Enganada escrita por NepomucenoGiih


Capítulo 6
Capítulo 6 - Só há decepções?




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- Não estou bêbado. Estou bem lúcido para te lembrar quem é que manda aqui. – Vi o mesmo se aproximando.

- Saí daqui, você tá bêbado, tá maluco. Saí, saí daqui. – Empurrei o mesmo com uma das minhas pernas.

Encostei minhas costas no sofá, eu olhava Diogo, que parecia frustrado, seu rosto, a forma que ele me olhava tudo, fazia meu coração acelerar. O meu corpo estava tentando ir para trás como um impulso, para se defender do bêbado que estava na minha frente. Olhava para todos os cantos da casa, tentava procurar algo para me manter de pé, qualquer coisa.

- Não fala assim do teu pai! – Olhei para os olhos dele, as pupilas estavam dilatadas.

- Você tá drogado, Diogo? – Gritei assustada, enquanto apoiava meus braços no sofá.

O corpo dele chegou próximo do meu, ele estava fedendo a maconha, sim, ele deveria ter usado droga. Sua roupa estava meio suja, aquela blusa vermelha com alguns pontos escuro na mesma. Seus shorts largos que pareciam que iriam cair a qualquer instante. O meu corpo tremeu, quando a mão do mesmo tocou meu rosto. Aquela mão fria, e eu não via mais nada em seus olhos, só consegui fechar os olhos, e sentir um impacto forte entre a mão do mesmo e o meu rosto. Sentia meu rosto queimar e uma dor subir pela minha garganta, querendo sair, querendo que eu gritasse, mas alguma coisa impedia isso, pude perceber que a mão dele tapava minha boca. Eu não tinha mais nada na minha, o resto do afeto que eu sentia pelo mesmo, tinha sumido, eu só conseguia ver oque ele havia feito para mim, tudo que ele fez aqueles anos todos, aquela sensação de raiva e ódio voltou, vontade de gritar, de ir para outro lugar, eu queria uma vida normal.

- Sua vadia! – O ouvi gritar, me fazendo chorar.

- Para, para. Você tá bêbado, saí daqui, tá me machucando. – Eu gritei.

O mesmo apertava meu rosto com força, enquanto machucava meu corpo também. Senti um peso sobre a minha perna, pensei que fosse quebrar, de tanta dor que eu estava sentindo, era uma dor, que era quase insuportável. Ele estava mesmo tentando quebrar a minha perna, eu gritava, melhor esperneava, e pedia para que ele parasse, mas tudo sem sucesso algum, eu podia ver raiva nos seus olhos, como se eu tivesse feito algo para o mesmo, e ele estava se vingando.

- Implora sua vadia! Implora, pede para o papai parar de te machucar, pede! – Ouvi a voz fria do mesmo perto do meu ouvido.

- Você tá me machucando. Para, para! – Eu gritei, com todas as forças que eu ainda tinha.

Depois de gritar sentir diversas vezes sua mão chocar-se com o meu rosto, o mesmo estava ardendo, parecia que tinham jogado álcool e tacado fogo no mesmo. Era uma dor indescritível, eu sentia medo, de verdade, era uma dor física tremendamente assustadora, eu só queria sair dali, queria acordar daquele pesadelo. Olhei para os meus pulsos, a minha visão já estava meio embaçada. Eu não sabia oque estava acontecendo, eu sentia meu corpo cada vez mais fraco, e a dor só aumentava. E então, senti o mesmo se lançar para longe de mim, por um momento, pensei que estava apenas sonhando. Mas, logo pude ver uma sombra segurando Diogo. Eu não sabia quem era. Eu só podia sentir o meu corpo dolorido, o meu rosto doía, minha perna parecia que estava quebrada. E a minha visão estava totalmente embaçada. Eu podia ouvir, de longe, quase como um sussurro alguém chamando o meu nome. Soava mais como um chamando simples “Tatiana, acorda. Tatiana, ei”, como se eu estivesse atrasada para o colégio, e minha mãe tivesse ido me acordar, era aquela sensação que eu sentia. E finalmente quando pude parar de sentir a dor, a minha visão escureceu, e eu conseguia ver um flash de luz na minha frente, como se alguém acendesse um celular bem diante dos meus olhos. E foi uma sensação maravilhosa, só poder olhar aquela luz, como se fosse o motivo pela qual a dor passou. E depois disso, eu não ouvia, ou sentia mais nada. Só um alivio enorme, por estar dormindo, por estar sonhando.

Quando abri meus olhos novamente, pude ver um lugar claro, com um azul claro nas paredes, parecia um quarto, eu podia sentir algo prendendo minha perna, como se a mesma não pudesse se mover. Eu ainda tinha a visão totalmente embaçada, apenas podia decifrar as cores daquele lugar. Estava tão bom, parecia que eu tinha descoberto o meu céu. Eu tinha descoberto um lugar calmo, era tudo tão diferente. Parecia com a cor que era a cozinha da minha mãe. Era bonito. Eu quase podia decifrar os sons que tinham naquele local.

- Eu não sinto mais dor. – Disse alto, só tinha eu ali.

Abri um sorriso no rosto, podia quase sentir meu corpo bem. Tudo tão diferente do que parecia ter sido segundos atrás. Pensei que estivesse sonhando com tudo aquilo. Na verdade, eu queria que eu tivesse apenas sonhando, que eu estava em casa. Mas eu não estava. Pude perceber pelo guarda-roupa branco, o lá de casa era marrom. Estava num local bonito, e por alguns segundos, cheguei a pensar que estava morta.

- Isso é bom. – Ouvi alguém sussurrar, ou parecia um sussurro.

- Quem está aí? – Eu não conseguia decifrar a voz daquela pessoa.

- Descanse, não force sua voz. – Ouvi a pessoa dizer, e logo depois, senti alguém me cobrindo.

- Quem está aí? – Falei um pouco mais alto, olhando para frente.

- Sou eu o Eduardo. Agora, calma. Eu vou ficar aqui contigo tá? – A voz dele estava fraca, e eu quase podia olhar seu rosto.

Senti o mesmo sentando-se ao meu lado, do que parecia ser uma cama. Ele passava calmamente os dedos entre o meus cachos, e eu me sentia bem. Mas, queria saber onde eu estava. Oque realmente tinha acontecido. Ou eu simplesmente, tinha dado um surto de paranoia.

- Edu? Eu estava sentindo dor, por quê? – Perguntei tentando virar o meu corpo, tentativa inútil.

- Ei, não se mexe. Dorme mais um pouquinho, tá? – Ouvi o mesmo. E tentei novamente ver seu rosto.

- Porque eu não consigo ver o teu rosto Edu? – Perguntei forçando meu pescoço a olhar para cima.

- Tem muito tempo para me ver. – Ele disse, eu já podia decifrar sua voz. E consegui olhar seu rosto, parecia machucado.

- Ei, você está machucado? – Perguntei esticando um dos braços e passando os dedos sobre o rosto do mesmo.

- Não estou. Tatiana fica quieta. – Ele disse abaixando meus braços.

- To com fome. – Disse, tentando sentar.

Ele me ajudou a sentar, doeu um pouco, aquela cama era diferente da minha. Pude ver o gesso na minha perna. Fiquei meio confusa no início. Mas logo, eu conseguia ver o rosto de Eduardo. Ele estava mesmo machucando. Como se alguém tivesse cortado o rosto do mesmo.

- Quem te machucou? – Perguntei, passando os dedos no ferimento.

- Ninguém. Vou buscar algo para você comer. – O ouvi, e vi o mesmo saindo do quarto.

- Ela acordou? – Ouvi alguém perguntando.

- Sim. E está curiosa. – Ele respondeu, e não ouvi mais a voz do mesmo.

- Ei Bela Adormecida. – Ouvi alguém dizer, e vi a pessoa entrando no quarto.

- Giulia... – Disse sorrindo. – Onde é que eu to? – Perguntei olhando para o corredor.

- Na casa do Jonathan. – Ela respondeu, e fiquei com a expressão confusa. – Não força sua voz, boba. – Ela sorriu, sentando do meu lado.

- Porque tá todo mundo me tratando como se eu estivesse doente? – Perguntei olhando para a mesma, que continha uma expressão triste, a mesma que Edu tinha. – Eu fiz alguma coisa?

- Não, não. Vou ajudar seu irmão lá em baixo. – Ela levantou da cama, e me olhou aqueles olhos verdes, parecia que ela não dormia há dias.

- Não quero ficar sozinha. – Sussurrei, enquanto ela saia do quarto. – Eu não quero ficar sozinha. – Disse mais alto, vendo-a suspirar.

Fiquei meio confusa, ela simplesmente saiu do quarto, com a mesma expressão de preocupação e tristeza que Eduardo carregava. Parecia até que ele não me conhecia. Não conseguia ficar curiosa ou deitada numa cama, coloquei a perna com o gesso para fora da cama, à outra foi simples. Difícil seria ficar de pé. Parecia que eu sempre estava tendo dificuldade para me manter de pé. Seria assim durantes quantos meses, deuses.

- Ei minha princesinha. – Essa voz eu reconhecia.

- Jonathan. – Sussurrei. – Porque está todo mundo triste? – Perguntei olhando para o mesmo, que continha preocupação e ao mesmo tempo alegria no rosto.

- Pelo contrário. Está todo mundo feliz. – Ele disse sentando ao lado de mim na cama.

- Parece que vocês não dormem há dias. – Disse passando os dedos nos olhos dele.

- Que isso. Não tenha alucinações. – Ele pôs minhas pernas de volta na cama. – Sem levantar da cama, Princesa. – Ele me deu um beijo na testa.

Fiquei completamente confusa, desde quando que Jonathan era carinhoso e se preocupava com alguém? Aliás, oque eu fazia na casa dele? Oque estava acontecendo. Odiava aquela sensação de não saber do que estava acontecendo, me deixava atormentada.

- Me diz oque tá acontecendo agora! – Eu disse num tom fraco, mas era para ter saído forte.

- Depois a gente explica para você. Não quer descansar nem um pouco? – Ele disse apagando a luz.

- Não. Eu quero saber oque está acontecendo, se não eu pulo dessa cama, agora! – Disse fitando-o, com a expressão cansada que ele trazia em seu rosto.

- Quer mesmo saber? – Ele disse, e eu afirmei com a cabeça. – Tudo bem, mas vou chamar o Eduardo e a Giulia. – Ele disse depois saiu do quarto.

Ficar confusa, sem entender nada, se sentindo excluída do assunto, tinha coisa pior? Muitas coisas piores poderiam acontecer, mas no momento, eu só queria saber por que todo mundo estava com pena de mim.

- Precisamos falar agora? – Ouvi Eduardo sussurrar ao entrar no quarto.

- Sim, ela não vai sossegar em quanto não saber. – Ouvi Giulia dizer.

- Ei, eu to aqui! – Disse fazendo-os olhar para mim.

- Quem começa? – Ouvi Jonathan falar, e os mesmo sentaram-se todos na beirada da cama.

- Eu. – Ouvi Eduardo dizer. – Então, eu cheguei à casa uns quatro dias atrás, e você estava sentada no chão, e o Diogo estava... – Vi o soluçar.

- Então, não foi um sonho? – Disse sentindo rolarem algumas lágrimas do meu rosto.

- Não. – Ouvi Jonathan dizer. – Mas não se preocupe, ele está preso. – Não sabia se ficava feliz ou triste com a notícia.

- E porque estão todos cansados? Porque Eduardo está machucado? – Disse apontando para o rosto do mesmo.

- Seu pai, ele machucou Edu, quando ele tentou tirar Diogo de cima de você. Estamos esperando você dar algum sinal de que iria acordar a dias. – Ouvi Giulia dizer.

Eu não conseguia ouvir e nem dizer mais nada, eu não conseguia nem sequer acreditar no que eles me diziam, sei lá, era tudo tão estranho, tão diferente. Como que um pai, não era o melhor do mundo, mas como ele teve coragem de me machucar. Desejei tanto estar sonhando, desejei muito. Mas infelizmente, era a vida real. Os meus pais eram drogados bêbados, que quando estavam naquela situação, faziam coisas que não fariam lúcidos. Isso magoava o meu coração. Tinha sentimentos. Parecia forte, mas não, era molenga e frágil. Muito, aliás. 


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