I said I'd never forget your face, vaulted away inside my head.

Eu estava ali, estática, no meio da cozinha. Não chorei, nem ri, nem fiz nada, sem reação. Segurando aquele pedacinho de papel entre as mãos, estática.

”Prezada senhorita Michetti,

Temos o prazer de informar que seu requerimento para estágio com o fotógrafo Tom Leishman foi APROVADO. Favor enviar a documentação necessária para o endereço(...)”

E, naquele momento, eu jurava que eu ia desmaiar. Nunca, na face da Terra, que eu imaginaria que eu, medíocre moradora duma medíocre cidade no medíocre interior seria convocada para fazer um estágio com TOM FUCKING LEISHMAN. Finalmente, meu Deus, a espera valeu a pena! Passei 18 anos da minha vida esperando algo realmente bom acontecer comigo e, de repente, minha vida dá essa volta completa! Nunca agradeci tanto pela espera. Valeu a pena.
Após alguns minutos, respirei fundo e chorei de alegria. Gritei para os meus pais desceram, e, com lágrimas nos olhos, eles me parabenizaram. Eles sabem. Meus heróis, que me criaram tão bem, me motivaram desde o começo, ah, eles sabem o quanto eu me esforcei. Porra, caralho, eu VOU PRA LONDRES! Após os abraços e as tantas lágrimas, todos se acalmaram. E, de repente, parecia que tudo estava dando certo para mim. Dali um mês, trinta dias, eu estaria no melhor lugar do universo, fazendo tudo que eu sempre quis fazer.

Após aquela noite, um turbilhão de pensamentos atravessavam minha mente. Vários sentimentos misturados também, tudo martelando em minha cabeça. Até uma pitada de arrependimento apareceu, mas, ora essa, o que estava me impedindo de simplesmente esquecer toda a merda do passado e focar no meu sonho, que finalmente estava sendo realizado? Eu sei o que. E quem. Obviamente, era ele. Eu sou patética mesmo. Após tantos anos, tantas decepções, até alegrias, eu não consigo esquece-lo. Meu melhor amigo. Que me esqueceu. Meu porto seguro. Que me deixou. Sempre ele. Todo rádio, televisão, ou qualquer coisa que seja, toda vez, era a voz dele. Que penetrava em minha alma de tal jeito, eu mal conseguia respirar. Eu juro de pé junto que eu não sou apaixonada por ele. . O queridinho da mídia, o queridinho das fãs. O mundialmente famoso, ganhador de inúmeros prêmios. O lotador de estádios, o galanteador, que arranca suspiros por onde quer que passa. Sempre ele. Que, por sinal, se esqueceu da minha existência. Rasgou nossas fotos na minha frente. Me deletou da memória. Me deixou. Eu sei que eu não deveria, mas ele sempre será o primeiro garoto por qual eu me apaixonei perdidamente. Eu não creio que eu o superei, ah, mas não mesmo. Não acho que seja assim. Você não pode simplesmente superar um sentimento. Você pode, sim, guarda-lo em algum lugar de seu coração, e deixa-lo lá, meio que esquecido e ignorado, mas ele é imortal. O amor. A merda, lixo, bosta chamada amor. Talvez seja por isso que eu me tornei uma pessoa tão fria. Eu não ligo para o amor. Tudo que esse estúpido sentimento trouxe para mim foi sofrimento e um bocado de lágrimas. Rasgou-me por dentro, arranhou minha alma, e depois me soltou. Não gosto de me apegar a ninguém por isso. Não gosto de amar ninguém que não seja algum familiar ou animal. Não gosto de amar.

Flashback On

Ele soltou aquela risada, aquela que ele sempre dava. Gostosa de ouvir, com aquele sorriso que fazia minhas pernas tremerem e meu coração esquentar. Entretanto, essa risada não era a que eu gostava de ouvir. Era uma risada debochada. Ele estava rindo de mim.

– Ah, como você consegue ser tão TOLA? Já ouviu as coisas que você diz?

Eu estava um tanto quanto chocada. Maldita mania que eu tenho de paralisar quando algo me atinge. Sou patética. Fiquei parada, o olhando, naqueles olhos claros tão bonitos, que me faziam perder o chão e esquecer de como se respirar, mas que agora só mostrava deboche, superioridade. Eu não conseguia acreditar. Só poderia ser um pesadelo. Niall Horan, meu melhor amigo, famoso? Ele não era daquele jeito, não poderia ser. Eu o conhecia bem demais. Por trás de toda aquela frieza e superioridade, eu ainda conseguia ver, a verdade. Não, não pode ser. Ele estava me deixando, realmente. Mas era só atuação. PRECISAVA ser. Eu já havia lido tantas coisas sobre isso, sobre os empresários que obrigam os artistas a fazer coisas horríveis, a mentir, a fingir até um namoro! Era só as palavras virem e minha garganta destrancar para eu falar tudo. Vamos, você consegue. Vamos, vamos, vamos...

– NIALL! ESPERE! Me perdi tanto em meus devaneios que nem percebi que já havia saído andando, e que a chuva começava a cair. Tipicamente clichê. Tipicamente doloroso. – Eu sei o que está acontecendo. – Falei, arfando após correr atrás dele, que agora me olhava um pouco confuso. Seu cabelo já estava um pouco molhado e eu via as gotas caindo em sua face perfeita. Pra mim.
– Ah, é? Nem sei o que você quer dizer com isso! Só me deixa ir embora logo. Não aguento mais.
– Dá para calar a boca e me ouvir, porra? – isso, Alícia, FINALMENTE! Quase sorri de orgulho de mim mesma por finalmente ter tomado uma atitude certa, mas não era o momento para sorrisos.
– Tá. Só fala logo. Eu to atrasado. E não vem com bobagem pra cima de mim, eu vim aqui falar tchau pra você obrigado, nem era pra eu estar aqui, eu...
– OBRIGADO O CARALHO! – aquilo havia caído como uma bomba dentro de mim. Ele soou como um babaca criancinha, que não se importava. – Você pensa que é FÁCIL, NIALL? Você é uma das pessoas mais importantes pra mim que EXISTEM! Como seria se fosse com você? Se eu chegasse pra você, do nada, e falasse ‘Hey, sou famosa agora, to vazando porque agora não vou mais me misturar com gentinha do interior como você. Tchau, babaca!’ Como você reageria? EU SEI QUE VOCÊ NÃO É ASSIM. Você é doce, educado, engraçado, preocupado, humilde, inteligente, você é uma das melhores pessoas que eu já conheci em toda minha VIDA! Haviam dias que eu levantava da cama só porque sabia que iria te ver. Você tem noção disso? Você me motivava a VIVER. Você, , nunca vai deixar de ser meu melhor amigo. Mas, de repente, tudo muda? Você ganha fama, dinheiro, e simplesmente resolve DEIXAR os que sempre estiveram ao seu lado? QUEM TE MOTIVOU A SEGUIR SEU SONHO? QUEM DISSE PRA VOCÊ IR CANTAR EM TODOS OS LUGARES E BARZINHOS DESSA MERDA DE CIDADE? Se não fosse por mim, meu amorzinho, você não estaria em lugar algum. – ele me olhava com os olhos arregalados, e, talvez fosse engano meu, mas pareciam marejados, as bochechas vermelhas devido ao frio, mas minha raiva crescente era tanta que eu sentia-me irradiando calor, nem havia percebido a chuva torrencial que agora me encharcava e se misturava com as minhas lágrimas. – E, de repente, o egoísmo toma conta de você e você vai embora. Sabe, por que eu sempre te motivei e acreditei em você? Porque você fazia o mesmo comigo. Sabe por que eu sempre ouvia você reclamando sobre o fato da sua mãe não querer te levar em lugar algum pra tentar, pelo menos, uma gravadora? Porque eu sei que você faria o mesmo por mim. E, finalmente, sabe também por que eu fui a única que não desistiu de você nunca? Porque eu te... eu te...
– Você o que? – ele parecia um tanto quanto esperançoso, se me permite dizer. Mas em poucos segundos já colocou sua máscara de egoísta e eu-não-ligo-para-ninguém novamente.

E, com isso, eu saí correndo. Foi a primeira vez que eu quase disse que amava alguém. Ele já havia dito várias vezes que me amava, mas nunca no sentido que eu gostaria de ouvir. Amizade, nada mais que isso. Só Deus sabe o quanto eu sofri em todos os anos que nós passamos juntos. O deixei ali, plantado no meio da rua, na chuva, agora, provavelmente assustado e confuso, mas eu não me importava. Por que me importaria? Ele não se importava comigo. Então, naquele dia, eu decidi que nunca mais me apaixonaria por alguém. Dói demais, é ruim demais. Despedaça. E até hoje aquela última palavra ferve em minha garganta para ser falada.

Flashback Off

Relembrei todos os momentos que já havia passado com ele, inclusive o último, mas não me permiti chorar de novo. Não por ele. Ele nem lembrava mais de mim, com certeza, então por que eu lembraria? Eu iria estar em Londres em algumas semanas, eu iria realizar meu sonho, eu iria fotografar ao lado de TOM LEISHMAN! Imediatamente lembrei que não havia ligado para minha melhor amiga, , que por sinal morava em Londres. Eu ficaria no apartamento dela, tem coisa mais maravilhosa?
– PUTA QUE PARIU, CARALHO, PORRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA – Isso foi tudo que eu ouvi após contar calmamente que havia sido chamada para o estágio. – VOCÊ VAI CONHECER ELE SUA CARALHUDA, O TOM, MEU DEUS, ELES, CACETE, MANO, MEU JESUS, VOCÊ É FODA, EU TE AMO!!!!!!!!!!!
Sorri demais ouvindo tudo aquilo, como eu estava precisando de uma dose diária de ‘Carol’ para espairecer.
– Ah, , eu to tão feliz que você nem faz ideia! EU TE AMO MUITOOO! E PUTA MERDA, QUE SAUDADES, SUA VAGABUNDA! – sempre carinhosa.
– Sim, pelo amor de Deus menina, preciso de você aqui ur-gen-te! Tantas coisas para contar...
– Bom , pode ter certeza que tempo não vai faltar. – soltei até um gritinho de felicidade após falar isso, pois finalmente a ficha caiu. Minha vida iria virar completamente, e eu finalmente me sentiria plenamente feliz. - Lindinha da minha vida, vou desligar. Fica caro a ligação. Mas não se preocupe, daqui umas semanas vou aí te apertar até você explodir! – gritei novamente, e a ouvi gritar também. Nos despedimos, desliguei o telefone, deitei na cama e apaguei.
Os dias passaram extremamente rápido, do jeito que eu queria. Quando me dei por conta, estava caminhando pelo aeroporto com todas minhas malas, já sozinha (me despedi dos meus pais e vim de táxi, odeio despedidas, mais um trauma causado por ele), e extremamente ansiosa. Quando fiz tudo que era necessário e meu voo finalmente foi chamado, a ficha caiu novamente. Era isso. Olhei pela janela do avião sentindo algumas lágrimas escorrerem, apesar de tudo, eu sentiria falta do meu Brasil. E então, finalmente, o avião decolou, e após horas eu me vi em Londres.