Coração Vago escrita por KatherineKissMe


Capítulo 31
Capítulo 30




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"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente"

Soneto de Separação - Vinícius de Morais

Bruno beijou a loira que retribuiu automaticamente. No entanto os pensamentos da garota estavam longe. Ela se lembrava da surpresa que foi descobrir a gravidez, do apoio que ela teve de Marcela e principalmente da reação de um certo moreno ao saber que seria pai. O acidente que a havia deixado sem memória, aconteceu em grande parte por culpa dele.

–Tudo bem, Fatinha? –Bruno perguntou, estranhando o silêncio da garota após o beijo.

–Está tudo bem sim, estou só cansada. Rasta, Nélio, como vão? –Ela cumprimentou os dois rapazes.

–Oi Fatinha. –Eles responderam.

–Onde você estava? –O moreno perguntou curioso.

–Eu fui dar uma volta na praia e acabei demorando mais que o esperado. –Ela respondeu dando os ombros. –Bem, eu vou tomar um banho.

Fatinha foi até o quarto pegar algumas coisas enquanto pensava se queria ou não discutir com Bruno. No banho a cabeça dela estava a mil: ao mesmo tempo em que ela sabia que amava loucamente aquele moreno insuportável, ela também sabia – por experiência própria – que fingir só magoaria a todos. Foi assim que ela decidiu que no momento propício esclareceria tudo com Bruno.

A garota saiu do banho e descobriu que Rasta e Nélio já haviam ido embora. Bruno estava na cozinha preparando o jantar.

–Uau, o que te levou para a cozinha hoje? –Fatinha perguntou surpresa.

–Bem, já que a minha loira está cansada, eu resolvi fazer o jantar. –Ele explicou.

–Que poder essa loira tem, ein?! –Ela brincou. –Vou ali me vesti e volto para te ajudar.

–Ah, mas eu não me importaria se você me ajudasse só de toalha. –Bruno disse com um sorriso safado.

–Só que não. Daqui a pouco eu volto.

Fatinha vestiu uma camiseta do Bruno que ela havia roubado – as camisolas dela já não mais serviam. Ao invés de voltar para a cozinha como o prometido, a loira perdeu a coragem de encarar uma conversa longa com o rapaz, e decidiu mexer no notebook.

Enquanto olhava o perfil alheio no facebook, Fatinha se lembrou do próprio e-mail. Desde que ela havia perdido a memória, a conta não havia sido checada, já que a loira não se lembrava da senha. Assim, Fatinha foi até o próprio e-mail e encarou com desanimo as mais de trezentas mensagens. Rapidamente ela selecionou todas as propagandas e deletou, assim as mensagens diminuíram consideravelmente. Dentre os inúmeros e-mails que estavam na caixa de entrada, um se destacou: era do Dinho.

Oi Fatinha,

Aqui é o seu amigo Dinho, lembra de mim? Te mandei um e-mail há meses e nada de resposta. Tenho certeza que você está muito ocupada com o Hostel, mas isso não é desculpa. Quero saber como está tudo ai. Acompanho todos os vídeos da TV Orelha, e estou preocupado com o que alguns têm noticiado. Você está grávida, sem memória e morando com o Bruno? Estou muito confuso e apreensivo.

Bom, pela gravidez eu te dou parabéns. Sei que não fazia parte dos seus planos de Angelina Jolie ter filhos tão cedo, mas isso não é nenhum empecilho. Você sempre consegue o que quer. Sobre a amnésia eu estou muito triste, isso significa que você não se lembra do seu melhor amigo aventureiro. Espero que seja algo temporário. E sobre o Bruno... Você sabe que eu não gosto dele. Tenho os meus motivos para acreditar que você merece coisa melhor, mas se é ele quem você ama a única coisa que eu posso fazer é te apoiar.

Enfim, estarei esperando com muita ansiedade o dia em que você se lembrará de mim. Nesse dia, eu prometo te contar sobre todas as minhas aventuras.

Beijos!

Depois de ter lido o e-mail Fatinha sentiu uma necessidade imensa de conversar com o amigo. Nem a Lia, nem a Ju, nem mesmo o Vitor a compreendia tão bem quanto aquele aventureiro de cabelos encaracolados.

Rapidamente ela entrou no skype, e felizmente ele estava online. A loira fez logo a chamada de vídeo, e em poucos segundos aquele forasteiro preenchia a tela do notebook.

–Oi Dinho! –Ela o cumprimentou com um sorriso.

–Fatinha! Meu Deus, quanto tempo!!! –Comemorou o amigo.

–Me diz onde você está, aventureiro.

–Neste momento estou em Bruxelas. Tanta coisa aconteceu Fatinha, vai ser preciso pelo menos uma semana para te contar tudo. Ah, mas espera! Se você entrou em contato comigo depois de tanto tempo é porque você conseguiu se lembrar da sua senha. Isso quer dizer que você se lembra de tudo?

–Infelizmente sim. Há algumas coisas que eu preferia não me lembrar. –Disse a loira com um sorriso triste.

–Ih, o que foi que aconteceu? Eu sei que estou longe, mas os meus ouvidos estarão sempre disponíveis para ouvir as suas mágoas.

–Para variar o que aconteceu foi o Bruno. Enquanto eu estava sem memória e era a pobre “Maria de Fátima”, eu era boa o suficiente para ele. Agora... Você sabe o que ele pensa da Fatinha.

–O Bruno é um babaca Fatinha. Você é a única que não consegue ver isso.

–O pior é que eu consigo Dinho. Eu vejo todos os defeitos dele, mas o amo mesmo assim. Estou cansada de estar machucada.

–Fatinha, você ainda não cansou de fingir?

–Fingir? Você acha que eu estou fingindo amar o Bruno? –A loira perguntou indignada.

–Não, tenho certeza que você ama aquele idiota. A minha pergunta é: você ainda não se cansou de fingir ser o que as pessoas esperam que você seja?

–Como assim? –Fatinha perguntou, com medo de entender o que ele queria dizer.

–Existe a Maria de Fátima, que é uma santa, toda voltada para a família, para a moral e para os bons costumes. Por outro lado, existe a Fatinha, uma piriguete toda destrambelhada, sempre querendo causar. São dois extremos, mas nenhum deles te representa de verdade. O que eu quero dizer, é que você precisa parar usar uma máscara ou a outra, e se permitir.

Ela ficou em silêncio por um tempo, e ele esperou.

–Ser eu mesma? –A loira disse, finalmente, com a voz por um fio. –As pessoas ainda vão gostar de mim mesmo se eu...

–Esse é o ponto Fatinha, você não precisa se preocupar com o que os outros pensam. Tenho certeza que você vai se surpreender com a quantidade de pessoas que amam a verdadeira Maria de Fátima/Fatinha.

A loira pensou nas palavras do amigo por alguns segundos, depois de um tempo enxugou as lágrimas e abriu um sorriso.

–Independente de quem eu seja, eu tenho certeza que uma pessoinha vai me amar. –Disse ela, acariciando a barriga arredondada.

–Fatinha, eu preciso dizer o quanto você está linda com esse barrigão. Não imaginava que fosse possível você ficar mais bonita, mas foi o que aconteceu. –O rapaz elogiou.

–Vou ficar constrangida com tantos elogios. E a Bia também.

–Adorei o nome que você escolheu para a minha afilhada. Beatriz é realmente um nome muito bonito.

–Adriano, nem ouse sonhar que a Bia será sua afilhada! Você é um dos melhores amigos que eu tenho, assumo, mas a minha filha já está sendo disputada por muitas madrinhas e padrinhos. Então, o senhor que está rodando o mundo nesse momento é o que tem menor chance de ser escolhido.

–Tudo bem, dessa vez eu relevo. Mas quando eu estiver de volta ao Rio de Janeiro eu exijo um afilhado/afilhada.

–Se até lá eu não tiver fechado a fábrica posso pensar no seu caso.

–Agora me conta como está tudo por aí. A TV Orelha é vaga demais. Você acha que a marrentinha conseguiu me perdoar? Vi que ela está namorando com um motoqueiro que chegou por aí. –O rapaz questionou.

–Nunca conversei sobre isso com a Lia, mas imagino que ela já não guarde mais mágoas em relação a você. O Vitor é um cara muito bacana, e está fazendo ela feliz. –Fatinha contou, atenta a reação do amigo. –Você pensa em voltar para o Rio pela Lia?

–Ah Fatinha, a Lia foi e sempre será o meu primeiro amor, sabe? Mas nesse momento eu estou muito feliz. Tenho realizado o meu sonho, e nesse meio tempo encontrei uma grande companheira.

–Dinho, ó pegador, ataca novamente. –A loira brincou.

–Para de bobagem Fatinha, essa fase de pegador já era. Estou namorando com a Sophia já faz quase seis meses.

–Sophia é o nome da sortuda. Diga mais.

–An, deixe me pensar... Ela é americana. Conheci ela em Miami quando fui visitar os meus pais e os meus irmãos – a Carol, minha irmãzinha, é uma delícia, depois te mando fotos dela – aí eu encontrei a Sophia no porto, ela é muito parecida comigo. As coisas foram acontecendo e agora aqui estamos nós, há quase três meses fazendo um mochilão pela Europa.

–E o Rio de Janeiro, onde fica no meio dessa sua vida ocupada?

–Ah, o Rio sempre vai estar no meu coração. Logo estarei aí visitando vocês, prometo.

–Dinho, você enrolou, enrolou, e não me respondeu: você ainda pensa em voltar com a Lia?

–Como você é insistente Fat! Tudo o que eu tenho a dizer é que o futuro não está escrito em pedras, vou viver o agora, se for pra ser, será.

–Meu Deus! De quem é essa frase? Clarice Lispector, né?!

–Uma vez Fatinha, sempre Fatinha. –Disse o garoto rindo.

–Minha loira, o jantar está pronto. –Bruno disse entrando no quarto.

–Querido, preciso sair agora, mas depois a gente conversa mais, ok?! –Fatinha disse para Dinho.

–Tudo bem, a gente ainda tem muito o que conversar. Beijos linda. –Dinho disse.

Fatinha desligou o notebook e depois se levantou da cama para ir jantar. Foi só então que ela percebeu a irritação estampada na cara de Bruno.

–O que foi? –Ela perguntou.

–Com quem você estava conversando? –Ele perguntou sério.

–Com o Dinho. –Ela respondeu dando os ombros e passando por ele.

Bruno seguiu Fatinha até a cozinha.

–Desde quando você tem conversado com ele?

–E por que isso é importante? –Ela perguntou, não conseguindo se controlar.

–Por que é importante? A minha namorada está conversando com outro cara pelas minhas costas e eu não posso questionar?

–Outro cara não! Eu estava conversando com o Dinho, um dos meus melhores amigos. Desde quando eu preciso de permissão para conversar com quem eu quero?

–Fatinha, você pode até não se lembrar, mas você e o Dinho nunca foram só amigos. –Ele afirmou alterado.

–Você está delirando, só pode. Eu me lembro Bruno! O Dinho sempre foi um grande amigo, e você sempre insistiu em ver maldade nisso.

–Você se lembra do que?

–De tudo Bruno! Eu me lembro de tudo! –Ela gritou. –O Dinho, o Vitor e o Gil, todos esses que você insistia em criticar sempre foram só amigos! Você era o único que não conseguia perceber que apesar de eu já ter ficado com eles, nunca passou disso. O problema é que você sempre fez questão de ver o pior em mim, e na primeira oportunidade já estava atirando uma pedra.

–Você se lembra de tudo? Você recuperou a memória e não me disse nada? –Bruno perguntou tentando controlar a fúria. –Esse tempo todo você estava me fazendo de palhaço?

–E lá vem você pensando o pior de mim novamente. É muito difícil acreditar que eu recuperei a minha memória hoje, na praia? É claro que eu não ia esconder isso de você, idiota! Você esperava que eu te contasse isso na frente dos seus amigos?

–E por que não?

–Você é muito estúpido mesmo. A minha memória não é seletiva Bruno, eu me lembro muito bem de todas as cachorradas que você fez comigo. Se não fosse pelo acidente e pela Bia, hoje você continuaria me tratando feito um lixo como você sempre fez.

–Não é bem assim Fatinha.

–Não é bem assim? Ótimo! Amanhã eu vou voltar a ir para a escola com os meus uniformes de sempre. Agora que eu me lembro de tudo, percebi o quanto eu sinto falta das minhas minissaias. –Ela provocou.

–Nem pense em fazer isso, se não...

–Se não o quê? Você não vai querer namorar com a piriguete? É isso Bruno?

–Mas você não é uma piriguete! Cadê aquela garota que morria de vergonha de usar blusas curtas e só escutava Los Hermanos? –O moreno tentou controlar a situação.

–Aquela garota não sou eu, Bruno! É muito difícil entender isso? –Fatinha gritou. –Eu não tenho mais dezessete anos! Muita coisa aconteceu, eu já não vivo mais em função de realizar os sonhos dos meus pais. Eu quero ser eu mesma de novo.

–E para ser você é preciso sair por aí usando pouca roupa, provocando todos os homens do bairro? Qual a necessidade, Fatinha?

–Eu faço isso porque eu quero Bruno! Porque eu gosto! Porque eu não me preocupo mais com o que os outros pensam de mim! Todas essas mudanças que aconteceram nos últimos meses foram uma grande lição pra mim, eu consigo ver as coisas muito mais claramente agora. É decepcionante perceber que você continua o mesmo.

–Você sinceramente acha que esses últimos meses não valeram de nada para mim?

–Só me responde uma coisa Bruno: você me ama?

O moreno ficou calado por alguns segundos, que pareceram uma eternidade.

–Eu não sei quem você é agora Fatinha. Eu poderia facilmente amar aquela garota que estava deitada comigo hoje de manhã, mas eu não posso dizer que amo alguém que nem conheço.

A honestidade do rapaz a feriu profundamente. O Bruno era a única pessoa que a conhecia no seu intimo. Era arrasador perceber que ele não a conhecia de verdade.

Fatinha em silêncio serviu o jantar, com o olhar de Bruno sobre ela. Depois da comida servida ela finalmente o encarou.

–Eu vou voltar a dormir no meu quarto. Não vou sair de casa, e nem pedir para que você saia, a escolha é sua. O nosso namoro acabou, mas espero que nós possamos conviver pacificamente, pelo bem da Bia.

Dito isso, Fatinha foi para o antigo quarto, que estava sendo preparado para receber a filha. A sorte é que a cama ainda não havia sido desmontada, então ela teria onde dormir.

–É Bia, parece que vamos ser colegas de quarto. –A loira disse acariciando a barriga.

Ela comeu um pouco do jantar, mas estava sem apetite. Foi até a cozinha, lavou a louça, e depois foi escovar os dentes. Quando ela saiu do banheiro esbarrou com Bruno. Os dois se encararam, com o olhar cheio de mágoas, para depois continuarem os seus caminhos sem dizer uma palavra.

Deitada na cama Fatinha tentava dormir, sentindo o cheiro dele que estava na camisa que ela usava.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente eu preciso agradecer à todos os comentários que vocês deixam. Vocês não fazem ideia do quanto eu fico feliz com o que vocês dizem. É surreal para mim, que alguém esteja realmente gostando de algo que eu escreva.
Outra coisa: gercisales, Leticia Maia e Isabellla, fiquei muito feliz com as recomendações que vocês fizeram. Novamente eu não consigo expressar o quão prazeroso é ler a opinião de vocês. Sério mesmo, muito obrigada.
Agora voltando a fanfic, as coisas estão ficando tensas. Esse capítulo foi bem curtinho em relação ao último, né?
Malhação acaba essa semana (sad), e eu entro de férias daqui a quinze dias. Espero que vocês continuem a ler mesmo depois do fim da novela! Além do mais, BruTinha pode até estar acabando, mas a parceria JuDrigo logo estará de volta no horário das sete (Além do Horizonte, UHUUUUUUUL)!
Falei demais hoje, né?! KKKKKKKK