For Amelie - 2a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 22
Minhas apologias




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Olá pessoinhas de bom coração, tudo bem com vocês?

Espero que sim!

Para quem quiser saber, comigo também! :B

 

Bem, brincadeiras à parte, hoje vim aqui para uma árdua tarefa...

Talvez alguns leitores suspirem aliviados, mas tenho certeza que a grande maioria vai ficar muito chateada. Tanto quanto eu.

Vocês se lembram que no aviso anterior eu disse que precisaria me dedicar um pouco muito (hã?) aos meus outros afazeres?

Então...

Esses outros afazeres tornaram-se permanentes. Tentei, juro que tentei conciliar as duas coisas, mas não deu. Não vai dar mais, na verdade...

Para escrever qualquer porcaria, prefiro não escrever.

 

Sei que jurei não parar, mas eu não poderia imaginar o que viria pela frente. Por isso, cuidado com o que prometem, ok? Rs.

 

Bem, então para dizer com todas as letras: não vou mais continuar com FA, nem com as outras fics. E para eu mesma não me culpar a todo momento, excluirei esse perfil dentro em breve, ok?

 

Gente, amo mesmo todas vocês, todas e cada uma! Sentirei horrores a falta disso aqui, mas vida é sempre assim... Precisamos abrir mão de certas coisas para conseguirmos outras.

 

 

Cuidem-se todas.

 

Kissão.

 

s2

 

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Ráááááá!!

Primeiro de abriiilll!!!

 

 

[grilos ao fundo]

 

 

O_o

 

 

Espero que alguém tenha rolado até aqui...

 

 

 

Título do Capítulo: XXI – Dúvidas ácidas, decisões básicas

Beta reader: Keli-chan

 

 

Encarar a Íris, até ia... Afinal, ela podia não ser sincera, mas precisava da minha ajuda, então não se atreveria a me afrontar. Já a minha sogra...

 

_ Poxa, que pena Íris... Acho que dessa forma não será possível. Você deve saber que sua mãe... Bem, você deve saber. - Uma conclusão um tanto inconclusiva, admito.

 

_ Eu imagino. - ela concordou, desanimando-se. – Tudo bem, acho que não temos mesmo moral nenhuma para te pedir alguma coisa. Mas de qualquer forma, obrigada! - ela tentou parecer descontraída.

 

_ Não tem pelo quê. - Fiz uma pausa antes de continuar. – Quando você sair de seu castigo, podemos nos encontrar, que tal?

 

_ Sim, é uma ótima ideia. - Então por que não parecia isso?

 

Ambas sabíamos que seria tarde demais.

 

_ Então tá bom... É, até mais! E desculpe pelo inconveniente! - riu nervosa e se despediu outra vez – Beijos!

 

_… Outro...

 

Em seguida ela desligou.

 

Fiquei olhando um bom tempo para o visor do aparelho antes de guardá-lo de volta na mochila.

 

Por que eu estava com aquela sensação de covardia?

 

Precisavam da minha ajuda e, no entanto, eu me neguei pelo simples fato de não querer me deparar com alguém que não gostava de mim...

 

Tudo bem que não era um fato tão simples assim, mas de toda forma... Eu não queria ver minha sogra - nunca mais se fosse possível -, e por causa disso talvez a Íris perdesse um ano de sua vida.

 

Tudo bem também que a culpa não era minha... Esse mérito era única e exclusivamente da Daphne, mas ela não tinha capacidade para reparar essa porcalhada... E mesmo que tivesse, eu não seria a primeira a aprovar.

 

A questão era que eu podia ajudá-la a reparar sua vida acadêmica, mesmo que ela não merecesse.

 

Finalmente ela parecia me aceitar. Mesmo que não houvesse alternativa.

 

Se eu fizesse esse favor por ela, ela estaria com uma dívida considerável para comigo. E isso me soava tão satisfatório...

 

Mas fazer isso sob o olhar reprobatório de D. Lívia?

 

E com que direito ela me reprovaria? Era eu quem deveria reprová-la!

 

“E tenho certeza que a casa não é dela! É do seu Fernando!”

 

Pelo menos era o que eu esperava enquanto retornava a ligação da Íris.

 

_ Íris? Oi, sou eu... Bem, na realidade... Acho que podemos estudar sim. Afinal, você não me ligaria se houvesse alguma proibição por parte da sua mãe, não é?

 

_ Claro! Não, ela nunca faria isso...

 

Mas me proibiu de namorar o filho... De forma implícita.

 

_ Então se você me garante que ela não irá... - me encher o saco, digo. – se aborrecer... Eu poderia dar uma passada aí hoje. Podíamos aproveitar que o Aquiles não está. - Já que ele sempre me desconcentra...

 

_ S-sim! Claro que garanto! Não teria nem cabimento! - depois de alguns segundos de silêncio, ela quis comprovar. – Você está falando sério, né?

 

Ri da suspeita absurda.

 

_ Estou, Íris. E então?

 

_ Então que será ótimo! Ficarei te esperando.

 

_ Certo. Eu só vou pra casa almoçar e dou um pulo aí.

 

O máximo que a D. Lívia poderia fazer, seria me irritar. E o que era isso para alguém com punhos de aço como eu?

 

_ Beleza, então! Nem sei como agradecer...

 

_ Não se preocupe. Nos vemos daqui a pouco.

 

_ Combinado. Até logo.

 

_ Até.

 

Desligamos novamente.

 

Eu ainda tentava me convencer que tomara a melhor decisão enquanto almoçava.

 

Que mal podia haver em querer manter uma relação sustentável com elas?

 

Era apenas uma última tentativa...

 

 

*~*~*

 

“Oops!” Eu ainda estava de castigo?

 

Mas já era tarde quando minha consciência se manifestou. Eu estava descendo do trólebus, indo em direção ao residencial “Domo”.

 

De qualquer forma, eu pretendia chegar em casa antes da minha mãe, e mesmo que isso não acontecesse, tinha absoluta certeza que ela entenderia minha atitude tão altruísta.

 

O número 2405 dourado foi ficando mais definido à medida que eu me aproximava.

 

Tentei não pensar no meu nervosismo durante todo o caminho, mas agora ele estava tão intenso que era quase impossível ignorá-lo.

 

Toquei a campainha antes que minhas pernas começassem a correr na direção oposta sem a minha permissão.

 

Os segundos se arrastaram antes que a porta se abrisse e um lindo par de olhos verdes surgissem.

 

_ Oi. Nossa, cara... Você veio mesmo.

 

_ Sabe que eu também me surpreendi?

 

_ Com razão. Eu já disse que no seu lugar, não viria, não é?

 

_ Sim. Mas tudo bem, se preferir... - apontei para as minhas costas, indicando o elevador que dava acesso à saída.

 

_ Não, pelo contrário! Agradeço aos céus por não ser tão mesquinha quanto eu! - ela abriu um sorriso satisfeito e se afastou da porta, para que eu entrasse.

 

Hesitei, mas caminhei para dentro do apartamento. Notei que ela me encarou com curiosidade antes de prosseguir:

 

_ Você está mesmo diferente do que eu me lembrava...

 

_ Ah! É... Fiz algumas coisinhas.

 

_ Coisinhas essas que te fizeram muito bem.

 

_ Obrigada. – corei.

 

Depois de algum silêncio constrangedor, ela retomou o diálogo:

 

_ Olha, eu sei que já disse isso, mas eu queria de verdade que me desculpasse.

 

Permaneci em silêncio tentando encontrar uma forma delicada de dizer que aquilo era um tanto condicional... Ajudá-la não implicava em perdoá-la.

 

_ Você acreditaria se eu dissesse que tenho uma gêmea má e que foi ela quem você conheceu naquele dia? - ela brincou.

 

_ Seria muita coincidência tê-la encontrado duas vezes?

 

Ela silenciou. Se houvesse um placar contra a Íris também, eu estaria muitos pontos à frente dela nesse momento.

 

Percebi que ela mordiscou o interior da boca, tentando encontrar um argumento ou com medo de dizer a verdade. Só descobri qual era quando disse:

 

_ Na verdade eu não sabia que você estava aqui. O Aquiles não disse.

 

Que tinha sido sacanagem da parte dele, eu não tinha dúvidas.

 

_ Não vou mentir, eu até curti quando nos encontramos... Todas. Mas eu juro que não planejei.

 

Eu não queria uma sessão para lavarmos a alma, mas já que ela tinha começado a se desculpar...

 

Cocei a cabeça e me desviei do seu olhar, tentando não parecer acusatória:

 

_ Então você só planejou o porta-retrato?

 

Ela enrubesceu quando se lembrou do fato.

 

_ Ahn, nossa! Aquilo foi ridículo, eu sei...

 

Depois me encarou preocupada e disse:

 

_ Pra você ver o estrago que pessoas insanas podem causar.

 

Ela estava mesmo se auto-definindo como insana?

 

_ Hã? - deixei escapar.

 

_ Eu estava numa dieta de proteínas. Isso sempre me deixa insana! - Em seguida riu.

 

“Ô, meu Deus! Será que sou a única adolescente que não faz regime?!”

 

Isso me fez reparar que meus 57 kg pareciam exagerados perto da Íris. Então, não era eu quem precisava disso?

 

_ Jura? - tentei sorrir naturalmente, o que deve ter surtido um efeito totalmente oposto.

 

_ É que eu tinha um teste naquela semana.

 

Ela parou de falar e esfregou as mãos. Provavelmente não pudera seguir adiante devido aos problemas escolares.

 

_ Bom, pessoas insanas nunca foram minha especialidade no quesito social – Na verdade, o quesito social por si só nunca o fora. -, então espero que tenha ingerido pelo menos algum carboidrato complexo hoje...

 

Seus olhos se arregalaram e vi alguma esperança surgindo em seu olhar:

 

_ Você entende da dieta de proteínas?

 

_ Na verdade eu entendo de bioquímica... Se isso ajuda.

 

_ Uau... Bem que o Aquiles dizia que você era um gênio da ciência...

 

_ Vamos com calma... Era o mínimo que eu poderia saber, levando em consideração a careira que pretendo seguir.

 

_ Ah é? E qual é?

 

Estávamos mesmo conversando amigavelmente, ou era eu quem estava insana naquele dia?

 

Tentei ao máximo não demonstrar minha relutância em dialogar com ela enquanto respondia à sua pergunta.

 

E como eu já esperava, minha resposta novamente a surpreendeu. Ela disse mais alguma coisa sobre querer ter apenas uma pequena fração da minha inteligência e então me guiou até seu quarto, onde poderíamos estudar com mais conforto.

 

Procurei não puxar conversa, mas respondia educadamente tudo que me perguntava. Queria mesmo era fazer com que ela realmente aprendesse alguma coisa, para que todo meu esforço de retornar à casa do Aquiles não fosse em vão.

 

Mas depois de nos acomodarmos numa mesinha de estudos, ela pareceu retomar o foco.

 

_ Bem, e por onde quer começar?

 

Ela suspirou pesarosamente enquanto observava os livros que havia colocado sobre a mesa.

 

_ Se eu disser que preciso de sua ajuda nisso também, você acredita?

 

_ Acredito.

 

Sem mais delongas, separei os livros sobre a mesa.

 

_ Já que fica a meu critério, eu aconselharia a começar pelas matérias mais críticas. Muita coisa você consegue pesquisar sozinha. Como, por exemplo, literatura, história e geografia. Já matérias que exigem raciocínio são melhores absorvidas com algum auxílio, tipo matemática, física e química.

 

_ Não, tudo bem, são as críticas mesmo que estão me dando trabalho... Podemos começar com matemática? Estamos vendo um círculo trigonométrico, que em minha opinião deveria se chamar círculo do inferno...

 

Como podia? O círculo trigonométrico foi um dos assuntos mais simples da matemática!

 

Mas eu não podia desmerecê-la dessa forma. Ferir sua confiança só contribuiria com seu baixo rendimento.

 

_ Que nada, quando se acostumar com ele, não vai querer saber de outra coisa.

 

Ela riu da paixão que eu expressava pelos estudos.

 

Pouco depois, estávamos debruçadas sobre sua mesinha, fazendo exercícios e conferindo fórmulas.

 

Era quase como ensinar química ao Aquiles. Mas por mais incrível que parecesse, a Íris ainda parecia ter menos dificuldade.

 

O único problema dela era ter negligenciado os estudos, pois tinha certa facilidade em aprender.

 

Torci para que ela não tivesse uma recaída, pois se continuasse com o mesmo desempenho, passaria facilmente em qualquer vestibular que prestasse.

 

Observei-a por mais algum tempo enquanto não terminava o exercício.

 

Concentrada como estava, parecia realmente uma garota amável. Talvez não fosse mentira... Pois eu já havia me convencido que ela era apenas uma adolescente imatura. Nada que não mudasse com certa dose de responsabilidade, como aquela de passar de ano.

 

Ela coçou a nuca com a ponta do lápis, e voltou a fazer cálculos. Seus cabelos curtos estavam presos num rabo de cavalo, e suas pontas ficavam todas espetadas devido ao tipo de corte. Estavam tingidos de uma cor clara, diferente do que eu havia conhecido, lembrando fortemente os cabelos da mãe.

 

E em minha opinião era preferível que ela me lembrasse a D. Lívia, à Daphne.

 

_ É isso mesmo, Íris. Não consigo nem acreditar que o considera um “círculo do inferno”. - respondi ao conferir seu exercício.

 

_ Não... Agora nem tanto... No máximo, um círculo do limbo.

 

Dessa vez, quem riu fui eu.

 

_ Prometo tentar fazê-la enxergá-lo como um “círculo da glória”.

 

Ela também deu risada, e retomamos nossa missão.

 

Alguns minutos mais tarde, ouvimos movimento do lado de fora, e fixei meu olhar na porta do quarto, como se fosse possível enxergar através dela.

 

_ Ah, deve ser a minha mãe. - ela comentou sem maiores preocupações.

 

Imediatamente meu pescoço se enrijeceu. Minha respiração se acelerou e senti as palmas das mãos ficarem úmidas.

 

Voltei-me pausadamente para a minha cunhada. Ela continuava fazendo anotações tranquilamente.

 

_ Você disse a ela que eu vinha? - perguntei um pouco mais baixo.

 

Inesperadamente me dei conta que estava chateada com a possibilidade de não ser bem vinda. Até então eu achava que não estava me importando. Era apenas algo como um desafio.

 

Mas não... Ser uma presença indesejável para a mãe do meu namorado era triste.

 

_ Disse...

 

Era por isso que ela havia saído? Ou seja, eu já deveria ter ido embora, para poupá-la de encontro tão desagradável...

 

_ Na verdade – ela se corrigiu. – eu disse que te pediria esse favor, e ela quase apostou comigo que você não vinha.

 

Claro... Ela não queria que eu viesse...

 

_ Hum... Então acho que ela não vai gostar muito de me encontrar...

 

Sua expressão ficou confusa.

 

_ Por quê?

 

Será que ela sabia de toda a história? Ou pelo menos a essência?

 

Não tive tempo de resumir minhas preocupações. Ouvimos uma batida de leve na porta, e em seguida esta se abriu.

 

_ Olá, meninas.

 

A D. Lívia surgiu sorridente na porta, classuda como sempre. Os cabelos caramelados estavam soltos, emoldurando seu rosto fino e delicado.

 

_ Í, onde posso deixar isso?

 

“Í?”

 

Eu estava tão preocupada em captar algum sinal de desagrado da parte dela que nem percebi que ela trazia uma bandeja.

 

_ Põe aqui, mãe. O que você fez?

 

_ Torta de frango. Já sei, já sei! A sua é com “proteína isolada da soja”... - pronunciou como se repetisse um discurso. – São esses pedaços mais claros. Os mais amarelinhos são para a Amélia Cristina, afinal ela não é obrigada a comer suas comidas de passarinho, não é mesmo Amélia?

 

Ela sorria enquanto se dirigia a mim. Fiquei completamente sem ação, parecendo ainda mais retardada do que me sentia.

 

_ Sim. Digo, não! Quero dizer, não tenho nenhum problema em comer torta de proteína de... - proteína do quê mesmo? - Na verdade, não precisava ter se incomodado. - “Não pretendo comer.”

 

E se ela tivesse amaldiçoado a torta?!

 

Certo, era uma possibilidade muito remota. E improvável. E mais: Ridícula!

 

_ Não foi incômodo algum. Nós é que devemos estar te incomodando um bocado com essa história toda, não é?

 

Outra vez perdi a ação. Ela agia tão naturalmente que chegava a dar medo. Estavam planejando me matar e esconder o corpo?

 

Devia ter falado para a minha mãe aonde eu ia!

 

_ Não... Já virou um hábito pra mim...

 

Depois achei que tinha parecido grossa ao dar a entender que elas realmente eram um incômodo. E um incômodo habitual.

 

Mas tentar consertar só me faria parecer mais culpada, então não disse mais nada.

 

_ Pois então Í, trate de aprender de uma vez. A Amélia Cristina também tem seus afazeres, e não vai poder ficar te pajeando o tempo todo. Querem mais alguma coisa, meninas?

 

_ Não, mãe. - recusou a Íris irritada com a recomendação da mãe.

 

_ O-obrigada, d. Lívia. - juro que tentei manter a voz firme.

 

_ Ah, que decepção... - ela começou, parecendo mudar a ideia de nos deixar.

 

Voltei a enrijecer. Será que ela também abriria seu coração, deixando bem claro o quanto era difícil me aturar?

 

Arregalei os olhos com o susto.

 

_ Você continua me chamando de “dona”... - ela se explicou.

 

_ Ahn... Bem... É mais forte que eu.

 

Elas riram, e sem protestar mais, minha sogra deixou o quarto.

 

Continuei observando o espaço que ela havia ocupado, minha testa se enrugando de confusão.

 

_ Cristina?

 

A Íris me cutucou.

 

_ Sim? - atendi tentando não demonstrar minha situação.

 

_ Fiz mais um, tá certo?

 

Peguei a folha e observei a conta. Estava correta, mas fingi ainda analisar o problema, enquanto estudava mentalmente o comportamento de minha sogra e cunhada.

 

Era óbvio... Precisavam de mim. Do contrário, eu continuaria sendo a eremita destruidora de lares... Não era assim?

 

_ Correto.

 

Devolvi a folha a ela. Animada com o próprio desempenho, ela tornou a fazer contas. Depois de acertar mais uma, me perguntou se eu não estaria disposta a ensinar química.

 

Eu não estava, mas eu já havia me comprometido.

 

Uma hora mais tarde, e ela também estava resolvendo os exercícios com muita facilidade.

 

_ Nossa cara... Cadê todo aquele drama? O Aquiles sempre diz que química é uma matéria de seres superiores... Sinal que somos superiores a ele, não é mesmo?

 

“Não fale do meu Aquiles!”

 

_ Ele apenas teve uma experiência ruim. O método de ensino é decisivo nessa questão.

 

Ela ficou me encarando inexpressiva, e achei que talvez tivesse irritado-a.

 

_ Que fofo! – riu. – Não tem jeito, vocês se pertencem mesmo.

 

Não entendi o que ela quis dizer, nem por que. Mas com isso ela parecia abençoar nossa relação.

 

Outra movimentação se fez ouvir do lado de fora do quarto, e eu tive a mesma atitude de tentar enxergar através de materiais sólidos.

 

A Íris continuou escrevendo tranquilamente enquanto eu tentava decifrar as vozes através da porta, mas essas se tornaram inaudíveis depois de alguns segundos.

 

_ Deve ser o Aquiles. - ela disse ao notar meu interesse.

 

Eu já tinha imaginado que pudesse ser ele, mas ao contrário do que eu esperava, fiquei tensa outra vez.

 

Acabaria chegando em casa com o pescoço musculoso, de tanto contraí-lo...

 

Segundos depois e ouvimos novamente baterem na porta, e antes que ela respondesse, o Aquiles já estava entrando.

 

_ Achei que minha mãe estava me zoando quando disse que você estava aqui...

 

“Ah-meu-Deus...” Pensei. Ele estava tão lindo usando aquela roupa social...

 

_ Ah é, quase posso ser levado a sério assim, não é? - perguntou divertindo quando percebeu que eu o observei de cima a baixo.

 

Meneei a cabeça parecendo discordar, mas na verdade só queria me recompor. Tudo ali naquela casa me deixava atordoada.

 

_ Me desculpe nem mesmo ter te avisado que eu vinha... – comecei. – Mas é que decidimos tão de repente...

 

_ Eu é quem deveria me desculpar por te meter nisso... - em seguida voltou-se para a irmã. – E você?

 

_ Eu o quê?

 

_ Como você é cara de pau, menina! Mel, por que você não a deixou provar as consequências dos próprios atos?

 

_ Não é muito do meu feitio... - disse baixo, começando a me levantar.

 

_ Eu já pedi desculpas, tá legal? - ela disse começando a se exaltar.

 

_ Gente, calma... Tudo bem Íris, eu me entendo com ele. Aquiles, menos, por favor. Está mesmo na hora de eu ir, você vai comigo até a portaria?

 

_ Claro.

 

Despedi-me da Íris e ainda me obriguei a ir até a cozinha fazer o mesmo com a mãe dele. Perguntei pelo pai dele antes de entrarmos no elevador, mas ele me disse que este ainda estava em uma reunião.

 

_ Sabe que ela aprendeu muita coisa? - comecei tentando dissuadir sua postura insatisfeita.

 

Ele me puxou para perto de si pelas minhas mãos e começou:

 

_ Definitivamente não estou chateado com você. Impossível. Mas acho que não deveria mimá-la. Ela não merece.

 

_ Não, eu só queria ajudá-la... Vai dizer que você preferiria que ela repetisse só para que se arrependesse?

 

Depois de pensar por alguns instantes, ele simplesmente me beijou.

 

_ Mas então... Vocês se entenderam. Acho que essa é a maior conquista. - Em seguida riu.

 

Não diria que nos “entendemos”. Ela só precisava da minha ajuda. O que mais ela podia fazer?

 

A mãe dele, o mesmo. No fim, elas deixaram de demonstrar aversão, para demonstrarem uma falsa aceitação. O que era pior?

 

E pensar dessa forma também não era uma falsa aceitação de minha parte?

 

O que seria mais seguro a se fazer?

 

Senti seu indicador percorrer uma linha de preocupação que se formara em minha testa.

 

_ Preocupada com alguma coisa?

 

Ele estava tão tranquilo e tão satisfeito... Apenas isso era o suficiente para não pensar mais nelas duas.

 

_ São só alguns cálculos mentais. Mas já terminei.

 

Dessa vez, eu que o beijei.

 

 

*~*~*

 

 

Minha mãe ainda não tinha chegado, e fiquei aliviada. Mas tinha quase certeza que não estava mais de castigo, seria absurdo.

 

Eu já tinha decidido contar pra ela o que havia feito durante a tarde, mas seria de bom tom estar presente quando ela chegasse.

 

Não deu tempo de caprichar muito na comida, pois já estava tarde, então fiz apenas alguns bifes à milanesa para acompanhar o arroz com feijão.

 

_ Oi gatona! - ela me cumprimentou aparecendo na cozinha.

 

_ Oi mãe.

 

Ela indicou um pacote nas mãos.

 

_ Hê-hê.

 

_ Ah, não, mãe... Outro mousse?

 

O que ela queria dizer agora?

 

_ É que você ainda não provou o de maracujá...

 

Sei!

 

_ O que foi dessa vez?

 

_ Nada de sobremesa antes da comida, mocinha!

 

Não tinha jeito. Por já conhecer a teimosia de minha mãe, rendi-me às suas condições.

 

Coloquei menos comida que meu estômago exigia só para terminar logo a refeição. E assim que o fiz, cruzei as mãos sobre a mesa e fiquei cobrando-a com o olhar enquanto ela não terminava seu prato.

 

_ Pare de olhar para o meu bife! Tem mais na travessa!

 

_ Você sabe muito bem que não é bife que eu quero de você!

 

_ Então pare de desejar meu bife. Está me deixando constrangida.

 

_ Eu não estou fazendo isso!

 

_ Humpf. - ela resmungou e continuou sua refeição.

 

_ Bem, então eu começo. Espero que não fique brava comigo... Mas hoje eu fui à casa do Aquiles.

 

Ela levantou os olhos para mim e juro que senti medo de levar bronca.

 

_ Ah, é mesmo... Eu me esqueci de te dizer que não estava mais de castigo, não é? - ela perguntou.

 

_ Você é cruel.

 

_ Foi só um descuido. Mas... E então? Foi falar com a mãe dele?

 

_ Não. Fui ajudar a irmã dele a estudar. Ela ligou me pedindo.

 

_ Você não tinha dito que ela era a pior espécie de adolescente?

 

_ Não. Essa é a Bia. Mas eu nunca disse nada disso!

 

_ É que eu sei te decifrar. Isso não é o máximo?

 

_ Não. É injusto.

 

_ Mas eu me lembro de você dizendo algo parecido a respeito dela.

 

_ Também não. Só disse que ela não gostava muito de mim...

 

_ O que dá no mesmo.

 

_ Jamais.

 

_ Ok, como quiser. Poderia, por favor, me dizer como foi, antes que eu comece a roer minhas unhas?

 

Suspirei sem querer.

 

_ Acho que foi tudo bem. Ela me pediu desculpas... Mas... Não acredito que tenha sido sincero.

 

_ Por quê?

 

Por que ela não me apoiava em vez de perguntar o motivo de minhas angústias? Companheirismo ajuda de vez em quando...

 

_ Oras... Porque... Porque sim. É evidente! Você também não acha?

 

_ Não.

 

“Traidora!”

 

_ As pessoas erram Mel... Principalmente quando estão sob pressão, entenda isso antes que acabe sozinha. Já ouviu dizer que errar é humano, mas perdoar é divino?

 

_ Sim, mas eu sou apenas humana.

 

_ Então erra também. E também precisa de perdão.

 

Duzentos e vinte e três a zero. Para a dona Diângeles.

 

_ Tá. Já entendi. Mas isso não significa que seremos grandes amigas.

 

_ Não estou dizendo isso. Só estou tentando te fazer entender que nem todos te querem mal. E mesmo aqueles que realmente querem, se perceberem um pouco de fé de sua parte, talvez mudem de ideia.

 

Era evidente que minha mãe ainda tinha muita fé nas pessoas. Que inversão de valores era aquela? Eu na flor da idade já desistindo das pessoas... E minha mãe que já tinha tido quase todo tipo de má experiência, tentando me convencer do contrário... Eu era mesmo uma covarde.

 

_ Eu posso tentar. Mas é tão difícil.

 

_ É porque você já tem o hábito de desistir na primeira tentativa. Mas você se acostuma. Ah, veja só! Terminei meu prato!

 

_ Então vamos ao mousse! - quase gritei.

 

"Mousse" se tornara nosso código para conversa problemática. Por parte de minha mãe. Eu nunca tivera a ideia de chantageá-la com doces...

 

Ela pousou as mãos sobre o colo e esfregou a superfície das pernas.

 

_ Bem, foi você mesma que sugeriu, então acredito que não vá se aborrecer...

 

_ O que foi que eu sugeri? - “Pelo amor de Deus!”

 

Ela umedeceu os lábios antes de prosseguir:

 

_ Eu vou viajar com o Fred esse fim de semana.

 

E o que mais? Para casarem-se? Ou estavam fugindo para sempre?

 

Continuei aguardando.

 

Ela me encarou indagativa.

 

_ O que foi? - perguntei.

 

_ O que foi, você! - ela também perguntou.

 

Então era só isso! Uma inofensiva viagem! Droga, ela quase me matou de susto!

 

Comecei a rir sem querer. Depois de me recompor, me expliquei:

 

_ Poxa mãe! Pensei que seria algo ruim...

 

_ Ah, sei lá... Me baseei no que eu sentiria se você me pedisse para viajar com o Aquiles.

 

Senti minhas bochechas esquentarem, e imediatamente a vontade de rir passou.

 

_ São situações completamente distintas, mãe. Vocês são adultos, livres e vacinados.

 

_ Tem razão. Você é apenas vacinada.

 

Por que eu estava com raiva do Fred naquele momento?

 

Será que era porque ele iria levar minha mãe para um cenário paradisíaco por dois dias, deixando-a ainda mais apaixonada? Ou porque estava claro que eles... Aaahhhh!!! Não posso sequer pensar nisso!!!

 

_ Eu acho que eu quero comer do mousse... - “Preciso urgentemente de glicose... Preciso de um coma glicêmico!”

 

Não posso odiá-lo por isso... Minha mãe não odiou o Thiago enquanto me relacionei com ele. Nem odiava o Aquiles.

 

Por que raios eu não podia ser amável como ela? Ou pelo menos tragável!

 

Ela pediu que eu pegasse o doce na geladeira e me acompanhou enquanto eu comia um pedaço.

 

O doce parecia não ter muito sabor, mas comi tudo mesmo assim, e ainda repeti. Era ansiedade.

 

E foi dessa ansiedade que provei durante todo o resto da semana.

 

Na escola, todos que eram próximos a mim - leia-se Aquiles e Thaís - notaram meu distanciamento. Mas só para o Aquiles eu tive coragem de contar o quão besta eu era.

 

_ É Mel... Pelo jeito, tudo vai ser difícil para você no início. Mas fica tranquila, você vai se sair bem.

 

Tá, tudo bem... Fazer o que se sou uma panaca irremediável?

 

 

*~*~*

 

 

Antes de embarcar no carro do Fred, minha mãe me fez jurar que eu teria juízo. E ainda me aconselhou sobre a comida para os próximos dois dias. Como se eu não soubesse melhor que ela o que fazer.

 

_ Bom, Amélia Cristina, prometo cuidar direitinho da sua mãe. Mas se achar que deve, pode me ligar para fazer recomendações, combinado? - o Fred me perguntou antes de também embarcar.

 

_ Hum... Acredito que se eu tiver mesmo que lhe fazer alguma recomendação, terá de ser pessoalmente.

 

Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso com a minha certeza.

 

_ Estou só brincando, Fred. Tenho certeza que está fazendo isso muito bem.

 

Tentei sorrir amigavelmente, mas não foi difícil. Notava-se que ele era sincero e correspondia ao sentimento da minha mãe.

 

Um tanto constrangida, despedi-me dele com um beijo no rosto e então ele embarcou.

 

A viagem já parecia não me incomodar tanto.

 

Não foi difícil me distrair durante o dia, eu já estava habituada a ficar sozinha em casa, mas no dia seguinte eu já estava impaciente.

 

O Aquiles me convidou para passearmos num parque que alugava bicicletas, e aceitei sem nem terminar de ouvir o convite... Eu iria mesmo se ele me convidasse para um velório.

 

A velha máxima que diz que nunca se esquece de andar de bicicleta não é absoluta. Eu não esqueci, mas tive dificuldade em voltar a me equilibrar depois de tantos anos. Quase troquei por uma de rodinhas, mas felizmente deu tudo certo.

 

Depois de devolvermos as bicicletas, compramos sorvetes e nos sentamos à sombra de algumas árvores, que dava vista para o lago onde alguns cisnes brincavam.

 

_ E então, mais tranquila? - ele me perguntou alisando meu cabelo.

 

_ Hum-hum. - confirmei.

 

Mas não parei com o meu sorvete.

 

_ Não ficou com medo de dormir sozinha no escuro? - E riu.

 

_ Quem disse que foi no escuro? Ou melhor... sozinha? - provoquei.

 

_ Olha que eu vou lá conferir hein!

 

Ri do papo besta e voltei para o meu sorvete que começava a derreter e me melecar.

 

Quando o tempo começou a esfriar, pedi a ele que fôssemos embora.

 

_ Por que não vamos ver um filme hoje à noite? - ele sugeriu enquanto estávamos no ponto de ônibus.

 

_ Melhor não. Não quero ficar entrando e saindo de casa enquanto estou sozinha.

 

_ Por que você não fica em casa hoje? - E antes que eu pudesse fazer cara feia, ele continuou. – Você pode ficar no quarto da Íris...

 

_ Aquiles, não comece. Que tal assim, vem você na minha casa hoje.

 

Ele emudeceu, provavelmente desacreditando da minha atitude.

 

_ Assistir um filme, Aquiles. assistir um filme.

 

_ Mesmo assim... Tem certeza? Sei que você é meio neurada com essas conversas... - e riu, certamente da minha cara.

 

_ Tá certo, então. Já que é assim... Não vá.

 

_ Ah, também não é assim...

 

Ele me virou até me fazer encará-lo. Afastou uma mecha de cabelo do meu rosto e me fitou brevemente antes de concordar:

 

_ Até parece que recusaria qualquer convite seu.

 

Olhando para ele como fazia naquele momento, e sentindo o que eu sentia, me arrependi ligeiramente do convite. Talvez eu fizesse alguma coisa.

 

_ Então vou esperar. - concluí.

 

 

Continua

 

 

 

 

 

 

*

N/a: Até pareceee!!

Até parece que vou parar! Rsrsrs!

É, ainda estou falando da piadeenha. De mal gosto para alguns, não? Sim? Hein?

Ok, chega, senão vão começar a achar que estou sob o efeito de algum entorpecente... ¬¬

Bem, se chocolate se encaixar nessa categoria... Certo, chega mesmo.

 

Só estou feliz. E qdo fico mto feliz, fico meio retard, sorry.

Finalmente a tempestade passou! Voltei para minha cidadezinha, doce cidadezinha! E adivinhem só! Não mais como uma mera estagiária! O esforço valeu a pena, e agora sou uma analista de fato!

 

._.

 

Desculpem abrir tanto meu coração! (convenhamos, abrir não, escancarar!)  Mas eu só queria que soubessem q o longo tempo sem postar, fez com q a autora ficasse mto feliz... Não pelo fato de não postar... Ah, vcs entenderam!

Por isso um cap mega-blaster-gold-titanium-grande!

Nem mto romântico, nem mto engraçado, nem mto revelador, nem mto empolgante, admito, porém, necessário.

 

*

 

Ahh, deixa eu falar!! Ou melhor, deixa eu escrever... Bem, já tá escrito...

 

Nem todas ficaram sabendo, mas essa que vos escreve envelheceu horrores dia 3 de março!

E sabe qdo a gente começa a mostrar os presentes para as visitas? Então, deixa eu mostrar o meu!

 

São poucas as pessoas que tem o privilégio de encontrar anjos terrenos, E eu sou uma delas!

Falo da minha querida beta-reader Keli-chan!

Confiram meu presentinho: 

 

http://fanfiction.nyah.com.br/historia/66737/Luz_De_Perdicao

 

Luz de Perdição

 

Sasuke escreve em uma carta como vê a pessoa que o ajudou e o salvou da completa "escuridão" após voltar para Konoha.

 

"Você é a minha luz, aquela que me salvara...

 

Mas, também, é a minha perdição...

 

 

~*~*~"

 

Só pra dar água na boca, ela começa assim:

 

 

"Você é aquele tipo de pessoa que só conhecemos uma vez na vida, e isso às vezes já é muito."

 

Uh-lá-lá!


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