For Amelie - 2a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 28
XXVII - Um outro ponto de vista (Aquiles' POV)


Notas iniciais do capítulo

Música: Far Away (Nickelback)
Link: http://www.youtube.com/watch?v=j4y-RzVGrHg



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Os blocos ainda estavam escuros quando eu cheguei.

Conferi as horas no visor do celular. Eram só 6:35.

Sempre que alguma coisa me incomodava, eu chegava mais cedo na escola.

E sempre que fazia isso, a encontrava lendo alguma coisa.

This time, this place,

Este tempo, este lugar

Misused, mistakes

Esses desperdícios , esses erros

Too long, too late

Tanto tempo, tão tarde

Mas era óbvio que não seria assim dessa vez. Quando a encontrasse novamente, só me restaria aceitar seu desprezo.

_ E aí, cara! Beleza?

_ Fala, Guilherme.

_ Ow, a gente tá querendo organizar um inter-bairros pras férias, tá dentro?

_ Demorou.

_ Agora tem bastante tempo livre, né champs? - ele zoou minha atual situação.

_ Meu, sem comentários. E você, padre?

_ Vai te catar, meu irmão. Manda aquele beijo pra sua irmã.

_ Antes fala pra tua parar de me procurar.

_ Vai brincando, vai...

Ele me deu uns tapas no ombro e continuamos a gargalhar sem interromper os comentários.

_ Bom dia, Aquiles!

A Bia pareceu não notar a presença de nenhum outro colega meu quando chegou. Me deu um forte abraço e um beijo na bochecha.

Aquele comportamento me incomodou de verdade, mas não disse nada, afinal, o que eu havia feito no dia anterior tinha sido bem pior.

Ela encaixou seu braço no meu e não saiu mais do meu lado até a aula começar.

_ Viu, Aquiles! - a Bia cutucou minhas costas quando começou a aula de geografia.

_ Hum? - respondi sem me virar para ela.

_ Eu e a Bruna vamos almoçar no shopping no fim da aula, você vem?

_ Não vai dar. Meu pai está me esperando.

_ Ah, vamos... Pede pra ele te esperar um pouco mais tarde...

_ Fica pra próxima, Bia.

_ Ahhh...

Instintivamente procurei pela Mel, como já vinha fazendo toda manhã e estranhei sua ausência. Será que a Thaís ou a Camila saberiam alguma coisa?

_ E que tal amanhã, então? - a Bia voltou a me cutucar.

_ Acho que não, Bia.

_ A gente podia aproveitar para estudar alguma coisa... As provas estão chegando...

_ Por que não fazemos isso agora? - indiquei o professor discursando mansamente.

_ Ai, tá bom, tá bom!

Ela calou-se pelo resto da aula, mas voltou a falar e me incluir contra minha vontade em sua conversa durante a aula de literatura e física.

_ … Então eu pedi pra minha mãe me deixar dormir lá, senão teria que pedir para meu pai ir me buscar. Mas acabei me arrependendo... Você não vai acreditar, Aquiles, mas o pai dela ronca tão alto que incomodou a mim, que estava há dois quartos de distância! Embora tenha quase certeza que sou eu que tenho o sono leve...

_ Bia, você sabe me dizer quais são os elementos que estão eletrizados aqui?

_ Hã?

_ Aqui, no primeiro exercício.

_ Hum... - ela pegou a folha da minha mão e refletiu um pouco. – Sinto muito Aquiles, mas física não é mesmo meu forte...

Eu sabia quem poderia responder. Mas ela ainda não estava na sala. E mesmo que estivesse, o que eu poderia fazer? Pedir sua ajuda?

Who was I to make you wait?

Quem era eu para te fazer esperar?

Just one chance, just one breath

Apenas mais uma chance, apenas mais um suspiro

Just in case there's just one left

Caso reste apenas um

'Cause you know, you know, you know...

Porque você sabe, você sabe, você sabe...

_ Não tem problema. Perguntamos pro Walter no fim da aula.

Continuei tentando resolver o exercício enquanto ela continuava a discorrer sobre a festa na casa da amiga.

Quando ouvimos o sinal do intervalo, já estávamos com o material arrumado, uma vez que nenhum de nós conseguia fazer a lição.

_ Vamos lá na lanchonete? - ela convidou ao atravessarmos a porta da sala.

Eu até iria... Contanto que ela não fosse.

_ Não... Preciso resolver umas coisas.

_ Posso te acompanhar nessas coisas? - perguntou sorrindo largamente.

_ Acho que não. A gente se encontra na sala. - disse começando a me virar.

_ Tá bom... Então leva outra coisa com você.

Ela segurou minha mão e me puxou de volta a ela. Antes de poder recusar, ou mesmo entender o que ela ia fazer, agarrou-se ao meu pescoço e me beijou.

Foi rápido e superficial, porém extremamente perturbador. Não éramos, nem nunca seríamos nada que ela esperava que fôssemos... O acontecimento do dia anterior seria só aquilo. Um único acontecimento. Um acontecimento isolado, fruto de uma mente descontrolada e impetuosa.

Mas eu também não sabia como deixar isso claro. Não queria trazer aquilo à tona nunca mais.

_ Nos vemos na sala! - ela disse e em seguida me deixou.

Balancei a cabeça, inconformado com minhas atitudes e em dúvida sobre como resolver aquilo.

_ Eu super desacredito, Aquiles!

_ Thaís? - estranhei.

Ela cruzou os braços e me encarou com os olhos estreitos.

_ Você e aquela criatura das profundezas do inferno? Tá certo que a vida é sua, e faz dela o que bem entender, mas a Cris é minha amiga e isso passa a ser da minha conta também!

_ Thaís, você entendeu mal... Foi coisa da Bia, nós não-

_ Escuta aqui, Aquiles de Freitas Diederich! - ela apontou um dedo para mim por um tempo, mas logo o abaixou. – Não. Não vou lhe fazer ameaças. Mas não conte mais com a minha ajuda.

Em seguida, virou-se de costas e se afastou.

Eu já estava arrependido, mas minha amiga conseguira agravar a situação.

Sem pensar duas vezes, matei a aula de SIC na quadra esperando pela nossa aula de educação física.

Ela realmente não vinha...

That I love you

Que eu te amo

I have loved you all along

Eu sempre te amei

And I miss you

E eu sinto sua falta

_ Aquiles! Coisa feia! Matando aula pra jogar, né...

A Bia riu seguida da falsa bronca e pegou minha mão.

_ Bia... Eu preciso te dizer uma coisa...

_ Eu já sei, Aquiles.

Ela soltou minha mão e fitou os próprios pés.

_ Sabe?

_ Hum-hum. – confirmou. – Já que é assim que você quer...

Ela voltou a me encarar, e diferente do que eu imaginava, sorriu gentilmente.

_ Não ia dar certo mesmo, se você não consegue gostar de mim.

Na verdade eu não conseguia nem tentar.

_ Mas fico feliz por ter se atrevido. Senão nós nunca saberíamos como é... Não é verdade?

_ É verdade. – concordei, por ser muito covarde para contrariá-la naquelas circunstâncias.

Ainda apreensivo, pedi:

_ Desculpa por não ser como esperava.

_ Hum. Eu... Acho que vou dar uma passadinha no banheiro. Já volto.

Sem se dirigir a mim outra vez, pegou sua mochila e subiu as escadarias em direção ao bloco 2.

Quão mais canalha eu podia ser mesmo?

Logo o resto da sala também estava reunido na quadra.

Um grupo de alunos desceu conversando freneticamente com o professor, mas silenciaram ao se aproximar.

_ Pessoal! Juntem aqui, só um instante, por favor! - ele pediu em voz alta.

Como eu já estava perto, não precisei me mover.

_ A direção pediu para que eu lhes desse esse recado, mais uma vez. Gente, vamos tomar cuidado ao atravessar a avenida... Temos uma passarela para que isso não precise ser feito, mas se não houver jeito, por favor, prestem o máximo de atenção...

_ Aconteceu alguma coisa, professor? - perguntou a Thaís.

_ Não temos certeza ainda. Mas parece que sim, Thaís.

Ouvi o pessoal começar a tecer as mais diversas teorias, mas eu não conseguia deixar de pensar em uma coisa.

Peguei meu material e corri escadas acima enquanto discava o número dela.

_ Vai, Mel... Atende...

Ela tinha todo direito de estar zangada, mas poderia ao menos atender e me xingar. Eu ficaria mais aliviado.

_ Alô. - ouvi do outro lado.

Estaquei, a meio caminho da portaria.

Não era a Mel. Era uma voz fraca, parecia cansada.

_ Oi... Por favor, a Amélia Cristina?

_ Quem está falando?

Então eu reconheci, era a mãe dela. Senti meus batimentos cardíacos se acelerarem.

_ Dona Diângeles? É o Aquiles... Posso falar com ela?

Depois de alguns segundos de silêncio, ela respondeu:

_ Aquiles, não vai dar.

_ O que aconteceu?

Mais alguns segundos de silêncio.

_ Ela sofreu um acidente...

_ Como ela está?

_ Ainda não sei, Aquiles... Estou aguardando.

_ Onde vocês estão?

Ela hesitou.

_ Não sei se seria uma boa ideia...

_ Por favor, dona Diângeles. Preciso vê-la.

Been far away for far too long

Estive afastado por muito tempo

I keep dreaming you'll be with me

Eu continuo sonhando que você estará comigo

And you'll never go

E você nunca irá embora

Stop breathing if I don't see you anymore

Paro de respirar se eu não te ver mais

Ouvi um suspiro, e então ela me disse o hospital onde estavam. Não pensei duas vezes antes de pegar uma condução para lá.

~//~

_ Amélia Cristina de Prado Medeiros. - repeti para a recepcionista.

_ Ainda não está no quarto. - me informou olhando para o visor.

_ Mas me diga onde é, vou esperar.

_ Corredor C, quarto 21. Vou precisar de um documento seu para lhe fazer um crachá.

Apalpei os bolsos e estendi minha carteirinha da escola para ela.

Assim que o crachá de identificação ficou pronto, quase o arranquei da mão da jovem e corri para as escadas.

Virando no corredor indicado, logo reconheci minha ex-sogra.

Estava sentada em um banco em frente à porta do quarto 21, com a testa pousada sobre as mãos unidas.

Toquei seu ombro e ela me fitou longamente. Não estava chorando, mas parecia ter feito isso recentemente.

_ O que aconteceu? - perguntei.

Ela esfregou as mãos sobre as pernas, enquanto discorria:

_ Não sei ao certo... Parece que ela não olhou direito pra atravessar aquela avenida... Ainda não acredito que tenha sido tão inconsequente... - ela parou repentinamente e enrugou as sobrancelhas, pensando em outra possibilidade. – Ou será que ela... - novamente parou e me encarou.

Mas não quis dividir comigo o que se passava em sua mente.

_ Vamos só esperar. Logo mais, ela mesma nos contará o que houve. - finalizou.

_ Exatamente.

Sentei-me ao seu lado e recostei-me na parede.

Já havia estado naquele hospital umas quatro vezes naquele ano. Mas nunca em circunstâncias tão angustiantes.

Esperamos por vários minutos, mas nada acontecia.

Levantei-me e andei de um lado a outro, tentando controlar a ansiedade.

_ Dona Diângeles, eu volto em um minuto.

Ela consentiu com um aceno de cabeça vago.

Desci até a copa e aproveitei para ligar para meu pai. Ele se preocupou e perguntou se podia fazer alguma coisa, mas infelizmente ele não tinha poder para o que precisávamos.

Pedi dois cafés para viagem na copa e voltei para o corredor C.

Estendi um dos copos para minha ex-sogra, e ela não o recusou.

_ Obrigada, Aquiles.

Tomamos alguns goles em silêncio, e por fim um médico adentrou o corredor. Ambos nos levantamos e o aguardamos falar.

_ Acalmem-se. Ela está bem...

Ouvi-a suspirar aliviada, enquanto pousava uma das mãos sobre o peito.

_ ...Apesar de ter tido um traumatismo cranioencefálico moderado. Por isso a manteremos sedada com a finalidade de reduzir a pressão intracraniana e acelerar sua recuperação.

_ Um coma induzido? - ouvi-a perguntar quase contrariada.

_ Calma, mãe... Ela só estará profundamente sedada. É o melhor para ela.

_ Mas... Doutor, eu preciso falar com a minha filhinha...

_ Preciso da sua cooperação, para que sua filha se recupere o quanto antes.

A Mel em coma induzido?

Com certa dificuldade, ela concordou e perguntou quando poderia vê-la. O médico disse que dentro de 20 minutos a visita estaria liberada. Um visitante por vez.

Pacientemente aguardei minha vez chegar. Fui obrigado a vestir um avental e luvas esterilizadas antes de entrar na unidade de terapia intensiva.

O médico disse que a UTI seria necessária só pelos primeiros dias após a delicada cirurgia, e então ela poderia ser remanejada para o quarto comum.

Era bom vê-la respirando após o susto que levamos. Mesmo que tivesse o suporte de um aparelho. Um outro media seus sinais vitais, e aqueles bips pareciam ameaçadores.

Pensei em tocar sua mão, mas uma estava engessada e a outra tinha uma agulha de soro espetada.

Quis acariciar seus cabelos que eu tanto adorava, mas sua cabeça estava envolta em bandagens, e fiquei com medo de machucá-la mais ainda.

On my knees, I'll ask

De joelhos, eu pedirei

Last chance for one last dance

Uma última chance para uma última dança

'Cause with you, I'd withstand

Porque com você, eu resistiria

All of hell to hold your hand

A todo o inferno para segurar sua mão

Então fiquei só observando-a, por todos os vinte minutos restantes da visita.

~//~

No dia seguinte, retornei ao hospital e continuei a velar seu sono induzido. E foi o que fiz pelos próximos quatro dias, até que finalmente no quinto, colocaram-na no quarto.

Lá o sol batia durante toda a manhã, e até pareceu que seu rosto deixou de ficar tão pálido.

No quarto não era necessário revezar as visitas, então eu passava todo o horário de visita ao lado da dona Diângeles que era sua acompanhante oficial.

Naquele dia, uma das mãos da Mel estava livre. A enfermeira explicou que para o membro não inchar muito, tinham trocado o soro de lugar. Estava no outro braço, um pouco acima do gesso.

Beijei sua mão e continuei a segurá-la entre as minhas.

Estava fria, apesar do dia quente. Voltei a assistir seu rosto adormecido. O tubo do aparelho não me deixava ver seus lábios que tanto me prenderam quando a beijei pela primeira vez. Mas o curativo em sua cabeça estava menor, me permitindo apreciar todo o resto, que era tão ou mais encantador.

_ Que bom que você gosta mesmo dela, Aquiles. - ouvi a mãe dela dizer ao meu lado.

_ Não tenha dúvidas.

_ Só não entendo por que não deu certo...

_ Não, na verdade... - eu realmente pretendia tentar me explicar, mas eu só queria fazer isso para a Mel. – Tivemos alguns problemas, é verdade. Mas eu espero mesmo que ela me perdoe.

_ Se eu conheço bem essa cabeça dura, arriscaria dizer que sim. Mas depois de ter dar muuuito trabalho. Saiu ao pai dela, essa daí, hum-hum. - ela nem tentou disfarçar a ironia.

Antes de me juntar a ela no riso, a porta se abriu, e o mesmo médico que conversou com a gente no primeiro dia, entrou no quarto.

_ Boa tarde. Como vão?

_ Doutor! Bem, e então, alguma novidade? - ela se apressou em perguntar.

_ Sim, e uma feliz novidade.

_ Somos todos ouvidos!

O médico contornou a cama e tomou os sinais vitais da Mel.

_ Ela está indo muito bem. Já não apresenta quase nenhum inchaço encefálico, e por isso a partir de hoje estaremos diminuindo os sedativos. É provável que entre amanhã e depois, ela já esteja consciente.

Vi que a dona Diângeles cobriu a boca com as mãos, quase não contendo um grito eufórico. Eu simplesmente me voltei para a Mel, quase esperando que abrisse os olhos naquele instante.

Ouvi-os conversando mais algumas poucas coisas, mas eu já não estava prestando atenção. Em no máximo dois dias, eu poderia falar com ela novamente. Estava tão empolgado, que poderia esperar ali mesmo até que isso acontecesse.

_ Poxa, sinto muito meu lindo, mas vou ter que te pedir para se despedir...

Uma enfermeira de idade avançada invadiu o quarto já ajustando o soro e a medicação da Mel.

Ela tinha razão, a visita já havia acabado tinha alguns minutos.

Com muita relutância soltei sua mão, que já havia até se aquecido, e deixei o hospital.

Pelo menos a chance de encontrá-la desperta no dia seguinte era bem alta.

Mas não foi como eu esperava... Pouco antes do horário de visita, recebi uma ligação da mãe dela, pedindo que eu não fosse. Ela não estava completamente consciente, e esse estado intermediário exigia muita tranquilidade.

A dona Diângeles não disse, mas eu tinha plena consciência que para a Mel, eu não era exatamente o sinônimo de tranquilidade.

Mantive o bom senso. Pelo menos no dia seguinte poderia vê-la. Mesmo que fosse para ser expulso.

_ Aaaahhhh! Não acredito!!! Jura? Eu vou com você!

_ Ei! Só você não, Thaís! Eu também vou, Aquiles!

Eu realmente não esperava uma reação diferente da Thaís e da Camila quando lhes contei a novidade. Mas não as censurava. Minha ansiedade em vê-la também era quase incontrolável.

Combinamos de irmos juntos no fim da aula ao hospital, e meu pai acabou nos dando uma carona.

_ Amélia Cristina de Prado Medeiros. - repeti como de costume para a recepcionista.

_ Documentos, por favor. - ela pediu.

Estendi minha carteirinha da escola, junto com os documentos das meninas.

_ Ai, nem posso acreditar que finalmente vamos falar com ela! - vibrou a Camila.

_ É mesmo, Cami! Cara, que maravilha! Eu vou xingar muito aquela cabeça de bagre pelo susto que nos deu! Eu quase bombei em química por causa da preocupação!

_ Não vai entrar no quarto já soltando os cachorros, hein, Thatha! Senão aí você mata nossa amiga de desgosto!

_ Tá bom, soltarei só um pincherzinho...

_ Ahn... Aquiles? - a recepcionista chamou incerta.

_ Hum?

_ Bem... Nós aqui... Temos uma lista de restrição de visitas...

_ E?

_ E seu nome está nela.

_ O quê?

_ A paciente não permite sua visita.

_ Eu não posso subir, é isso?

_ Exato, sinto muito.

_ Mas... Me deixe só falar com ela...

_ Me desculpe, mas não posso. Aqui está o crachá e o documento das outras duas visitantes.

A Thaís e a Camila pegaram seus pertences e voltaram a me encarar, estarrecidas.

_ Thaís... - comecei em tom suplicante.

_ Ai, ai, ai, Aquiles... Olha só o que você faz...

_ Por favor, Thaís... Fala com ela... Por favor.

Ela cruzou os braços e bufou.

_ Eu já não tinha dito que não poderia mais contar com a minha ajuda?

_ Agora vai me dizer que nunca fez idiotice?

_ Nunca com o monstro do lago Ness.

_ Thaís! Por favor...

Ela me encarou por um tempo, até começar:

_ Tudo bem Aquiles. Eu farei isso. Afinal, que amiga sou eu se deixar você se perder pelos caminhos sombrios, não é?

_ Valeu Thaís! Valeu mesmo! Por favor, diga a ela que tenho muito o que explicar...

_ Tá, tá, tá, sem chantagem emocional. Vamos, Cami. Vamos tentar livrar a cara desse mané.

Observei as duas se afastarem até tomarem as escadas, e aguardei por longos minutos pelo seu retorno.

Minha impaciência aumentava conforme o horário de visita se aproximava do fim.

_ Vamos logo...

Olhei novamente as horas. Apenas 15 minutos para o fim. Tive a ideia de ligar para elas, mas nenhuma me atendeu.

Por fim, elas surgiram ao pé da escada.

_ E aí? E então? Como ela está?

_ Respira, Aquiles. - ordenou a Thaís, e então prosseguiu. – Ela está ótima! Conversamos, rimos, e até nos maquiamos, acredita? Agora sim, tá parecendo que ela saiu da Su, e não de um coma!

_ E você falou com ela sobre mim? Disse que eu estava aqui? Disse que precisava vê-la? Ela deixou?

As duas se entreolharam. Não parecia ser uma boa notícia.

_ Ai, Aquiles... Por que você não espera ela se recuperar para conversarem?

_ Você não quis falar pra ela?

_ Nós falamos sim, Aquiles. Mas não adiantou... Ela nem queria que conversássemos a respeito. Ela está chateada... Ela viu vocês, não viu?

_ Thaís, eu não pretendia...

_ Como tu é tonto, rapaz! Desculpa meu amigo, mas dessa vez você fez na tampa...

_ É, eu imagino...

Eu tinha mesmo me superado, não podia negar.

I'd give it all

Eu daria tudo

I'd give for us

Eu daria tudo por nós

Give anything but I won't give up

Dou qualquer coisa, mas não desistirei

'Cause you know, you know, you know

Porque você sabe, você sabe, você sabe...

Em seguida, as meninas despediram-se de mim, e eu ainda fiquei mais algum tempo no hospital pensando numa forma de resolver aquele impasse.

Mas como nunca fora dono de ideias brilhantes, nada me ocorreu. Acabei indo embora, mas não havia desistido.

Voltei no dia seguinte, mas a notícia que recebi era a mesma.

Aquilo começava a me irritar. Ela tinha que me dar uma oportunidade de me explicar!

No próximo dia, o mesmo se repetiu. A recepcionista já nem precisava consultar o cadastro para me responder.

_ Moça, eu preciso falar com ela. É rápido, eu juro!

_ Não adianta...

_ Mas que lista mais idiota essa!

_ É para preservar o bem estar dos nossos pacientes...

_ Sinto muito, mas terei que burlar essa sua lista. Eu vou vê-la.

Dei-lhe as costas e me dirigi para a escada.

_ Moço! Espere! Você não pode!

Mas sua voz acabou ficando distante.

That I love you

Que eu te amo

That I loved you all along

Eu sempre te amei

I miss you

E eu sinto sua falta

Been far away for far too long

Estive afastado por muito tempo

I keep dreaming you'll be with me

Eu continuo sonhando que você estará comigo

And you'll never go

E você nunca irá embora

Stop breathing if I don't see you anymore

Paro de respirar se eu não te ver mais

Antes que pudesse colocar o primeiro pé sobre o degrau, senti uma certa pressão sobre meu ombro:

_ Senhor, por favor, queira se retirar.

Um homem alto, forte e de terno escuro segurava meu ombro com firmeza.

Suspirei desanimado. Não tinha jeito.

Fui escoltado pelo segurança para fora do prédio e ele ainda ficou me observando me afastar, para ter a certeza que eu não voltaria a perturbar a paz.

De que outro jeito poderia falar com ela?

Até ela deixar o hospital, as aulas já teriam acabado. Do jeito que as coisas iam, em sua casa ela jamais me receberia.

Talvez ela até se mudasse e trocasse os telefones. Nunca mais nos veríamos.

So far away (So far away)

Tão longe (tão longe)

Been far away for far too long

Estive afastado por muito tempo

So far away (So far away)

Tão longe (tão longe)

Been far away for far too long

Estive afastado por muito tempo

Só havia uma forma.

Caminhei a passos largos para a avenida.

Três coisas poderiam acontecer: poderia dar certo, poderia dar errado, ou poderia dar muito errado.

Sei que deveria ter pensado um pouco mais antes de tentar aquilo, mas eu já estava em desespero.

Parei no meio fio, e suspirei fundo antes de dar o próximo passo.

But you know

Mas você sabe

You know

Você sabe

You know

Você sabe

I wanted

Eu queria

I wanted you to stay

Eu queria que você ficasse

Cause I needed

Porque eu precisava

I need to hear you say

Eu precisava escutar você dizer

That "I love you

Que "eu te amo

I have loved you all along

Eu te amei todo o tempo

And I forgive you

E eu te perdoo

For been away for far too long”

Por estar longe por tanto tempo”

So keep breathing

Então continue respirando

Cause I'm not leaving you anymore

Porque eu não vou mais te deixar

Believe and hold on to me and, never let me go

Acredite, segure-se em mim e nunca me deixe ir

Keep breathing

Continue respirando

Cause I'm not leaving you anymore

Porque eu não vou mais te deixar

Believe it Hold on to me and, never let me go

Acredite, segure-se em mim e nunca me deixe ir

(Keep breathing) Hold on to me and, never let me go

Continue respirando, segure-se em mim e nunca me deixe ir

(Keep breathing) Hold on to me and, never let me go

Continue respirando, segure-se em mim e nunca me deixe ir

Eu a amo mais que o possível. Não poderia ficar sem ela. Por isso fiz o que fiz.

Continua

*

N/A: Okay, demorei mais do que pretendia... Mas estou numa fase atribulada... Combo SemanaDeProvas+EmpregoNovo.

Eeee... Se fizeram as contas direitinho já sabem que o próximo é o último né?

Nossa, dá uma melancolia tocar nesse assunto...

Enfim... Talvez eu separe o ultimo cap em cap + prólogo, mas não sei ainda... Veremos...

Well, espero que tenham gostado do POV do nosso cabeçudo! XD

Kissão a todas!


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