Sentada sobre a cama, com as pernas cruzadas como um índio, Barbara segurava o violão. Olhava para o nada, tentando encontrar as palavras certas para compor uma nova música. Compor era uma terapia pra ela, fazia com que mesmo que por pouco tempo se desligasse da realidade, dos problemas. Mas não estava conseguindo. Não conseguia tirar Renato da cabeça. Se sentia culpada por não contar sua verdadeira história para ele.

Deixou o violão de lado e foi até a cozinha, onde encontrou Raquel sentada com diversos livros espalhados pela mesa.

– Me ajuda com uma coisa? - pergunta a Raquel.

– Claro, desde que não seja nada ligado a comunicação empresarial... -diz rindo.

– Como você acha que devo abordar aquele assunto com o Renato?

– Você vai falar por etapas?Tipo, um pouco hoje, outro pouco semana que vem, ou tudo de uma vez?

– Tudo de uma vez. Isso tem me sufocado, não quero ficar adiando mais.

Raquel deixa o caderno de lado e leva a caneta que usava até a testa, dando pequenas batidinhas.

– Bom, você pode conversar aqui em casa mesmo ou na casa dele. É um assunto que vai ser longo, não tem um horário certo pra terminar, então não acho que um lugar público seja legal.

– Também pensei nisso... Vou ligar pra ele e dizer que vou a noite na casa dele então. Estaremos só nós dois lá, vou me sentir um pouco mais segura acho...

– Se quiser eu vou pra casa do Everton, aí vocês podem conversar aqui.

– Não precisa amiga. Como você mesma disse pode ser uma conversa demorada.

– Bom, se mudar de ideia só me falar.

Barbara sorri e puxa uma cadeira, sentando de frente para Raquel.

– Estou com medo.

– De que?

– Eu amo o Renato, mas sei que ele pode terminar comigo depois de ouvir tudo o que eu disser. Aí ao invés de enfim fechar uma ferida vou abrir outra ainda maior.

– É um risco que você corre Bah, mas duvido que isso aconteça. O Renato te ama, isso é visível. Ele pode ficar chocado de inicio, mas não acredito que vai terminar o namoro, até porque isso aconteceu muito antes de vocês se conhecerem.

– Você acha mesmo?

– Bah, não sofra por antecipação. Vai dar tudo certo.

– Amém amiga, que você esteja certa.

********************************************

– Oi amor - diz Renato abrindo a porta para Barbara e dando passagem para que ela entrasse.

– Não tinha nada pra fazer hoje mesmo? Não quero atrapalhar você.

– Não, mas mesmo que tivesse eu dava um jeito. Senti você nervosa quando ligou. Aconteceu alguma coisa?

Barbara respira fundo e senta no sofá, segurando o namorado pela mão e fazendo com que ele sentasse ao seu lado.

– Aconteceu sim, mas há muito tempo.

– Não estou entendendo. Fiz alguma coisa?

– Não amor, você não fez nada. Eu que tenho feito muita coisa com você.

Renato olha sem entender. Barbara aperta sua mão junto a dele.

– Lembra que uma vez eu disse que na hora certa te contaria o porque de eu agir um tanto... Estranho com você, especialmente quando estamos em momentos mais... Intímos?!

– Lembro sim, claro.

– Então...

– A hora certa é agora?

– Sim.

Renato dá um beijo na mão de Barbara e nota que a mesma está gelada.

– Quer beber alguma coisa, uma água?

– Não, está tudo bem.

– Certo então. Pode começar quando quiser Babi. Sou todo ouvidos.