Voltei pra casa da Juliana e fui para o quarto, mas ao abrir a porta, vi algo que não era muito agradável.

—Ah droga! Annie, não sabe bater na porta não? -Ela levantou rapidamente, jogando uma revista no chão. —Juliana, você estava se... masturb... —Ah o que que tem? Eu tenho vontades, sabia? -Me deu vontade de rir, e muito. —Quem nunca se masturbou na vida? —Eu não acredito que você está fazendo isso. -Eu não consegui conter o riso. —Não ri. —Tá, desculpa. Haha. —Por que que, ao invés de você rir, não fala logo o que resolveu lá com aquele escroto? —Nada. Mas, eu vou voltar amanhã. —Voltar? Pra onde? —Pra minha casa. —Ahh Annie, qual é? Poxa, nem deu tempo da gente dormir juntas. —Dormimos sim. —Annie, tu entendeu o que eu quis dizer. —Ah, não seja por isso.

Subi na cama e fui andando lentamente até ela. Eu ouvia ela dizer algo tipo "Annie, não faz isso comigo, por favor", eu a estigava, era minha última noite naquela casa e como eu estava excitada. —Annie, não brinca comigo.

Eu sentei e passei minha mão entre seu cabelo, a puxei para mais perto e a beijei. Ela rapidamente saiu debaixo daquele lençol e deitou emcima de mim. Nos beijamos loucamente.

****

No dia seguinte, havia acordada bem cedo e preparado o café da manhã.

Era sábado e todos ainda estavam dormindo. Eu estava pronta pra sair dali e acreditem, eu estava muito nervosa. Só queria que meus pais entendessem que essa é a vida, pra eles pode não parecer ser normal, mas pra mim é.

Deixei um bilhete emcima da mesa junto com o café dizendo que eu estava indo pra casa e que qualquer dia voltaria aqui. Sei que parece um exagero tudo isso, mas eu não sabia se voltava mais.

Em fim deixei a casa, preferi andar ao invés de pegar um ônibus, só assim pensaria em todas as coisas que eu já fiz.

****

Minha casa era a mesma, também eu fiquei pouco tempo fora, só voltei mesmo antes que essa história de policia piorasse.

Abri a porta com a chave que ficava debaixo do tapete e entrei. A primeira cena que eu vi foi de meu pai deitado no sofá e minha mãe com ele. Eles estavam dormindo e que eu saiba já era pra eles terem ido trabalhar.

Subi e a porta do quarto da Marina estava aberta, abri um pouco e ela estava dormindo. Fui para o meu quarto e todas as minhas coisas estavam lá novamente, desde Notebook á posters. Desci e resolvi acordá-los. Estava na hora de encarar a realidade.

—Gente! - Sussurrei fazendo-os acordar. Primeiro meu pai abriu aqueles olhões e logo acordou minha mãe que deu um mega sorriso. —Ei gente, eu estou aqui. -Levantei um pouco tensa. —Annie, onde você estava? -A voz da minha mãe estava meio fraca e ela sonolenta. Meu pai levantou e pediu para que eu não saísse dali. Ele então subiu e logo voltou.

—Annie, eu não quero saber onde você estava porque provavelmente já sabemos. Mas queria entender o motivo de você ter saído de casa sem avisar a ninguém. —Pai, mãe. Quando eu mais precisei da ajuda de vocês, vocês tiraram minhas coisas e me trocaram de colégio. Sabem como eu me senti? Eu me senti uma droga, um lixo. Me senti uma pessoa que não tem familia. Senti que toda a sociedade havia se voltado contra mim. Nem pararam pra ouvir o meu lado. Só pensaram em vocês. -Fiz de tudo para não deixar cair nenhuma gota de lágrima a essa hora da manhã. —Fomos idiotas. Eu e sua mãe. Era pra gente aceitar tudo isso, mas... -Ele parou. —Mas o que? —Mas não aceitamos. -Eu abaixei a cabeça. —Porém, se for pra ter você aqui com a gente, perto de nós. Se for pra você não cometer loucuras pelo mundo a fora, não impediremos você de seguir a sua própria sexualidade.

Me senti feliz e surpresa. Tudo bem que eles não aceitavam, já sabia disso mas, saber que eu poderei ser quem eu sou, sem medo de esconder de ninguém.. essa com certeza foi a melhor parte.

Levantei para abraçá-los e vi Marina descendo a escada. Ela deu um sorriso e eu devolvi.

—Posso trazer a Juliana aqui? —Uma coisa de cada vez. -Disse minha mãe.

*****

Duas semanas depois, eu já estava me sentindo em casa novamente, meus pais me tratavam até melhor que antes e Marina como sempre não saia do meu pé, só que ela ficava perguntando sobre a Juliana. Já havia contado á Marie, Johnny e Juliana.

Por causa da transferência de colégio, eu só via a Juliana na hora da saída, porque ela ia todos os dias me buscar. Até que aqui é bem legal, mas eu gostaría de voltar.

—E ai, como está a ligação entre você e meus sogrinhos? -Eu ri. —Estamos bem. —Eu sabia que no fundo eles iriam acabar aceitando. —Sabia? —Aham, sabia. —Bem, mas eu não acho que esse nosso namoro vá durar muito tempo. —E por que você diz isso? —Até parece que você vai ficar saindo lá do colégio pra vir aqui no meio do nada me buscar. Quer dizer, só pra gente se ver, porque não dá pra voltar pelo mesmo caminho que o seu. —Annie, deixa isso pra depois. Vamos viver primeiro o nosso momento. —Está bem. —Ah, eu tenho uma coisa pra te contar. —Hum... Diga. —Nós vamos ser mamães. —QUE? —Hahahahaha.. -Ela riu. —Calma, é mentira. —Eu sei que é mentira. Lésbicas não engravidam. —Engravidam sim. Nunca ouviu falar em inseminação artificial?  —Já. —Então. —Ah, vamos logo pra casa. —Cada um pra um canto diferente, esqueceu? —Ah é. —Bem, você pode me beijar se quiser. Não que eu quei... -Dei um beijo nela. —Te ligo mais tarde.