Melodia Noturna escrita por Ellie Bright


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Não sei de onde a ideia surgiu, só vim ver o resultado disso no dia seguinte, mas aqui está a fic lol



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Melodia Noturna

            -Preste atenção, Allen. –disse Mana, rabiscando um círculo na neve e depois outro, em seguida ele colocou diversos traços dentro das esferas. –Essas são as notas.

            -Notas? –reclamou Allen franzindo o cenho, lançando um olhar irritado ao mais velho. –Nunca vi nenhuma nota assim!

            Mana sorriu, os lábios estavam um pouco ressecados e as bochechas coradas por causa do frio. Allen uniu suas sobrancelhas, fazendo uma careta para o outro. Mana era tão estranho! Sempre ficava sorrindo, sempre de bom humor, mesmo quando o mundo não era bom com eles.

            -E quantas notas você já viu, Allen?

            Allen piscou. A verdade? Ele nunca viu nenhuma. Se Mana deveria saber disso? Não. Ele abriu bem os braços, mexeu no rabo de cavalo e falou com a voz alta.

            -É claro que eu já vi muitas! –disse, enquanto dava um sorriso de quem sabia das coisas. Infelizmente, não deu certo.

            O mais velho colocou a mão nos seus cabelos, afagando-os de leve, ainda mantendo aquele sorriso irritante na cara. Allen tentava tirar a mão do outro de sua cabeça e, quando menos esperava, suas bochechas sofreram um ataque dos dedos velozes de Mana. Doeu. Muito.  E Mana ria mais ainda.

            -Mentir é tão feio! –disse Mana ampliando o sorriso em seu rosto. –Você não devia contar mentiras, Allen, só os maus garotos fazem isso, e eles não ganham presente do papai Noel!

            O pequeno tentava morder os dedos de Mana enquanto lutava para se afastar dos braços do outro, agora era seu rosto que estava vermelho, pela raiva e pela vergonha de ser pego em flagrante. Não que ele soubesse exatamente bem o que era um flagrante, mas sabia que papai Noel, aquele velho pançudo de vermelho, pegava crianças más no flagrante e não lhes dava presentes. Allen queria presentes!

            -Que?! –reclamou ele. –Não é mentira...!

            -Você nunca olha nos meus olhos quando mente, e mexe no cabelo, antes de sorrir pensando que eu não sei, mas eu sei! Você fica tão fofinho que não tem como eu não sabe...

            -Para de dizer coisa besta! –reclamou Allen cada vez mais vermelho, enquanto tentava escapar de um novo ataque de Mana. –‘Tá, essas são notas! Pra que eu preciso saber de notas?

            -Porque o dia foi bom para gente hoje e eu quero ouvir música! – respondeu Mana com uma empolgação que não chegou a contagiar o pequeno.

            -Só por isso! – exclamou o garotinho com raiva.

Mana gargalhou e depois se sentou no chão gelado, rabiscando mais alguns traços ao redor dos círculos. A cada novo rabisco, ele cantarolava alguma coisa, olhando para ele de vez em quando. Allen ficou sério, depois olhou dos círculos no chão até o rosto do mais velho, ainda desconfiado. Mana sorria tranquilamente, parecia até meio bobo. O pequeno se sentou no chão, sentindo seu bumbum ficar imediatamente gelado, mas ele prestava atenção ao mais velho. Aos pouquinhos, ele aprendia a cantarolar conforme os símbolos no chão, e uma melodia lhe veio em mente.

            Allen começou a cantar quase que sem perceber.

And then the boy falls asleep

The flame inside the breathing ashes. One. Than two.

The floating swelling the dear profile

Thousand of dreams, dreams, that pour on the earth…

            O pequeno Allen virou-se para encarar Mana, mas ao lado dele estava um Akuma. O Akuma que ele fez ao chamar Mana de volta para uma subvida.

            E Allen finalmente conseguiu acordar, mas, apesar de tomado pelo terror, ele não conseguiu gritar dessa vez. Ele arregalou o olhar até conseguir enxergar o teto de madeira do seu quarto, logo em seguida vendo uma bolinha dourada voar em círculos sobre sua cabeça. Ele tentou acalmar seus batimentos cardíacos e normalizar sua respiração.

            -Tim... –murmurou Allen. O pequeno golem dourado parou de voar em círculos ficando a sua frente. Allen sorriu. –Está tudo bem.

            Apesar de seu quarto estar escuro, Allen conseguiu enxergar o pequeno ponto de interrogação que Tim fez em seu corpo. O sorriso de Allen são não ficou maior porque ele se lembrou do treinamento dado pelo demônio, para que ele finalmente adquirisse aquela habilidade de enxergar no escuro. O general Cross Marian ‘apenas’ o jogou nas galerias de esgoto parisiense com um exército de akumas; Allen francamente ainda não sabia como é que saiu de lá vivo, parecia um labirinto infindável! E depois teve o mausoléu na Dinamarca que...

            Allen estremeceu de leve ao ter aquelas recordações cruéis após um pesadelo... Que ele já não conseguia lembrar. Os dentes pontiagudos de Timcampy se fecharam dolorosamente contra sua orelha e ele gemeu de dor.

            -Eu estou bem! Eu estou bem! –gemeu Allen até o pequeno golem soltá-lo e voltar a voar livremente pelo quarto. –Você não gosta mesmo de ser ignorado, não?

            O agora adolescente de quinze anos olhou para o relógio em cima do criado mudo, vendo que eram três da manhã. Allen suspirou, durante algum tempo, ele ainda tentou lembrar sobre o que sonhara. Ele recordava que o início do sonho envolvia Mana, mas depois tudo virava um imenso branco em sua mente. Pensar em Mana era tão doloroso quanto um vício proibido que ele não conseguia evitar ou superar. Havia tantas recordações e tanta dor, e também havia felicidade nisso tudo.

Allen tentou virar para o lado e dormir, mas o sono não chegava nunca. Ele sentia tanta falta de Mana às vezes. O primeiro lugar seguro de verdade foi ao lado de Mana, não que as coisas fossem sempre boas, havia momentos ruins, mas ainda assim, eram mais seguras do que sua vida atual. Allen não gostava muito de pensar sobre isso, mas às vezes, como em momentos como aquele, ele se confrontava que era feliz e simplesmente não dava valor. Não dava o devido valor a Mana e ao que os dois eram.

Mas isso não era o pior: o pior era saber que ele transformou Mana em um Akuma, e nunca tinha dito o quanto ser aceito por alguém lhe foi precioso. Esse era um de seus grandes ressentimentos na vida. De certa forma, agir como Mana foi seu único meio de auto-punição, para relembrá-lo sempre do seu erro, para não ficar longe do outro. Para não ser sozinho.

 “Eu não quero pensar nisso. Não agora.” Pensou Allen, virando-se novamente na cama. Ele estava sem sono, tentou imaginar um quadro feliz, onde Jerry lhe fazia uma surpresa, ao colocar em uma das mesas do refeitório grandes quantidades de seus pratos favoritos. Sua mente, porém, insistia em mantê-lo reflexivo. Afinal, ser como Mana foi acabou sendo parte do que ele é agora como pessoa. Todos usam máscaras e uma mentira dita muitas vezes vira uma meia-verdade. Não que deixasse de ser uma farsa. Então, seguindo nessa linha de pensamento, ele era uma farsa.

-Já chega! –reclamou Allen se erguendo da cama. Tim, que tinha voado até a cama e ido se deitar ao seu lado, voltou a voar pelo quarto. –Vou caminhar!

Uma vez fora do quarto, Allen não sabia exatamente aonde devia ir. Ele tirou Tim de sua cabeça e estava apertando o pequeno golem enquanto pensava onde poderia ir, quando sua barriga roncou e ele decidiu tomar um copo de leite. Talvez comer alguns biscoitos. Comida sempre o distraia. Então ele tomou o caminho da cozinha, atravessando os corredores parcialmente escuros da ordem, volta e meia encontrando um ou outro integrante que trabalhava pelo período noturno. Ninguém parava por muito tempo, até porque o Conde, onde quer que estivesse, não parava.

Era uma guerra, pessoas lutariam e morreriam, mesmo as que sobrevivessem nunca mais seriam as mesmas, e todos os lados, independentemente qual seja o vencedor, sofrerá baixas.

Quando estava com seu shishou, Allen chegou a ver guerras. Ele tinha quatorze anos e se lembrava bem das palavras do demônio: “observe”. Ele obedeceu aquela ordem, ignorando completamente o ‘consolo’ que seu mestre oferecia algumas viúvas bonitas, mas observou a destruição que só uma guerra é capaz de causar. Pessoas ricas empobreciam, os pobres ficavam ainda mais miseráveis. Os homens eram retirados de suas famílias forçosamente, às vezes, até os meninos de sua idade precisavam ir. As mulheres e os velhos ficavam nas aldeias se lamentando, todos muito pobres e em um eterno luto.

Agora ele era um soldado de uma guerra sem proporções. Ele era um exorcista, matar akumas era sua função; ele deveria lutar por um mundo onde menos pessoas sofressem, onde mais almas pudessem serem abençoadas pela inocência e conseguirem ser livres. Mas, Allen pensava agora, quanto desse sonho era dele? E quanto dessa obrigação era apenas culpa pelo que ele fizera a Mana?

Ele estava tão distraído que sequer notara que estava na cozinha e topou com alguém. Ao erguer o olhar, ele teve pouquíssimo tempo para escapar da lâmina afiada que Kanda apontava para ele.

-Moayashi...! –sibilou o japonês com a raiva. Havia olheiras ao redor dos olhos do outro, que vestia o uniforme de exorcista. Provavelmente acabara de chegar de viagem. –Saia...!

-Kanda...! –murmurou Allen saindo do caminho do outro exorcista.

Analisando bem, Kanda segurava uma bandeja com soba, sua postura estava um pouco encurvada enquanto caminhava. E, bem, talvez fosse uma ilusão de Allen, mas ele conseguia ver uma aura negra ao redor do outro exorcista. Era notável que Kanda não estava apenas com seu mau humor matinal, mas visivelmente cansado. Devia ter chegado de uma missão, ia jantar, tomar banho e dormir.

Allen foi até a cantina pegou leite e uma fatia de bolo e, como quem nada quisesse, se sentou na mesma mesa que Kanda, mesmo que o refeitório estivesse praticamente vazio.

O outro exorcista lhe lançou um olhar mal encarado, provavelmente desconfiado de suas boas intenções, depois observando o refeitório vazio. Allen ignorou o comportamento arredio de Kanda e pegou um pedaço do bolo, sentindo o sabor adocicado de coco a cada vez que mastigava.

-O que você faz aqui? –inquiriu o outro com a voz gelada e a raiva ainda no olhar.

Allen às vezes não entendia como uma pessoa tão bonita como Kanda poderia parecer um demônio às vezes. Mas, bem, Kanda era apenas temperamental, o inferno era regido e administrado por Cross Marian, o senhor supremo de todas as malvadezas. Perto dele, Kanda parecia apenas um gatinho indefeso e muito mal humorado com quem Allen gostava de brincar.

-Comendo. –respondeu ele com um sorriso provocador de conflitos. –Quer um pedaço?

Kanda franziu o cenho, mordendo o lábio inferior, provavelmente em uma tentativa falha de conter palavras de baixo calão, não que adiantasse muito. Os olhos se estreitaram ainda mais, ainda cintilando enraivecidos. Allen notava que pequenas veias latejavam próximas a têmpora de Kanda, indicando que os níveis de raiva do outro se elevavam paulatinamente. De algum modo, a raiva de Kanda fazia com que ele também sentisse raiva, mas de um modo positivo, porque ele finalmente conseguira evitar a corrente de pensamentos anteriores.

-Até parece que eu comeria algo tão doce! –resmungou Kanda ignorando completamente o seu jantar, para lhe dar mais alguns olhares mortíferos.

Allen deixou um sorrisinho prepotente ornar seu rosto, apenas para irritar ainda mais o amigo exorcista irritadinho ao seu lado. Timcampy perseguia o golem de Kanda pelo refeitório, provavelmente, tentando devorá-lo. Allen não se importaria muito, se isso acontecesse, afinal as coisas refletem a personalidade de seus donos. O golem de Kanda deveria ser uma coisinha irritadinha e Tim merecia um brinquedo desses também.

-É por isso que você é essa pessoa amarga! –retrucou Allen, pegando mais uma colher do seu bolo e comendo, sem querer sujando seu rosto com um pouco da calda. –Aposto que não comeria doce nem se quisesse, porque amargo como você é...

-Ora seu...! –resmungou Kanda com raiva, interrompendo-o e depois fazendo algo surpreendente.

Kanda o puxou e depois lambeu o pouco da calda que estava próximo da sua bochecha. Simples assim. Allen piscou uma. Duas. Três vezes até compreender a situação, mas não conseguindo acreditar que Kanda Yuu simplesmente o lambeu! Nem o próprio Kanda deve ter acreditado no que fez, apesar de estar agindo como um bastardo.

-Doce demais! –resmungou Kanda se afastando dele enquanto fazia uma careta embravecida.

-O que você fez...? Não se pode... !

Allen só se tempo de notar poucas coisas: ele ainda estava falando com Kanda quando sentiu uma pancada na cabeça que lhe fez ir para frente e depois percebeu que sua boca acidentalmente pousara sobre os lábios do outro exorcista. Os lábios do outro estavam entreabertos, assim como os seus e ele sentiu o sabor da calda do bolo, bem como a textura da boca de Kanda. Naquele momento ele até conseguiu lembrar uma das melodias que ele e Mana criaram, um toque de piano suave, até mesmo romântico. E então seu mundo entrou em foco com os olhos raivosos de Kanda tão próximos do seu rosto.

Ele estava beijando Kanda Yuu. Um homem. Urg.

Imediatamente ele se afastou de Kanda, tentando limpar sua boca, cuspindo os fragmentos do bolo. Kanda fazia o mesmo do outro lado.

-Moyashi... Eu vou matar você! –berrou Kanda, voltando ao instinto assassino habitual. –Morra!

O exorcista de longas madeixas negras sacou a espada, brandindo-a com toda a força em cima de Allen, que precisou ativar seu braço esquerdo para se defender do ataque de Kanda.

-Foi você quem começou! –retrucou Allen sentindo seu rosto ficar quente com a lembrança da língua de Kanda sobre sua bochecha e depois o malfadado beijo da discórdia. –Você quem abusou de mim, desgraçado!

-Não fale alto, Moyashi idiota! –rebateu Kanda ainda tentando acertá-lo com a espada, Allen pulou para longe do alcance da Mugen, mas a pobre mesa que foi atingida pelo ataque se partiu em dois. –Hoje você morre, desgraçado!

E os dois provavelmente teriam se matado, se Jerry não tivesse uma mira excepcional e uma frigideira realmente poderosa. O cozinheiro mais do que apartá-los, ainda lhes obrigou a reparem os danos no refeitório tendo que ajudar na cozinha, mas em turnos separados. Kanda foi dispensado àquela noite, mas Allen teve uma pilha de pratos sujos para encarar.

Todavia, graças ao infeliz beijo de instantes atrás, Allen conseguiu evitar a torrente de pensamentos e lembranças referentes a Mana, ou mesmo ao treinamento horrível que teve com Cross. Apesar de que, inconscientemente, ele cantarolasse uma melodia enquanto lavava os pratos as três da manhã.

Algo que apenas ele e Mana conheciam. O código deles. Mas que, por hora, era relacionado a Kanda Yuu, e seus lábios surpreendentemente doces.


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Notas finais do capítulo

Por algum motivo alheio ao meu conhecimento, minhas fics de DGM parecem psicografadas porque eu nunca lembro de quando elas surgiram, apenas as encontro no dia seguinte prontas. Mesmo assim, eu espero que tenham gostado. lol
Adoraria receber reviews pra saber o que vocês acharam disso ou se há algo onde eu possa melhorar. n.n