Okami

Cap. 01 - Translúcida

Correr, era para isso que nascera, para correr, deixar seus medos e inseguranças para trás e simplesmente correr, o cenário tão branco e imaculado a sua volta não importava, nem mesmo o frio e a dor que ameaçava tomar conta de seu peito pela cena que acabara de ver... seus companheiros, seus amigos, seus irmãos, mortos manchando de vermelho o ambiente pálido, sendo abandonados pela própria natureza.

- Achem - na! Ela não pode escapar! - Ouviu um berro a suas costas, fechou os olhos e permitiu que seu corpo voasse tamanha a velocidade que tomou, mal encostava no chão frio e sem vida, mal percebia as coisas ao seu redor.

"Guará, Jones, Tev, Shiro, Hay... por que isso foi acontecer? Por que tiveram que fazer essa loucura? Agora estão todos mortos." Pensou saltando com facilidade um tronco caído a esmo, os músculos de suas pernas não tinha descanso, assim como sua mente perturbada pelo que acabara de presenciar.

Um estouro a despertou sacudiu a cabeça e pegou um caminho que já conhecia, era mais curto, porem tortuoso e seria difícil aqueles animais a alcançarem por ali. Ouviu latidos excitados, na certa os cães de caça foram soltos em seu rastro, eles não estavam longe, conseguia ouvir as respirações ofegantes, os narizes ansiosos farejando, a corrida disputada entre eles para saber quem arrancaria um pedaço seu primeiro. Riu sem humor, aqueles bichos eram um migalha do que foram a muitas gerações, eles não mantinham nem uma pingo da dignidade característica da raça selvagem da qual originaram, haviam se vendido á aqueles seres desprezíveis... eram apenas uma vergonha.

- Pega Wolf! Mata, mutila! Queremos vê - lá em pedaços! - O líder gritou extasiado, como se aquele fosse o dia mais importante da sua vida.

  Virou a esquerda quando passou por um grande salgueiro, ignorou os barulhos que os cães a sua cola faziam e prosseguiu morro abaixo, podendo ver o riacho que apesar daquele frio permanecia em movimento. Pulou para a margem e cruzou aquela água coberta de pedaços de gelo com pressa, seus inimigos estavam se aproximando, precisava se afastar um pouco mais...

 O estalido de uma mandíbula a suas costas indicou que escapara por pouco, suspirou ao perceber que não tinha mais escolha, virou - se de repente e atacou cravando seus dentes na garganta do primeiro dos perseguidores que tomado de surpresa por sua ação suicida nem viu a morte chegar quando a artéria que principal foi dilacerada maculando o chão revolto de neve com o tom carmim de seu próprio sangue.

"Menos um pária da raça." Pensou não impressionada com o que acabara de fazer, afinal matar estava em si, era a sua essência assim como correr.

Recuperados do susto os outros três rosnaram e mostraram os dentes ameaçadores, ela não perdeu tempo avançou no mais próximo e o derrubou ombro a ombro recuando para evitar os suas presas afiadas e antes que ele levanta - se fez questão de inutilizar uma de suas pernas coisa que o fez ganir alto e os dois restantes hesitarem  por um momento, mas por fim tomaram coragem e somando suas forças a atacaram, conseguindo machuca - lá pela primeira vez, mesmo que superficialmente.

Porem isso não pareceu sobrepujar sua fúria homicida, queria sangue, queria que aqueles capangas miseráveis dos demônios que a perseguiam pagassem pelo que ajudaram a fazer, pelo que ajudaram a destruir.

Foi pensando nisso que conseguiu soltar - se deles e foi apenas por isso que deu fim naqueles dois, eliminando o que estava ferido também, afinal para os seus irmãos não fora dada nenhuma discriminação, os feridos, os doentes, os mais velhos... todos foram mortos.

"Se não fosse eu..." Começou enquanto deixava para trás os cães estraçalhados, avançou em direção a floresta que continuava daquele lado também e abaixou as orelhas instintivamente quando entrou em um grande arbusto permitindo enfim que suas pernas recebessem alguns descanso quando se deitou ali e simplesmente se concentrou em escutar.

 Por alguns minutos nada pareceu fora do normal, o silencio de uma noite de inverno tomava conta do ambiente e ela quase pode jurar que nada acontecera e que poderia voltar para junto dos companheiros a qualquer momento.

Mexeu a orelha alguns centímetros para um lado e parou, eram passos apressados, os desgraçados estavam quase chegando onde ela preparara um 'espetáculo' especial para eles. Aguardou ouvindo a respiração pesada de cada um ficando mais próxima e se pudesse teria sorrido quando o grito de frustração do implacável líder tomou conta do lugar fazendo os pássaros que dormiam próximos dali levantarem dos ninhos e se lançarem ao céu negro desorientados.

Permaneceu daquele mesmo jeito mais algum tempo, apenas observando entre os ramos verdes do arbusto o trabalho dos homens que consistiu em pragueja - lá, pegar seus preciosos cães e coloca - los dentro de uma cova coletiva, um luxo se comparado aos seus irmãos que acabariam no estomago de algum animal carniceiro.

 Quando eles se afastaram resignados com a derrota, levantou do chão pouco caso dando para neve que grudou em seu corpo e deu as costas aquela cena, era sorte deles que não lhe fora permitido matar humanos e por mais que sua família tivesse sido praticamente exterminada, ela seguia as diretrizes deles, porem quando a liberassem para matar, teria o maior prazer em voltar ali e acertar as contas com aquele grupo.

   Caminhou protegida pelas sombras da floresta até achar a toca, estava planejando deitar ali e dormir até o amanhecer, mas o que viu lá dentro lhe tirou todo o cansaço que sentia, nem todos haviam ido combater os cupinchas dos templários.

- Bucky! - Chamou em um tom aliviado, ao passo que o nomeado ergueu a cabeça e quando a viu parou de tremer.

"- Fiquei com tanto medo que me deixaram aqui... onde estão os outros mana?" - Perguntou ao vê - lá se aproximar e sem aviso deitar no chão de terra, pela falta de resposta dela pode concluir o que acontecera. - "Vamos embora de novo?"

- Sim, amanhã de manhã. - Avisou permitindo que ele se aconchega - se junto de si e quando viu que apesar de tudo ele se sentia seguro ao seu lado rolou os olhos admitindo que valera a pena não ter se entregado ao inimigo de bandeja como pensara em fazer quando a matança começara.

 Pousou o queixo próximo a ele e permitiu - se descansar, mesmo que parcialmente, pois mantinha - se alerta para qualquer perigo, afinal o pequeno ser consigo, precisava da proteção dela agora que não tinha mais ninguém. Suspirou, ela teria que dar prosseguimento a família e não duvidava que os poucos sobreviventes não fossem começar a retornar para casa, mas tinha que partir, era perigoso demais permanecer naquele lugar, daria um jeito de defender o pequeno e continuar aquela linha de amaldiçoados, é... a vida de um Haruno não era nada fácil...