Final Destination - Risk Of Death escrita por Paul Oliver


Capítulo 12
Matador Ao Contrário - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ^^



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Oliver acordou de súbito. O garoto estava dormindo quando teve um pesadelo que o fez despertar. Ele estava usando somente uma calça de moletom, e estava com o cabelo mais bagunçado do que de costume. Sentou na beirada da cama e colocou as mãos sobre a cabeça, tomando fôlego. O que será que significa sonhar com a própria morte?

O rapaz então olhou para o lado e pode ver um porta-retratos, onde estava seu pai e sua mãe abraçados num parque florido, sua mãe estava grávida.Era como se Oliver pudesse se lembrar perfeitamente daquela tarde, mesmo sendo impossível.

Sorriu.

Então se levantou da cama, pegou seu celular sobre o criado-mudo e correu até sua camiseta que estava caída no chão do quarto. Não lembrara de tirá-la, mas como estava suado em razão ao pesadelo que tivera, devia ter feito isso inconscientemente. O pesadelo. Havia sonhado com a sua morte, o que já era estranho em razão de tudo o que estava acontecendo com ele nos últimos tempos... Mas não conseguia se lembrar especificamente da forma que morrera no sonho. Era engraçado isso, pois tinha acabado de acordar e mesmo assim não lembrava.

Antes de descer até a cozinha para preparar algo para comer, e daí continuar sua busca na internet, Oliver olhou mais uma vez para o retrato de sua mãe e de seu pai. Era como se tivesse toda certeza de que eles estavam juntos novamente, e então acabou tendo uma sensação de que a morte não era tão ruim assim. De que talvez ela também tivesse um lado bom.

— Eu acho que tudo tem um lado bom...

Oliver descia as escadas, e enquanto descia os degraus chamou pelo nome de Louise umas duas vezes, foi quando percebeu que ela já deveria ter saído encontrar com seu pai. E provavelmente não queria acordá-lo para se despedir.

O rapaz chegou na sala, e então apertou sem querer um botão em seu celular que fez a tela acender. Oliver estranhou, havia duas chamadas perdidas. E estranhou mais ainda, serem de Kiara, sua ex-namorada. Não lembrara de ainda ter seu contato em seu telefone, e de que ela também tinha o seu. Mas isso não importava, agora estava em dúvida se retornava ou não a ligação.Antes que pudesse decidir, o telefone fixo próximo ao sofá tocou. Oliver jogou seu celular em cima de uma almofada do móvel, e correu para tirar o aparelho do gancho, era uma voz masculina.

— Alô, quem fala?!

Oliver estranhou, não só a pergunta do homem como também o fato dele parecer meio desesperado.

— Como assim quem fala? Você me ligou! Cara, não estou com cabeça para trotes estúpidos...

— Espera! A Angel! Ela vai cometer uma loucura, eu tenho certeza! Ela me trancou no apartamento dela, ela vai... Eu-eu, não tenho o número de nenhum amigo dela, só tinha o da Shaniqua! Então eu lembrei que não costumo apagar o registro de chamadas do meu celular, e daí liguei pro número que o Carl ligou naquela noite antes da cirurgia dele e... Eu estou desesperado, eu não sei o que fazer! Me ajuda, por favor!

Oliver desistiu de desligar o telefone, ainda estava confuso, mas começara a entender. Carl havia ligado para a casa de Leonel minutos antes de entrar na sala de cirurgia, antes de sua morte. Avisando sobre a visão que tivera da morte de Angel, foi por isso que seu pai havia conseguido salvá-la de cair do edifício... E Carl havia usado o celular do médico... Era isso! Oliver já sabia quem estava falando com ele.

— Dr. Kramer? Sou o Oliver, um amigo da Angel! Ela já me falou diversas vezes sobre você, me desculpe... O Carl havia ligado pro meu pai naquele dia sim, no telefone fixo aqui de casa... Mas isso tudo não importa agora... Peraí, o que a-aconteceu com Angel?!

— Eu não sei direito! Eu estava com ela no apartamento mas ela estava distante, estranha... Se despediu de mim, saiu de lá e me trancou! Eu consegui abrir a porta logo depois, no início pensei que pudesse ser uma brincadeira, mas a Shaniqua acabou de morrer... Não pode ser isso! Foi daí que lembrei que depois da morte do Carl, ela tentou se suicidar! Eu tenho medo de que ela queria fazer isso de novo!

Oliver sentiu como se um raio o atingisse. Estava claro o que Angel iria fazer, toda a angústia e a dor de perder mais uma pessoa que amava e toda a pressão para sair da lista, a afetou da pior maneira possível. Não podia deixar que fizesse isso consigo mesma, mas se o próprio Kramer a perdera de vista, aonde ela estaria agora?

— Você tem alguma ideia de onde ela está, Kramer?

— Nenhuma... Eu não sei o que eu faço... Eu a amo muito! Não quero que nada de ruim aconteça com ela... Eu tô aqui perto de um ponto de ônibus, assim que vi que o carro dela ainda estava no estacionamento, vim pra cá... Mas não consegui ninguém que tenha visto ela por aqui.

O garoto voltou a pensar enquanto ouvia diversas vozes vindo do telefone. Realmente, Kramer estava num ponto de ônibus e este ficava numa rua bem movimentada. Foi quanto pode escutar ao fundo a voz de um homem falando com Kramer:

Você não olha por onde anda?

Oliver ouviu Kramer se desculpar e então teve a certeza de que ele estava na rua. Foi quando ouviu o click em sua mente. Aquela voz ao fundo, parecia familiar... Parecia a voz do Wen.

O jovem andou um pouco com o telefone em mãos, foi quando tropeçou em algo no chão. Era um dos pares de seu sapato. Havia o esquecido ali, foi então que o olhou mais atentamente, especificamente em seu logotipo: Reyals. Kramer voltou a falar com ele pelo telefone, mas Oliver não conseguia prestar atenção do que ele dizia. Foi quando finalmente se lembrou do sonho que tivera a pouco, o que causara sua morte no tal pesadelo era um homem com uma arma, um assassino. Ainda olhando para o logotipo do calçado, Oliver sentiu sua vista ficar turva e leu a palavra novamente: Slayer.

— Matador ao contrário.

— O quê? — Kramer disse no telefone.

— O homem que esbarrou em você agora mesmo, como ele era?! — Oliver gritou no telefone.

— Ele era magro, cabelos bem pretos, e branco... Bastante branco... Ele andava de um jeito estranho, eu não vi direito... Mas porquê?

— Eu conheço ele! Você tem que segui-lo, Kramer! Eu tenho certeza de que ela vai até a Angel, eu tenho certeza! Onde ele tá?!

— Bom, ele entrou num ônibus, que eu acho que ia pro outro lado da cidade. Eu vou ter que pegar um táxi e ir atrás dele. Vai ser difícil achar um, mas é a única pista que temos então.

— Ok, liga pra mim se tiver alguma notícia nova. Mas por favor, impeça a Angel de fazer qualquer loucura! E... Fica de olho nesse cara.

Oliver desligou o telefone e colocou-o no gancho. Sentou no sofá e suspirou bastante, exausto com tudo aquilo. Tentava pensar com clareza. Embora nem sequer tinha certeza dos fatos.

Se Angel estava realmente indo se suicidar, por que Wen estaria indo até lá também? Era a vez dele na lista, talvez Angel quisesse ter certeza de que ele estaria bem para tudo dar certo. Por isso o chamara? Mas e o sinal que vira a pouco, não fazia muito sentido... Wen não parecia uma pessoa má a ponto de matar alguém, mas por que ele faria isso com a Angel? Ela está tentando salvar a todos nós...

Foi então que se lembrou de Louise. Olhou as horas no relógio na parede, ela estava demorando do almoço com seu pai. Era do outro lado da cidade também, mas já era pra ela ter voltado.

Do outro lado da cidade... O que têm do outro lado da cidade?

De súbito, Oliver pegou o telefone novamente e discou um número.

Louise atendeu.

XX-XX-XX

Angel então chutou uma pequena pedra, que caiu em direção ao chão lá de baixo do prédio. E voltou a fazer o que estava fazendo antes de se dispersar com o pequeno pedaço de concreto...

A garota olhou a sua volta.

As paredes ainda inacabadas, os pedaços de madeiras, os ferros por toda a parte, os diversos sacos de cimento e as pequenas porções de areias e pedras entre diversas outras coisas, faziam daquele lugar surpreendentemente animador. Angel nem podia acreditar que há meses atrás vira aquele lugar virar pó diante de seus olhos, e agora, estava sendo reconstruído, reerguido das cinzas.

O St. Mary era o lugar que trabalhou por anos, onde conhecera importantes pessoas em sua vida. E onde também perdera pessoas importantes. Sentia que somente após começar a trabalhar ali sua vida realmente havia começado, ajudou a salvar a vidas de tantas pessoas e acabou salvando a sua própria. Angel então lembrou-se do dia em que viera ali pela primeira vez, infelizmente fora em um momento difícil... Sua madrinha havia tido um ataque cardíaco num restaurante próximo a rodovia, e então a levaram para o St. Mary. Angel foi avisada, mas infelizmente sua madrinha já estava morta. Aquele fora um dia muito difícil para ela, porém muito marcante. Havia se despedido de sua madrinha e conhecendo Selly no mesmo dia. E depois de alguns meses, acabou escolhendo o St. Mary para concluir o estágio que a faculdade exigia, foi nessa época que conhecera Carl. Após se formar, logo conseguiu entrar no corpo de enfermagem do St. Mary, graças à ajuda Selly. Foi aí que conheceu Shaniqua e meses depois, Dora.

Minha vida toda está passando na minha cabeça. As pessoas dizem que fazemos isso quando estamos prestes a morrer... Merda. É verdade.

Angel olhou para o horizonte, as nuvens negras e carregadas de chuva, pareciam vir em sua direção. A vista do céu naquele ponto em que Angel estava era ampla, não havia parede nenhuma ali, era como uma enorme janela em direção ao céu. O andar que estava do prédio era relativamente alto, e mesmo longe da obra estar pronta percebia-se que a nova estrutura do edifício seria diferente da antiga. Pelo jeito, o novo St. Mary seria quase um arranha-céu, assim como o Hospital Do Centro.

Não vai ser como antes...

A garota olhou para baixo, a terra do chão parecia dura e intimidadora. Mas mesmo assim, acalentadora. Angel sentiu uma rápida sensação de déjà-vu, sabia que isso estava acontecendo pelo fato de já ter tentando se suicidar no prédio do Hospital do Centro, após a morte de Carl. Mas não conseguira, ou melhor, conseguira apenas se colocar em risco. Já que era sua vez na lista na época.

Assim como o Leonel no incêndio da cabana na floresta. Só que no meu caso graças a ligação do Carl, ele conseguiu me salvar, já no dele...Será que se eu tivesse aceitado ir com eles na tal cabana, eu poderia ter o salvo? Salvo a Rosie?

Essas perguntas jamais teriam respostas, e Angel sabia disso. Elas apenas iriam para a caixa de perguntas sem respostas em alguma parte de sua mente. Angel sorriu de lado... Aquilo soava tão estúpido.

A loira ainda olhava lá para baixo do prédio, viu o grande portão ao longe e lembrou-se de como foi fácil para entrar ali. Estranhamente não havia seguranças ou vigias na obra, e esta havia sido interrompida devido a tempestade que estava a caminho da cidade. Ás vezes tudo é tão fácil. Angel então avistou de longe o lugar que antes era o estacionamento do St. Mary. Piscou uma vez. E então pode ver ela e os outros sobreviventes naquele maldita manhã após o desabamento do hospital. Piscou novamente. E eram apenas caminhões cheios de areia e pedra.

Cada vez que olhava para aquele enorme terreno e para as paredes inacabadas em sua volta, mais sentia que ali era o lugar certo para dar um fim a toda história da lista. Tudo havia começado ali, tudo deveria acabar ali. Era óbvio, era coeso... Era o certo a fazer.

Angel olhou para o horizonte mais uma vez, e foi dando pequenos passos em direção a beira do andar. Sentia como se estivesse indo em direção as nuvens, em direção ao céu. Fechou os olhos. Na mesma hora a imagem de Louise e Oliver veio a sua mente, sentiu ainda mais confiança para fazer aquilo, seria por eles. Eram jovens com um lindo futuro a frente, tinham que viver... Mais um passo. E Angel sentiu pela primeira vez ali em cima, o vento forte tocar seu rosto e bagunçar ferozmente seus lindos cabelos dourados.

Sorriu.

Adorava a cor dos seus cabelos.

Click.

Angel abriu os olhos subitamente. Olhou lentamente para baixo, e não viu a terra e sim o concreto do chão do andar. Olhou para frente e viu que estava um tanto distante da beirada do prédio. Inconcientemente... Estava andando para atrás.

— O céu é pra lá... Anjinho.

Angel virou a cabeça para todos os lados para ouvir de onde vinha aquela voz. E então viu, terminando de subir o último degrau da escada que dava acesso aquele andar.

Wen.

O rapaz finalmente terminou de subir as escadas, estava com as duas mãos no bolso do seu antigo casaco do colégio e caminhava lentamente até chegar próximo à Angel.

— Você não pode fazer isso, Angel.

Angel riu ainda um tanto desnorteada.

— Como você descobriu que eu viria aqui? E... Por que você está aqui, Wen? Eu vou salvar você, porque você quer me impedir? Nós nem ao menos somos amigos!

Wen olhava diretamente para Angel e percebia que ela ficava cada vez mais nervosa. E então lentamente retirou a arma de seu bolso. Angel sentiu um arrepio ao ver o objeto.

— Já passou pela sua cabeça que eu talvez não queira ser salvo?

— Porque essa arma, Wen?! E por que diabos você não quer ser salvo?! Você não pode querer morrer!

— Angel, nós já estamos mortos! Todos nós! — Wen gritava enquanto movimentava a arma em sua mãos. — Eu, você, o Oliver e a Louise! Nós já morremos! A gente morreu naquela manhã no desabamento lá... Aqui no St. Mary. Tudo o que se passou desde então foram mentiras! Todos nós fomos enganados, Angel! Não haveria sofrimento se todos nós tivéssemos morrido naquela maldita manhã.

Angel olhou para o chão enquanto escutava Wen. Realmente aquilo parecia ser verdade. O sofrimento teria sido menor...

— E a culpa é de quem, Wen? De quem?

— Eu não sei. Eu não sei... — Wen fez uma pausa. — Talvez seja do Carl. Se aquele garoto idiota não tivesse abrido a boca, tudo isso não teria acontecido. Se você quer culpar alguém, Angel. Culpe ele!

— Cala a boca! — Angel se aproximou de Wen. — Você é um fraco, Wen. Você é quem quer culpar as pessoas! Mas já não passou pela sua cabeça, que talvez você mereça tudo isso? Eu tenho consciência que eu mereço!

— E por que eu mereceria sofrer?! Eu sei que eu definitivamente não sou uma pessoa incrivelmente boa, mas o que eu fiz de errado para merecer sofrer?

Angel suspirou profundamente. — Isso você mesmo têm que descobrir.

Wen abaixou a cabeça. Pensou por alguns instantes, e então começou a ficar cada vez mais ofegante. Até que parou. Olhou novamente para a Angel, e pegou uma grande pedra que estava próximo de seu pé e a jogou com toda a força contra uma das paredes do local. A pedra se chocou contra a parede a fazendo balançar um pouco.

— Eu já sofri a minha vida inteira, Angel! Eu só tinha dezoito anos quando eu fiquei paraplégico! Dezoito! Eu era capitão do time de basquete, tirava ótimas notas, tinha uma namorada, tinha um futuro promissor... E tudo isso foi arruinado! Você não tem ideia do quanto é difícil não conseguir andar e sentir seus pés tocarem no chão! Você não têm ideia de quanto foi difícil! Eu não quero sofrer mais... Eu sofri minha vida inteira, eu só quero morrer em paz.

Angel engoliu em seco. E antes que pudesse falar algo, Wen a interrompeu:

— Eu não gosto de você, Angel. E eu sei que você também não gosta de mim... Então seja sincera, e confessa que você não está nem aí pra mim e que na verdade, só quer salvar mesmo o casalzinho lá. Eu só iria ser salvo de brinde, não é?

— Você têm razão. Eu nem sequer lembrei de você a minutos atrás quando ia pular. Mas... Eu ainda não entendi, Wen. — A loira se aproximou do ex-cadeirante. — Se você quer morrer, porque não espera sua vez na lista? Ou não espera eu salvar o Oliver e a Louise para se matar? Por que toda essa encenação?

Wen olhou diretamente nos grandes olhos azuis de Angel.

— Porque eu me importo com você e com o casal. E eu não posso me salvar e não salvar vocês.

Angel ficou confusa. Se afastou dele e colocou a mão sobre a cabeça, ela estava começando a doer. E aos poucos foi entendendo cada palavra que Wen disse naquele dia. Já passou pela sua cabeça que eu talvez não queira ser salvo? Eu só tinha 18 anos quando eu fiquei paraplégico, dezoito! Eu não gosto de você, Angel... Só quer salvar mesmo o casalzinho lá!

A loira olhou para a parede que Wen havia jogado a pedra, mas pouco reparou no rachado se formara ali.

— Eu entendi tudo agora... Você quer morrer, Wen. Mas não quer que ninguém mais viva.

Angel se aproximou novamente dele, o olhando nos olhos.

— Você não gosta de mim, Wen. E você está aqui, não pra me salvar, mas pra mim não salvar o Oliver e a Louise. O casalzinho lá! — Angel apontou com a mão para um lugar aleatório. — Esse papo de querer nos salvar de vivermos sofrendo... É na verdade uma forma de mascarar sua inveja do Oliver e da Louise! E você quer estragar tudo só porque eles sim têm a vida toda para aproveitar! Coisa que você não teve!

Wen fechou o semblante e apertou o punho com certa raiva.

Suspirou.

— Talvez você esteja certa. Mas vai ser pro bem deles, não? Você mais do que ninguém, Angel, sabe como é o mundo lá fora. Será que eles realmente estão preparados?

Angel deu uma risada nervosa. — Você está querendo bagunçar a minha cabeça... Porque sabe que eu sou a única que posso acabar com isso. E também sabe que eu não tenho medo de você ou dessa sua arma aí. Aliás, Wen... Porque você está com essa arma? Você vai me matar? Hummm... Eu não sei direito, mas isso quebraria a lista, não?

Wen ficou visivelmente confuso, como se tivesse acabado de perceber algo. Angel sorriu.

— Se você pular desse prédio, Angel. Pode ter a certeza de que eu mato o casal. É uma promessa.

Agora foi Angel que se viu totalmente sem saída.

— Eu sempre soube que você era um cara ruim. Mas não sabia que era um assassino. Capaz de matar alguém ou de simplesmente segurar uma arma...

— Eu não sou um assassino. Sou um matador, ao contrário. E no fundo, bem no fundo... Eu realmente quero salvar todos nós. Qualé, Angel! Já era pra nós termos morrido! Há muito tempo! Não me faça voltar a falar tudo aquilo de novo!

— Não! Não era! O Carl teve a visão para nos salvar, pra que mais outro motivo seria?!

— Se ele nos salvou, porque ainda estamos fadados a morrer? Porque estamos fugindo como animais da morte?!

— Nós somos animais. — A loira fez uma pausa. — Mas eu acredito em destino, e sinto que tudo isso aconteceu para que chegássemos a esse momento. Aqui nesse prédio. Eu e você.

— Eu estou cansado de ser uma peça de um jogo. De agora em diante, sou eu que decido as jogadas.

Nesse mesmo instante, a chuva começou a cair. O vento e a intensidade da chuva ficavam cada vez mais e mais fortes. O cabelo de Angel estava quase todo em sua face devido ao vento, Wen aproveitou isso e num movimento rápido guardou a arma em sua cintura e pulou sobre a garota a jogando sobre o chão.

— Você não vai fazer nada, Angel! Até eu arrumar um jeito de arrumar tudo isso, ninguém vai ser salvo! Ninguém! — O rapaz estava em cima da loira segurando os pulsos dela enquanto ela se debatia. A arma estava em sua cintura, presa em seu cinto.

— Sabe qual o problema com você Wen? — Angel perguntou enquanto tentava se desvencilhar dele.

— Você ainda é um homem.

Angel chutou com toda a força que tinha no meio das pernas de Wen, fazendo com que ele caísse no chão ao seu lado. A loira se levantou depressa e pegou a arma da cintura dele. A chuva já estava molhando-a toda e então ela se aproximou da beira do andar. Olhou a terra lá de baixo, por causa da chuva agora o chão estava completamente enxercado de lama. Olhou novamente para Wen que começava a se levantar. E então apontou a arma para a cabeça de Wen. Desistiu. E então apontou a arma para sua própria cabeça.

Se eu pulo lá em baixo ou me mato, eu não só salvo o Oliver e Louise como o Wen também. Ele estará livre para cometer qualquer loucura contra os dois, e eu não estarei aqui para impedir.

Wen se levantou um pouco zonzo. Sorriu vendo Angel tirar a arma da mira de sua cabeça.

— Pensa bem, Angel... Se você se mata, eu mato o Oliver e a Louise, depois eu me mato. Daí acaba tudo isso como tem que acabar.... Mas se você me mata, a lista segue pra você e aí já era... Eu disse que sou eu que controla o jogo agora. Você sabe que está na minha mão enquanto for a minha vez na lista.

É isso.

Angel olhou discretamente para a parede atrás de Wen, havia uma imensa rachadura nela que parecia aumentar cada vez mais. Se concentrando, conseguiu ouvir barulhos de metais e coisas se quebrando em cima daquele andar.

Era visível que a tempestade iria derrubar aquele prédio.

Isso aqui vai cair... De novo.

— O que foi Angel? — O rapaz que ainda estava na mira da arma, perguntou a loira. — Está realmente pensando em me matar e continuar fugindo da morte? Ora, ora, e depois eu que sou o assassino, não?

— Eu jamais mataria uma pessoa. — Angel voltou o olhar para Wen, enquanto dava discretas olhadas para a parede atrás dele. — Você diz que não quer se salvar, não é? Que quer morrer? Por que já sofreu muito? Bem... Eu conheci uma pessoa que também passou por uma coisa muito difícil ainda com dezesete anos. E sabe? Ele quis continuar lutando pela sua vida. E mesmo com câncer, mesmo sendo abandonado pelos pais... Ele amava viver. Amava!

Wen olhava nos olhos de Angel, e mesmo totalmente encharcada pela chuva, pode perceber que a loira derramava algumas lágrimas.

— O Carl passou por coisas tão cruéis quanto você, Wen. Na mesma faxetária de idade, na verdade até muito mais novo... E deve sim ter se sentido como... Se estivesse sendo castigado por alguém. Mas a diferença é que ele não foi covarde! Ele enfrentou tudo, com um sorriso no rosto. Agradecendo a cada dia de vida! — Angel engasgou em meio as palavras, no limite da sua emoção. — E eu tenho certeza, que o pouco tempo que ela teve de vida, ele viveu feliz... E eu não posso dizer o mesmo de você, Wen? Posso?

O rapaz abaixou a cabeça. Angel não conseguia ver se ele chorava ou não, então olhou a parede atrás dele e viu a rachadura aumentando e rapidamente atingindo o teto. O vento e a chuva pareceram aumentar de uma forma violenta e assustadora. Raios e trovões eram audíveis a todo minuto.

Aquele era o momento.

Angel guardou o revolver no bolso, e em rápidos segundos pulou sobre Wen impedindo que o teto que estava sobre ele o atingisse em cheio, o matando. Ambos caíram metros distantes do local, enquanto algumas pedras e ferros caíam ali em meio a alguma fumaça. Mas eles ainda estavam no prédio, ainda estavam em risco.

— Não é mais a sua vez, Wen! E agora?!

O ex-cadeirante ainda bastante zonzo, ficou atônito ao perceber que Angel o salvara... De novo.

— Você é uma idiota, Angel! Uma idiota! — O rapaz se levantou e se desvencilhou da loira. Mas antes conseguiu pegar o revólver no bolso dela. Angel tentou pegá-lo de volta, mas Wen desferiu um forte tapa contra ela.

Angel caiu no chão, seus cabelos molhados voaram cobrindo seu rosto. Wen a encarou por rápidos segundos até que ela se levantasse.

— Você não passa de um monte de merda, Wen! Eu não te acharia covarde se você quisesse apenas morrer e... E só! Mas você não quer que ninguém mais viva! E depois diz que não é uma pessoa ruim?!

— Não mesmo! Se eu não tive uma vida feliz, por que o Oliver e a Louise tem que ter?!

Angel suspirou profundamente. Fechou os olhos e rapidamente os abriu de novo.

— Eu não vou deixar você tocar naqueles garotos! Nunca!

A loira correu pra cima de Wen. Com uma das mãos tentou segurar o braço dele, o que estava com a arma. Em meio a muitos chutes e socos, a tempestade parecia aumentar cada vez mais, e o prédio começava a ruir lentamente. A pequena parte do teto que já havia caído, impulsionava o resto...

Enquanto isso, Wen finalmente deu um chute certeiro na barriga de Angel, fazendo a urrar de dor. Wen se levantou e então finalmente percebeu que o prédio estava desmoronando. Olhou para a entrada do andar, onde ficava a escada. Mas já não dava mais para sair por ali, uma das paredes caíra sobre a saída, tapando-a completamente. Ele então correu para a borda do andar e olhou lá para baixo. Por conta de altura, ficou um pouco zonzo e então desviou o olhar dali. Olhou novamente pro lugar que Angel estava caída, mas a loira já não estava mais ali.

— Mas onde...

Wen viu tudo parar e seguir em câmera lenta.

Angel veio de um dos cantos do andar para cima de Wen, o empurrou com toda a força que tinha para fora do prédio. Wen arregalou os olhos ao ver que estava caindo... De novo.

Piscou uma vez...

E estava de volta naquela tarde. Estava de novo subindo no telhado para salvar seu irmão que ficara pendurado ali, por tentar pegar uma pipa. Primeiro pegou uma das mãos de Phil que o olhava assustado, o puxou com toda a força e conseguiu tirá-lo dali.

— Obrigado, eu-eu... — O jovem Phil falava ofegante após ser salvo daquela situação.

— Não precisa falar nada, o seu sorriso já é o meu presente, Phil. — O rapaz de cabelos castanhos sorriu ao ouvir aquilo do irmão mais velho. — Agora sai logo daqui de cima, que eu pego essa maldita pipa.

Wen esperou Phil descer e então deu dois passos para frente. Foi quando uma telha se quebrou, o rapaz perdeu o equilíbrio e caiu no ar. Arregalou os olhos...

Piscou novamente.

Continuava caindo do prédio do St. Mary. A câmera lenta então parou. Ainda com os olhos arregalados, por simples reflexo, disparou um tiro da arma que estava em sua mão. Enquanto terminava de se chocar violentamente contra o chão.

Angel sentiu algo queimar próximo a sua cabeça. Um zumbido ensandecedor veio à tona. Colocou a mão sobre sua orelha ou o quê ainda restava dela, e ajoelhou no chão. O zumbido em sua cabeça era horrível e ficava cada vez mais alto. Foi quando uma parte do teto do andar caiu próximo a ela, Angel se levantou ainda com a mão sobre sua orelha, urrando de dor.

Não teve tempo de pensar, simplesmente pulou do prédio.

Voando... Finalmente

...

Splash!

Angel se chocou fortemente no chão lameado. Sentiu uma dor descomunal eradiar de cada parte de seu corpo. Toda suja de lama, Angel tentava se levantar... Foi quando Wen pulou sobre ela. O ex-cadeirante estava com o rosto totalmente ensanguentado e com fraturas expostas, Angel pode sentir um de seus dentes cair sobre sua boca. A loira chutou a barriga de Wen o fazendo sair de cima dela, mas então sentiu a dor que estava sentindo, aumentar mais. Ambos estavam caídos no chão, em meio a lama e algum sangue... Wen olhou para Angel que olhou de volta. Foi quando ambos perceberam que entre eles estava a arma.

A arma.

Wen fazia força para alcançá-la. Assim como Angel. Braços esticados ao máximo, sangue, e gemidos dos dois lados. O ex-cadeirante estava a centímetros de pegar a arma, foi quando Angel sentiu aquela dor descomunal novamente, mas aquilo deu a ela forças para o que queria. De súbito, Angel conseguiu alcançar e pegar a arma. Wen olhou para Angel que agora apontava o objeto para sua cabeça.

— Você não vai me matar... Você é a mocinha.

POW!

Angel largou a arma que caiu no chão, ao seu lado. Com a vista um tanto turva, Angel pode ver o corpo de Wen: Sua cabeça estava quase toda irreconhecível, parecia um borrão de sangue e vísceras. Mas Angel conseguiu ver um de seus olhos, ele estava bem fechado. O corpo do ex-cadeirante permanecia inerte e sem vida.

A loira virou seu corpo, deitou de bruços olhou para o céu. Já era quase noite e a chuva continuava. Foi quando sentiu a dor novamente, só que agora em uma intensidade infinitivamente maior que antes. Angel gritou com toda a sua força. E então não conseguiu ouvir mais nada. Procurou no céu as estrelas que tanto lhe acalmavam, encontrou algumas estrelas. Todos próximas uma às outras... Então parou de sentir a dor e começou a fechar seus olhos. Ainda via relances de algumas pedras de concreto cair ao seu redor.A garota manteve seus olhos bem fechados, enquanto tudo terminava de ruir à sua volta.

Acabou? A Louise e o Oliver estão salvos? Finalmente acabou?

Aquela dor descomunal aos poucos passava e agora seu corpo parecia amortecido, mas Angel não conseguia se concentrar em nenhum pensamento. Suspirou profundamente. Sentia como se agora, não precisasse se preocupar mais com nada. Como se todos os seus problemas fossem se distanciando, como se não precisassem mais de uma solução. Como se tudo fosse acabar.

Como se tudo fosse acabar.






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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, lembrando que qualquer errinho é só me avisar! ^^

Abraços e até o último capítulo da fic! o/