Enganada escrita por NepomucenoGiih


Capítulo 1
Capítulo 1 - Enganada




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Os sons ecoavam em minha mente, enquanto eu virava-me para a esquerda, tirando qualquer distração de perto de mim, o silêncio gritava comigo, enquanto eu refletia sobre os meus pensamentos. Era tão estranha aquela sensação, o fato de saber oque estava para acontecer e ao mesmo tempo, não ter como contar a ninguém, eu havia ouvido demais aquele dia, eu precisava esquecer tudo oque tinha acontecido, porém infelizmente eu não tinha capacidade de esquecer. Era algo que mexia com muita gente, eu não sabia oque fazer, estava perdida em meus próprios pensamentos e decisões. O tempo quente fazia com que minhas pernas mexem-se para desgrudarem uma da outra, o meu silêncio fora interrompido pelo barulho de alguém abrindo a porta. Essa era uma das grandes desvantagens de ter um irmão que dormisse no mesmo quarto que você. O mesmo jogava-se em sua cama suado, com aquele odor espalhando-se pelo quarto, com certeza ele deveria ter acabado de voltar do futebol, um esporte que eu detestava friamente, aquelas pessoas loucas e suadas correndo atrás de uma bola, tentando a qualquer custo ver o outro time perder, era ridículo.

- Porque você não vai tomar um banho, Edu? – Eu tentava fazer com que pelo menos uma vez, o mesmo me ouvisse, para não ter que aturá-lo mais alguns minutos.

- Pelo mesmo motivo que você não tem um namorado ou algum amigo. – A resposta dele soou como ofensa para mim, o mesmo revirava-se na cama, dando uma leve gargalhada, comemorando a sua “vitória”.

O meu corpo recusava-se a ouvir e me incomodar com aquilo, era uma coisa que para mim, não tinha assim tanta importância. Dei uma leve espreguiçada levantando-me da cama, e olhando para os lados, vendo Edu revirando-se, tinha quase certeza de que ele dormiria daquele jeito mesmo, e eu teria que novamente ter que dormir no sofá da sala, que dormir com aquele cheiro dentro do quarto, era impossível, fora que ele roncava que nem um trator.

Saí do quarto vestindo um short jeans curto e uma blusa caída tampando o mesmo, olhei em volta, meu pai estava caído no sofá, deveria estar bêbado. Continuei andando até a cozinha, enquanto eu observava meu pai.

- Diogo, você está acordado? – Não o chamava de pai nunca, acho que pelo fato dele ter me tirado de minha mãe fez com que eu o rejeitasse, apesar de que a via de vez em quando, ela não era perfeita, mas era a minha mãe.

O mesmo revirou-se no sofá, talvez achando que tivesse ouvindo coisas, era de se esperar, um velho que só sabe beber e pegar mulher, ele não sabia nada sobre mim, não entendia ainda o motivo pelo qual minha mãe aceitou tão facilmente minha ida a casa dele, que até os meus dezoitos anos era permanente.

- Por isso talvez eu não tenha um namorado, homens são inúteis. – Murmurava comigo mesmo, enquanto andava em direção a porta.

O silêncio agora ocupava novamente os meus pensamentos, enquanto abria a porta de casa sem fazer barulho, já havia decidido oque iria fazer. Saí de casa, indo em direção ao estádio de futebol, onde provavelmente estariam os meninos, conseguiria alguma coisa com eles, claro. Eram tão idiotas, que aceitariam qualquer coisa para se verem jogando, ganhando e sendo vãos gloriados, só esqueciam que talvez, a escola pudesse puni-los por colar, e eu queria tirar alguma vantagem disso, afinal eu precisava de algumas “cobaias” com a minha vida fora do normal, com os meus textos, com tudo.

O meu corpo se movia devagar, era baixinha, 1, 58 de altura, então minhas pernas curtas, não se moviam muito rápido. Embora estivesse ansiosa para começar com a minha “nova vida”. Eu sentia remorso, por ter que chantagear alguém, para poder me divertir e conversar com alguém. Mas, já que eu podia fazer isso, eu não iria perder muito tempo.

- Procurando alguma coisa, Maria Nerdzinha? – O som da voz de alguém ecoava no meu silêncio.

Vire-me rapidamente, olhando para aquela pessoa em minha frente, demorei em reconhecer, mas logo percebi que se tratava de Jonathan, um “playboy” da escola, que se achava o tal, ele havia me dado esse apelido, que eu detestava, só falava comigo para perguntar do meu irmão, ou então, me zoar, então eu o ignorava muito. O fato d’eu não gostar dele, o deixava transtornado, eu não caia de paixão por ele, e como todas as outras meninas caiam, ele achava que eu era lésbica, enfim, a opinião dele não valia nada pra mim.

- Oque você quer? Eu to ocupada, dá para ser rápido, por favor! – O meu tom de voz fraco e rude, saiu como um fora, querendo que ele fosse embora.

- Eu quero conversar contigo, só. Posso? Ou você quer que eu vá embora? – A voz dele saiu suave, me deixou até constrangida. O mesmo passava a mão no cabelo, bagunçando-o.

- Queria que fosse embora, mas como sei que não vai. Diz logo oque quer, e me deixa em paz Jonathan – Suspirei – Já não é suficiente, eu ter que aturar você todos os dias me zoando e me apelidando? Qual aposta você perdeu para ter que vir falar comigo? Vai, diz logo! – Fui curta e grossa, queria que ele fosse embora o mais rápido possível.

- Calma apressadinha. Eu só quero bater um papo contigo, na boa, velho. Eu só quero entender algumas coisas da matéria de História. Queria que você me explicasse esses dois fins de semanas que faltam para a prova, pode ser Tati? – A voz dele me deixara enjoada, o tom da falsidade na mesma, era impressionante, o meu corpo tremia, querendo rir, mas a minha cabeça dizia não.

- Jonathan, eu só não mando você pro inferno, porque o capeta não merece tudo bem? Eu não vou cair na sua não, meu irmão. Eu posso ser até idiota, mas eu sei que oque você quer não estudar. – Meu tom agora era forte, dando por fim a nossa conversa.

Virei de costas e saí andando, o tempo dele havia se esgotado, assim como a minha paciência, eu já era bem humilhada e mais aquela só seria mais um motivo para ser a fofoca da semana. O meu rosto agora transmitia um sorriso alegre, eu estava novamente no meu caminho da minha diversão, que era boa só para mim, mas quem é que pensava em alguém em pleno século vinte e um? Ninguém não é mesmo? Então, assim como ninguém ligava para os meus sentimentos quando me zoavam, eu não ligaria para o de ninguém. A tarde estava nublada, e fazia um pouco de frio, mas eu gostava de andar de shorts jeans. Olhei para trás já não via mais o mesmo, continuei dando passos leves até chegar ao estádio, olhei em volta, não tinha ninguém por ali por fora, melhor, ninguém me veria entrar ali. Entrei rapidamente, passando pela bilheteria, logo em seguida pelo vestiário.

- Vinicius? Você esta aí? Já sei oque eu quero! – Gritava, passando pelos corredores daquele lugar. Dava-me arrepios só de pensar em quem além dele estaria ali.

O meu corpo ainda movia-se, até encontrar a entrada para o campo, caminhei até lá, e tinha um grupo de meninos no meio do campo, eu recuei um pouco, senti uma mão nas minhas costas, olhei para trás e Jonathan, estava ali, com um sorriso sínico no rosto, empurrei-o com as mãos.

- Saí da minha frente, eu quero ir embora! – Eu gritava com ele, empurrando-o para sair da frente da porta. Os outros meninos se aproximavam.

- Ei, Tati, você saiu correndo de lá amor, não gostou do que rolou? – O tom dele era irônico.

- Oque? Não rolou nada, Jonathan. Saí, eu quero ir embora. Saí da minha frente, caramba! – O meu tom era forte, e eu gritava mais alto agora, quando alguns dos meninos chegaram perto da gente, e os outros estavam para chegar ali.

- Briga de casal, que lindo! – Vinicius dizia, enquanto aproximava-se de Jonathan, impedindo ainda mais minha saída.

- Dá para sair da minha frente, caramba! Eu quero ir para minha casa, pode ser? Já não me basta vocês terem armado para mim. – O meu tom agora soava como um pedido de socorro.

O meu corpo estava tremendo, estava nervosa, e eles riam, como se aquilo fosse engraçado, eu queria ver oque se passava na cabeça de alguém assim, afinal, a minha vida baseava-se em coisas incomuns, porque eles simplesmente não me deixavam ir. Sentiam prazer em ver alguém com medo, mas com todos a minha volta, eu não sentia medo, e sim raiva. Era ódio de ter ido até ali, ódio por ter escutado demais. Tudo isso misturava os meus sentimentos dentro do meu corpo, quando um deles me tocou eu senti um arrepio no corpo, por impulso me movimentei para trás, estava presa em um círculo de meninos retardados.

- Calma Maria Nerdzinha, só queremos que você permaneça calada. Entendeu? Porque se não, todos do colégio vão saber que sua mãe era doente. Entendeu Tatiana? – O tom dele era forte, e quando terminou a frase, o mesmo mandou que os outros se afastassem.

Eu fiz que sim com a cabeça e saí correndo pelo corredor dali, eu queria ir para casa, ir para o meu quarto, para minha cama, chorar como uma criança era tudo que eu queria.


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