Coração Vago escrita por KatherineKissMe


Capítulo 30
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Se o trecho estiver em itálico entre aspas é porque é do diário da Fatinha.
Agora se o trecho estiver apenas em itálico, SEM aspas, é uma lembrança.



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"Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés"

O Mundo é um Moinho - Cartola

Bruno e Fatinha estavam tão felizes com tudo, que o mês passou rapidamente. A loira estava no sétimo mês de gestação e já não corria mais riscos relacionados à anemia, que havia sido devidamente tratada. Bia estava cada vez maior, e o casal já estava olhando os móveis para o quarto dela. Eles haviam decidido que o quarto que era de Fatinha seria o dela, pois era mais arejado e silencioso.

Roupinhas já haviam sido ganhas aos montes. Ju havia dado um body preto todo fofo com o escrito “Meu primeiro pretinho básico” na frente. Lia tinha dado um com “Eu curto rock com a minha tia”, e o Gil, com ciúmes, comprou um do Ramones. Os avós estavam chocados com os presentes dados pelos adolescentes, e prometeram comprar roupinhas mais adequadas para Beatriz.

Falando em avós, Fatinha havia tido uma conversa séria com os pais há duas semanas.

Bruno havia saído para comprar alguns remédios de Fatinha que haviam acabado. Era domingo à tarde e os pais da loira estavam no Rio visitando a filha.

–E o Francisco mãe? Alguma notícia dele? –Fatinha perguntou.

–O Francisco? –Vilma estava pálida.

–Seu irmão está muito bem Maria de Fátima. Ele mandou um abraço para você da última vez em que nós conversamos. Está muito feliz por saber que terá um sobrinho. –Adolfo disse, sem olhar para a filha.

Fatinha suspirou pesadamente, reunindo toda a coragem que tinha.

–Vocês não precisam mentir para mim.

Adolfo e Vilma olharam para a garota assustados.

–Eu entendo que vocês queriam me proteger, não estou chateada. Tenho a impressão de que por mais que eu me esforçasse para lembrar, no fundo tudo o que eu queria era esquecer. –Ela completou.

–Do que você está falando minha filha? –Adolfo perguntou, tentando disfarçar a emoção que o arrasava por dentro.

–Eu estou falando do Francisco. Eu me lembrei. –Fatinha se calou esperando que os pais dissessem alguma coisa, o que não aconteceu. –Eu me lembrei dos diversos dias em que ele chegou em casa mais cedo porque havia passado mal na escola, das visitas ao hospital, dos vários exames.

Ela respirou fundo sentindo os olhos marejarem.

–Eu me lembrei da leucemia, e que por mais forte e corajoso ele fosse, a cada dia que passava ele perdia uma batalha. –A essa altura as lágrimas já escorriam. –Eu me lembrei de que nós três teimávamos em ignorar a realidade, persistir no otimismo. Às vezes eu fico me perguntando se nós fizemos todo o possível. Eu não consigo deixar de pensar que se eu tivesse sido mais atenta à saúde do Franz, ele hoje estaria conosco.

Adolfo se levantou do sofá onde estava e abraçou a filha. Vilma estava estática, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

–Nós não podemos nos culpar Maria de Fátima. Eu sei que é difícil, mas se nós ficarmos pensando no “e se”, nunca conseguiremos suportar a perda do Francisco. Seu irmão é e sempre será insubstituível, foi uma perda irreparável, mas nós temos que nos manter fortes. –Adolfo disse. –Alguém te contou ou você se lembrou sozinha?

–Na verdade, quem me contou foi o próprio Francisco. –Vendo a cara de espanto dos pais ela se explicou. –Eu encontrei um caderno que ele me deu pouco antes de... Enfim, no caderno ele escreveu uma dedicatória que falava sobre tudo. Depois de ler tudo o que ele dizia, as memórias daqueles meses voltaram.

–O caderno azul. –Vilma disse algo finalmente. –Faz tempo que eu não ouço falar dele.

–Quando você se lembrou? –Adolfo perguntou.

–Mais ou menos há duas semanas, mas eu não encontrava coragem para falar sobre o assunto. Não sei se algum dia vou me acostumar com a ideia de não ter o Franz por perto, mas...

–Mas nós temos que nos focar nas lembranças felizes. O seu irmão odiaria saber que pensar nele é motivo de tristeza. –Disse Adolfo.

–É verdade. –A loira concordou. –Tenho certeza que o Franz ainda está conosco, de alguma maneira, e muito irritado por eu estar usando o apelido que ele tanto odeia.

Eles riram e o clima ficou mais ameno. Quando Bruno voltou para casa, percebeu que Fatinha parecia mais leve, mais feliz. Era quase como se uma nuvem turva que outrora fizera sombra na sua cabeça não mais existisse.

Voltando ao presente, Fatinha havia decidido explorar o seu passado. Ela queria ler todo o caderno que Francisco havia dado a ela. Pelo que parecia a loira havia feito dele um diário, muito extenso por sinal. Foi preciso algum tempo para que ela tomasse a coragem necessária, mas esse tempo chegou.

Na quinta-feira ela estava de folga, e mesmo sabendo que o Bruno só chegaria em casa mais tarde ela preferiu ir até a praia. Fatinha foi a pé até o seu destino, pensando se essa seria a coisa certa a fazer. No fundo ela tinha medo do que poderia haver no diário. Em um esforço para criar coragem ela decidiu caminhar na beira da praia, sentindo a Bia mexer de vez em quando. Depois de quase vinte minutos caminhando, ela encontrou uma grande pedra, que estava na parte mais tranquila do mar, e decidiu se sentar. Respirando fundo ela abriu o caderno já na segunda página, pulando a dedicatória de Francisco.

“Oi Franz,

Eu não sei bem o que escrever. Queria que você estivesse aqui comigo. Papai tem trabalhado como um louco, enquanto a mamãe está sempre na igreja. Acho que eles fazem isso por sentir falta de você. Já faz uma semana”

O pequeno trecho escrito por Fatinha datava uma semana depois da morte do irmão. A escrita estava borrada, e o trecho não foi terminado.

Reprimindo a vontade de chorar, ela mudou de página e viu que o novo escrito já datava um mês depois.

“Oi Franz,

Já faz uma semana em que mamãe, papai e eu estamos indo a uma psicóloga. Às vezes a consulta é em grupo, outras são individuais. Ela me disse que eu estou com inicio de depressão.

Sinto sua falta.”

07/02/2011

“Franz,

Hoje foi o primeiro dia de aula. Tudo se resumiu em um único adjetivo: péssimo. A única coisa boa nesses últimos meses tem sido as minhas idas ao hospital. Estou fazendo trabalho voluntário.

Saudades.”

28/02/2011

“Franz,

Consegui fingir estar doente por uma semana, mas hoje não teve jeito. Mamãe me obrigou a ir para a escola. A única notícia boa é que a Clarice –psicóloga– sugeriu que eu precisava de novos ares, ou seja, estou mudando de escola. Papai e mamãe estão conversando lá em baixo sobre a possibilidade de que eu estude e more no Rio de Janeiro, acho que seria uma boa ideia, mas eles só vão consentir se a Clarice der o aval.

Ps: a Clarice é a versão psicóloga da doutora Karine, você ia adorar conhecê-la.

Queria que você estivesse aqui.”


13/03/2011




“Franz, Franz, Franz,




Desculpa a empolgação, mas é oficial: acabei de me mudar para o Rio de Janeiro! Estou morando no bairro Botafogo, a dez minutos da praia e a cinco minutos do colégio onde eu vou estudar. Papai já fez a matricula no Quadrante, e ontem eles me trouxeram para cá de vez. Hoje os dois me passaram uma lista de milhões de regras do que pode e do que não pode. Disseram que confiam em mim, e que qualquer coisa era só ligar. A dona Vilma chorou um pouco na hora de ir embora, e o seu Adolfo se manteve firme.


Você deve estar confuso, não é?! Bem, a Clarice não só deu o aval, como apoiou muito a minha independência. De quebra me deu várias dicas de lugares badalados aqui no Rio. Se eu fosse chegada a festas...

Mas a reação mais surpreendente foi a do Eriberto. Você que adorava falar que ele era tão quadrado quanto o papai, nem imagina o que ele disse. Eriberto não só apoiou a ideia, como passou horas falando sobre o quanto isso seria importante para o meu futuro. Se você pensa que o nosso namoro chegou ao fim, está redondamente enganado Franz. Para a sua infelicidade houve até um pedido de casamento –nada formal– mas eu até gostei, já consigo até imaginar o meu futuro: eu e o Eriberto casados, morando no Rio de Janeiro, criando os nossos filhos. Sei que você não gosta da ideia, mas eu não vejo nada de mais nisso.

Enfim, o papo está ótimo, mas eu preciso fazer algo para jantar. Colocando as aulas da dona Vilma em prática! Estou exausta, então não vou me aventurar muito na cozinha, só o básico mesmo. Fazer mudança é cansativo demais, e o dia será longo amanhã.

Beijos.”

Fatinha ficou surpresa com a mudança repentina de humor no teor da carta, e como quem havia escrito ela sentia a empolgação de estar mudando de cidade. Assim, foi com a curiosidade de um leitor apaixonado pela história, ela foi para a próxima página.

14/03/2011

“Franz,

Uma coisa muito estranha aconteceu comigo hoje enquanto eu me arrumava para ir para a escola. Eu me olhei no espelho e vi aquela saia na altura do joelho, acompanhada do uniforme do Quadrante, e foi então que eu percebi que aqui ninguém me conhecia. Eu seria conhecida pelo que eu quisesse mostrar, e não pela minha família. Meio que de repente, eu cansei de ser a Maria de Fátima de Carambolas e resolvi ser a Maria do Rio de Janeiro. Não fez muito sentido, mas acho que você gostaria da mudança.

Em um impulso louco que eu não faço ideia de onde veio, peguei uma bermuda velha e a cortei, fazendo um short de verdade. Sei que o Quadrante é bem mais liberal do que os colégios de Carambolas, mas preferi não arriscar uma customização no uniforme. Enfim, passei um pouco de maquiagem para dar uma melhorada na aparência e fui para o colégio com um objetivo: ser quem eu quisesse.

Franz, deu muito certo! Logo que eu cheguei ao colégio, fui encaminhada por um bigodudo de nome Robson, até a sala do diretor Mathias. Todos foram bem legais comigo, inclusive os alunos. Fiquei muito amiga de um cara chamado Frederico, mas apelidado de Fera. Enturmei também com o resto dos alunos, mas nada demais. Só sei que na hora do recreio todos já me chamavam de Fatinha.

Sei lá, acho que vou explorar um pouco mais essa nova eu.

Beijos irmão lindo!”

Os outros escritos não tinham nada de mais. A garota falava sobre as mudanças que ela havia feito no guarda roupas, e que tinha feito mechas californianas nos cabelos. Foi no dia 23 de abril que aconteceu algo diferente.

“Franz,

Estou me sentindo tão culpada. Hoje teve uma festa na casa da Laura, e eu fiz o que não devia: fiquei com o Fera. Não sei o que deu em mim, a galera estava me zuando por eu ser a única que estava no refrigerante, então eu resolvi tomar um pouco da famosa tequila. Não me julgue, mas eu gostei. Tomei mais alguns shots, foi quando a Laura me disse que o Fera estava afim de mim. Eu não sei se foi por eu não estar sã, ou se foi por curiosidade, mas eu fiquei com ele. O beijo foi tão diferente daqueles que eu já troquei com o Eriberto, sei lá, foi mais vivo.

Só agora que eu cheguei em casa, e estou novamente sóbria, que pude perceber o tamanho da burrada que eu fiz. Sabe o que é pior: eu estou com muita vontade de repetir.

Não fique preocupado comigo Franz, vou me controlar.

Beijos.”

–Cara, então eu já fiquei com o Fera. –Fatinha disse em voz alta. –Queria me lembrar disso.

A loira continuou lendo, e quando foi ver já havia chegado no final do ano de 2011 com a protagonista tendo ficado com quatro outros alunos da turma dela. O resultado não foi surpreendente.

16/12/2011

“Franz,

Você não sabe a tragédia que aconteceu: estou repetindo o ano. Eu assumo que não fui a mais responsável, que adorava surfar com o Fera, ou então andar de bicicleta com o Pedro, e até mesmo ir ao shopping com a Isabel, mas nem imaginava que poderia tomar bomba. Logo eu. Mathias chamou o papai e a mamãe para uma reunião, e eu escutei uma bronca daquelas, eles até queriam me levar de volta a Carambolas, mas Mathias os convenceu de que muitas coisas que haviam interferido no meu desempenho na escola não eram minha culpa.

Enfim, voltar para Carambolas é só nas férias mesmo. Agora é me preparar para o ano que vem, pelo menos companhia eu tenho, já que o Fera repetiu comigo.

Beijos.”

07/02/2012

“Franz,

Desculpa o sumiço, mas não aconteceu nada de legal em Carambolas. Fiquei usando aquelas roupas feias e tendo os meus livros como única distração, mas hoje tudo mudou. Primeiro dia de aula, novamente no segundo ano. Eu já conhecia a galera, mas não o suficiente para ser amiga deles.

Modéstia à parte, acho que todos os meninos estão apaixonados por mim. Senti falta do estilo Fatinha de ser.

Beijos.”

Agora a loira já conhecia os personagens da história. Orelha, Pilha, Dinho, Ju, Lia, e outros foram citados nos dias que se seguiram. E foi então que o Bruno apareceu.

02/03/2012

“Franz,

Hoje a noite foi cheia de acontecimento. Rolou festinha na casa da Ju, organizada por mim. A minha intenção era ser a cupido da história, ajudando ela e o Dinho, mas não foi bem assim que as coisas aconteceram.

A festa estava ótima. Todo mundo dançando, eu arrasando, Mocotó nos ensinando a Macarena e a Ju quase ficando com o Dinho. Eis então que surge um moreno alto, bonito, sensual e muito bravo, por sinal. Quem era? Bruno, irmão da Ju.

O gato brigou com a Ju, mas no final parece que eles se entenderam e ele deixou a festa continuar, só que sem música alta. Assim, lá estava eu, observando o moreno que estava com uma cara péssima em um canto da sala. Foi aí que eu decidi: quero esse cara. A Ju disse que ele tinha namorada, mas Franz, ele era tão gato que eu não resisti. Fui com a cara e a coragem até o meu alvo, e fui dispensada. Isso mesmo: DISPENSADA! Cara, isso nunca aconteceu comigo. Na hora eu me senti péssima, não sabia como reagir. Fui para o banheiro e só então consegui me recompor. Eu estava pronta para causar.

Voltei para a sala e o Pilha deu um jeito da festa continuar, ai o Bruno apareceu de novo. Foi então que eu decidi dar uma nova chance para o garoto, vai que ele tinha ficado tímido diante de uma beleza como a minha, né?! Cara, me arrependo amargamente. O Bruno é um idiota! Não quero nem aprofundar na falta de educação que ele fez comigo. Dois tocos na mesma noite é foda. Admito, eu não aguentei e corri para o banheiro para chorar.

De repente eu senti um ódio tão grande. Ódio dele por ter me feito chorar, e ódio de mim mesma por estar chorando. Limpei as minhas lágrimas e decidi que não ia sair sem ter ficado com ninguém daquela festa, só faltava definir o alvo. Essa parte foi a mais fácil. Quando eu vi a Ju naquela enrolação de pega, não pega com o Dinho, eu percebi que ele seria a escolha perfeita.

Não me condene! Sim eu fiquei com o Dinho. Eu sei que eu não deveria ter feito isso, a Ju ficou super mal, mas a culpa foi toda do idiota do Bruno. Quer saber, eu vou dormir, que é a melhor coisa que eu faço. Segunda-feira vai ser difícil.

Beijos!”

Depois disso muita coisa aconteceu: discussão com a Lia, Mocotó era uma farsa, Marcela e Gil entram no Quadrante, show de rock do Nando, e muitas outras coisas. Foi então que veio a grande bomba.

17/05/2012

“Franz,

Minha vida está uma loucura. O Eriberto veio para o Rio me visitar, estou tendo que me desdobrar em várias, e a Marcela está no meu pé por causa disso. Para piorar a situação, o Pilha vai fazer uma apresentação para o DJ Malboro no Sarau da escola, mas eu não vou poder dançar por culpa do Eriberto que prometeu ir no evento. Estou de saco cheio desse noivado.

Beijos.”

21/05/2012

“Franz,

Acho que eu nunca fui tão humilhada como na sexta-feira. Eu sabia que essa visita do Eriberto só serviria para causar problemas.

Tudo aconteceu no Sarau do Quadrante. Lá estava eu, toda arrumadinha, com vestido comportado, sentada na plateia. Pilha entrou no palco com Lia para a apresentação, e o DJ Malboro assistia a tudo do lado da Dona Rosa. Cara, a Lia estava dançando muito mal! Nada do que eu tinha ensinado a ela estava sendo colocado em prática, e o DJ Malboro obviamente não estava gostando da performance. Depois de muita agonia eu decidi ajudar o Pilhote. O Eriberto estava atrasado e com sorte ele ainda demoraria cinco minutos para chegar. Mera ilusão.

Subi no palco e a galera foi ao delírio. Eu causei, e muito! Até demais para falar a verdade. Só fui perceber a presença do Eriberto e dos nossos pais, quando Adolfo começou a gritar. Foi aí que começou a minha desgraça.

Não quero me aprofundar na humilhação publica a qual fui submetida, quero é esquecer tudo o que aconteceu naquela noite. Resumindo: já não tenho casa, noivo e muito menos pais. Fui abandonada por aqueles que eu mais me esforcei para não magoar.

Como desgraça pouca é bobagem, as desventuras em série não terminaram ali. Marcela me ofereceu abrigo, então pelo menos eu não precisei dormir na rua. Estava tudo muito bom, até ela perder a paciência e me enxotar na manhã seguinte. A intenção de Marcela era me despejar na casa da Lia, mas a roqueira estava em um mau humor tão grande que ficou nervosa com a primeira frase que eu disse. Assim, lá estava eu sendo jogada para cima da Ju. Odeio essa sensação de ser um estorvo.

Ai você pensa: eu e o insuportável do Bruno no mesmo apartamento. Era certo que não terminaria bem. Assumo que eu não facilitei muito, a tentação de levar o bom moço para o mau caminho era grande demais. Não resisti e provoquei mesmo. Ah! Não sei se te contei, mas o Bruno esta saindo com a Rita (casal mais chato da história, Deus me livre!). Me irrita tanto saber que ele me dispensou, e que agora fica com aquela sueca chata, por isso, eu provoquei até demais. Resultado: não fiquei com o gato, e fiquei novamente sem teto.

A minha sorte –se é que eu tenho uma– é que era uma segunda-feira de manhã, então eu tinha até a hora do almoço para decidir o que fazer. Os nossos pais tinham deixado minhas malas no Quadrante, então pelo menos roupa eu ainda tinha.

Sabe o que é pior? Ter que ver todos falando sobre mim nas minhas costas, cochichando pelos corredores e rindo da minha desgraça. Odeio ser alvo de deboche e de pena.

Depois de um fim de semana tão complicado, as coisas finalmente pareciam entrar nos eixos. Consegui abrigo na casa do Dinho, ele está sendo ótimo comigo. Pode parecer estranho eu dizer isso, mas já o considero quase que um amigo de infância.

Ai Franz, você não faz ideia do quanto eu estou precisando de você.”

A escrita estava um pouco confusa nos primeiros parágrafos, mas no decorrer do texto pareceu melhorar. Fatinha sentiu na um aperto no coração, mas continuou com a leitura.

Como vocês bem sabem as coisas começaram a melhorar. A garota conseguiu um emprego no Hostel e também um quartinho só para ela.

15/06/2012

“Franz,

Você não vai acreditar no que aconteceu. Eu, Maria de Fátima dos Prazeres, consegui levar o bom moço para o mau caminho. Isso mesmo, o Brunito não resistiu.

Assumo que as coisas não aconteceram da forma que eu imaginava, ele estava bêbado e mais apressado do que eu esperava. Eu não sei bem o porquê, mas eu percebi que adoraria que a minha primeira vez fosse com o Bruno. Contei a ele que eu era virgem, ele não só não acreditou como dormiu sem escutar nada do meu desabafo. Fiquei com muita raiva dele, muita mesmo. Tirei uma foto comprometedora com ele hoje de manhã, mas não sei se vou ter coragem de mostrar para alguém.

Por um segundo me passou pela cabeça que era eu que queria ser levada de volta para o bom caminho. Ignora a última frase.

Beijos.”

Fatinha imediatamente pensou naquela foto que ela havia visto no hospital. Então foi esse o motivo que a levou a tirar uma foto seminua com ele. Ela foi a responsável pelo término dele com a Rita.

Tentando não pensar muito nas coisas ruins que ela já havia feito, a loira voltou para a leitura.


22/06/2012




“Franz,




Não escrevi nada essa semana porque estava muito ocupada. Vou fazer um resumo dos fatos para facilitar. Primeiro de tudo, o Bruno acha que rolou algo mais entre nós. Assumo que eu dei a entender, mas... Enfim, ele como o bom moço que é contou tudo para a Rita, que terminou o namoro.


Depois o bonitão veio tirar satisfações comigo, mas eu não quero entrar em detalhes nas merdas que aquele babaca falou. Espero que ele esteja sofrendo e muito com o término do namoro. Bom, não é preciso ser gênio para saber que o clima entre eu e a Rita está péssimo na escola. Por culpa dela eu me vi obrigada a mandar a foto com o Brunito para geral, antes que o Orelha postasse no blog dele. Para piorar ainda mais a situação, surgiu as eleições para o grêmio estudantil. Eu, Fera, Orelha, Pilha, e o casal LiDinho, formamos a Chapativa. Aí a Ju formou com a Rita e outros cornos, a Chapensante. Essa semana foi quase de guerra no Quadrante, sério. Eu tive até o meu uniforme roubado, para você ter uma ideia.

Infelizmente, a Chapensante ganhou. Não vou me lamentar, pelo menos vai ter festinha à fantasia. Já escolhi até a minha roupa. A festa pode até não ser minha, mas eu vou fazer ela valer a pena. Estou preparada para causar.

Beijos!”

22/06/2012

“Ai Franz,

Causei. Causei até demais. O Bruno acabou de sair daqui do Hostel me dizendo que nada sério poderia rolar entre nós. Ele ficou puto quando descobriu que eu era virgem, e que até então ele nunca tinha dormido comigo.

É, isso mesmo, até então. Ai Franz, foi tudo tão perfeito. Eu estava com tanto medo, mas decidi me atirar. Naquele momento eu tive a certeza de que ele era o cara certo, e não queria perder a oportunidade, que poderia ser única. Sei lá, agora eu me pergunto se valeu a pena. Por tanto tempo fui uma pseudo-piriguete, e agora parece que... Ah, não sei de nada.

Quando eu penso nos momentos em que nós estávamos juntos eu não consigo me arrepender. Se ele não tivesse sido tão grosso comigo, eu não estaria aqui agora sem conseguir dormir. Porra! Eu não pedi nada sério em momento algum! Custava curtir o momento? O lado cafajeste do bom moço tinha que sobrar justamente para mim?

Eu estou confusa demais e precisando de um ombro amigo, mas acho que tudo o que me resta é chorar as minhas mágoas no travesseiro antes de dormir.

Beijos.

Ps: O Bruno está oficialmente fora da minha vida. Como diria Clarice Lispector: se ele não quer, tem quem queira.”

–Gente, eu jurava que isso era de uma música do Antônio Viera. –Fatinha comentou.

Com espanto ela percebeu que havia um intervalo de mais de seis meses até o próximo escrito.

08/02/2013

“Franz,

Já fazia algum tempo que eu não me reconhecia mais. Eu nunca me humilhei tanto como nesses últimos meses. Por mais que eu tentasse, eu não conseguia me controlar. Tudo por culpa dessa coisa idiota chamada de “amor”.

É, é isso mesmo: eu amo o Bruno. Percebi isso há algum tempo, mas não tive coragem de assumir. Estava com vergonha de vir aqui te dizer que não cumpri com o combinado, não consegui expulsá-lo da minha vida, e muito menos deixar outro entrar. É como se o meu coração já tivesse sido retalhado em mil pedaços, mas toda vez que eu encontro o moreno é como se nada tivesse acontecido, e de novo meu coração volta ao estado despedaçado. Perdi a conta do número de vezes que o Dinho me disse que eu devia me valorizar, e o que eu fiz? Fiquei com o Gil na frente do Bruno só por vingança. Falando em Dinho, ele foi embora. Aos poucos eu vou te atualizando sobre tudo o que aconteceu nesses últimos meses, mas agora vamos ser objetivos.

Logo depois da minha primeira vez, a Marcela me aconselhou de diversas maneiras, amo aquela mulher. Estava disposta a seguir tudo o que ela tinha me dito, mas aí o Bruno apareceu no Hostel. Tenho certeza de que a Rita tinha dispensado-o, por isso ele tinha vindo até mim. Honestamente? Eu não me importei. Contanto que ele quisesse estar comigo, tudo bem.

Esse rolo durou até onde eu pude aguentar. Quando eu percebi que o que eu sentia por ele era mais forte do que paixão, eu resolvi endireitar as coisas. Foi nessa hora que a mamãe caiu do céu, cheia de conselhos e sabedorias. O truque da vitrine fez com que eu percebesse que o Bruno talvez gostasse de mim, se ele me assumiria ou não aí já eram outros quinhentos. Mamãe foi embora, e levou com ela a minha força de vontade para manter a linha dura. Tentei ser romântica, mas acabou que tudo pegou fogo. Literalmente. Demitida do Hostel, novamente sem casa, eu encontrei abrigo nos braços e na casa do Bruno. Agora eu percebo o tanto que interpretei mal a situação. Naquele momento eu acreditei que nós estávamos namorando. O sonho durou até o café da manhã.

De novo sem casa, desempregada, e solteira, fui a musa do clipe do Pilha, que estreou naquela mesma noite. Eu pensei realmente que a noite era minha, até ver o Bruno agarrando a Rita. Sei lá, aquela cena fez algo dentro de mim se quebrar. Algo que eu nem sabia que existia. Me humilhei mais um pouco, mas dei a volta por cima. “Fatinha is back” foi o que eu disse, antes de causar muito no que seria uma das noites mais tristes da minha vida.

Graças a Deus, eu tenho amigos sinceros. O Pilha me abrigou na Penha, tirando a pobre coitada aqui da rua. A dona Rosa é rígida, mas é um anjo. Falando em anjo, não, calma, tenho que organizar as coisas.

Os gringos do Hostel insistiram tanto que eu consegui o meu quartinho e o meu emprego de volta. Talvez o problema esteja no quarto, mas foi só o Bruno aparecer para mais uma discussão, que rolou novamente. Dessa vez o Dinho tomou as minhas dores, e como consequência o moreno prometeu se afastar de mim, e engatou em um romance com a azeda da Ana.

Agora sim podemos falar de anjos. O Dinho me deixou, mas em troca surgiu o Vitor. Um motoqueiro de olhos azuis que me encantou no momento em que eu o vi. De quebra o Bruno ficou com tanto ciúmes que quase armou uma cena, na frente da própria namorada. Provoquei até conseguir ficar com o Vitor, e foi então que um novo padrão surgiu. Eu provocava ciúmes no Bruno, e ele revidava me humilhando. Ele adora me chamar de “Facinha” quando está enciumado. Eu sei que eu devia parar de provocar, mas essa é a única reação que eu consigo arrancar dele. Bem, essa não é a única.

Há algumas semanas eu consegui arrancar um beijo dele. Eu não o agarrei, se é o que você está pensando. Foi uma coisa mútua, sabe?! Eu estava com tanta saudade do roçar daquela barba na minha bochecha, do corpo quente colado no meu. Eu sentia falta dele. Mas como todos os sonhos tem prazo de validade, esse venceu rapidamente. Bruno se lembrou da namorada e ficou todo culpado, e eu para descontar, contei que as câmeras de segurança do Hostel gravaram tudo.

Esse foi o inicio de uma briga que só teve fim há poucos dias. A Ana encontrou o vídeo –por culpa do Bruno e não minha- e terminou o namoro com ele. Ele como sempre, veio atrás de mim para me humilhar. Repetitiva essa história , ein?!

Enfim, hoje de manhã ele viajou com os amigos para Salvador. Ele ia curtir o Carnaval, e depois visitar os pais em Brasília. Antes de ir, ele veio conversar comigo e pediu que nós fossemos amigos. Pela primeira vez eu consegui dispensá-lo de verdade. Disse o que estava entalado na minha garganta há tempos: ele não é nada meu. Nem amigo, nem colega, nem namorado. Um simples conhecido.

Bem, foi isso que me fez vir rastejando até você, para implorar pelo seu consolo. Eu estou com medo de me perder novamente. É horrível saber que uma única pessoa tem tanto poder sobre quem você é, e como você se sente.

Estou precisando de colo.

Beijos.”

Fatinha chorava muito na beira da praia. Todo aquele sofrimento agora era presente. Ela sentia tudo aquilo novamente, enquanto seu cérebro se esforçava para revelar todas aquelas memórias reprimidas.

Foi com o inicio do texto na próxima página que tudo se tornou claro.

18/02/2012

“Franz,

Hoje eu estive na Balaiada na inauguração da creche (...)”

Assim, todas as memórias daquele dia a inundaram em um rompente.

Fatinha estava finalmente acertando nas suas atitudes. Ela havia ajudado uma comunidade carente a ganhar uma creche e um ambulatório infantil, e por isso estava sendo louvada. O ambulatório ainda estava sendo construído, mas a inauguração da creche por si só era uma grande vitória.

No campo amoroso ela parecia também estar se endireitando. Bruno havia aparecido na Balaiada e coberto a loira de elogio pelas suas boas ações, ela, no entanto, não deu bola. Bom, ela resistiu o máximo que pode, mas quando ele a puxou para um beijo daqueles ela se rendeu a saudade que sentia de estar com ele.

Como bom casal explosivo que eles formam, rolou. Depois de meses ela cedeu no lugar mais inapropriado de todos: na creche. Por sorte todos havia saído, então os efervescentes não foram flagrados. Fatinha se arrependeu, obviamente. Ainda mais depois do moreno dizer que ela é quem havia provocado toda a situação. Decidida a dar a volta por cima, a loira se arrumou e foi até a saída, sem esperar pelo rapaz, e foi então que ela percebeu surpresa: eles estavam trancados.

A loira estava irredutível, tudo o que ela queria era sair daquela creche e esquecer de vez o que havia acontecido. Bruno, com muito esforço, conseguiu amansar a fera. Ele não sabia muito bem o porquê, mas naquele momento tudo o que ele queria era estar com ela. Como ele havia sentido falta daquela loira esquentada! Nem mesmo todas as mulheres do carnaval em Salvador foram capazes de tirá-la da cabeça dele.

A noite foi uma das mais perfeitas que Fatinha havia vivido. Mesmo sem querer, ela se permitiu alimentar o coração com todo o carinho que Bruno a tratava. Ele nunca havia sido tão romântico com ela, e a loira queria curtir o momento, antes que a meia noite chegasse e o príncipe voltasse a ser sapo –histórias misturadas, mas acredito que vocês tenham entendido.

E foi sem nenhuma surpresa, mas com muita dor, que Fatinha viu a sua carruagem voltar a ser abóbora.

–Bruno. Bruno acorda. –Fatinha o chamava. –Acorda cara, daqui a pouco chega alguém. Se veste.

O moreno espreguiçou, enquanto a loira calçava o tênis.

–Graças a Deus, estou doido para tomar um banho e trocar de roupa. –Ele disse sentando.

Fatinha soltou uma risada sarcástica.

–Pronto, estava demorando. –Ela disse.

–Demorando o que?

–Pra você voltar a ser você. Pra carruagem voltar a ser abóbora e eu voltar a ser a Fatinha borralheira de sempre.

–Para com isso Fatinha. –O moreno pediu colocando a camisa.

–Eu estou falando sério Bruno, eu sei exatamente o que vai acontecer aqui. Você vai sair, vai fingir que não aconteceu nada entre a gente, vai conhecer uma nova garota, arranjar uma namorada certinha e sem sal, e voltar a me tratar como era antes. Me chamar de vadia, falar que eu não presto, esse tipo de coisa que você adora fazer comigo. Acertei?

–E se dessa vez for diferente?

–Diferente como? –A loira perguntou ainda com a máscara de descrente, e tentando com todas as forças manter o coração fechado.

–E se nós ficássemos juntos? –Ele sugeriu.

–Juntos como? Isso é um pedido de namoro? –Ela perguntou tentando segurar a esperança que a consumia.

–Não! –Bruno respondeu imediatamente. –Eu estou sugerindo que nós fiquemos juntos informalmente, e aí a gente vê no que dá.

Como uma flor que gastou todas as energias para desabrochar, Fatinha murchou.

–E não foi isso que nós fizemos há um tempo? Na primeira oportunidade que você teve já estava ficando com a Rita.

–Mas aquilo foi diferente. –Ele tentou argumentar.

–Diferente como? Pra mim parece a mesma coisa. Você continua tendo vergonha de mim, vai ser só eu dizer uma coisa que você não goste para eu voltar a ser tratada como a “Facinha”. Não Bruno, eu mereço muito mais. –Ela levantou.

–Merece muito mais tipo o que? Eu não vou namorar com você. –Ele disse irritado pelo fora tomado.

–Eu não estou pedindo que você namore comigo! Eu só não quero mais ficar com você! Eu quero dar um rumo na minha vida, e você só tem me atrasado. –Ela retrucou.

–Eu tenho te atrasado? Desde quando você deixou de fazer algo por minha causa? Deixa de ser cínica Fatinha, você sempre fez tudo do seu jeito, sem se importar com o que eu ou qualquer outra pessoa pensa.

–E por que eu deveria me importar com os outros? Por que é tão importante a opinião que você ou os outros tem de mim? Eu não vou mudar por você e nem por ninguém! A vida é minha, a boca é minha e o corpo é meu. Eu beijo quem eu quiser, durmo com quem eu quiser, e namoro com quem eu quiser! É uma pena que você seja tão pequeno a ponto de se importar tanto com a opinião alheia.

–Pois eu prefiro me importar com a opinião alheia a ser tão ridicularizado por todos quanto você. Você realmente acha que alguém vai querer namorar com uma mulher que não se dá ao respeito?

As palavras dele atingiu a garota como um tiro. Foi preciso muita força de vontade para segurar as lágrimas, e deixar a raiva sobrepujar a dor.

–Você é ridículo. Eu não me dou ao respeito? Irônico você dizer isso, mas quer saber? Eu não me importo. Pense o que quiser de mim, isso não muda em nada a minha vida. Você é teimoso, machista e preconceituoso, prefiro manter a distância de pessoas como você Bruno.

Fatinha deu as costas para o rapaz que estava com muita raiva, e começou a arrumar a bagunça que eles haviam feito na noite anterior. Com sorte alguém logo chegaria para tirá-la daquele inferno.

Bruno também organizou algumas coisas, mas longe dela. Nenhum dos dois disse uma palavra nos minutos seguintes.

Quando dona Filó finalmente apareceu, os dois se desculparam rapidamente, e prometeram repor as papinhas. Ignorando os olhares curiosos das mães, os dois deixaram a creche. Eles desceram o morro lado a lado, mas sem nada dizer. Depois da descida Bruno foi até onde havia estacionado o carro e Fatinha pegou o primeiro táxi que viu. E foi só então que a loira deixou toda a mágoa se transformar em lágrimas.

Apesar de tudo ela o amava.

Foram precisos mais de trinta minutos para que Fatinha conseguisse parar de chorar. Agora ela se lembrava de tudo. Ela chorou até que os olhos ficassem vermelhos, e o peito doesse. Quando finalmente as lágrimas secaram, ela se levantou e ficou caminhando pela praia. O sol já estava se pondo, e ela logo teria que voltar para casa.

Enquanto sentia o vento bagunçar os seus cabelos, ela pensou em Bruno. Agora eles estavam juntos, tinham uma filha para criar. Fatinha se esforçava para deixar o passado de lado e se agarrar ao presente.

Quando Fatinha chegou em seu prédio já eram mais de sete horas da noite. Pensando no Bruno amoroso dos últimos meses ela entrou no elevador.

Na cozinha do 801, Bruno conversava com Rasta e Nélio.

–Eu vou ligar para a Fatinha, já está tarde e ela não chega. –O moreno disse preocupado.

–Ela provavelmente está no Hostel, não há motivo de tanta preocupação. –Disse Nélio.

–Estou achando engraçadíssimo esse Bruno todo apaixonado. E justo pela Fatinha. –Rasta comentou.

–Como assim? –Bruno não entendeu a graça.

–Logo você Bruno, que dizia sempre que a Fatinha era uma piriguete, e que vocês dois juntos nunca daria certo. “Namorar com ela? É atestado de corno.” Lembra?

–E agora esta aí, mais amarrado do que homem casado. –Nélio complementou.

–Não é bem assim. –Bruno tentou contornar a situação. –A Fatinha não é a mesma, ela mudou muito.

A loira entrou no apartamento, mas os rapazes não notaram a presença dela.

–Só existe uma Fatinha, Bruno. Admite que você está pagando língua, namorando com a piriguete. –Rasta brincou.

–Eu não estou pagando língua. –Bruno disse. –Eu nunca namoraria com a Fatinha de meses atrás. Eu gosto dela do jeito que ela está agora.

–Sem memória você quer dizer? –Nélio disse. –E se um dia ela acordasse e PUF, voltasse a ser a Fatinha de antes? Você continuaria com ela?

–Continuaria, é claro. Eu nunca deixaria aquela doida cuidar da minha filha sozinha.

Fatinha sentiu o coração afundar e o chão sumir sob os pés, perdeu a noção de tempo e espaço, mas antes que pudesse sair do apartamento Bruno deixou a cozinha e a encontrou na porta, com a mesma ainda aberta.

–Minha loira! Eu já estava ficando preocupado com você! –Ele disse sorrindo indo até ela para um beijo.

–Fatinha, ele estava a ponto de ligar para a polícia e registrar um sequestro. Que namorado desesperado esse que você arrumou. –Rasta disse

Tudo o que Fatinha escutava era: Eu nunca namoraria com a Fatinha de meses atrás. Eu nunca deixaria aquela doida cuidar da minha filha sozinha.


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Notas finais do capítulo

Olá galera bonita! Peço desculpas pela demora na postagem, tive que assistir vários capítulos do inicio da temporada para escrever.
Acho que hoje eu bati o recorde, esse capítulo ficou bem maior que o esperado.
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