Amo filmes! Acho bem melhor que desenhos ou series... Mas não supera música. Infelizmente não posso VER musica e por isso alugo algum filme sempre que possível. Reinald não se importa de pagar a locação de uns quatro DVD’s por semana, já que ele também é viciado.

Comédia, ação, mistério, drama, tudo! Tudo nos fascina e nos prende na frente da TV por cada segundo. Já Lucius... Bom, ele não tem o menor interesse na maioria dos filmes. Digamos que ele só consegue prestar atenção em 5 minutos. Nem isso, ele presta atenção em 5 minutos de trailer!

Normalmente ele fica olhando feito um idiota para Reinald e quando eu ou mau pai temnos alguma reação diante ao que está acontecendo na cena, ele pede para a gente voltar um pouco. No final ele nem entende nada (muitas vezes nem sabe o nome do filme...) e nós perdemos tempo.

Mas tem raros filmes que o deixam bitolado. A “Fantástica Fabrica de Chocolate” é um deles. Na verdade, o principal, acho que ele já assistiu umas 15 vezes esse filme, sabe até as falas do Willy Wonka! Bom, a maioria...

- Meu sonho de consumo é visitar a Fantástica Fabrica de Chocolate! – Lucius disse todo animadinho enquanto fantasiava.

- Pena que não existe, pai. – Fiz questão de trazê-lo de volta a realidade.

- Mas se existisse e o Willy Wonka abrisse para cinco crianças, eu iria com certeza!

- Pai, devo te lembrar que você não é uma criança?

- Ah, eu sei que não sou, mas você é! A gente acharia o bilhete dourado e eu iria com você. – Era como se ele já tivesse planejado tudo.

- Se eu achasse, levaria o Reinald. – Disse. Mas é raciocínio básico, veja bem: Você vai para uma fabrica de chocolate, você leva seu pai responsável que AMA chocolate ou o seu pai irresponsável que prefere salgados? Claro que a primeira opção! Mas claro que você nem teria essas opções, só eu... Só eu tenho dois pais.

- Não é justo! Você tem que me levar, Allinton! – Lucius começou com a birra...

- Não, não. Você ouviu, ela me escolheu. – Gabou-se Reniald sem tirar os olhos da televisão.

- Mas é o MEU sonho de infância!  – Ele parou para pensar e viu que o filme não era tão velho assim. Mas acho que ele se referia ao filme antigo. - Ta, de adolescência...

- Não seria mais normal se esse fosse o sonho de Reinald? – Perguntei. – Ele é o chocólatra aqui.

- Não é pelo chocolate, filha. – Lucius sorriu debochado. – É pelo Willy Wonka!

- O que tem o Willy Wonka? – Questionei hesitante. Tinha medo de ouvir a resposta.

- Como assim o que tem o Willy Wonka?! – Ele berrou incrédulo. – Ele é divo! Minha inspiração de vida!

- Hum, sei... Inspiração para que?

- Oras, todo cara que sai do armário precisa de um modelo para seguir e se tornar de fato um gay. – Ele respondeu como se fosse obvio demais. Bem típico de Lucius.

Olhei para Reinald, que se mantinha calado vendo o filme ao invés de participar daquela conversa altamente estranha, e resolvi provocá-lo.

- Pai, - Cutuquei- o com o controle da TV. – quem foi seu modelo?

- Ninguém. – Ele respondeu quase sussurrando. Não sabia dizer se estava bravo ou envergonhado.

- Mas Lucius disse que precisa de um modelo para se virar gay.

- É, eu ouvi. Mas quando ele disse gay, quis dizer bicha afetada. Isso é, ele mesmo. – Reinald concluiu sem tirar os olhos da TV. Percebi, então, que ele não estava nem bravo, nem envergonhado. Estava concentrado no filme.

- Seu pai não conta, ta? Ele é quase um enrustido! – Lucius rebateu meio bravo. E eu discordo totalmente! Como Reinald poderia ser enrustido e casado com a coisa mais purpurinada que já habitou a Terra?

- Nem sou. – Ele respondeu ainda vidrado na cena que rolava.

- Pai, quem te disse que o Willy Wonka é gay? – Retomei a conversa com Lucius, já que com Reinald não ia muito longe.

- É obvio que é! Olha só esse jeitinho dele. – Ele se aproximou da tela com um sorriso bobo e ao mesmo tempo malicioso. – Por que você acha que ele saiu de casa quando criança, ein? É obvio que o pai dele era um homofóbico.

- Não inventa coisa! Ele fugiu por causa dos doces! E o pai dele não era homofóbico, era dentista.

- Ah, isso tudo aí é censura para encobrir a verdade! – Lucius disse com firmeza.

- Ele é gay. – Comentou Reinald aleatoriamente.

- Viu? Até o Ri-chan concorda comigo. – Ele passou os dedos na tela e depois se afastou. – Eu tenho um radar detector de gays e quando aponta para o Willy Wonka, diz: “Passivo á vista!”

- Nossa, Johnny Depp bem passivo. – Retruquei irônica e revirei os olhos.

- Não to falando dele, to falando do Willy Wonka!

- São a mesma pessoa, pai!

- Não são não! Johnny Depp não é comestível. – Ai ai, começou a baixaria.

- E o Willy Wonka é? – Perguntei receosa.

- Sim, mas isso seria canibalismo e não é bem visto pela sociedade. – Reinald disse provando que Lucius não era o único que decorava as falas do filme.

- A não ser que o coma de outra maneira. – Lucius riu e eu só fiz uma cara de nojo. – Ah, qual é, filha? Todo mundo comeria o Willy Wonka!

- Não! Eca! – Protestei. – Só você pensa nessas coisas!

- Só eu, é? – Ele perguntou retoricamente. – Reinald, sei que está ouvindo a conversa, diga alguma coisa.

- Ta ta. – Reinald pausou o filme e suspirou. – Sinto em te decepcionar, filha, mas o Willy Wonka é totalmente comestível. Hum, em todos os sentidos...

- Viu? – Lucius falou. – A culpa é dele por ser assim, não nossa. Não pensamos coisas do gênero sobre, hum, sei lá... Os X-Men, por exemplo!

- Fale por si só. – Reinald disse. – O cara da visão de raio x é bem gato.

- É, tem razão. É que quando penso em mutantes, logo vem o Wolverine na minha cabeça e... ECA! Não! – Lucius fez um careta de repulsa.

- Parem! – Gritei. – Olhem do que estão falando! Vocês nunca comeria os X-Men porque eles NÃO são GAYS! – Os dois param e me olharam.

Silêncio... O bom e velho sinlêncio.

Pena que não durou muito, porque Lucius teve que dizer:

- Eles não, mas o Willy Wonka é.