For Amelie - 2a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 21
XX – Consertando relacionamentos defeituosos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/34157/chapter/21

Eu estava tão envergonhada, que não tinha coragem nem de pedir desculpas.

Desci do carro quando ela estacionou e a esperei na sala. De alguma forma eu teria que me desculpar...

Assim que passou pela porta, ela pousou as mãos na cintura e me encarou de forma indecifrável.

Ficou me observando silenciosamente, creio que esperando que eu tomasse a iniciativa.

_ Mãe... Me desculpe.

_ Não é comigo que você tem que se desculpar. Eu só quero entender o que aconteceu.

Comecei a gesticular com a mão, afinal, até aquele momento, parecia que eu tinha toda a razão, mas descobri que não era bem assim.

Eu nunca havia me exaltado de tal forma. E muitas pessoas na minha vida já mereceram tal exaltação...

_ Foi por causa do Aquiles? - ela tentou.

Não bastasse a mãe dele, agora a minha também ia começar a achar que o nosso relacionamento era o motivo de todo o nosso mau comportamento...

_ Não, mãe. - Não diretamente.

_ E então?

Eu não queria ter que repetir. Era tão desprezível...

Mesmo que fosse apenas uma provocação, aquela menção traria recordações, geraria questionamentos e reabriria feridas.

_ Essa Bia me persegue desde o início do ano. Tá, você pode não acreditar que seja motivo suficiente, mas hoje ela conseguiu ser pior que nunca. Disse coisas que nunca haviam me dito antes. - e ela sabia a quem eu me referia.

Mas ela continuava irredutível. Nada parecia capaz de convencê-la.

_ Ela não ofendeu simplesmente a mim, mas à minha família. Eu sei que não devia ter feito o que eu fiz, mas... Eu nunca havia sido confrontada dessa forma. Acho que já sei como agir da próxima vez. E não estou falando de socar meu interlocutor, pode ter certeza.

Não consegui arrancar nem mesmo uma intenção de riso dela. Ficamos algum tempo em silêncio, eu tinha certeza que ela estava me sondando com seu detector de mentiras infalível. Então deixei que ela terminasse, pois era a mais pura verdade.

Ela caminhou lentamente até mim e me deu um beijo na testa.

_ Acredito em você. Mas espero realmente que não se repita. De outra forma, você acabará sendo presa. E eu não irei visitá-la, entendeu?

Ri discretamente da piada terrível.

_ Estive pensando em um castigo que pudesse aplicar, mas... Eu não sei como fazer isso... Afinal, nunca precisei. E também nada parece servir pra você... Como poderia castigá-la? Tirando seus livros?

“Por favor, não pense no Aquiles....”

_ Não posso proibi-la de ver o Aquiles, afinal, não posso proibi-la de ir à aula.

Pelo meu rendimento e comportamento irrepreensíveis, o diretor me aplicara apenas uma advertência no lugar da habitual suspensão.

Parecendo aceitar a situação de não haver castigo apropriado, suspirou e rumou para a cozinha enquanto sugeria:

_ Melhor almoçarmos, antes que fique com raiva de mim também...

Subi para o meu quarto, a fim de me trocar antes de comer.

Será que isso serviria para que a Bia finalmente tomasse jeito?

Não fora realmente uma ação civilizada, mas nada conseguiria me tirar a emoção de vê-la com o rosto inchado por alguns dias...

Voltei para a cozinha e sentei-me à mesa com a minha mãe. A maior parte de refeição foi em silêncio, e isso me incomodou, pois era estranho vê-la tão quieta.

_ Então... Faltam apenas dez dias para a viagem, não é? - comecei.

_ Hum. Não... Na verdade não haverá mais viagem. - notando minha expressão surpresa, continuou – Não posso recompensá-la com um passeio nesse momento.

“Mas esse seria o castigo!” Não pude deixar de pensar.

_ Ahn... Me desculpe novamente. Eu não queria estragar seu passeio.

_ Esqueça isso. E outra coisa, amanhã você terá de se desculpar com a sua colega, combinado?

Como ela ainda tinha a coragem de dizer que não havia castigo?

Eu estava pronta para protestar, mas tive que admitir que acabar com a viagem “lua-de-mel em família” da minha mãe já estava de bom tamanho...

_ Tudo bem. Eu me desculparei com ela amanhã.

E talvez lhe dê outra porrada.

Sonho meu...


*~*~*



_ Bom dia! - o Aquiles me cumprimentou ao me encontrar no pé da passarela.

_ Bom dia. - respondi um tanto desanimada.

_ E então, tudo bem?

Eu sabia a que ele se referia, então fui direto ao ponto:

_ Bem, bem, bem não né. Impossível. Ainda há poucos dias eu estava lhe dando uma bronca por mau comportamento... E veja só.

Ele riu e me beijou.

_ Eu disse que uma hora todos perdiam a cabeça.

Pegou a minha mão me encorajando a andar.

_ Mas tente se acalmar. Não a deixe te tirar do sério. Ela não merece, não é mesmo?

_ Hum-hum. - confirmei ainda mal-humorada.

_ E poxa... Me surpreendeu todo esse seu potencial para o boxe... Rapaz!

_ Também quer prová-lo?

_ Opa, muita calma nessa hora, Mel! Podemos aproveitar seu potencial de forma bem mais agradável.

_ Você anda impossível ultimamente.

Dei um soco de leve no braço dele, afinal, já estava me habituando com a prática.

Paramos de falar sobre o ocorrido enquanto seguíamos para a aula de geografia. Como estava tarde, muita gente já estava aglomerada ao redor da porta.

Felizmente meu desentendimento – por assim dizer – com a Bia, acontecera na calada do banheiro feminino, então ninguém me olhou com medo quando cheguei.

_ Cris, santa!

A Thaís me cumprimentou e em seguida ao Aquiles.

_ E então, tudo azul? Escuta, ouvi uns rumores ontem...

_ Se forem com relação ao soco que dei na Bia, é verdade.

Primeiro ela boquiabriu-se, em seguida soltou um grito descontrolado e me abraçou:

_ Cara!!! E como você não me chama pra ir junto? Nunca te perdoarei!

_ Calma, Thaís! Estou muito arrependida... Eu devia....

_ É verdade. Tem razão! Deveria ter feito muito antes!

Acabei não contendo o riso, mas ainda tentava me retratar, ainda que não sinceramente:

_ Não, Thaís! Pelo contrário...

_ Ah, é mesmo! Devia ter esperado mais um pouco pra eu poder ajudar!

_ Ai Deus...

Desisti de fingir arrependimento. Mas a diversão acabou quando nossa famosa colega surgiu na escada, acompanhada de uma amiga.

Observou-me com certa contrariedade e cochichou algo com a amiga.

Era tão difícil pedir desculpas... Era praticamente impossível, mas eu tinha de fazer o impossível pela minha mãe...

_ Esperem um minuto. - pedi já deixando-os a sós.

Me aproximei cautelosamente, e a medida que a distância diminuía entre nós, seu semblante ficava mais surpreso. Quando finalmente parei à sua frente, ela passou a me observar com um olhar de superioridade que me fez pensar que ela sabia exatamente o que eu pretendia fazer.

_ Bom dia, Bia. - comecei.

_ Bom dia.

_ E então, está tudo bem... Com o seu nariz?

_ Aquele que você socou? - disse mais alto que o necessário, acredito que para que muitos pudessem ouvir – Ah, sim. Felizmente não houve nada demais. O médico disse que apenas um pequeno vaso se rompeu, por isso todo aquele sangue.

Não foi taaanto sangue assim...

_ Que bom. Fico feliz. Eu só queria... Só... - “Droga, fale!” - É... - “E daí que ela vai vencer mais uma vez?” - Eu não pretendia te machucar.

_ Você queria pedir desculpas, é isso?

_ É. Também.

Ela olhou ao redor, para checar se tinha gente suficiente nos observando:

_ Como não, Cris? É claro que eu te desculpo. Não costumo guardar rancor. Eu sei que você se descontrolou. Acontece... Ainda mais na atual situação, não é?

Que atual situação?

Mas ouvir seu discurso me embrulhava o estômago, então preferi nem questioná-la. Sorri forçosamente e dei-lhe as costas. Eu me sentia ainda pior que antes de pedir desculpas.

_ Foi muito nobre de sua parte! - o Aquiles tentou me animar enquanto tomávamos nossos lugares.

_ Sim, magnânimo. - concordei vagamente, observando-a de longe com ódio mortal.

Tentei não pensar mais a respeito, pois o acúmulo de sentimentos ruins, parecia apenas atrair mais desgraça para a minha vida.

_ E como vai a sua irmã? - perguntei durante a aula de SIC, já que não tínhamos muito o que fazer, além de conversar.

_ Tá se esforçando. Mas vai ser difícil recuperar tanto tempo em tão pouco.

_ Bem, você já sabe. A proposta está de pé. - mas só porque eu sabia que ela jamais aceitaria.

_ Obrigado Mel. Mas não esquenta. Cada um recebe o que merece, não é? E aquela cabeçuda se comportou muito mal esse ano.

Então uma luz se acendeu no fundo de minha mente.

_ Ela então parou com “a brincadeira”? - Não vai mais ver a Daphne? Ela sumiu definitivamente de nossas vidas?

_ Por enquanto sim.

Queria muito perguntar se ela ainda via a Daphne, mas aquilo não era da minha conta. Eu jamais poderia me intrometer nas amizades da minha cunhada, mesmo que uma delas fosse minha rival.

No fim da aula, despedi-me pesarosamente do Aquiles, pois sabia que minha mãe não concordaria que nos víssemos no fim de semana.

Eu não tirava a razão dela estar chateada com o meu comportamento, e o cancelamento da viagem provavelmente piorara seu humor.

Pra completar ela já havia se dado conta da minha relutância em aceitar o relacionamento dela...

Pensando nisso, decidi fazer uma sugestão no almoço de sábado:

_ Mãe, por que você não vai com o Fred?

_ Pra onde?

_ Para Serra Negra. Vocês merecem. E pensa só, será muito mais romântico apenas vocês.

_ Boa tentativa, mocinha.

Arregalei os olhos, sem entender.

_ Sei muito bem que está fazendo isso por culpa.

_ Credo, mãe! Tá, eu realmente não estou confortável por você ter cancelado a viagem por minha causa... Mas... Não acho que vocês devam se prejudicar por minha causa.

Ela ficou me observando ainda receosa sobre minha benevolência para com o Fred.

_ Cancelando essa viagem, só vai fazer o Fred ficar chateado comigo. - continuei.

_ Até parece. Ele tem dois filhos. Entende isso duas vezes mais.

Suspirei derrotada.

_ Tá certo mãe. Eu só sinto muito.

_ Você se desculpou com sua colega?

_ Sim. E foi uma das tarefas mais árduas da minha vida.

_ Toda ação gera uma reação igual ou superior, benzinho, é a lei da vida.

_ E de Newton também. - Newton @#$%!

E minha mãe estava me saindo uma perfeita sádica!

O resto do meu sábado e meu domingo inteiro, se resumiu a trocar algumas palavras com o Aquiles pela internet e até bater um papo com a Thaís por telefone. Ela me convidou para ir ao salão com ela, mas já sabendo qual seria a reação a minha mãe, recusei antes mesmo de tentar.

Na segunda-feira ainda era possível sentir os efeitos de ter surrado minha arqui-inimiga. Ela parecia muito orgulhosa por eu ter me arrependido e pedido perdão. Era possível ouvi-la narrar o momento das minhas desculpas com detalhes para todas as colegas. Por que ela não fazia mesmo a respeito do momento em que ficara estirada no chão do banheiro?

Contei sobre a minha frustração para o Aquiles durante o intervalo, enquanto ele tentava me dissuadir da ideia de retirar as desculpas publicamente.

No fim da aula ele me convidou para almoçarmos juntos no shopping, mas eu sabia que isso acabaria atrasando-o para o compromisso com o pai, e recusei com muita dificuldade.

Quando embarquei no trólebus, botei os fones de ouvido e recostei a cabeça na janela. Meu celular começou a vibrar no bolso da mochila, e desliguei a música para poder atender.

Não reconheci o número no visor e atendi um tanto apreensiva:

_ Alô?

_ Amélia Cristina?

_ Sim.

_ É... Oi. Tudo bem?

_ Hum... Tudo sim. Quem está falando?

_ A Íris.

Quem?!

_ Desculpa, não ouvi direito...

_ É a Íris. Irmã do Aquiles. Você se lembra de mim, não é?

Senti a voz faltar para respondê-la. Por isso tive de forçá-la, e ela pareceu sair mais aguda:

_ Ah, claro! Tudo bem com você? - mas acabei não dando tempo para que ela respondesse – Posso te ajudar com alguma coisa?

_ Sim. Muito.

lembrei-me do problema dela e da minha proposta... Mas eu esperava que ela não aceitasse!

Na falta de reação de minha parte, ela prosseguiu:

_ Putz, me desculpe te ligar assim... Pra você ter uma ideia, peguei seu número às escondidas do meu irmão. Acho que ele não me passaria... - sua voz diminuiu de volume, até cessar por completo.

_ Não, tudo bem.

_ Você pode falar? Se não for uma boa hora, posso ligar mais tarde... Claro, se você não se importar...

Bem, eu realmente não tinha nada melhor para fazer... Nem pior.

_ Estou no ônibus. Posso falar, sem problemas.

_ Certo... Então... É melhor eu começar pelo começo. Eu queria te pedir desculpas.

E então parou. O que eu devia fazer? Aceitá-las sem ao menos saber do quê se tratava? Era certo que eu estava chateada por ela preferir à Daphne, mas ela poderia estar se desculpando apenas por colocar o porta-retratos de volta na cabeceira do Aquiles...

_ Ahn... Desculpas? Pelo quê?

_ Ah, você sabe! O Aquiles tem razão em dizer que sou uma insuportável. É coisa de família, você já deve ter notado.

“O Aquiles não é insuportável...” Pensando bem... Ele era antes de eu me apaixonar.

_ N-Não, que isso.

_ Eu fui mesmo uma tonta fazendo o que eu fiz. Não tem desculpa. É só que... Sei lá... Parecia que você estava ameaçando meus planos...

Nossa, que papo de psicopata. Senti medo da Íris nesse momento.

_ E no fim, eu mesma acabei com tudo.

_ É, o Aquiles me disse. - e depois, com medo que ela ficasse brava com o irmão, continuei – É que eu perguntei pra ele como você estava.

_ Nossa... Obrigada pela preocupação.

_ Não se preocupe.

_ Er... Bem, o Aquiles sempre diz que você é muito inteligente...

Corei satisfeita com essa revelação.

_ Não é pra tanto.

_ Eu acredito nele.

Fiquei um pouco mais vermelha.

_ Obrigada, Íris.

_ Então... Um dia desses ele me disse “se você não fosse tão chata e insuportável, a Mel podia te ajudar, mas como você é tão chata e insuportável...”.

_ Uau, quanta ternura.

_ Ele só estava irritado porque também não conseguia me ajudar.

Novidade. Ops!

_ Mas você não é tão chata e insuportável... - “Não tanto...”.

_ Ah, Cristina... Eu fui bastante chata e insuportável, vai.

_ Hum... Tá certo. Mas não é mais. Pelo menos não está parecendo.

_ Agora eu é que agradeço. Certo, o que eu estava pensado, é o seguinte... Se eu deixasse de ser tão chata e insuportável, será que você não poderia compartilhar um pouco da sua genialidade comigo?

_ Claro. O Aquiles também falou a respeito disso.

_ Poxa, obrigada. Olha, eu acho que no seu lugar, não toparia. Eu xingaria.

_ Tenho estado sociável ultimamente... - e ri para deixar claro que era uma brincadeira – Você quer me encontrar em algum lugar?

_ Esse é mais um problema... Eu estou de castigo... Não posso sair de casa. E meu pai não entenderia nem se fosse para estudar...

_ Ah, poxa... E agora?

_ Você não poderia vir aqui?

Hein?!

Aahh claro! Nada melhor que me enfiar no covil dos leões para reconstruir a relação com a minha cunhadinha inconsequente!

Continua


*~*~*

N/a.: Gentem... Que infortúnio... O Nyah tá uma m.... pra postar! Tá tudo bagunçado... Não copia mais o docto do editor com a formatação, fica tudo espremido e sem formatação... Gosh!

Otra cosita: Acho que minha beta reader viajou, por isso foi betado única e exclusivamente por mim. Perdoe qualquer coisa!

Otra cosita²: Um mega kissu para KaaCullen, leitorinha nova e linda! Me fazes rachar ao meio de tanto rir de seus pedidos! Adoro!
Outro kissão para MarinaJonas-chan, que vem de além-mar para ler FA! Olha FA ficando internacional, hahahahah! Atóron luso-leitoras, hehehe!

Otra cosita³: É pessoas! Pensei que isso nunca fosse acontecer, mas estamos rumando para os capítulos derradeiros da fic! Prefiro não dar certeza, mas creio que em uns 5 caps tudo já esteja resolvido... Isso me dá uma melancolia... Tá, chega disso!

Amo vcs florzinhas!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!