Ballare Tutta La Vita - Hiatus escrita por Anna


Capítulo 6
Capítulo 6




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/341389/chapter/6

Estava sentindo alguma coisa diferente. Estava deitada sobre alguma coisa um pouco dura, muito diferente da minha cama. Ah... A minha caminha fofinha! Abri meus olhos e me deparei com uma decoração totalmente diferente da do meu quarto. Parecia ser a decoração do quarto dos meus pais.

Aos poucos fui me lembrando de como tinha ido parar ali. Não estava conseguindo pegar no sono na noite anterior, por causa da bendita carta de admissão. E quando estou assim, muito ansiosa, para algo não consigo pregar os olhos a não ser que eu fizesse alguma coisa. E essa coisa era dormir ao lado da minha mãe.

Era infantil. Eu sabia muito bem disso. Mais era um antigo costume, era como quando se estivesse tendo uma tempestade. E eu estivesse com medo dos trovões e a única coisa que "curava" esse medo era dormir ao lado da minha mãe. Só que dessa vez não estava com medo dos trovões, até porque eu não tenho medo de trovões. Eu estava ansiosa e essa ansiedade poderia ser muito bem confundida com medo.

Medo. Não tinha pensado muito nesta palavra nos últimos dias, não me via com medo. Às vezes eu me via passando no teste, viajando novamente para a Itália, fazendo novos amigos em um novo continente e cursando o que eu sempre quis. Mais também tinha vezes que eu me via fracassando, voltando a viver a minha vida normalmente. Como se o teste em si tivesse vindo, feito uma pequena bagunça e tivesse ido embora junto com o meu sonho.

Mesmo assim acho que não passar no teste teria lá as suas vantagens, e eu não estou ficando maluca! Mesmo que estas vantagens fossem poucas, elas existiriam.

Poderia ficar na cidade, isso realmente era uma bela vantagem. Porque com o passar dos anos eu acabei me apeando a Chicago, até mais do que eu deveria. E mesmo que eu sinta saudades da Itália – que era na verdade muitas saudades – eu amava aqui e seria muito duro me mudar. Não ficaria tão ansiosa e tão preocupada como estou agora, mais também ficaria muito decepcionado comigo mesma. E com certeza choraria até meus olhos secarem, e viraria o ser mais insuportável do universo.

Mais como eu poderia saber? Eu tinha dado o meu melhor, e tinha conseguido passar. O que me faz pensar... Eu fiz o meu melhor e passei no teste, mas... Será que o “meu melhor” seria o suficiente para permanecer lá?

Levantei-me tentando tirar essa maldita ideia da minha cabeça. Fui para a cozinha praticamente me arrastando pela escada. Estava morrendo de dor nas costas, aquele colchão parecia ser feito de pedras. Quando cheguei ao pé da escada e vi uma senhora com roupas refinadas e visivelmente caras, segurando em sua mão direita uma xícara de chá e com um olhar de superioridade.

Um sorriso imenso surgiu em meus lábios, fazia tempo que não a via.

-Vovó! – Exclamei começando a correr até ela, que já estava de pé esperando o meu abraço.

- Alana, minha querida. – Ela disse enquanto retribuía o meu abraço.

Não entendia essa visita inesperada de vovó, não que eu não tenha gostado eu até tinha, mas... Por quê? Porque ela veio? Ela quase não vem nos visitar, só vem uma vez ao ano. Quando não é no Natal é no Ano Novo ou no Dia de Ação de Graças, nem mesmo no meu aniversário ou no da minha mãe ela vem. O mínimo que ela faz é mandar uma carta ou fazer uma ligação.

-Vovó... O que... – Eu tinha que escolher muito bem as palavras que usaria, porque Florence era muito sensível e dramática, e muitas das vezes não interpretava mal as coisas.

- Já até sei o que você vai me perguntar... O que eu estou fazendo aqui fora de época, certo? – Hesitei antes de assentir, mesmo assim o fiz.

Não gostava muito desse termo “fora de época” mais era verdade. Ela quase nunca nos visitava fora daqueles feriados, que ela considerava até mesmo pecado não passarem com a família. Nunca entendi o porquê disso. Quando eu era pequena perguntei a ela se era por causa do meu pai e ela me respondeu que não. E achei que isso poderia ser verdade já que ela e meu pai se dão super bem, até.

-Bem... Tome o seu café, que depois subimos e eu te explico. – Ela disse pegando um pedaço de bolo.

Sentei-me ao seu lado e logo tratei de ajeitar a minha postura, para minha avó uma boa postura na mesa era essencial. Servi-me de bolo, salada de frutas e uma limonada. Fiquei esperando enquanto vovó acabava com a sua refeição. Ela comia devagar como se fizesse isso até mesmo de propósito, só para irritar os outros a sua volta.

-Então... Porque veio? – Tentei não deixar a minha curiosidade aparecer muito, o que não deu muito certo.

- Não posso me despedir da minha netinha? – Claro, tinha até me esquecido. Que era hoje que eu iria ir.

- Vovó, me perdoe. Eu tinha até me esquecido que iria hoje. – Falei com sinceridade.

- Esqueceu que hoje iria para a escola de seus sonhos? – Assenti.

- Olha... Eu acho melhor você ir arrumar as suas coisas, saímos daqui a duas horas. – Minha mãe apareceu do nada.

Sem dizer uma palavra sequer sai da cozinha e fui para o meu quarto. Comecei a arrumar as minhas roupas que não demorou muito. Depois de alguns minutos, no mínimo uns trinta, já tinha posto tudo o que queria dentro de três malas. Só faltava pegar os carregadores do meu celular, Ipod e do meu Ipad, e arrumar um jeito de por o meu travesseiro enorme dentro de outra mala.

Decidi que teria mesmo que levar o travesseiro na mão, porque afinal, não tinha como levar um travesseiro enorme em uma mala um pouco menor. Era ridículo até mesmo pensar nessa hipótese. Peguei a roupa que tinha separado – uma blusa com um bigode na frente, uma calça jeans com o meu par de all star pretos – fui ao banheiro e me troquei.

Olhei-me por alguns segundos no espelho. Não estava tão ruim assim. Só estava com umas olheiras bem leves, mais não queria passar nenhuma maquiagem. Nem mesmo se fosse apenas uma camada leve de pó. Prendi meu cabelo castanho em um rabo de cavalo alto, e deixei meu rosto daquele estado mesmo.

Peguei uma bolsa que levaria na mão, chamei minha mãe para ajudar-me com as malas. E ela veio sorrindo. Era incrível como ela sempre estava feliz em ajudar, herdei isso dela. Porém muitas das vezes não aparentava estar assim tão feliz em ajudar.

Descemos as escadas juntas e partimos para a garagem, entramos no carro minha mãe no volante, vovó no banco do passageiro e eu atrás. Apenas ouvindo vovó contar para nos sobre as suas últimas aventuras em Miami, e também ouvimos a respeito da cidade. Florence dizia coisas costumeiras com o mesmo entusiasmo de sempre.

Chegamos ao aeroporto em poucos minutos. Lá já estavam a nossa espera Amber e Pierre. Amber estava com os olhos marejados, enquanto Pierre estava apenas com uma expressão triste em seu rosto.

Amber não disse nada, apenas me abraçou. – Por favor, não se esqueça da ruiva aqui. – Ela disse enquanto se afastava de mim.

-Isso é meio que impossível! – Disse. Amber era a minha melhor amiga, e a única ruiva natural que conhecia. Seria impossível esquecer-me dela.

Depois que Amber se despediu de mim foi à vez de Pierre. O puxei para um abraço e sussurrei ao pé do seu ouvido. – É melhor você admitir logo o que sente. Garotas não esperam para sempre. – Assim que disse isso me separei dele. Ele estava com a mesma expressão desde que eu cheguei ao aeroporto, porém agora, seus olhos estavam levemente arregalados.

Minha avó se despediu de mim com muita classe, afinal ela sempre se despedia assim. Acho que dizer “adeus” era uma tarefa fácil para ela. Minha mãe me deu um de seus abraços apertados e me disse a mesma coisa que disse antes de eu fazer o teste: Seja você mesma, se esforce para isso, esse é o seu sonho.

Sorri ao ouvir ela disse isso. Sabia que mesmo eu estando no outro lado do oceano poderia contar sempre com ela.

-Alana. – Ouvi uma voz doce ao mesmo tempo amarga. Um frio percorreu a minha espinha, sabia quem era o dono daquela voz, mais agora estava desejando para que estivesse errada. Para que estivesse profundamente errada.

Virei-me com certo medo. E infelizmente eu estava certa, o dono daquela voz, era de fato a voz do meu pai. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguém?