Ao acordar na manhã seguinte, Barbara nota que Renato continuava dormindo ao seu lado. O olha de cima a baixo e sorri, ainda lembrando-se de cada detalhe da noite passada. Levanta com cuidado, pega as peças de roupa que foram espalhadas pelo quarto na noite anterior e as veste, indo até o banheiro. Após realizar sua higiene matinal se olha no espelho. Seus olhos brilhavam de uma forma que ela mesma há muito tempo não via. Sabia que o responsável de boa parte daquele brilho era Renato. Sorriu e foi para a cozinha fazer algo para comerem assim que ele acordasse.

Abriu a geladeira e tirou algumas coisas de lá, indo em seguida para o armário. Perdida em meio a seus pensamentos, olhava o que tinha lá enquanto segurava as portas. Estava tão concentrada que sequer se deu conta que Renato se aproximava, o que fez com que levasse o maior susto quando ele a abraçou por trás.

– Acho que assustei alguém - diz rindo e beijando seu pescoço em seguida.

– Acha? - diz sarcástica.

– Ainda é cedo, porque levantou da cama?

– Pra fazer alguma coisa pra gente comer. Não está com fome?

– Um pouco.

– Vou fazer alguma coisa pra gente então.

– Quer ajuda?

– Sério? Eu quero!

Com alguns ingredientes escolhidos eles decidem fazer panquecas. No inicio tudo parecia que seguiria conforme o planejado, mas em pouco tempo quando se deram conta estavam sujos de farinha e mais uma vez na cama.

– Acabou que não comemos nada.

– Bom, aí depende do ponto de vista...

– Renato!

Ele dá uma gargalhada e envolve Barbara em seus braços, se posicionando na cama de uma maneira em que seu tronco fique sobre ela.

– Já pensou alguma vez em acordar assim todos os dias?

– Suja de farinha? - brinca, fazendo Renato rir.

– Pode ser também, mas me refiro a acordar todos os dias comigo.

Barbara sente o rosto esquentar. Renato percebe a namorada ficando vermelha e a beija.

– Não precisa ficar com vergonha se a resposta for não.

– Não, quer dizer, a resposta não é não!

– Calma Babi, respira. - diz brincando com ela.

Ela ri, respira fundo e o olha nos olhos.

– Claro que já pensei. Muitas vezes. Na verdade acordei hoje pensando nisso.

– E se fazermos com que deixe de ser apenas um pensamento nosso?

– Como assim?

– Do pensamento pro mundo real.

– Você está brincando ou falando sério?

– Sério. Por quê?

– Não sei. Não acha que ainda é cedo demais?

– Cedo demais por quê?

– Ah... Ontem foi a primeira vez que a gente...

– E você acha que um casal só se pode pensar no futuro depois de rolar sexo?

– Não é isso, mas não quero dar o passo maior que a perna Re. Não quero assustar você. Fazer você entrar nas minhas fantasias, nas minhas idealizações sem nem saber se você quer isso entende? Já ouviu o ditado que diz que quanto maior a árvore maior o tombo?

– Já. E você já ouviu o que diz que se você cair da árvore eu vou estar lá embaixo pra segurar você, porque essa árvore é tão minha quanto sua?

– Na verdade não...

– Eu sei, porque acabei de inventar esse. - diz rindo. - Mas acho que mesmo assim você entendeu o que quis dizer.

– Estou com medo de ter entendido errado.

Renato senta na cama e faz com que Barbara faça o mesmo, ficando de frente pra ele.

– Eu penso nisso do mesmo jeito que você, há muito tempo Barbara, muito mesmo, desde o dia que pedi pra namorar você eu já pensava nessa possibilidade e a cada dia que passava eu pensava mais e mais e ainda continuo pensando. Melhor, querendo. Por mim esse pensamento já pode deixar de ser só um planejamento futuro e se tornar algo pra agora, pro presente.

– Do jeito que você está falando parece até que você quer morar comigo.

– Não parece, eu quero.

Barbara fica estática. Abre a boca algumas vezes, mas as palavras não saem. Renato segura sua mão e entrelaça seus dedos.

– Lembra quando te falei de mudanças boas daqui pra frente? Essa é uma delas. Só depende de você.

Ela fica pensativa por um tempo.

– Você não está falando isso só porque sabe que quando a Raquel casar vou ter que sair daqui não é?

– Não. Inclusive conversei com a Raquel sobre isso.

– O que conversaram?

– Talvez fique brava comigo, mas espero que me entenda.

Renato conta toda a conversa que teve com Raquel, inclusive que foi dele a ideia de tirar os anúncios sobre a vaga no apartamento. Ao contrário do que pensou Barbara não ficou nervosa. Ouviu tudo atentamente e sem interromper.

– Do mesmo jeito que falei pra ela, repito pra você. Não acho bacana dividir apartamento com alguém que você nem sabe quem é. Com ela foi diferente porque já eram amigas.

– Na verdade eu nem tinha pensado por esse lado.

– E também como falei se quiser te ajudo a procurar um apartamento menor pra não ter que rachar despesas com estranhos, mas isso só se for muito desagradável pra você morar comigo.

– Então se eu não quiser morar com você vai me ajudar a ver outro lugar?

– Vou. Só quero que você fique bem, E mesmo querendo muito que você venha morar comigo, pode ficar tranquila, não vou forçar a barra pra você aceitar. A decisão seja qual for será inteiramente sua.

Ela olha pra ele e aperta sua mão.

– Ouvir essas coisas de você é como estar vivendo um sonho. Mas estou com medo de cair da cama e acordar. Eu quero Re, mas ao mesmo tempo querendo estou me sentindo um pouco perdida agora.

– Quer um tempo pra pensar e amadurecer a ideia?

– Quero. Não vai ficar chateado?

– Vou ficar se fizer alguma coisa sem pensar no que você realmente quer.

– Certo. Ainda tem alguns dias até o casamento da Raquel. Vou usar esses dias pra pensar.

– Só tenta não dar a resposta no dia do casamento tá?

– Pode ficar tranquilo, será bem antes disso. - diz rindo e o beijando.

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Uma semana depois

– Hoje é a última prova do vestido. Vem comigo Bah?

– Lógico.

No caminho até o ateliê, as amigas vão conversando sobre o casamento e tudo mais. Raquel não cabia em sí de tanta alegria.

– Em poucos dias serei uma mulher casada. Que máximo!

– Pois é. E em poucos dias não vamos vai dividir o apê... Vou sentir saudades.

– Eu também vou, mas só vamos morar em casas diferentes, não significa que não vamos mais nos ver... Não é?!

– Claro que vamos continuar nos vendo, afinal eu seria uma madrinha muito desnaturada se depois do casamento desaparecesse da sua vida.

Elas conversam mais algumas banalidades até que Barbara entra em um novo assunto.

– Você se lembra da proposta que o Renato me fez não é?

– De morar com ele? Claro que lembro. Aliás, já que tocou no assunto, não ficou mesmo com raiva de mim por ter sumido com os anúncios né?

– Não, nem de você e nem dele. Consegui entender o lado dos dois.

– Que bom. - diz Raquel aliviada - Desculpe por te cortar, pode continuar.

– Então, já decidi o que vou fazer.

– Vai aceitar?! - pergunta em tom de animação e expectativa.

– Vou.

Raquel não contém a alegria, dando gritinhos e pequenos pulinhos mesmo estando sentada dentro do carro, o que faz Barbara rir com a cena.

– E ele já sabe?

– Não, vou falar com ele hoje. Vai que ele mudou de ideia!

– O Renato mudar de ideia? Ainda mais com algo ligado a você? Duvido! Se bobear mesmo durante esse tempo que ele esperou você se decidir já deve ter feito umas adaptações na casa, especialmente no quarto.

– Palhaça. - Diz rindo - Eu gosto dele Raquel. Aliás, gostar não. Amo o Renato, amo de um jeito que achava nunca mais amar de novo sabe? Na verdade nunca amei ninguém do jeito que amo aquele cara.

– Isso é ótimo Bah. Você merece ser feliz, ele também. Vocês se completam de um jeito único.

Barbara sorri tímida, mas a tensão é evidente no sorriso. Raquel nota, mas sequer precisou perguntar, a amiga explicou o motivo.

– Mesmo com tudo isso eu tenho medo de não dar certo. Morar junto é um passo e tanto. Praticamente um casamento.

– Acredite quando digo que te entendo, mais do que você imagina. Também estou morrendo de medo. Sei que casamento não é conto de fadas e nem sempre será um mar de rosas, mesmo que fosse rosas têm espinhos também. Mas vou desistir do amor da minha vida por medo e insegurança?

Barbara continua dirigindo, mas presta atenção em cada palavra da amiga.

– Mesmo que não diga abertamente pra mim como estou dizendo pra você, tenho certeza que o Everton tem esses mesmos medos e inseguranças que eu. E tem mais, provavelmente até o Renato tenha. Mas do mesmo jeito que vou enfrentar essas inseguranças com o Everton, você vai enfrentar as suas com o Renato. Em resumo, um vai ajudar o outro a recomeçar do zero, uma nova vida juntos.

Barbara para o carro no farol e olha a amiga.

– Nossa, o casamento está te deixando tão sábia...

Raquel ri.

– Um pouquinho vai...

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Mais tarde naquele mesmo dia Barbara liga para Renato e ambos combinam de sair para comer fora. O local escolhido foi o mesmo restaurante onde Everton pediu Raquel em casamento.

Barbara diz que vai para a casa de Renato e de lá vão ao restaurante. Ele concorda, até porque coincidia justamente com o rodízio da placa de seu carro.

Ao chegar na hora combinada, Barbara nota que Renato ainda não estava pronto.

– Não está pronto? Não acredito! Vai chover hoje. - diz rindo.

– Aprendi com você bobona. - diz lhe dando um selinho.

– Sei...

– Fique sabendo que já estava pronto, mas fiz o favor de manchar a camisa de graxa e só agora vi que a mancha não saiu. Vou colocar outra camisa rapidinho, aí podemos ir.

Barbara concorda enquanto vê o namorado ir para o quarto. Sem que ele perceba, ela o segue e fica parada a porta enquanto vê Renato pegar uma camisa de flanela xadrez nas cores azul e vermelho. Ele veste a camisa rapidamente e com destreza abotoa os botões um a um. Barbara o olhava encantada, como se fosse a primeira vez que o via na vida.

Após abotoar o último botão Renato levanta a cabeça e se depara com Barbara o olhando com um sorriso bobo e o rosto levemente corado.

– O que foi? - pergunta ele também com um sorriso de lado enquanto arrumava as mangas da camisa.

– Nada não. Só estava pensando em como vai ser.

– Como vai ser o que?

– Quando eu vir morar aqui, onde vou dormir? Sua cama é pequena pra nós dois.

– Só comprar uma maior e... - ela trava no meio da frase, o que faz Barbara rir enquanto se aproxima dele.

– Você já pensou então? Vai vir morar comigo?

– Se você não tiver mudado de ideia sobre o assunto, a resposta é sim.

– Mudar de ideia? Até parece! - diz a abraçando pela cintura e lhe dando um beijo no pescoço. - Quando vai se mudar de vez? Hoje? Agora?

– Calma amor - diz rindo - Tenho que arrumar minhas coisas, você as suas e por aí vai.

– Eu sei, só estou enchendo seu saco. Só de saber que você vem morar comigo já me deixa mais tranquilo. Podemos começar a arrumar as coisas amanhã se você quiser.

– Combinado! Mas agora podemos ir? Estou morrendo de fome!

– Dois. - diz lhe dando um beijo rápido e a guiando até a porta.