Paranoid Android escrita por chibi_cold_mari


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Prometo que é a última vez que ela vai choramingar.



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Então eu estava ali em seus braços, aninhada em seu tronco desnudo, sendo beijada de forma tão terna, tão doce...Mesmo que apenas nossos lábios estivessem unidos de forma tão singela, quase que infantil demais, ainda assim, podia sentir o calor emanado de seu corpo.

            Por um breve instante, senti que o meu “eu” em frangalhos se recompusera, mesmo que tão rápido após o novo trauma ter sido implantado em minha mente.Me senti acolhida, como se todos os sentimentos de repulsa e nojo que sentia por mim fossem dispersos.Como se eu estivesse em um futuro distante, no qual eu olharia para aquela noite sem chorar, sem soluçar, sem lamuriar, só a encararia de forma triste, uma memória melancólica de minha adolescência.Era como se eu tivesse esquecido de tudo, de forma que nada me atrapalhasse naquele momento tão mágico.

 

Por um breve momento nada mais importava.

                                                           Um frágil período de tempo.

            Até que Jess o estragou.

           

            No intuito de demonstrar seus sentimentos –tão puros e acolhedores-, gentilmente uma das suas mãos deixou meu rosto – enquanto a outra permanecia ali – e deslizou lentamente até o meu pescoço, desnudo, acariciando-o minimamente.

           

Mas mesmo assim fora o bastante.

E toda a doce ilusão se fora, assim como todas as outras.

 

            Mesmo que não doesse, senti as grandes marcas avermelhadas pulsarem sob o toque de sua mão, lembrando-me de como ele as fizera...

            “-Hm...Você não é igual a sua mãe...-Disse em tom de resmungo, com a voz distorcida por causa da bebida.- Ela era mais branca, mas quem sabe eu não consiga deixar marcas? – Sussurrou contra a pele de meu pescoço, a voz rouca de prazer.

            A boca nojenta - por onde já passara tantas garrafas, cigarros e outras coisas mais – apossou-se dele, marcando-o com os dentes.Os lábios secos tornando-se úmidos, pelo ato tão grotesco de sugar a pele do local de...”

            Abri os olhos imediatamente, enrijecendo todo o meu corpo.

Não era Jess que me beijava docemente.

            Era ele a me explorar lascivamente.

           

Para onde foram o braços que me envolviam delicadamente antes?Deram eles lugar a esses braços que agora me prendem de forma possessiva?Onde estão as mãos que me acalentavam de forma tão acolhedora antes?Oh, estão longe, longe o suficiente para que essas mãos impuras me explorarem!

Afastei-me de seus braços, levantando de forma brusca, quase me fazendo cair com minhas pernas trêmulas de medo.Levei a mão à boca, interrompendo o grito apavorado que rasgava minha garganta.As lágrimas já se empossavam em meus olhos, mesmo assim eles continuavam a arder.Dei um passo em falso para trás, a fim de me afastar da monstruosidade à minha frente.Acabei por cair violentamente de costas.

Ergui-me, olhando sobre meus ombros temendo que chegasse mais perto.

 

Pisquei violentamente, tentando entender o que ocorria naquele pequeno provador.

            Jess olhava-me com espanto, como se fosse uma louca desvairada que a pouco tivera um ataque compulsivo de raiva.E talvez eu estivesse mesmo louca.

            Encolhi-me no outro extremo do pequeno recinto, olhando-o com o mesmo espanto, não entendendo o que estava acontecendo comigo.Talvez fosse o trauma que corroesse todo o meu “eu” sadio, que me fizesse agir dessa maneira, mexendo com minha mente de forma tão violenta, que acabasse por criar ilusões tão verdadeiras, me deixando louca e totalmente paranóica.Talvez esse trauma só piorasse meu estado emocional, como se todo o sofrimento reprimido que vivera finalmente estivesse saindo, toda a verdade escondida e trancafiada, sendo exposta para todos.

            -Olha, Jess...Eu...-Disse-lhe com a voz rouca, recuperando-se do grito reprimido- E-eu não estou muito bem, então...-Disse-lhe saindo dali tropeçando em meus pés.

            Eu corria desesperadamente, tentando sair da loja o mais rápido possível.Não havia como impedir o impulso de fugir, tentar escapar para algum lugar onde o maldito trauma não me alcançasse, aonde não houvesse tantas lágrimas.O desespero era tanto, que me fazia ofegar insistentemente, como se algo estivesse tapando meus pulmões.

            Topei em alguma coisa, envergonhada e fitando o chão pedi-lhe desculpas, mas o que recebi foram mãos que se fechavam em meus braços impedindo-me de fugir novamente.Paralisei ao ouvir a voz familiar e desesperada.

            -Ei!Onde você ‘tava?Cara, fiquei te procurando o dia inteiro!- Gritou-me chacoalhando-me, vendo que não obtinha nenhuma resposta.-Vamos, Mari!Fala alguma coisa!

            -Ste...Agora não, me leva pra sua casa, estou muito cansada.-Disse abaixando minha cabeça, fingindo estar realmente estar tomada pelo cansaço.

            Stephanie levou as mãos à pequena boca, agora, escancarada de pavor.Ela então decodificara todos os sutis sinais presentes em minha fisionomia abalada: as marcas em meu pescoço, as olheiras profundas arroxeadas que marcavam meus olhos inchados e vagos, as pernas ligeiramente afastadas...Foram o bastante para que ela percebesse o que eu queria dizer subliminarmente, e logo seus braços me envolviam num abraço forte e protetor.

            -Deus!O que ele fez com você?-Perguntou com a voz reprimindo um choro.

            -Ele está me deixando louca!Eu estou ficando louca.-Desabafei finalmente, agarrando a blusa que ela vestia.

Ele tinha conseguido, eu finalmente me abaixei ao seu nível.Ele conseguira me marginalizar.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Sim eu tenho raiva por ela não ter ficado com Jess u-u



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