Eu ainda estava sobre o "efeito Annie", ou melhor, "efeito-pós-depressão-platônica" que nem se tornou tão platônica assim.

Levantei sem nenhuma reclamação. Isso acontece sempre que eu não durmo direito. Dei um beijo em minha mãe e saí. Peguei o primeiro ônibus que passou e fui para a escola. Eu imaginava que seria o maior dos maiores tédios, assim que eu chegasse. Juliana e Annie estariam sentadas atrás de mim, e eu teria que aturar isso a semana toda. Viu por que eu ainda não podia falar nada pra Marie sobre o que eu sinto por ela? Eu nem sei ainda, se isso é "sentir alguma coisa".

Fiquei ao lado de fora esperando abrirem os portões, eram 06:30 da manhã, e eu estava no tédio, como disse antes. Abri minha mochila e retirei meu mp4 e apertei o play na primeira música.

Tocava "Falling Down" da Scarlett Johansson, quando vi alguém chegar. —Oi, tudo bem? -Ela se aproximou. —Tudo sim. E você? -Tentei parecer um pouco mais "animada". —Eu.. Bem. —Mas e aí, cadê a Juliana? -Eu devería ter perguntado? —Daqui a pouco ela chega. —Hum... Sempre atrasada. -Ri sem vontade. —Mas, vai ficar aí sozinha? Vamos entrar! -Annie sorria tão bem, tudo nela era lindo. Até mesmo o olhar.

Entrei e ficamos sentadas em um dos bancos esperando nossos amigos, ou melhor, seus amigos.

—Como foi seu final de semana? -Ela perguntou. —Ah, foi legal até. E o seu? -Eu já sabia, mas mesmo assim quis perguntar. —Ah, fui na casa de uma amiga. —Hum... Da Juliana, certo? —É. Sim, da Juliana. -Ela fez silêncio.

Sério, na boa, ela podería me contar normalmente como foi o seu "final de semana" na casa da Juliana. Eu é quem devería tomar vergonha na cara e parar de pensar nela, como eu penso.

—Pode falar. Não me importo. -Sorri de verdade, eu acho. —Hum... Mesmo? —Sim, conte-me como foi o seu, e eu contarei o meu. —Bem, a Juliana foi na minha casa no sábado pra me buscar, daí fomos pra casa dela. —Só isso? —Não. —Não quer mesmo falar né? -Ela parou de fitar o piso do chão e ficou a observar a loira que entrava.

Juliana abraçou a Annie e depois sentou conosco.

—E aí, como foi a reunião? -Ela me perguntou. Ao me lembrar disso, quase explodi de raiva. —Como foi? Você devería ter ido, sabia? Eu fiquei sozinha lá. S.O.Z.I.N.H.A!! -Soletrei. Annie ficou olhando a loira com interrogação.

—Juliana, você me disse que tinha ido a reunião! -Annie tentou não se irritar. —Ah meu amor, eu até fui, só que no caminho me deu uma cólica tremenda. Quase que sua namoradinha aqui morreu na rua, sabia? -Ah como ela era terrível. —Verdade isso? -Annie perguntou, como se Juliana fosse dizer a "verdade". —Tudo bem que eu já tenho fama de mentirosa, mas daí inventar uma cólica? Porra, até você tem né Annie! —Que seja, podería ter avisado a Thaíz.

O sinal berrou e subimos. Johnny não havia chegado ainda, e provavelmente não iria aparecer. O professor de Inglês anunciou que iria adiantar os dois tempos vagos. Isso causou um alvoroço na sala. —Calem a boca. -Ele tentava. —Ou eu vou chamar o diretor! -Mas ninguém parava. Eles queriam tempo vago pra jogar vôlei, e não pra chegar um professor que fala "Gudi moning" ao invés de "Good Morning", e adiantar o tempo. Pra mim, tanto fazia, vago ou não, ela estaria com a Juliana.

****

O intervalo começou e fui para a biblioteca, como sempre. Depois que a Annie e a Juliana começaram a namorar, raramente ela vem á biblioteca. Quando vinha, nem sempre era pra pegar livro, muitas das vezes era pra ficar conversando comigo. Tudo bem, eu meio que contribui para isso.

A sala era fria por causa do ar condicionado, então, eu resolvi sair dali e procurar outro canto pra ficar. Meu celular tocou quando eu assinava a lista de presença antes de ir para fora.

—Alô? —Fala ae, tudo bem? —Você não sabe falar como uma pessoa normal, quando atende um telefonema? -Eu ri. —Sei não. —Não vai me dizer que está tentando me impressionar com essa irônia fajunta? -Ri novamente. —Fajunta? Magôou agora. Vou ficar cinco minutos sem falar com você, começando agora. -Eu vi isso no filme "Transformers". —Marie? Fala comigo. —3... 4... 5. Agora sim. —Palhaça. —Então, como você está?—Estou bem. —Bem, eu liguei pra saber se posso ir aí buscar você ma hora sa saída. Vou largar cedo do trabalho e... —Olha Marie, desculpa, mas não vai dar. Vou ter que ir á casa de um amigo... Fazer trabalho. —Ah... Tudo bem.. Não, eu entendo. Vou, desligar... Tchau.

Eu não queria que Marie ficasse chatiada comigo, mas, eu ainda gosto da Annie, eu quero esquecê-la, mas, não consigo. Não quero fazer a Marie de idiota, não mesmo, mas rolou uma química muito boa, ontem a noite. Eu realmente á queria.

Já que não havia um lugar onde eu ficasse, decidi voltar pra sala. Quando abri a porta, Juliana e Annie estavam... Se beijando.

—Desculpe. -fechei a porta muito triste. Mas antes, havia percebido que Juliana deu um sorrisinho, daqueles do tipo "venci". Sentei ali, na porta esperando alguém subir para que eu entrasse na sala. Um garoto alto e branco, digamos "bonito", se aproximou de mim.

—Tem alguém aí? —Tem. -Ele entrou. Logo a turma toda subiu e eu não entrei novamente na sala, desci e fugi. Fui embora.

A noite, liguei para Marie ir na minha casa, eu precisava me desculpar com ela, precisava esclarecer algumas coisas.

—Então... -Ela perguntou. —Marie, eu sei que você vai me odiar, mas tenho que contar. —Bem.. Então, está bem.

—Olha, eu sei que você gosta de mim. —E você não imagina o quanto. -Ela disse sorrindo pra mim. Droga!! —Eu ainda gosto da Annie, quer dizer, á amo muito. Mas ultimamente me sinto tão sozinha por não poder tê-la pra mim. —Mas, e eu? E aquee beijo? Pensei que você estivesse gostando de mim. —Marie, desculpe. Mas, eu sou uma pessoa muito confusa. Eu gosto de você, mas o que eu sinto pela Annie é maior. —Não acredito que está tendo a coragem de falar isso pra mim. —Ou eu falava, ou eu iria embora sem ter que me despedir. -Lágrimas escorreram de meus olhos.

—Eu sou a intrusa na história. A Annie já era da Juliana há muito tempo. Eu estou apenas complicando as coisas. —Mas e eu? Eu que gosto de você... —Quem sabe da próxima. -Ela levantou. —Quem sabe da próxima? Quer saber? Talvez você devesse ir embora. Seria melhor você ter ido sem se despedir. -Ela saiu.

Fechei a porta e me joguei no sofá. Talvez Marie esteja certa. Eu devería ter ido sem me despedir. Seria menos doloroso, eu teria uma "nova vida", novas pessoas para conhecer. Talvez eu devesse mesmo ir embora. Só assim, todo mundo será feliz, como eram antes de eu chegar.