Sem Medo De Recomeçar escrita por Nyne


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Como prometido e pra quem duvidou, aqui estou de novo, com um capítulo fresquinho e enfim o segredo da Barbara revelado.
Ótima leitura!



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Barbara respira fundo e começa. De inicio contou a mesma versão que havia contado para Raquel assim que se conheceram. Renato ouvia sem interromper.

Em determinado momento Barbara para. Fecha os olhos e Renato nota uma lágrima escorrer.

– Está tudo bem se não quiser falar mais nada, vou entender. Melhor, já entendi.

– Não! - diz de uma vez.

Renato olha espantado aquela reação.

– Eu menti. Até agora tudo o que contei foi mentira, uma história que inventei pra amenizar as coisas, minha vergonha, tudo!

– Mentiu em que?

– Em tudo. Essa história que acabei de contar também contei pra Raquel quando nos conhecemos, pra ela ganhar minha confiança e também falar sobre o passado dela, pra uma poder ajudar a outra... Mas essa história não existiu.

Renato agora parecia confuso e também nervoso. Soltou a mão de Barbara e levantou, indo para um canto da sala.

– Você veio até aqui pra me contar uma história sobre seu passado, que você mesma diz te ferir e em seguida diz que é mentira? E ainda admite que mentiu pra sua amiga com o mesmo papo? Qual é a sua afinal Barbara?

Ela já não continha as lágrimas, mas falava em um tom alto, quase gritando.

– Eu admito que menti sim Renato, mas isso me fez sentir mal, pois não estava sendo justa com ela... E muito menos com você. Mas decidi colocar um ponto final nisso tudo. Com ela já coloquei, contei a verdade.

– Verdade... Será mesmo? - diz com ironia.

– Sim, toda a verdade. Com ela apesar de tudo acho que ainda foi mais fácil do que vai ser com você...

– E por quê? Qual a diferença?

A jovem se levanta do sofá e se dirige a Renato aos berros.

– Porque eu amo você. Amo você e tenho medo que depois de saber a verdade nua e crua você termine tudo comigo e me veja como uma qualquer, como uma... Vadia!

Após dizer tais palavras Barbara sente como se tivesse perdido todas as forças que sustentavam seu corpo. Perde o domínio das pernas e acaba caindo de joelhos, escondendo o rosto entre as mãos.

Aquilo fez Renato se sentir mal. Ela não poderia estar fingindo. O que ele via diante de si não era uma atuação, era uma verdadeira demonstração de dor.

Barbara chorava e soluçava pesadamente quando sentiu mãos erguendo seu rosto.

Ajoelhado diante dela, Renato tirou seus óculos e com os polegares secou seu rosto.

– Eu quero te ouvir Barbara, mas você precisa confiar em mim. Pra se ter confiança entre duas pessoas não pode haver mentiras.

– Eu sei, por isso estou aqui, pra te contar a única verdade...

– Sem mentiras? Promete que não vai esconder nada, que não vai me poupar de nada?

Ela acena positivamente com a cabeça, ainda soluçando.

– Tem certeza que é a verdade nua e crua que você quer?

– Certeza absoluta. E não precisa ficar com medo. Não vou a lugar nenhum.

– Diz isso porque ainda ignora os fatos...

Renato segura o rosto dela e a encara nos olhos.

– Não. Digo isso porque é a verdade. Não vou a lugar nenhum nem agora e nem depois. Não vou deixar você seja qual for a história que me conte. Quando você vai entender de uma vez por todas que eu te amo e o seu passado não vai mudar isso?

Ele se levanta e ajuda Barbara a fazer o mesmo, guiando ambos até o sofá novamente.

– Mais calma?

– Acho que sim.

– Pode começar então.

Ela respira fundo e começa a estralar os dedos. Renato segura sua mão novamente.

– Sem medo. Pode confiar em mim.

Ela o olha e então abaixa a cabeça. Leva alguns segundos até começar a falar.

– Voltei pra cidade há pouco tempo. Eu sempre morei aqui, mas fiquei alguns anos no interior. Fui pra lá pra me esconder.

– De que? Ou de quem?

– De todo mundo...

Renato franziu o cenho.

– Como assim?

Ela levantou a cabeça para poder olhar no rosto do rapaz, mas não ficou por muito tempo assim.

– Quando tinha dezoito anos comecei a namorar um cara. Conheci ele pela internet. Amigo de amigos sabe?!

– Sei. Então esse cara existiu mesmo, era seu noivo certo?

– Não. Quer dizer, ele existiu, mas o noivado não. Não passou nem perto disso.

– Ficou quanto tempo com ele?

– Quase seis meses. Foi aí que tudo aconteceu.

FLASH BACK ON

Comecei a notar o pessoal do bairro onde eu morava na época cochichando sempre que eu passava por eles. Ficavam me olhando torto, de forma estranha. Alguns disfarçavam, outros não faziam a menor questão.

“- Olha, é ela!"

“- Corajosa de sair na rua depois disso".

"- Tadinha..."

“- Tadinha coisa nenhuma, acha que ela não sabia?”

“- Se bobear a ideia foi dela!"

Eu não entendia nada, cheguei até a acreditar que era eu mesma que estava inventando coisas, vendo situações aonde não tinha. Aí um dia quando estava numa boa em casa, a campainha tocou, mas desesperadamente, várias vezes seguidas. Corri pra ver quem era o maluco e dei de cara com um vizinho que também era meu amigo na época.

– Calma Will, onde é o incêndio? - disse brincando.

– Barbara, você precisa inventar alguma coisa e ficar um tempo fora daqui, e levar seus pais com você antes que as coisas piorem!

– Ficar fora e levar meus pais junto? Porque isso agora?

– Como assim porque, você não viu?

– Vi o que Wilson?

Ele pegou o celular no bolso, mexeu em alguma coisa e me deu.

– Não queria que você visse isso... Desculpa Bah.

De inicio não entendi direito. Pra mim era só um vídeo amador de um casal em um momento de... Intimidade. Quando olhei melhor percebi que conhecia o cara no vídeo. Pior que isso, conhecia a menina no vídeo. Era eu.

Joguei o celular em cima do meu amigo, enojada.

– Quem mais viu isso Wilson?

– Muita gente. Recebi hoje de manhã. Já é quase um viral Bah.

– Filho da puta! Não acredito que o Iago fez isso comigo, não acredito! Minha mãe Will, e se minha mãe ver isso? Meu Deus, meu pai!

– Eu sei Bah, por isso vim aqui falar pra você ficar fora por uns tempos, até a poeira abaixar. Logo vão esquecer, esses virais aparecem toda hora.

– Como vou fazer isso Wiil? Do nada sair daqui e levar meus pais junto? Que explicação vou dar?

– Eu já pensei nisso. Você pode dizer que ganhou uma promoção, uma viajem com acompanhante.

– Eles não vão acreditar... E mesmo que acreditem, da onde vou tirar dinheiro pra isso?

– Eu ajudo você.

– Como?

– Trabalho em uma agencia de viagens esqueceu? Vejo algum mini cruzeiro ou alguma coisa do tipo pra vocês. Pego no meu nome e você vai me pagando parcelado por mês. É a única coisa que me vem na cabeça agora. Se você topar, vamos na agencia agora e já arrumamos tudo.

Eu não conseguia pensar, queria apenas evitar o desgosto dos meus pais de verem aquilo.

– Ok, vamos ver isso agora!

FLASH BACK OFF

Barbara ainda não conseguia olhar por muito tempo para Renato. O fazia por breves instantes até baixar o olhar novamente.

Ele compreendia. Aquela história deveria doer muito ao ser lembrada.

– Seus pais acreditaram no papo de ganhar uma promoção assim do nada?

– No inicio não, mas quando viram as passagens ficou mais fácil. Esse meu amigo conseguiu um cruzeiro de sete dias. Com esse esquema de premiação e tal o trabalho dos meus pais não foi prejudicado, graças a Deus. O Wilson achava que seria tempo suficiente pra esquecerem ou para aparecer algo novo e mais chamativo. Meus pais foram e eu fiquei.

Renato apertou um pouco a mão de Barbara.

– Por quê?

– Estava desesperada e com muita vergonha. Vergonha e nojo de mim. Mas tinha que encarar aquele desgraçado, saber o porquê dele ter agido daquele jeito comigo.

– Vocês conversaram depois disso então?

– Sim. Pedi pro Wilson ir comigo e ele como um bom amigo foi, mesmo dizendo que seria melhor não.

Eu toquei a campainha normalmente. Uma mulher, que mais tarde descobri ser a mãe do Iago abriu a porta. Entrei feito um tiro e fui direto pro quarto dele. Só pra variar estava lá, deitado na cama, jogando vídeo game. O mundo desabando na minha cabeça e ele agindo como se nada tivesse acontecido.

FLASH BACK ON

– Maldito, desgraçado, porque fez isso comigo?

– Isso o que? Não sei do que você está falando...

– Não se faça de idiota Iago. Você filmou a gente... Você filmou a nossa primeira vez e saiu divulgando pra quem quisesse ver.

– Calma, não foi bem assim...

– Desgraçado, maldito! - dizia Barbara enquanto ia pra cima de Iago, mas Will a segurou - Ainda tem a cara de pau de dizer que não foi bem assim?!

– Não foi a nossa primeira vez pra começo de conversa. Foi a "sua" primeira vez. E também sempre tive curiosidade de gravar um vídeo assim. Meus amigos sempre fizeram e mostravam pra galera, só eu que não tinha um vídeo desses.

– E resolveu fazer comigo seu filho da puta!?

– Normal ué, era com você que estava namorando!

Barbara já havia notado que foi apenas um brinquedo nas mãos de Iago, mas ouvir sobre o relacionamento deles já no passado deu um nó em sua garganta.

– Mostrei pra eles e falei que você era virgem. Ninguém acreditou, porque quase não existe mais isso hoje em dia, acho até que foi por isso que o vídeo fez tanto sucesso. Algum deles deve ter feito uma cópia e saiu mostrando pra geral aí, não foi culpa minha.

– Você não é homem cara... - disse Wilson.

– Sou mais homem que você, que, aliás, nunca vi com mulher nenhuma, nem deve curtir a fruta...

Barbara se aproveitou da distração de Wilson e se soltou, dando um tapa na cara de Iago. Suas unhas eram compridas na época, o que fez com que três vergões vermelhos ficassem bem visíveis na pele do rapaz.

– Como você pode fazer isso comigo Iago? Eu amava você, tinha planos com você...

– Você tinha planos comigo? Por acaso chegou a se perguntar se eu tinha planos com você Barbara? Porque saiba que não, nunca tive. Você foi apenas mais uma, a única coisa que fez você ser um pouquinho diferente foi o fato de ser virgem. Só, mas nada que te torne especial a ponto de eu querer fazer planos com você.

Enquanto ele tinha a mão sobre o rosto ferido, sua mãe entrou no quarto.

– O que está acontecendo aqui? O que você fez com meu filho sua doente?

– O único doente aqui é o filho da senhora. Um doente de caráter, doente da alma. Vem Bah, vamos embora daqui. - disse Wilson tirando Barbara da casa de Iago.

FLASH BACK OFF

Renato estava estático. Mal piscava.

Barbara não o olhava, tinha a cabeça baixa, o que permitia ver suas lágrimas molhando sua calça.

– Onde esse cara está hoje Barbara?

– Não sei. Aquela foi a ultima vez que o vi, isso se ignorar os pesadelos constantes que costumava ter com ele. Depois nunca mais soube dele.

– Ainda bem que eu não o conheço, porque se trombo com esse cara na rua... Não respondo por mim.

Ainda com a cabeça baixa Barbara seca o rosto enquanto fala.

– Apesar de tudo e de um jeito meio torto o plano doido do Wilson deu certo. Quando meus pais voltaram de viagem ninguém mais se lembrava do assunto, não a ponto de mostrarem o vídeo pra eles. Algumas pessoas me olhavam torto, mas bem poucas.

– Mas mesmo assim você achou melhor sair da cidade...

– Sim. Já havia um tempo meu pai falava que queria tentar a sorte no interior, abrir uma empresa de tecidos lá. Como tem família e conhecidos julgou que não seria tão complicado. O que prendia ele aqui na capital era minha mãe e eu, mais eu do que ela na verdade, porque minha mãe trabalharia com ele e também não achou a ideia da mudança algo ruim. De certa forma me aproveitei disso.

– Como assim?

– Disse que havia terminado o namoro com o Iago e não queria mais ficar perto dele e nem de nada que o lembrasse. Disse que se eles ainda quisessem, eu aceitava mudar de cidade. E foi o que aconteceu. Ficamos quase sete anos morando no interior. Voltamos porque meu pai conseguiu abrir o próprio negócio aqui.

– Você não queria voltar?

– Queria muito. Apesar de ter ficado feliz com a realização do meu pai, sai daqui praticamente obrigada... Não por ele, porque jamais faria isso comigo, mas pela situação toda... Voltei porque precisava. Não queria mais me esconder entende? Achava que tinha o direito de recomeçar.

– Claro.

Com os olhos vermelhos e um pouco inchados Barbara olha Renato. O pesar era visível nos olhos dele.

– Renato... Acha que consegue... Me perdoar?

– Hei, não tenho que te perdoar de nada. Você foi a vítima, nada do que aconteceu foi culpa sua.

– Mas você está me olhando de um jeito estranho... - diz com a voz chorosa e amedrontada.

– Eu me compadeci com você meu amor. Essa história não foi fácil pra você em nenhum momento. Agora consigo entender o porquê teve medo de me contar esse segredo. Mas como havia dito no começo, não vou te deixar por isso. Não vai mudar nada.

– Você não está com... Nojo de mim?

– Jamais!

Ele a abraça e Barbara desaba mais uma vez. Chora tanto que Renato consegue sentir as lágrimas molharem sua camisa.

– Está tudo bem agora amor. Isso já passou, ficou no passado e não vai acontecer de novo. - dizia enquanto acariciava os cabelos dela - Está tudo bem, tudo bem.

Após algum tempo, quando percebe que ela não chorava mais, Renato sem cortar o abraço quebra o silêncio.

– Queria conhecer esse Wilson. Ele foi um amigo de verdade pra você.

– Eu gostaria muito que vocês se conhecessem. Ele também ficaria feliz em ver que conheci um cara legal. Mas não tem como isso acontecer.

– Porque não?

– O Will faleceu. Tem uns dois anos. Tinha leucemia e não conseguiu doadores compatíveis nem na própria família. Até cheguei a fazer exames pra ver se tinha como ser a doadora dele, mas eu não era compatível também. Mesmo indo embora nunca perdi o contato com ele.

– Nossa Babi, sinto muito.

– Tenho saudades dele. Tenho certeza que ele ia gostar de você. - diz com um sorriso triste.

Renato se ajeita no sofá e faz com que Barbara deite, deixando a cabeça em seu colo. Ficam em um silencio perturbador por algum tempo.

– Preciso ir embora, está ficando tarde.

– Não vai não... Hoje você dorme aqui comigo.

– Rê, te contar meu segredo me fez muito bem, mas eu preciso de um tempo até...

Ela é interrompida por Renato, que coloca o dedo sobre seus lábios.

– Eu sei Barbara, mas quero que você tenha a certeza que não está sozinha. Deixa eu cuidar de você.

Ainda deitada em seu colo, Barbara o olhava. Renato era mais do que ela se julgava merecedora. Depois de tudo o que contou, ele estava ali com ela, dizendo que ela não estava sozinha. Fez uma rápida auto-analise dele, dos dois como um casal que agora eram e teve uma certeza; não via sua vida sem ele.

Sorrindo ela pergunta:

– Você promete que vai se comportar?

– Prometo. O dormir é dormir mesmo. Mas tem um, porém...

– Qual seria? - pergunta com uma sobrancelha arqueada.

– É na mesma cama.

Barbara senta novamente e lhe dá um selinho.

– Como você prometeu se comportar, por mim tudo bem.

Renato sorri.

– Está com fome? Posso fazer alguma coisa pra gente comer antes de dormir.

– Tá bom.

Renato se levanta e a trás pra junto de si, dando um beijo suave em seus lábios.

– Posso ligar pra Raquel? Vou avisar que vou dormir aqui.

– Claro. Espero você na cozinha.

Renato sai e deixa Barbara na sala. Já na cozinha, enquanto decide o que vai preparar, fica pensando na história que a namorada acabara de contar. Sempre soube que algo em um relacionamento passado dela havia a deixado receosa e com medo de se relacionar de novo, mas jamais poderia imaginar que fosse algo como aquilo. Ela tinha todas as razões do mundo pra ter medo.

Agora que conhecia toda a verdade seria ainda mais prudente com ela. Não tinha dúvidas quanto ao amor que sentia, por isso mesmo não queria cometer nenhum erro com relação a Barbara e ao relacionamento que tinham. Se era tempo e paciência que ela precisava, Renato daria. Tudo para que enfim ela pudesse se sentir da maneira que achou que nunca se sentiria. Amada verdadeiramente por alguém.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e comprovado que a demora nas postagens estão valendo a pena rs.
Estou escrevendo o capítulo seguinte, postarei na semana que vem ou se concluir logo até o fds.
Deixem reviews, se conhecem alguém que acompanhava essa fic, avisem que voltou com força total!
Beijos e até o próximo capítulo.



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