The Devil's Daughter escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 27
Capítulo 27




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Olhando a sua volta, Katherine se virou para encarar Finn no outro lado do salão, e com um aceno rápido de cabeça, ela se virou de novo e seguiu Niah até uma área onde um grupo de garotos - todos em seus devidos vestuários - se divertia e ria de coisas inexplicáveis.

– Niah... - chamou Katherine, preocupada.

Ela não respondeu. Desde que chegaram no salão, Niah parecia estar inquieta, olhando de um lado para o outro como se estivesse procurando uma sombra. Katherine tentara ignorar no início, mas a alguns segundos atrás Niah encontrara aquele grupo de garotos com o olhar e não deixava de encará-los nem por um segundo. Se Katherine participasse daquele grupo, ela com certeza já estaria tremendo de medo, mas nenhum deles tinha se mexido, eles encaravam a filha do diabo de volta como se estivessem fazendo uma competição para descobrir quem era o mais intimidador.

Niah foi se aproximando carregando Katherine consigo e quando as duas estavam quase na frente do grupo, um dos garotos se direcionou a frente, os olhos azuis brilhando através dos buracos de sua máscara que quase cobria todo seu rosto. Katherine congelou.

Não é possível– murmurou ela.

– O quê? - perguntou Niah se virando para Katherine e também parando.

– Você... - ela disse.

– Eu o quê?

– Não você - disse ela - Ele.

Niah se virou e encarou o garoto que andava até elas. Katherine poderia jurar que o rosto dela ficara ainda mais branco do que o normal, seus músculos enrijeceram, e ela apertava a boca com força fazendo seus lábios tremerem um pouco.

O garoto chegou na frente delas e tirou sua máscara, e ainda sorrindo, revelou seus cabelos loiros que estavam um pouco bagunçados devido ao vento do exterior do castelo e seus dentes perfeitos. Katherine reconheceria aquele sorriso contagiante em qualquer lugar.

– Chris? - perguntou ela, desejando com todas as suas forças, mesmo o vendo na sua frente, que estivesse tendo alucinações.

Ele sorriu ainda mais (se é que era possível) e olhou para baixo.

– Parece que você finalmente percebeu, Kath.

Katherine sentiu seus pés falharem e ela cambaleou para trás, esbarrando em alguém, que eventualmente, a segurou. Era Melinda. Ela sorria para a garota como se considerasse sua situação divertidíssima.

– Espera aí - pediu Niah se voltando para o garoto ameaçadoramente - Você conhece ela?

– Alguém tinha que afirmar que ela era você.

– Não - disse Niah rindo, mas ela não parecia estar se divertindo, sua risada era fria - Não me diga que você usou o mesmo golpe duas vezes? - ele apenas a encarou - Sabe, esqueça tudo o que eu já lhe disse, você é muito mais filho da puta do que eu pensava.

– Não sou eu que gosto de fazer joguinho, Niah - ele se aproximou ainda mais dela, e quase como se ele a tivesse eletrocutado, Niah se distanciou, o rosto ainda enrijecido.

Se Katherine não a conhecesse, diria que ela estava com raiva, nojo e repulsa.

– "Afirmar que ela era você? - repetiu Katherine - O quê isso quer dizer? O quê você faz aqui? E como assim vocês já se conhecem?

– Não sei se alguém já te disse Katherine - começou ele sem se virar para ela - Mas você é muito lerda para entender as coisas.

– Eu não sou lerda, eu só... - ela hesitou e guardou todos os xingamentos que pensava no fundo de sua mente, tentando ao máximo manter a calma no meio daquele monte de gente desconhecida - O quê você é?

– Eu sou um Caçador do Diabo - disse ele - Eu estava com você graças a sua impecável coincidência com essa aí que você chama de irmã, eu jurava que você era ela mesmo com o comportamento diferente. Niah consegue fingir quando quer.

– Você que o diga, não? - disse Niah - Já viu bastante do meu fingimento.

Chris sorriu e virou a cabela para o lado, avaliando Niah com o olhar.

– Sabe Niah, você não mudou nadinha - disse ele - Continua tão gostosa quanto era antes.

Niah o empurrou com uma força sobrenatural, e o corpo dele bateu com em uma pilar que se estendia perto dos dois, ele continuava de pé, mas Niah se jogou em cima dele pressionando seu corpo com força contra a pedra. O rosto dos dois estavam próximos, mas Niah não parecia ter a intenção de beijá-lo. Os garotos que estavam agrupados ao redor de Chris agora se agrupavam ao redor do casal prensado no pilar, mas nenhum deles parecia ter a coragem de enfrentar Niah, mesmo estando em maior número.

– Acho que eu mudei um pouquinho sim - disse ela, virando a cabeça para o lado e sorrindo como ele fizera segundos antes. Depois levantou o corpo dele há uns centímetros do chão e o soltou com força, fazendo com que Chris aterrissasse de joelhos - E tenho certeza que estou três vezes mais gostosa do que antes.

Chris riu enquanto se levantava e massageava sua cabeça. Melinda se aproximou de Katherine.

– Sempre quis saber como um encontro desses dois seria depois do que aconteceu.

– O quê aconteceu? - perguntou Katherine.

Melinda a fitou com um sorriso enigmático. Seu cabelo castanho era curto, e ela o deixou meio preso meio solto com a maior trança que ela conseguiu fazer em seu curto cabelo. Seu vestido, como se estivesse compensando seu cabelo, era comprido. A saia dourada se arrastava delicadamente no chão enquanto a parte de cima não passava de um corpete detalhado.

– Não que eu possa te dizer - disse ela - Quer dizer, acho que você deve perguntar a Niah, não acho que isso seja uma coisa que ela deseje que se torne pública - ela abaixou a voz antes de completar - Não que já não seja, obviamente.

– Niah, não tente me enganar - Chris tinha se aproximado novamente dela - Pode dizer que sentiu minha falta, você sente todos os dias. Eu me garanti de que sentiria.

– Você sabe que eu sinto sua falta todos os dias - ela falava com uma voz rouca que teria deixado qualquer cara louco, até mesmo Chris, e se aproximou dele, colando seus corpos novamente - Mas eu tenho certeza que você também sente a minha.

Chris ficou imóvel por alguns segundos depois balançou a cabeça e piscou, como se tivessem jogado um balde de água fria em sua cabeça e sorriu com a mesma intensidade que Niah.

Katherine encarava os dois boquiaberta. Chris estava se comportando como uma versão masculina de Niah, que era o oposto do modo que ele tinha sido com ela nos seus poucos dias de namoro. Uma parte dela se sentia traída e com uma imensa vontade de dar um soco na cara dele, mas sua maioria estava agradecida. Pelo menos ela não teria que terminar com ele, pelo o que via, eles nunca estiveram juntos de verdade, e Katherine se sentia melhor do que pensava que poderia.

– Com certeza - disse ele por fim. A voz tão sedutora que teria deixado qualquer garota desnorteada. Mas Niah não era qualquer garota, seja lá o que fosse aquele pequeno resquício de medo que a fez recuar minutos antes, Katherine tinha certeza que já tinha ido embora.

De repente, Niah virou o rosto para Katherine como se só agora se lembrasse que ela estava ali e se distanciou de Chris, seu rosto voltando a frieza habitual, então ela viu Melinda e sorriu com deboche.

– Parece que não deixei nenhuma sequela grave em você, não é querida? - disse ela.

Melinda sorriu, tão inabalável quanto Niah (Katherine sentia muita inveja dessa habilidade das duas).

– Sou uma bruxa também, lembra?

– Você não se parecia com uma bruxa quando eu deixei seu nariz sangrando - rebateu Niah.

– Algumas vezes eu preciso me conter, Niah - ela levantou o queixo de um modo ameaçador - Preciso me garantir que você chegue onde eu vi que você chegaria.

– E que lugar seria esse? - perguntou ela - No País das Maravilhas, ou no mundo paralelo a este onde você realmente consiga ver o futuro? Porque eu tenho certeza que esse seu poder é uma fachada.

– Cuidado, filha do diabo - advertiu ela - Lembre-se que eu sei seu passado que uma vez já foi seu futuro.

Mas antes que Niah pudesse dizer uma resposta a altura, todos os lustres se apagaram, e apenas os castiçais ao redor do salão ficaram acesos, exibindo suas chamas fracas mas que magicamente iluminava todo o salão, mas deixava um ar de mistério no ar.

Uma figura reluzente postou-se no topo da escada, mas Katherine reconheceu-a assim que a viu. Lane Bloon, a "super bruxa", como Niah costumava se referir a ela, e mesmo sabendo que não se passava de um apelido com más intenções, Katherine o considerava apropriado estando agora no mesmo cômodo que ela. Ela se sentia inferior quando estava perto da bruxa, e percebeu que todos no cômodo também se sentiam assim, pois todos fizeram uma reverência demorada para ela. Talvez não se passava de um sinal de respeito, mas mesmo ela, que não deveria sentir respeito algum para com ela, teve vontade de reverenciá-la, mas se conteve. O ar de indiferença e ao mesmo tempo de desprezo que Niah lançava para todos os ocupantes no salão, e mesmo para os filhos do diabo que tiveram que fazer o gesto para não serem descobertos, era o suficiente para segurá-la.

Lane começou a descer a escadaria com graça, ela parecia deslizar pelo chão, mas diferentemente de Wade que emanava tristeza e morte, a bruxa deixava o local com um gosto de esperança e vida, tudo o quê Katherine queria sentir se pudesse ser como qualquer outro ser humano normal. Ela chegou a ponta da escada e os lustres se acenderam novamente, a bela mulher exibiu um sorriso verdadeiro para os ocupantes de seu baile, e logo depois a música clássica voltou a tocar e muito casais voltaram a dançar, os murmúrios da festa voltando ao normal.

Depois que se garantiu que ninguém a estaria olhando, Lane retirou seu sorriso do rosto e virou o rosto para a direção que Niah e Katherine se encontravam, como se sempre soubesse que elas estavam ali. Ela olhou para baixo e recolheu a saia de seu vestido, depois começou a andar em direção ao fundo do salão, na área onde uma sombra gigantesca se estendia pelo chão devido a escadaria. Niah largou o copo que tinha pego a poucos segundos atrás em uma mesa qualquer que viu pelo seu caminho e começou a andar na direção da bruxa. Katherine olhou ao redor procurando por Finn, mas como não o achou, sem muitas opções, ela seguiu Niah tendo que apressar o passo para alcançá-la.

Elas chegaram a sombra e Katherine sentiu como se o volume da música tivesse abaixado, ela olhou para trás esperando que mais alguém tivesse notado mas desapontou-se quando percebeu que nada estava diferente no comportamento dos convidados. Niah caminhou até a parede que indicava a parede que sustentava a escada e uma porta apareceu do nada.

Katherine piscou, mas logo se acalmou ao se lembrar que estava em uma catedral cheia de bruxas onde um baile se realizava, nada ali poderia ser normal. Niah abriu a porta e a atravessou, Katherine a seguiu. Elas estavam em um longo corredor pouco iluminado por castiçais que exibiam uma luz muita mais fraca do que os que ela vira do lado de fora. Niah começou a andar sem se importar com a pouca luminosidade, mas Katherine poderia jurar que ela andava cautelosamente, como se esperasse que pudesse ver uma armadilha a qualquer segundo.

Percebendo que aquela era uma das poucas ocasiões que ela e a irmã ficavam realmente sozinhas em um local, Katherine se adiantou a perguntar:

– O quê rolou entre você e Chris?

Um arrepio percorreu a espinha de Niah quando ela se lembrou de quando o conhecera, de quando confiara nele...

– Por quê acha que rolou algo entre nós?

– Vocês agem como se já tivessem sido um casal.

– Casal? - perguntou Niah com repulsa, se virando bruscamente para encarar a irmã - Eu preferiria ser nocauteada por uma bruxa.

– Mas vocês com certeza já tiveram uma conversa civilizada na vida - Niah voltou a andar sem responder a pergunta, então Katherine continuou: - Você disse que ele usou o mesmo golpe duas vezes. Você estava se referindo ao fato dele ter me enganado, não? - ela continuou sem responder - Quando foi que ele usou esse golpe antes?

– Você não precisa saber disso, acredite.

– Eu quero saber.

– Mas não precisa - rosnou Niah - Não me faça brigar com você Katherine.

– Eu só queria entender essa situação - se defendeu ela - Me desculpe se isso te deixa com raiva, mas eu já estou cansada de descobrir que a minha vida inteira eu venho sido enganada.

– "Com raiva"? - repetiu Niah - Eu não sinto raiva desde o dia que aquele babaca estragou a minha vida. Digamos que eu deva isso a ele.

– Como assim estragou a sua...

Mas a pergunta de Katherine morreu no meio. Os pés de Niah falharam e ela caiu de joelhos, depois desabou no chão, o corpo tremendo. Tudo aconteceu tão rápido que Katherine só teve tempo de se distanciar, depois correu para a irmã.

– Niah! - gritou ela.

Mas quando estava quase se jogando em cima dela, o corpo de Katherine foi barrado por uma barreira invisível. Ela socava a parede e observava pequenas tremulações se formarem no ar, mas a parede não cedeu. Ela tornou a gritar o nome da irmã. O corpo de Niah ainda se debatia loucamente no chão, ela berrava quando o pouco ar nos seus pulmões permitia, ela tremia como se passasse frio há uma semana, até mesmo seu rosto estava roxo.

Então uma luz se acendeu no fim do corredor, e uma voz doce e ao mesmo tempo autoritária saiu de dentro dela:

– Deixa-a, garota mortal - ordenou a voz de Lane - Venha até mim.

– Eu nunca vou deixá-la - rebateu ela com raiva - Solte-a, agora!

A voz riu.

– Você conhece bem sua irmã, garota? - perguntou ela ainda rindo - Filhos do diabo não são confiáveis, você já deveria ter aprendido isso.

Katherine não disse nada, ela ainda batia na parede com esperanças de quebrá-la, então a voz continuou:

– Estou com sua amiga desprovida - disse, ganhando a atenção de Katherine, que mesmo com os olhos brilhando graças as lágrimas, não deixava de ter esperanças - Converse comigo que eu irei soltá-la.

– Essa é minha proposta, mortal - disse ela - A filha do diabo ou sua amiga de toda uma vida, porém desprovida. A escolha é sua.

Katherine olhou para Niah. Ela não parecia estar ouvindo a conversa, mas seus olhos estavam fechados com força, ela parara de se debater, e Katherine rezou para que ela estivesse ao menos viva. Ao perceber que seu peito ainda subia e descia, ela se virou, e sem mais delongas, seguiu a luz.

***

Se já não bastasse a beleza infinita do salão, o lugar que se encontrava, mesmo parecendo simples, era um dos mais bonitos que já vira em toda sua vida. Katherine olhou rapidamente pela sala que se encontrava, e constatou, mesmo pela beleza do lugar, que aquele deveria ser o porão do castelo.

O lugar não tinha um piso tão lustroso quanto o resto do lugar, e sua mobília não parecia ter toda aquela luz divina que normalmente os rondeava, como se os móveis fossem como lanternas e as pilhas daqueles que se encontravam na frente dela tinham acabado. Mas mesmo assim, era divino.

Katherine estava no topo de um pequeno lance de escadas também de madeira, apenas um pequeno corrimão se encontrava a sua esquerda (mais ainda sim divino) já que a sua direita estava uma parede de tijolos. Aquela era a única parede lisa, pois todas as outras eram cercadas completamente por estantes de livros. O salão era pequeno, mas mesmo assim continha uma imensa quantidade de livros, mas curiosamente, Katherine não sentia vontade de chegar perto de nenhum deles, eles tinham um ar que grandeza, de mistérios divinos que ela não poderia nem imaginar.

E no meio do salão, contrastando toda a decoração do local, se estendia uma enorme jaula de pássaros com as grades de um ouro polido, e ao seu lado, estava Lane. O vestido branco que era discreto e ao mesmo tempo moderno, com uma pequena abertura nas costas, que realçavam ainda mais sua beleza e deixava seus longos cabelos loiros, que estavam presos em uma trança cuidadosamente preparada e seus incríveis olhos violetas. Vendo aquelas íris, Katherine não poderia deixar de pensar em Rox.

Mas quando ela olhou novamente para a gaiola, se surpreendeu ao encontrar um corpo estendido no chão. Ivy parecia estar apenas dormindo, ela estava em lindo vestido de baile num tom de verde, que realçava seus lindos cabelos ruivos. Nem numa situação daquelas aquele cabelo deixava de ser maravilhoso. Ela correu para a jaula e segurou nas barras de ouro com força.

– Ivy! - gritou ela, tentando passar um braço pelo buraco. A amiga levantou a cabeça como se tivesse acabado de acordar, sua maquiagem estava toda borrada e escorria pelo seu rosto, ela se levantou e estendeu o braço para segurar na mão de Katherine.

– Kath - exclamou ela com o tom mais forte que ela conseguiu fazer - O quê você está fazendo aqui? Vá embora, agora!

– Fique calma, desprovida - pediu Lane - E saia daí, mortal.

Ela fez um discreto movimento com a mão e o corpo de Katherine foi jogado longe, ela ainda estava de pé, mas para sua consciência ela estava estendida no chão. Ela se aproximou da bruxa.

– Solte-a - ordenou tirando coragem de um lugar desconhecido.

– Ainda não conversamos, querida.

– Eu to pouco me lixando para a sua conversa - gritou ela enraivecida - Você prendeu minha amiga em uma jaula, fez a minha irmã ter convulsões e você ainda espera que eu converse com você?

– Sua vadia - xingou ela - Louca, desgraçada - Katherine partiu para cima da bruxa com os punhos cerrados, mas foi detida por outra barreira invisível, deixando-a com ainda mais raiva.

Ela foi jogada para trás novamente mas antes que seus pés conseguissem encontrar equilíbrio, alguém segurou em seu ombro e a ajudou. Ela olhou para trás e viu Niah. Ela não estava mais com o colar de pérolas, seu vestido estava todo amassado e rasgado em algumas partes. Seu rosto ardia de raiva, ela encarou Lane.

– Abusando da minha irmã, bruxa velha?

– Vejo que já tenho as duas peças essenciais do meu jogo.

– Seu jogo? - perguntou Katherine, os punhos cerrados.

– Imagino que se perguntam porquê as queria tanto aqui.

– É - concordou Niah - Estou muito interessada em saber o porque de você ter sequestrado uma das suas só para nos trazer aqui. Não pensei que eu fosse assim tão importante para você.

Lane se limitou a sorrir.

– Vocês não fazem ideia do quão importantes são para mim.

– Eu? - disse Katherine imitando a voz sarcástica de Niah - Importante para uma bruxa? Não me lembro de ter pedido um pacote de "show dos horrores" no último Natal para ter descoberto tudo o que descobri nessas semanas.

– Então quer dizer que você está apaixonada por um filho do diabo? - perguntou ela a Katherine ignorando seu comentário anterior - Acho que você deve esquecer desse romance Katherine, ele não é como aparenta ser. Ele é uma criatura vazia, sem sentimentos.

– Desde quando você tem que achar alguma coisa para a sua vida?

– Você fala como se tivesse algum sentimento - murmurou Niah, mas Lane a ouviu.

– Não tenho sentimentos? - ela arqueou as sobrancelhas levemente irritada. Depois estalou os dedos e Ivy desapareceu - Se não tivesse, teria matado a desprovida.

– Pensei que gente da sua laia, Lane, fosse do time dos bonzinhos.

– Certas coisas devem ser feitas para um bem maior.

– Você mata alguém por um bem maior?

– Eu não mato as pessoas, Katherine - disse ela - Apenas elimino as impurezas desse mundo.

– Você é doentia.

– Depois de um tempo todos nós somos - ela sorriu - Veja Niah, por exemplo, era um criança tão doce apesar das circunstâncias, e de repente se transformou num monstro.

– Você me transformou em um monstro! - gritou ela - Você e suas preciosas gangues de Caçadores, se eu for pro Vazio quando eu morrer, vocês com certeza queimaram no fogo do Inferno.

O cabelo de Lane brilhou, como se tivesse acendido uma chama, depois voltou ao normal.

– Nunca - disse ela devagar - Nunca. Sobre circunstância alguma se refira ao lugar imundo que você vive nesse lugar sagrado.

– Esse lixo todo é um lugar sagrado? - perguntou Niah indicando a sala toda com um dedo - Péssimo decorador, o de vocês.

A bruxa suspirou, depois piscou devagar, e ao manter a calma, começou a passar a mão pela saia longa de seu vestido.

– O motivo de vocês estarem aqui é...

– Você querer me matar? - sugeriu Niah a interrompendo e apontando para o corredor de onde entraram - Porque não acho que tenha sido suficiente.

– Eu nunca a mataria, Niah.

– Por quê não? - perguntou Katherine ao invés da irmã.

– Eu não poderia matar nenhuma das duas.

– Por quê não? - Niah repetiu a pergunta de Katherine.

– Quando eu era mais jovem eu me apaixonei pelo cara errado - ela começou sem responder a pergunta - Eu cometi o mesmo erro que você está prestes a cometer Katherine, ele era tão vazio...mas eu não percebia, eu estava apaixonada.

– Você espere que nós comecemos a chorar ou algo do tipo? - perguntou Niah cruzando os braços sobre o peito e se apoiando em uma das prateleiras.

– Eu cometi o maior erro da minha vida quando percebi que estava grávida - continuou ela ignorando Niah, mas começando a andar de um lado para o outro na sala - Melinda previu certas coisas quando eu ainda estava com quatro meses, como que eu teria duas filhas...gêmeas - Niah saiu de perto da parede e ergueu uma sobrancelha para a bruxa, que não pareceu notar o movimento - Eu precisei deixá-las e separá-las quando eu entendi o que eu tinha acabado de cometer... As crianças eram...seriam únicas no mundo. Únicas na natureza.

"Melinda me garantiu que elas não seriam monstros, e até que realizariam feitos grandiosos...mas seus caminhos seriam tortuosos, e eu é claro, não poderia estar nele.

"Quando dei a luz eu fracassei, não conseguiria me livrar delas. Pelo menos não das duas. Elas eram tão bonitas, tão frágeis e...elas não conseguiriam viver sem mim, pelo menos eu não conseguiria sem elas. Mas eu sabia o quê iria acontecer e quando Melinda viu o futuro ela me disse que ele deveria se realizar, ou o mundo cairia. Aquelas duas garotinhas, tão indefesas eram as crianças mais importantes do universo, e eu teria que deixá-las.

"No final, eu fiz uma parte do que Melinda pedira, eu entreguei uma de minhas filhas ao Diabo, mas fracassei com a outra, eu não poderia perdê-la de vista. Ao invés de entregá-la a uma família adotiva mortal e normal, longe de todo esse mundo das sombras, eu a entreguei em uma amiga que eu confio a minha própria vida.

– Mas como eu poderia saber que minhas filhas cresceriam e se tornariam tão fortes? - concluiu ela - Como eu poderia saber que elas cresceriam e me odiariam com toda essa grandeza?

Lane encarou as garotas a sua frente com cautela, com se esperasse que elas começassem a chorar, mas mal sabia ela que na sua frente estavam duas garotas fortes demais para chorar.

Sem dizer uma palavra, Niah agarrou o pulso de Katherine e começou a puxá-la de volta para o salão com força. Lane não se atreveu de impedi-las mas se derrubou em lágrimas quando as duas partiram, ela se lembrava agora de quando teve que deixá-las, ela se sentia do mesmo jeito.

Katherine balançava a cabeça confusa enquanto corria e tropeçava no ar atrás de Niah. Por mais estranho que pareça, sua mente estava silenciosa, como se fosse incapaz de juntar tudo o que ouvira momentos antes.

Quando ela se viu do lado de fora encarando o enorme e infinito jardim-labirinto ela soltou o ar que não percebeu que estava segurando e começou a arfar, sentindo seu corpo inteiro tremer e arfar. Niah olhou para ela de lado, ela também respirava com dificuldade, mas a única coisa que fazia além disso era piscar com força, arregalando os olhos toda vez que os abria como se estivesse se sentindo cega.

– O quê...? - Katherine tentou parar de ofegar e se controlar antes de completar: - Me diga que o que eu estou pensando não é verdade.

– Se você está pensando que Lane Bloon é nossa mãe - disse ela - Então sim, aquela história era a nossa história.


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Notas finais do capítulo

Me desculpem por ter feito um capítulo tão grande, mas é o capítulo final, né gente, eu tinha que dar um "grand finale" na história!
Então...esse foi o último capítulo pessoal, mas eu vou postar um epílogo, só para deixá-los com gostinho na boca para a próxima temporada kkk (se nao quiserem ficar com dúvidas eu aconselho que não leia, mentira que vai ter spoilers importantes para a continuação).
Ohho qro agradecer a Renata Girardi por ter recomendado a história, eu chorei de vdd lendo oq vc escreveu kkk, significou mto pra mim. Na vdd cada um de vcs, leitores, significam mto pra mim, agradar vcs é tudo o que desejo > <.
bjks, e espero que continuem me acompanhando, tds vcs são super importantes pra mim.



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