Enganada escrita por NepomucenoGiih


Capítulo 7
Capítulo 7 - Só há decepções? 2.




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Eu não consegui segurar as lágrimas dentro de mim. Acho que aquela foi a gota d’água, eu estava me sentindo péssima. Como se eu fosse culpada por aquilo, como se a culpa fosse totalmente minha. Eu no fundo sabia que a culpa não era minha. Mas aquela sensação de que eu deveria ter provocado aquilo, maltratando-o, ele apenas retribuiu o ódio que eu sentia por ele. Eu agora já não sabia mais se sentia ódio dele. Eu não sentia mais nada. Desprezo. Era isso que eu sentia por ele. Desprezo, apenas isso.

- Saiam! Deixem-na pensar um pouco sobre tudo. – Ouvi a voz de Eduardo cortando alguns de meus soluços.

- Eu quero ficar aqui com ela... – Ouvi Giulia dizer, e em seguida pude perceber que Eduardo os colocava para fora a força.

- Depois. Depois. Ela precisa descansar. – Trancou a porta, bufou, e me olhou.

Quando meus olhos se encontraram com os de Eduardo, sentia uma ardência em minha garganta, como se eu sentisse a dor do mesmo. Eu o vi chorando. Caindo no chão, com as mãos nos olhos, e ele chorava. Como uma criança que tinha se machucado. Entre soluços eu podia vê-lo chorando. Oque me levou a querer chorar mais. Inevitável. Eu deixei-me levar por aquele segundo. Eu chorava junto a ele. Cada um em seu canto. Como sempre tinha sido. Quando a nossa mãe foi embora, chorávamos cada um em seu canto. E isso tornava a se repetir novamente. Agora não tínhamos um pai. Só tínhamos um ao outro. E eu estava me perguntando, se seria o suficiente. Talvez não fosse. Ele precisava de uma família. Ele queria. Eu só queria paz. Desejos completamente diferentes, mas chorávamos pela mesma coisa. Dores iguais. Deveríamos querer a mesma coisa.

- Me desculpe não ter chegado antes. – O ouvi sussurrar. Mas não era para mim que ele sussurrava, era para si mesmo.

- Eduardo? Não foi culpa sua. – Completei entre soluços.

- Desculpa mãe, me desculpa. – Ouvi o mesmo pedir desculpas daquela forma, fez com que o meu coração ficasse apertado.

- Edu, para com isso. Passou já. Eu estou bem. – Eu gagueja entre os soluços do choro.

- Não, não, não. Você não está bem. Olha para você. Eu não vou deixar assim. Não vou mesmo. Ninguém, ninguém te machuca. Você é a minha pequena. Ninguém pode nem pensar em te tocar. Ouviu? Ninguém. – A raiva nos olhos dele era bem clara agora.

Vi o mesmo sair do quarto batendo a porta. Senti medo do que ele faria. Mas Giulia ou Jonathan o acalmaria lá em baixo. Porque naquele momento, ele me olhando, não ficaria calmo. Ele se culpava. E eu me culpava. E no final, a culpa não era de nenhum. Não mesmo. Era do “cara” que chamávamos de pai. Da pessoa que deixou minha mãe ir embora, sem nem dizer tchau aos filhos. Da pessoa idiota que nós abandonava sempre, sempre. Eu não tinha pais. Doía pensar assim. Mas era melhor que ter pais, sem saber quem eles realmente são. Uma mãe maluca, doente e alcoólatra. Um pai bêbado, drogado que tentou matar um de seus filhos. Afinal, as crianças órfãs não perdiam muita coisa.

Ouvi um barulho grande, como se alguma coisa tivesse sendo arrastada. Depois alguns gritos. Assustei-me, e me cobri. Coisa de criança. Mas ajudava a passar o medo. Os gritos não cessavam. E eu achava que alguém estava sentindo dor. Quando finalmente alguém bateu na porta do quarto.

- Entra. – Disse com a voz um pouco trêmula.

- Oi. – A voz masculina dedurava Jonathan. – Tranquei seu irmão no quarto da minha irmã. – Tudo fez sentindo naquele momento.

- Trancou? Como que conseguiu arrastá-lo para lá? – Perguntei, mas aliviada.

- Giulia. – Ele fez uma pausa. – Você se escondeu de baixo de um cobertor? – Ele riu.

- Não. – Tirei o mesmo de cima de mim. – Eu estava com frio. – Concluí, desviando o olhar do mesmo.

- Medrosa. – Ele disse rindo, e encostando-se a uma das paredes.

- Idiota. – Disse voltando a fita-lo.

- Maria... – Ele parou de falar. – Tenho algo pior que Nerdzinha. – Ele sorriu com o ar de “malandro”.

- Pior? Essa eu quero ver. – Disse com a expressão curiosa.

- Namorado do Jonathan. – Ri, na verdade, gargalhei. Fitava o mesmo, e ele ria também.

- Pois é. Essa é BEM pior. – Parei de rir, passando a mão na barriga, pude sentir um ressalto.

- Oque foi? – Ouvi o mesmo me perguntar, enquanto eu continuava a sentir minha barriga.

Levantei a minha blusa, observando o curativo que tinham feito. Bem feito. Não me lembrava de Diogo ter machucado minha barriga.

- Não me lembro de ter machucado a barriga. – Sussurrei passando os dedos em cima do machucado.

- Ah, história complicada. – Vi o mesmo coçar a nuca.

- Sabe, eu tenho tempo. Explique. – Sorri, voltando a fitar a janela do lado da cama.

- Quando Eduardo estava te levando para o hospital. Ele te deixou meio que, cair, foi sem querer. – Ataque de risos, só isso que eu fazia agora, rir.

- Meu deus. Estava me socorrendo e quase me mata. – Eu dizia em meio a crise de risos.

- Ele só estava nervoso. – Jonathan riu. – Oque foi? Tá me olhando assim por quê? – Sorri encarando a janela.

- Nada. – Completei observando-o coçar a nuca.

- Tudo bem, eu sou que eu não lá a pessoa mais bonita do mundo. Mas não me encara assim, eu fico com vergonha. – O mesmo disse escondendo o rosto nas mãos.

- Você e vergonha na mesma frase? – Ri. – Acho que não, em. – Passei a mão nos olhos, voltando a fita-lo.

- Não me magoe. Eu estou acordado quatro dias diretos, só cochilando às vezes. Porque quando você fazia um barulho, corríamos para te ver. Então, tem que nos amar incondicionalmente. – Ele disse rindo. Sorri de canto, meio envergonhada.

- Me... – Fui interrompida.

- Mas foram os melhores quatro dias da minha. – Ouvi-o dizer abrindo um sorriso no rosto dele, em seguida.

- Hã? Não entendi. – Perguntei meio confusa.

- Você parecia uma princesa dormindo. E eu ficava sentando ali, conversando com você. E nunca levava um fora. E pela primeira vez percebi que um fora seu, era muito legal. E mesmo sentando ali, segurando sua mão para ver se você acordava, eu nunca pensei que não fosse mais acordar. Eu sabia que você ia acordar a qualquer momento. – Ele riu. – E me daria outros fora. – Eu ri. – E tudo ficaria bem, de novo. E olha, tudo está bem. – Olhei para a minha perna.

- Quase tudo. – Sussurrei.

- Olha, eu vou contar ao seu irmão da chantagem, e... – Interrompi-o.

- Não. Não pode!


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