Coração Vago escrita por KatherineKissMe


Capítulo 33
Capítulo 32




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"(...)Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
E mesmo assim me sentir
Como se estivesse plena de tudo.(...)"

Meu Deus, Me dê a Coragem - Clarice Lispector

–Eu acho que a Bia vai nascer.

–Como assim a Bia vai nascer? Ela acabou de completar sete meses! –Bruno perguntou em pânico.

–E você acha que eu não sei disso? –Ela gritou com ele.

–Você tem certeza? –O moreno perguntou quase arrancando os cabelos com as puxadas nervosas que ele dava.

–É claro que não, idiota! Talvez você tenha se esquecido, mas eu nunca tive um filho antes.

Não se sabia se era por causa da briga, ou se era por causa da contração, mas a irritação de Fatinha estava em níveis extremos.

–E o que nós fazemos? –Bruno perguntou obviamente desorientado.

A loira respirou fundo tentando controlar toda a irritação que sentia para organizar a situação.

–Bruno, vamos ser rápidos ok? Pega aquela mala ali. –Fatinha indicou uma mala pequena de mão e o moreno pegou. –Agora eu vou te falar as coisas que você precisa colocar nela.

Bruno estava perdido, mas foi pegando todas as coisas que ela mandava e colocando na mala. A pressa não havia permitido uma maior organização.

–Ótimo, agora pegue a mala da Bia.

O moreno pegou a mala e depois olhou confuso para Fatinha.

–Ela está cheia.

–É claro que ela está cheia, já faz alguns dias que eu arrumei a mala da Bia. Agora nós podemos ir para o hospital.

Essa confusão havia durado cinco minutos. Bruno pegou as duas malas e foi até a porta do apartamento pensando em voz alta:

–O que eu estou esquecendo? –O moreno olhava para todos os lados procurando algo que estivesse sendo deixado para trás, mas não viu nada.

Ele abriu a porta e colocou as malas no elevador, quando ouviu um grito.

–Bruno! Você não está esquecendo de nada, não?

–Fatinha! Como eu posso esquecer o mais importante? –Ele resmungava.

Quando ele chegou ao quarto a loira estava do mesmo jeito, deitada na cama de barriga para cima.

–Vamos Fatinha! Estava quase te deixando para trás. –Disse ele.

–Bonitão, eu preciso de ajuda para levantar da cama. Tem uma barriga de sete meses dificultando o trabalho. –Fatinha explicou o óbvio.

Bruno a ajudou a se levantar, se xingando mentalmente. Quando eles chegaram ao elevador, as portas já estavam fechadas, mas felizmente ele continuava no andar.

Eles foram juntos até a garagem, e só quando o carro estava em movimento a loira se lembrou de ligar para a médica.

–Alô? –Raquel atendeu no terceiro toque.

–Raquel, a Bia vai nascer! –Fatinha disse em pânico.

–O que? Onde você está?

–Dentro do carro, estamos indo para o hospital.

–E sobre as contrações?

–Senti uma a dez minutos mais ou menos.

–Certo, vou avisar no hospital sobre a sua chegada.

Fatinha desligou o telefone e ficou observando Bruno dirigir. Ele estava muito tenso.

–Você sentiu mais alguma coisa? –Ele perguntou.

–Na verdade não. –Ela respondeu dando os ombros.

O moreno voltou a se concentrar no trânsito.

–Sabia que eu estava me esquecendo de uma coisa! –Ele disse de repente.

–O que você esqueceu? –Ela perguntou preocupada.

–De avisar a família!

–Nossa, é verdade! Vou mandar uma mensagem para todos agora. –Ela disse pegando o celular.

Estamos a caminho do hospital. Aparentemente a Bia já cansou de ficar na minha barriga. –A mensagem foi enviada a todos os familiares e amigos.

–Pronto, agora não falta mais nada. –Ela disse.

Quando eles chegaram ao hospital, Raquel já os aguardava.

–Fatinha, venha comigo. Nós precisamos fazer alguns exames antes, ok?! –A médica disse ao casal.

–Raquel, não está cedo demais para a Bia nascer? –O moreno perguntou preocupado.

–Vou ser honesta com vocês, um nascimento na 25ª semana é preocupante. Verei o que faço para adiar o parto. –Ela respondeu.

A médica saiu com a loira pedindo que Bruno aguardasse. Ele ficou na sala de espera andando de um lado para o outro, preocupado com o que poderia acontecer.

Quinze minutos depois, Marta chegou acompanhada de Olavo e Ju.

–Cadê a Fatinha? Está muito cedo para a Bia nascer! Cadê a Raquel? Ai, acho que eu vou desmaiar. –Marta estava nervosa.

–A Raquel levou a Fatinha para fazer alguns exames. Ela disse que vai tentar adiar o parto. –Bruno contou.

–Eu não estou entendendo porque isso está acontecendo. A gravidez estava correndo tão bem. –Olavo comentou.

–Eu não vou me perdoar se alguma coisa acontecer com elas. –Bruno murmurou.

Ju que estava perto ouviu o que o irmão disse, e então perguntou:

–O que você fez Bruno?

–An? –Ele tentou se fazer de desentendido.

–Eu sei que você e a Fatinha não estavam em um bom momento. –Juliana parou em frente ao irmão e o obrigou a olhar para ela. –Me diz que você não tem nada a ver com isso que está acontecendo.

Bruno até tentou desviar o olhar, mas Ju impediu e ele acabou cedendo.

–Nós estávamos brigando, foi então que ela sentiu a primeira contração. –Ele confessou angustiado.

–O que você tem na cabeça? Merda? –Juliana gritou e foi repreendida por uma enfermeira.

–Bruno, por Deus! Você sabe muito bem que grávidas devem evitar qualquer tipo de estresse. –Marta disse. –Eu te falei Olavo, que a situação era preocupante. Vocês não deveriam estar brigados no final da gestação. Um ambiente ruim pode fazer mal para a Bia.

Bruno escutava tudo calado, com a culpa aumentando cada vez mais.

–Se alguma coisa der errado nesse parto você vai se ver comigo. –Ju ameaçou.

Olavo decidiu intermediar a situação, percebendo que as coisas fugiam do controle.

–Uma discussão agora não ajudará em nada. Juliana, não adianta culpar o seu irmão agora. O estrago já foi feito, mas ainda não sabemos o resultado. Agora nós precisamos nos acalmar, e torcer para que tudo dê certo.

As palavras de Olavo pareceram surtir efeito, Juliana continuou irritada, mas pelo menos parou de ofender o irmão. Marta estava sentada pedindo ajuda a Deus, enquanto Bruno parecia prestes a cavar um buraco no chão de tanto andar.

Em pouco tempo outras pessoas chegaram. Gil estava com Marcela, e fez de tudo para acalmar a namorada. Lia procurava o pai para saber de notícias. Os outros alunos do Quadrante também queriam estar no hospital, mas Marcela os convenceu de que seria melhor que as visitas fossem feitas aos poucos. Vilma ligou para Bruno avisando que ela e Adolfo estavam na rodoviária, no entanto o próximo ônibus ainda não havia chegado.

Assim, meia hora se passou em muita agonia. Raquel finalmente apareceu, e para a surpresa de todos a médica estava acompanhada de Fatinha, que andava tranquilamente.

Eles ficaram calados por alguns instantes, ainda confusos. Ju foi quem quebrou o silêncio.

–Fatinha, você está grávida ainda, certo? A Bia está bem, não é?

–Calma meu povo. Eu e a Bia estamos nos sentindo muito bem. –Fatinha disse para o alívio de todos.

–Espera, mas você não estava em trabalho de parto? –Lia perguntou confusa.

–Raquel, acho melhor você explicar. –A loira pediu.

–Claro. O que a Fatinha teve foi a contração de Braxton-Hicks, popularmente conhecida como contração falsa ou de treinamento. Esse tipo de contração é como um preparo que o corpo faz para o parto.

–Então isso quer dizer que a Bia está bem? Ela não esta correndo nenhum tipo de risco? –Bruno perguntou preocupado.

Foi só então que Fatinha olhou diretamente para o moreno. Ele parecia tão preocupado, os cabelos estavam bagunçados para provar o nervosismo. Por um instante ela sentiu o coração amolecer. O amor que Bruno sentia pela filha deles era palpável.

Antes que ela perdesse o controle e pulasse em cima dele para um beijo, a loira se focou na discussão que eles haviam tido, e fechou o coração para qualquer sinal de amor que fosse direcionado a Bruno.

–A Beatriz está ótima. Está crescendo com saúde e em poucos meses já estará aqui conosco. Casal, eu recomendo que vocês procurem um curso para gestantes. Aqui no hospital nós temos uma profissional excelente. –Raquel disse.

–Não está um pouco cedo para começar o curso? –Marta perguntou.

–Pelo contrário, essa é uma boa fase para começar o curso. Quanto mais próxima à data do nascimento, menor será a disposição da Fatinha, então é bom que o casal esteja preparado para quando chegar a hora. –Respondeu a médica.

–Alguém tem alguma notícia dos meus pais? –Fatinha perguntou mudando de assunto.

–Sua mãe me ligou. Ela disse que estava na rodoviária esperando o próximo ônibus. –Bruno informou.

–Preciso falar com eles. O meu telefone está com você? –Ela perguntou ao moreno.

–Está sim. –Bruno estendeu o celular para ela, que pegou evitando maior contato.

O diálogo foi curto, mas todos perceberam que o clima entre o casal não estava nada bem.

Fatinha pediu licença e foi ligar para os pais, enquanto Raquel dava algumas instruções a Bruno.

A loira voltou bocejando. Eram mais de dez horas da noite, toda a correria havia sido extenuante.

–Felizmente o ônibus atrasou. Meus pais ainda estavam na rodoviária aguardando. –Ela contou.

–Acho que agora é hora de vocês irem para casa, por que amanhã é dia letivo. –Disse Raquel.

Todos concordaram e saíram. Ju fez questão de voltar com Bruno e Fatinha, só pra se certificar que não haveria briga.

–Fat, tem certeza que você não está sentindo nada? –A it-girl perguntou pela milésima vez.

–Eu estou ótima Ju, só preciso de um banho. –Respondeu Fatinha.

Eles já estavam no 801, e Bruno só observava o desespero da irmã.

–Você quer que eu te ajude no banho? –Juliana perguntou.

–Ju, eu acho que você está exagerando. Foi só um alarme falso. Eu estou bem, a Bia está bem, e eu sou perfeitamente capaz de tomar banho sozinha. –Disse a loira.

–Ok, não vou insistir mais. Vou para a minha casa dormir e amanhã a gente conversa no colégio. –Cedeu Ju.

–Ótima ideia. Boa noite Ju, até amanhã! –Fat se despediu.

–Boa noite Fatinha, boa noite Bia. –A morena se despediu indo até a porta.

–Boa noite pra você também Juliana. –Bruno se fez presente.

A irmã o fuzilou com o olhar.

–Estou de olho em você Bruno Menezes. –Ela ameaçou antes de sair do apartamento.

O moreno foi trancar a porta e quando se virou Fatinha já estava no banho.

Ele foi até o quarto dela para deixar as bolsas, e foi então que se deparou com a bagunça que tinha feito. Bruno recolheu as roupas rasgadas e as jogou fora. Depois foi para a cozinha esquentar alguma coisa por que ele estava morrendo de fome.

Quando Fatinha deixou o banheiro já de pijama, se deparou com o moreno sentado à mesa.

–Aceita pizza requentada de ontem? –Ele ofereceu.

A loira olhou desconfiada.

–Estou hasteando a bandeira da paz. –Ele insistiu.

–Certo. –Fatinha cedeu, pegando um pedaço de pizza.

Eles comeram em silêncio. Bruno observava a loira, que fingia não estar constrangida.

Depois de terem jantado Fatinha foi lavar a louça enquanto ele tomava banho. Ela ficou pensando em tudo o que tinha acontecido. O dia tinha sido longo.

Bruno deixou o banheiro só com uma toalha enrolada na cintura. Fatinha não se permitiu admirar a paisagem e foi escovar os dentes.

Quando a loira estava arrumando a cama para dormir, Bruno surgiu. Dessa vez ele estava com uma calça de pijama, ainda sem camisa. Fatinha amaldiçoou esse hábito de dormir seminu que ele tinha.

–Será que nós podemos conversar? –Ele pediu.

–Que tipo de conversa? –Ela perguntou desconfiada.

–O tipo de conversa em que eu peço desculpas.

–Se for só um pedido de desculpas, tudo bem. Do contrário, eu não estou interessada em voltar para o hospital pela terceira vez em um único dia. –Ela concordou sentando na cama.

–É só um pedido de desculpas mesmo. –Ele afirmou.

Fatinha ficou esperando enquanto ele parecia tomar coragem. O moreno sentou na outra beirada da cama e a encarou.

–Quando você quiser começar, fique à vontade. –Fatinha provocou.

–Não é fácil pedir desculpas. –Ele disse.

–Sério? Achei que você gostasse disso. –A loira ironizou.

–E por que eu gostaria? –Ele perguntou confuso.

–Bruno, eu já perdi a conta do número de vezes que você agiu feito um babaca e depois veio pedir desculpas. Mas eu entendo que você deve ter perdido a prática nesses últimos meses. –Ela esclareceu com um sorriso sarcástico.

–Ajudaria se você parasse de ironizar tudo o que eu digo. –O moreno disse irritado.

–Ok, prometo não mais interromper. –Ela disse fingindo trancar a boca e jogar a chave fora.

–Primeiro eu preciso me desculpar por ter rasgado algumas roupas suas. Eu não tinha o direito de fazer aquilo, mas você sabe o quanto me irrita ver você por aí com esses projetos de shorts e saias... –Bruno foi interrompido.

–Você está fugindo do foco. Volte à parte onde você estava me pedindo desculpa. –A loira disse.

–Certo. Eu prometo que não vou mais palpitar nas roupas que você usa. Se você quiser podemos até sair para você comprar outras para repor aquelas que eu rasguei. Eu pago. –Ele se ofereceu.

–Se você realmente for parar de implicar com o que eu visto, aceito as suas desculpas. E sobre a saída, não acho que seja necessário. Tenho outras saias e outras blusas, aquelas não farão tanta diferença assim.

–Obrigado. Tenho que te pedir desculpas também por ter colocado a vida da Bia em risco. Eu nunca deveria ter iniciado uma briga com você, ainda mais nesse estado.

–Tecnicamente a vida da Bia nunca esteve em risco. Bruno, eu realmente não estou interessada em brigar com você. Eu preciso me focar em outras coisas agora, principalmente na Beatriz.

–Acordo de paz então? –Ele estendeu a mão.

–Acordo de paz. –Ela concordou apertando a mão dele.

O contato foi eletrizante. Fatinha perdeu o fôlego por um instante, perdida no olhar do moreno. Sem perceber Bruno se aproximou dela a ponto das suas pernas se tocarem.

–Fatinha, eu peço desculpas por todas as coisas que eu falei ontem. Eu fui rude, irracional e machista. –Os rostos dele estavam próximos, a ponto de que as respirações se misturassem. –Eu quero você.

As últimas palavras foram ditas em um sussurro. Fatinha fechou os olhos e ele também. Os lábios dele roçaram no queixo dela, indo em direção à boca.

Antes que eles se beijassem Fatinha voltou à realidade.

–Bruno, por favor, vá para o seu quarto. –Ela pediu virando o rosto.

Ele a olhou confuso, sem entender o motivo.

–A nossa relação se resume a Beatriz, e eu quero que continue assim. Não estou interessada em voltar aquele ioiô que nós tínhamos. Estou cansada de brigas, de você se arrepender de estar comigo. Eu quero fazer as coisas diferentes dessa vez e quem sabe assim nós possamos conviver harmoniosamente. Eu quero que a nossa filha nasça em um ambiente saudável e espero que você me ajude com isso.

Bruno escutou tudo em silêncio, e precisou de um tempo para processar o que ela dizia.

–Se você quer assim, eu não discordarei. Boa noite Fatinha.

–Boa noite Bruno.

Fatinha só voltou a respirar normalmente depois que Bruno deixou o quarto.

–Como diria Vinicius de Morais: “Que não seja imortal, posto que é chama.” –Ela sussurrou.

Fatinha começou a cantarolar uma canção de ninar, torcendo para que fosse o suficiente para acalmar Beatriz. A loira realmente precisava de uma noite de sono.


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Notas finais do capítulo

Olá! Estou oficialmente de férias, o meu time se classificou para a final da Libertadores e eu estou de férias! Estão tão feliz que dá vontade de sair abraçando todos na rua. Eu acho que tem mais um motivo para eu estar tão feliz, mas não me lembro qual é.
Enfim, a única coisa triste é que não tem mais cenas novas BruTinha e a nova Malhação é péssima. Que Além do Horizonte comece logo, por favor!
Demorei mas postei, quero comentários!
Beijos!