instante. – Virou-se e falou, em tom mais alto. – Shiroyama, venha aqui! – Chamou com a mão, e um garoto vestido de branco que andava no corredor veio até nós.

            – Sim, doutor Yoshiro?

            – Retire o máximo que conseguir dessa substância do corpo do paciente do quarto 520. – E entregou a cartelinha para o moreno que apareceu. – Depois, faça uma ressonância magnética, o mais rápido possível. Veja se ele não está alcoolizado, com nenhuma lesão no resto do corpo e providencie mais oxigenação para o cérebro. Colete um pouco de sangue depois da desintoxicação.

            – Sim senhor. – Saiu rapidamente em direção ao quarto. Yoshiro já ia o seguindo quando o puxei pelo braço.

            – Ele... Vai ficar bem?

            – Faremos o possível.

-

            Mais algumas horas na sala de espera. Eu continuava fitando o mesmo chá, sem tomá-lo. Takanori agora estava acordado, Uke lhe explicando o que acontecia. Fiquei sabendo ainda que eu dei o remédio errado em doses excessivas e que era um milagre Kouyou ainda estar vivo.

            A possibilidade de perdê-lo desta forma me fez voltar a chorar. E eu já nem ligava mais pra nada. Ele poderia estar assim por causa da minha falta de atenção... Eu não podia mais ficar perto dele. Ia doer muito em mim, mas ele precisava de uma pessoa mais cuidadosa.

Lágrimas que não param.
Se não houver mais nada,
Tranque seu coração
quando parecer que morrerá.

-

            Já era madrugada, o hospital só tinha uma enfermeira ou outra andando de lá pra cá, tomando um café, carregando coisas. Uke havia dormido sentado, e agora quem me fazia companhia era Ruki. Ele entendeu que eu não queria mais falar.

            Hora ou outra alguma moça de branco parava e perguntava se queríamos alguma coisa. Uma delas até chegou a explicar coisas sobre comatosos. Aprendi que eles podem ficar em estado vegetativo de 2 a 4 semanas, e que no caso, Kouyou estava agindo como um comatoso não responsivo, que não se mexe ou responde a estímulos. Que menos de 10% dos comatosos persistentes conseguiam recuperar todas as funções cerebrais. Que menos de 50% sobrevivia. Que num caso persistente, uma pessoa pode ficar anos nesta situação.

            Fui retirado de meus devaneios pelo doutor Shiroyama, que veio até nós com uma prancheta em mãos.

            – Suzuki-san? – Falou baixo, num tom manhoso. Levantei-me abruptamente, notando Takanori me acompanhar com um olhar preocupado.

            – Sim... Ele ‘tá bem?

            – Nós descobrimos algo que pode ser a causa do problema dele... Um coágulo obstruindo uma artéria. É possível retirar este coágulo, mas é uma operação delicada. Precisamos falar com algum parente dele. Algum de vocês...

            – Ele não tem família. – Se prontificou Takanori, um sutil tom de rancor na voz. Pensando assim, Shima nunca me falou sobre a família.

            – Neste caso... Quem são vocês?

            – Eu... Vivo com ele, doutor. – O moreno passou a me medir de cima a baixo.

            – Então você é o namorado dele...

            – C-como...?

            – Não me leve a mal, mas eu soube desde o começo que não seria uma namorada... Só estava tentando ver qual de vocês era o felizardo. Sou um médico, examinei o corpo paciente... E a situação em si, quer dizer... Só tinha três homens o acompanhando, e nenhum parecia ser parente, além de serem vaidosos. – Fitei o doutor e notei um piercing em seu lábio inferior, unhas limpas e brilhantes, alguma maquiagem... Se fosse seguir a teoria dele, tínhamos mais um gay ali. Repentinamente, senti o olhar de Ruki pesando sobre mim. Abaixei a cabeça levemente e o doutor soltou uma risada sutil. – Tudo bem, tudo bem... Acredite, ele não está doente por causa da relação que mantém com você, seja como ela for. Voltando ao assunto... Você terá que decidir então, e o mais rápido possível. É uma operação delicada, ele pode falecer no processo. Mas se não a fizermos, ele não terá que continuar com a oxigenação no cérebro através dos aparelhos para sempre. Há uma grande possibilidade de ele reagir algumas horas depois da operação. Não sabemos se este é o real motivo, mas já desintoxicamos e a ressonância não mostrou mais nada. É possível que ele saia completamente do estado vegetativo em um, dois meses... A não ser que seja um estado vegetativo persistente. Então nós teremos que ter outra conversa bem mais séria e ética... Mas isso só depois. Temos que nos agarrar nessa esperança de agora. 

            – ... Eu posso vê-lo? – O rapaz pareceu ponderar por alguns segundos.

            – Eu não deveria deixar, mas... Venha comigo um instante. – Novamente, Takanori me fuzilou com os olhos enquanto eu segui o doutor. Chegamos a uma sala, aparentemente uma sala de operações. Pareciam prontos para fazê-lo, como se só esperassem minha autorização. Havia uma grande janela de vidro de onde eu podia ver tudo. Mais três médicos estavam lá dentro, com máscaras, toucas, luvas, óculos estranhos...

            – Eles estão com a anestesia preparada, se for o caso. Takashima-san está dormindo, mas há casos onde o comatoso ainda consegue sentir, mas não consegue demonstrar o que sente. Não se mexe.

            Fitei demoradamente o garoto na maca. Shima... Estava com uma camisola de hospital verde, a pele mais branca que nunca. Alguns furos nos braços demonstravam a quantidade exorbitante de exames que precisaram fazer.

            – Podem.... Podem fazer.

            – Certo. Assim faremos. – Shiroyama fez um sinal positivo com o polegar, e eu vi o médico que eu supunha ser um anestesista agitando uma seringa. O moreno virou-se para se juntar aos outros, mas antes que ele pudesse ir, exclamei:

            – Shiroyama-san... Por favor... Toma conta do Kouyou por mim. Não deixa ele morrer... – As lágrimas voltavam a arder em meus olhos só com a perspectiva. Ele voltou-se para mim outra vez, segurando minhas mãos.

            – Suzuki-san, farei tudo que estiver em meu alcance. – Seus olhos negros adquiriram um brilho diferente, confiante; acalmando-me um pouco. Logo depois ele sorriu discretamente e correu para a sala de operações, colocando uma máscara.

            Ainda fiquei mais alguns segundos observando o vidro. Kou respirava muito mal, apesar dos aparelhos. Logo, um dos homens de branco pegou um tipo de bisturi, preparando-se para fazer uma incisão na cabeça do meu loiro... E a última coisa que vi foi um sorriso tranquilizante de Shiroyama antes de fechar a persiana da sala de operações.

Vomitando inconscientemente
A respiração junto com a pele.
A lâmina sacudida discretamente.

-

            Obstinadamente, permaneci em pé, encostado no vidro frio, através do qual eu não conseguia ver nada. Mas Takashima estava lá... Eu queria estar com ele.

            Só notei uma presença quando Takanori já me puxava pelo braço, alegando ser melhor ficar em outro lugar qualquer. A contra gosto, o segui e voltei a sentar ao lado de um Uke ainda adormecido.

            O tempo foi passando, outra vez Takanori adormeceu. Meu corpo doía, estava com dor de cabeça e precisava dormir também. Mas eu não conseguia... Precisava ter notícias sobre a operação antes de qualquer coisa.

            Foi aproximadamente uma hora depois que eu fui levado para a sala de espera que Shiroyama apareceu lá, me fitando imediatamente. Foi cauteloso para não fazer barulho. Ao tirar as luvas das mãos e a máscara do rosto, pude ver o sorriso que ele exibia. Aquele sorriso nada significava, mas... Me deu esperança. E eu precisava dela.

            – A operação ocorreu tranquilamente. Takashima é forte... Resistiu até em momentos de complicação. Quando o efeito da anestesia passar, vamos fazer mais alguns testes e ver se ele reage. Não precisa se preocupar, por hora... Deviam comer alguma coisa, ir pra casa... – Suspirei aliviado. Não iria para casa... Mas Uke-san e Takanori não tinham que ficar mais ali.

            – Muito, muito obrigado, doutor Shiroyama! Você salvou a vida do Kou, eu nem sei como lhe agradecer... – Fiquei em pé a sua frente.

            – Pode me chamar de Yuu. “Doutor Shiroyama” é o meu pai, Yoshiro Shiroyama. E não precisa agradecer, Suzuki... Eu disse que ia cuidar dele. Além disso, é meu trabalho. – E sorriu, um sorriso bem mais espontâneo que os últimos, estendendo sua mão que eu apertei com o maior prazer.

            – Pode me chamar de Akira, também...

            – Certo, Akira. Vou voltar pra lá e continuar cuidando do seu Kouyou. Até mais. – E ainda sorrindo, me deixou para trás, com um pequeno sorriso bobo nos lábios.

            Imediatamente, acordei Matsumoto e Uke-san, lhes contando as novidades, enquanto via tímidos sorrisos tomarem conta de seus semblantes. Logo Takanori se dispôs a ficar lá enquanto eu e Yutaka íamos dormir um pouco, mas neguei; dizendo que eu poderia fazer esse primeiro turno. Não foi difícil convencê-los. Em poucos minutos, eu estava sozinho de novo, um peso enorme tirado de meus ombros... Uma sensação gostosa me invadindo...

-

            Acordei quando alguns resquícios de luz já entravam pelas janelas do hospital. Acabei caindo no sono. Olhei para os lados e me deparei com Yuu tomando um enorme copo de café.

            – Bom dia, Akira. – Falou, seriamente.

            – Bom dia. – Sorri para ele. Mas ele não retribuiu o sorriso.

            – Pegue isso, precisamos conversar. Mas coma algo. – Me entregou um pacotinho com bolachas de água e sal. Seu pesar me botando cada vez mais medo.

            Vendo que ele não falaria nada a menos que eu comesse, enfiei os biscoitos de uma vez na boca, mastigando rapidamente e engolindo com um pouco de dificuldade aquele bolo alimentar espesso que se formou. Shiroyama me ofereceu um pouco de seu café, mas neguei.

            – O que houve?

            – Akira... Ele não reage. Impulsos elétricos, beliscões, medicamentos... Nada. – Passou as mãos nervosamente pelos cabelos. – Passei a noite inteira fazendo exames e... Só podemos concluir que ele está em um coma profundo.

            Lembrei-me das palavras que o moreno me disse mais cedo... “A não ser que seja um estado vegetativo persistente. Então nós teremos que ter outra conversa bem mais séria e ética...”. E meu mundo caiu nesse momento. Meus olhos já começavam a arder, anunciando as lágrimas que viriam a seguir quando Shiroyama colocou uma mão no meu ombro.

            – Vamos esperar alguns dias, Akira. Nem tudo está perdido. Mas quando chegar uma certa hora, talvez você tenha que fazer uma decisão... Muito difícil. Estou avisando para que esteja preparado. Mas... Ainda... Podemos esperar.

            – Quais as chances...?

            – Serei sincero com você. Numa situação dessas, é raro alguém acordar em um curto período de tempo. Um dia o paciente acaba morrendo, ou a família desliga os aparelhos antes disso. No caso de Takashima... Ele que já tem problemas pode acabar tendo uma convulsão, o que seria letal. Mas estamos medicando ele pra evitar isso. Por outro lado, existem pessoas que décadas depois acordam como se nada houvesse acontecido. Mas, a maioria das pessoas que sobrevive a isso perde muito da capacidade cerebral, não consegue andar, comer, às vezes falam desconexamente...

            – Certo, não precisa falar mais nada. – Me proferi, e ele parou com seu discurso calmo. Ele ficou aqui a noite toda... E agora ainda tinha que falar calmamente comigo... Ser médico não deve ser nada fácil.

            – Eu vou voltar lá pra dentro, mas qualquer coisa, eu já avisei para as moças da recepção me chamarem se você quiser, a qualquer hora. Você ainda não pode ir vê-lo, vamos mudá-lo de quarto em breve já que ele não corre mais riscos. Venho te avisar quando fizermos isso. Pelo jeito você não pensa em ir embora, né...?

            – Não.

            – Mas... Você não pode ficar aqui por anos, Akira. Deveria ir tomar um banho, trocar de roupa, dormir um pouco...

            – Mais tarde, talvez. Depois que eu vê-lo... Mas obrigado por se preocupar.

            – Não estou preocupado... Só não quero ter que te levar em uma maca também. – E sorriu de leve antes de dar as costas e caminhar na direção já conhecida da sala de operações.

            Me deixou para pensar.

            Eu não vou desligar os aparelhos. Eu não conseguiria permitir...

Não se esqueça:
As batidas daquele que é atraído
por você que conhece a dor
Esperam aqui.

            Eu iria esperar por todo o tempo necessário.... Eu esperaria por Kouyou pra sempre. E quando ele acordasse, eu seria o primeiro a ver seu precioso sorriso.

Boa noite.


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Notas finais do capítulo

N/A: Bem, primeiro, eu tenho que pedir desculpas pela minha empolgação ao explicar sobre comas, e insistir nisso. Mas é que médicos falam muito, e quando o doente é uma pessoa que gostamos, acho que a gente também tenta absorver tanto quanto possível sobre a doença.

Hm... Isso é o fim, mas em minha mente, eu tenho ideias para uma continuação. Se alguém tiver interesse em saber se eu fizer, peça por review que, se/quando isso acontecer, eu mando uma mensagem avisando. Ou me adiciona como autora favorita e acompanhe todas as minhas histórias, assim saberá :DD *apanha*

Enfim, muito obrigada à quem acompanhou. Espero que tenham gostado... Comentários com suas opiniões e sugestões são mais que bem vindos.



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