Este lugar está um completo breu, sem contar com a luz azulada que a lua cheia exala.

Fallena inclina sua cabeça em direção ao céu negro.

- Já começou – afirma. A iluminação fraca faz com que uma sombra negra projete-se sob o côncavo de seus olhos, preenchendo o vazio que há entre eles.

Ela para na nossa frente, como se aguardando uma ordem.

Lissa passa as mãos pelos cabelos ruivos.

- Faça as honras – ordena – Vá na frente.

Fallena franze o cenho, com uma expressão confusa em sua face.

Ela continua parada por mais alguns segundos. Logo em seguida assente, abrindo caminho por entre alguns galhos secos.

Ando em direção á ela.

Lissa impede-me, puxando o capuz do meu casaco.

- O que foi? – pergunto, virando-me de costas para a floresta - Não devo seguí-la?

- Tem alguma mecha nos cabelos, ou tatuagens pelo corpo? – ela pergunta, ignorando por completo a minha fala.

- Ahn... Não – respondo instantaneamente – Não para ambas as perguntas.

- Ótimo. Prepare-se para a sua primeira tatuagem.

Franzo o cenho, soltando um riso nervoso e abafado.

A encaro por alguns segundos.

Ela não parece estar sendo sarcástica.

- Co...como assim? – uma brisa fria chicoteia os meus cabelos e os pêlos do meu corpo se arrepiam.

Não sei para onde vamos.

- Qual é o seu signo? Leão, Áries? – a cada pergunta dela, as coisas ficam mais confusas.

- Câncer – respondo, insegura – Quero dizer... Eu nasci ás 23:58 do dia 27 de Julho. Mas me registraram como se eu tivesse nascido ás 0:02 do dia 22, fazendo com que eu fosse registrada como Áries. É complicado, eu s...

Paro gradativamente ao perceber que Lissa me encara, pasma.

Por instinto, olho para trás, a procura de algo que justifique seu espanto.

Tudo o que vejo é um emaranhado de galhos e folhas escuras, que se misturam, formando um enorme e denso toldo negro.

Há uma linha tênue separando o céu das árvores.

- O que foi?

- Vo... Você é Canceriana?

- Ahn... Sim. Algum problema?

Lissa leva a mão aos lábios, pensativa.

- É a primeira vez que isso acontece – ela diz, apoiando-se em uma enorme rocha, ao seu lado esquerdo – O que faz aqui? Você não pertence á um signo de fogo.

- Bom.. De fato, não, mas estou registrada dessa forma.

Ela cerra os punhos.

- Não importa como você está registrada. Seu sangue não pertence á um Fire Sign.

Fire Sign? Que diabos é isso?

Sempre considerei o meu signo como algo obsoleto. Parece que eles não lidam da mesma forma que eu, nesse aspecto.

Abro a boca, mas as palavras não saem.

- Você não entende... Você não pertence á esse lugar.

Franzo o cenho. O que está acontecendo?

Ela leva a mão á testa, enquanto entrega-me um elástico preto.

- Prenda seus cabelos e os esconda sob o capuz. Proteja a sua nuca. – ela se levanta – E se perguntarem, você pertence ao signo Áries.

- Mas...

- Sem mas – ela me interrompe novamente – Depois te explico o que está acontecendo. Agora venha.

Vagamos intensamente por alguns intermináveis minutos, aparentemente sem rumo. O silêncio me ensurdece e tento não pisar em falso, desviando de pedregulhos soltos e grossas raízes sobressalentes da grama.

Percebo que estamos trilhando por um trecho no qual não há grama, apenas um pequeno caminho de terra.

Uma trilha.

Exatos 57 passos depois, - sim, eu estava inconscientemente contando-os – começo a ver vestígios de uma luz trêmula.

Lissa para diante de mim.

- Haja como se os conhecesse, mas não fale com ninguém diretamente. Mantenha a cabeça abaixada e cumprimente a todos com um simples gesto. – Ela faz um gesto similar ao do famoso Rock ’n Roll, levantando o dedo mindinho, indicador e o polegar da mão direita em direção ao céu. – Evite contato visual e não chame atenção – ela dá mais alguns passos em direção á luz – E haja o que houver não tire o capuz.