Final Destination - Risk Of Death escrita por Paul Oliver


Capítulo 11
Matador Ao Contrário - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Eae pessoal! :D

Resolvi fazer uma postagem dupla de capítulos (cap 11 e 12). Acabei tendo que dividir o cap 11 porque ele ficou grande demais, então metade dele foi pro 12. Dificultou a revisão e poderia dificultar a leitura também. E acabou ficando BEM melhor assim.

Então o penúltimo capítulo da fic acaba sendo este e o 12 (embora na verdade, o penúltimo seja somente o 12 agora XD). Sou péssimo pra explicar as coisas, me desculpem se não entenderam. kkkkkk

Resolvi não explicar nada depois dos caps, então nas notas finais deste e do cap 12 (que não terá notas inicias) terá apenas o simplório: "Até o próximo capítulo". Explico: Simplesmente não quero ser parcial e de repente falar "não isso que você pensou está errado", em outras palavras não quero me meter no ponto de vista de vocês. Cada opinião é única, e cada visão é diferente. É claro que para os leitores que deixam review, irei sim responder as dúvidas que ficaram e tal. CLARO, que no último capítulo darei mais alguns detalhes que faltaram e minha visão da fic.

Sobre os caps: Não são capítulos eletrizantes, com correria, ação, carros voando... Ao contrário, é bem centrado no drama, nas conversas... Só que ele será bastante tenso (e até pesado). Ele também voltará com MUITAS coisas que já ocorreram na fic, então preparem a memória, rs.

Ah, as músicas tocadas nesse capítulo estarão em português.


Então, é isso. Tenham uma boa leitura!



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Dezembro de 2002.



Era a noite da véspera de Natal, e o ônibus estava quase que completamente vazio.

A jovem Angeline Caymon, ainda com seus 17 anos, estava sentada em um dos bancos do fundo do veículo. As poucas pessoas sentadas próximas a ela, olhavam-na de canto de olho, os cabelos e as roupas negras em conjunto com a maquiagem carregada, faziam que a desafortunada garota parecesse um ser das trevas.

Angel tirou uma mecha de seu cabelo que insistia em cair em sua testa, ele estava completamente tingido de preto há somente algumas horas atrás. A mudança radical era apenas mais uma forma de manifestar o seu desejo de querer ser aceita pela sua família. De uma forma torta... Angel gostava daquele estilo, se sentia confortável daquela maneira, mas seus pais eram rígidos demais, principalmente por serem pastores em uma igreja evangélica. Ter uma filha gótica gerava um burburinho nada agradável na pequena cidade em que moravam. Nunca aprovaram aquilo, e com o passar do tempo a coisa só piorou.

A jovem havia aparecido com os cabelos pretos em sua casa para a ceia de Natal daquela noite. E quando seus pais a viram sem seus costumeiros cabelos amarelos, simplesmente morreram por dentro. Era como se a última lembrança daquela pequena garotinha de cabelos dourados, que ia todo domingo aos cultos com eles, tivesse ido embora para nunca mais voltar. A briga naquela noite foi cruel. Nenhum vencedor, nenhuma vitória. Angel foi expulsa de casa quase que no mesmo instante, em meio a gritos de seu pai que ainda berrou para toda a vizinhança ouvir, que um demônio havia tomado posse de sua garotinha. Enquanto saía para fora de casa em meio a muita raiva e fúria nos olhos, sua mãe veio até ela e disse algo que a fez chorar somente quando finalmente entrou no ônibus:

Você acha que vai conseguir amigos na cidade grande vestida dessa maneira? Sendo quem você é? A sua madrinha vai ser a única que vai falar com você, e você sabe que ela está doente... Depois disso você vai ficar sozinha, sozinha pra sempre, Angeline!

Angel não queria que aquilo fosse verdade, faria novos amigos, tinha certeza. Estudaria e seria uma ótima enfermeira, quem sabe até uma médica futuramente. Não queria acreditar nas palavras daquela mulher, e já sentia como se não pudesse mais chamá-los de pai e mãe. Não queria mais saber deles, daquela cidade, de nada. Enxugou agressivamente uma lágrima que caía de seu olho direito, e ligou o fone de ouvido em seu celular. Colocou em modo aleatório e então tocou uma música, Angel achou que era uma simples coincidência...

Auschwitz, o significado da dor

A maneira que eu quero que vocês morram

Morte lenta, imenso declínio

Chuveiros que lhes purificam de suas vidas

Forçados a fugir como animais

Despidos do valor de suas vidas

[...]

A jovem sabia que "Angel Of Death" era uma música que falava sobre o Holocausto e as vítimas na terrível guerra contra os judeus na Alemanha. Também era de conhecimento da garota as inúmeras polêmicas que a música trouxe para a banda de heavy metal, Slayer. Uma de suas bandas preferidas. Embora mesmo sabendo de todos esses estranhos e misteriosos significados, para ela aquela música somente remetia a dor, ao sofrimento, a morte... Era apenas mais uma música que falava sobre tristeza, não era porque ouvia esse tipo de canção, que necessariamente significava que concordava com o que ela dizia. Era isso que seus pais jamais entenderiam...

Recostou a cabeça na poltrona do assento do ônibus, de repente o veículo ficou escuro, pois acabara de entrar em um túnel. Angel sentiu um forte arrepio e então passou a ouvir com atenção outro trecho da canção.

Cirurgia, sem anestesia

Sinta a faca te perfurar intensamente

Inferior, sem uso de humanidade

Amarrado e gritando para morrer

Anjo da morte

Monarca do reino dos mortos

Infame sanguinário,

Anjo da morte

[...]

Sempre ouvira aquela canção, mas naquele momento esse trecho a arrepiou de uma forma estranha que não soube explicar a si mesma.

O túnel acabou e então o ônibus voltou a ficar iluminado pelas luzes das ruas da cidade. A nova cidade. Angel debruçou-se para olhar para fora da janela, e então visualizou um homem e uma mulher abraçados no chão, com um garotinho de aparentemente uns cinco anos em seus braços. Os três envoltos a papelões e panos na calçada de uma rua. O casal dormia tranquilamente, como se já estivessem acostumados aquela vida miserável. O garotinho estava acordado e olhou fixamente à Angel enquanto o ônibus passava.

Ele sorriu.

E Angel sorriu de volta.

Eles ainda se olhavam até se perderem de vista. A garota sentiu um aperto no peito, por incrível que pareça, sentia inveja daquele desafortunado garoto. Queria poder ser amada assim por seus pais e amá-los da mesma maneira. Mas de repente se sentiu a pior pessoa do mundo por pensar daquela forma... Como podia sentir inveja de um garoto que vivia na miséria, na sombra da humanidade e com um futuro fadado a sofrimento? Se sentiu horrível por isso! Ela ainda tinha sua madrinha de quem gostava muito, casa, comida, um futuro promissor... Não precisava de amor. Ali naquele ônibus, colocou esse mantra em sua vida.

Então sentiu mais lágrimas se formarem em seus olhos, e pela primeira vez, enquanto escutava aquela canção, conseguiu separar o substantivo "angel" e vê-lo como um nome. E droga, esse era realmente seu nome.

Patéticas vítimas inofensivas

Abandonadas para morrer

Podre anjo da morte

Voando livremente

[...]

XX-XX-XX

Era madrugada.

O vento entrava ferozmente pela janela do apartamento de Angel. Louise se aproximou da janela e fechou-a delicadamente, um terrível temporal estava a caminho da cidade. A garota já chegara num ponto em que tudo a assustava, e mesmo não sendo a sua vez na lista da morte, estava ficando paranoica com tudo. Então aproximou-se lentamente da cama onde Angel dormia, ou melhor, descansava.

Fazia poucas horas que ela e Oliver chegaram a cidade, e então ficaram sabendo de Shaniqua. A morte havia riscado mais um nome da lista. Louise chorou muito nos braços de Oliver quando escutou a notícia, e a única coisa que conseguia pensar era o quão cruel aquilo era... Shaniqua havia acabado de receber alta após dezenas de cirurgias em seu maxilar, e depois de sofrer aquele terrível acidente de carro meses atrás. Aquilo era muito cruel... Shaniqua fora mais uma vítima da falsa felicidade que a morte os deu por aqueles meses.

Ela era uma pessoa tão, tão... Boa.

Louise olhou novamente para o rosto de Angel, antes de sair do quarto. A loira estava com um semblante pesado no rosto, de cansaço, de dor... Ela havia acabado de perder a melhor amiga e descobrir que ainda estava fadada a morrer. Louise resolveu omitir a forma como ela e Oliver haviam se salvado do acidente no acapamento, por meio de sua visão. Seria muito coisa para Angel dissolver no mesmo dia.

Então a fracesinha saiu do quarto. A conversa que ela, Oliver e Angel tiveram a poucas horas atrás fora cansativa. Angel precisava descansar, pois o pesadelo não havia acabado.

Louise sentou-se no sofá da sala de Angel, nele Oliver estava deitado olhando para o teto, mal percebeu a presença da namorada ali. Louise então olhou para um dos cantos do apartamento, e avistou Wen sentado numa poltrona próxima a cozinha de Angel. O ex-cadeirante havia participado da conversa de horas atrás, sem falar nenhuma palavra ou demonstrar algum sentimento pela morte de Shaniqua. Ele apenas estava ali, ouvindo e observando tudo.

— Eu vou descansar no meu apartamento. Eu moro nesse prédio mesmo, qualquer coisa... Bem, me chamem.

A voz de Wen ecoou no apartamento, e então levantou-se da poltrona em direção à porta. Louise o olhava meio abobalhada, as pouquíssimas lembranças que tinha do homem era dele sentado numa cadeira de rodas, então era um tanto estranho vê-lo andando.

Quando Wen girou a maçaneta da porta, foi a vez de outra voz ecoar no local:

— Qual é a sua Wen?

Oliver perguntou antes que o homem saísse dali. Wen voltou e encarou os jovens sem entender a pergunta. Oliver então parou de encarar o teto e levantou para ficar cara a cara com Wen, tinham quase a mesma altura.

— Meu pai havia me dito que você nunca acreditou que a morte está atrás de nós, depois de termos saído do acidente no St. Mary meses atrás... Mas e agora, hein Wen?

O ex-cadeirante olhou pro chão por breves segundos, e então voltou seu olhar ao garoto.

— Eu acredito.

— Precisou que sete pessoas morressem para você daí sim, acreditar? Você podia ter nos ajudado... Talvez o Carl, a Rosie, meu pai, a Shaniqua e os outros poderiam estar vivos!

Louise se levantou e colocou a mão sobre o ombro do namorado, percebeu que ele começava a ficar vermelho de raiva.

— Eu tenho que ir. — Wen disse secamente enquanto finalmente foi em direção a porta de saída do apartamento.

— Você sabe que você é o próximo, Wen. Tome cuidado... Qualquer coisa liga pra gente, por favor. — Louise disse calmamente. Wen olhou de canto de olho enquanto fechava a porta.

A garota voltou a sentar-se no sofá, Oliver fez o mesmo. Ambos ficaram em silêncio por quase um minuto inteiro. Oliver ainda pensativo, quebrou esse silêncio.

— Eu tenho que te contar uma coisa, Louise. — Virou-se para a namorada. — Eu... A verdade é que eu não sei quantos dias a gente vai viver, eu não sei se a vez do Wen na lista vai chegar rápido e eu não sei se vamos conseguir acabar com tudo isso... Mas eu escondi uma coisa de você nessas últimas semanas, amor. E eu só não contei por que achava que teríamos tempo, mas agora... Eu só não quero esconder mais nada.

Louise olhava para o fundo dos olhos de Oliver, e então abaixou a cabeça. Oliver continuou:

— Eu não consegui tirar notas suficientes para pegar o diploma, Louise. Mas eu sei que talvez eu possa completar o ensino médio numa escola em New York, daí dará para morarmos juntos! Enquanto você faz a faculdade, eu estudo e...

— Eu já sei disso tudo. — Louise o interrompeu, Oliver parou de falar, confuso.— Há um tempinho atrás, eu fui na sua escola e bem... Não importa. Eu só estava esperando pro dia de você me contar, mas eu não imaginava que fosse tão cedo...

— Eu não entendo, Louise. Isso estragaria completamente nossos planos de ficarmos juntos o ano que vem! Bom, talvez estrague... Se eu não conseguir uma vaga num colégio de lá, mas têm grandes chances de dar certo, não têm?

Louise abaixou a cabeça e fechou os olhos por breves segundos.

— A minha avó e minhas tias querem que eu faça minha faculdade na França.

— O quê?! Mas e o seu pai? Ele mora em New York, você disse que íamos pra lá! E-eu não tô entendo...

Oliver levantou do sofá bastante confuso com o que Louise dizia. A garota fez o mesmo se levando do móvel.

— Faz pouco tempo dessa história, Oliver! Uma das minhas tias me procurou na internet e fez a proposta exatamente no dia em que eu fui na sua escola, e vi que você não tinha pego o diploma. Eu pensei que...

— Você pensou em ir embora sem mim? — Oliver se aproximou de Louise. — Enquanto eu estou disposto a morar em outra cidade por você... Você pensava em ir pra outro continente sem mim?

— Os meus avós são muito severos quanto a namorados e... É uma grande oportunidade! Não só de estudo, mas também de eu ter a chance de conhecer meus avós, minhas tias, primas... Meu pai não liga pra mim, mesmo depois da morte da minha mãe. Mas eu dei uma chance a ele, e eu quero dar essa chance pro resto da minha família também... Eu só não quero mais me sentir sozinha.

Louise deixou escorrer uma lágrima de seu olho, quando a secou olhou para o rosto de Oliver. Ele estava quase que aos prantos.

— Sozinha?

O rapaz estava com a voz embargada.— Eu pensei que estávamos juntos, Louise. Pensei que eu significava algo pra você, não apenas como um amigo que dividiu as mágoas por todos esses meses, mas como um amor também!

— Eu te amo, Oliver! Você não tem ideia quanto! — Louise disse tocando suas mãos no rosto do namorado, mas ele rapidamente as tirou.

— Eu também te amo, Louise. Mas talvez você não sinta o mesmo, não na mesma intensidade. Você só estava comigo até que surgisse uma oportunidade dessas, de ter uma família... E-eu te entendo sabe... Desde de pequeno, minha família foi apenas eu, meu tio e meu pai. E eu e meu pai nem éramos próximos, como você sabe... Eu via esses comerciais na tv, de famílias sentadas envolta da mesa de jantar com os avós, tios, primos... Eu queria ter isso também... Eu nem sequer posso culpar você.

Louise sentou no sofá novamente, ainda mais emocionada que antes.

— Eu também, Oliver! — A garota já soluçava. Então Oliver sentou ao seu lado, também muito emocionado.

— Eu também sempre quis isso. Sempre foi só eu e minha mãe, e por mais que tivéssemos uma relação maravilhosa, eu sentia um vazio nela, sabe? Ela me criou sozinha. E ela sempre teve aquele ar de durona, mas ela não era assim, a vida a deixou com aquela casca. Eu sempre ficava me perguntando se era por causa do divórcio, mas não era. Era pelo distanciamento dela com a nossa família... E era por minha causa. Foi por ela ter ficado grávida de mim que os pais dela a expulsaram de casa, e então ela veio com meu pai pro Estados Unidos...

— Você não tem culpa alguma. — Oliver olhou no fundo dos olhos de Louise.

— No fundo eu sei, mas sempre achava que a minha família na França não gostava de mim, mas... Agora eles querem que eu vá morar com eles e... Eu quero! Talvez eles queiram reparar o que fizeram com a minha mãe, querendo me conhecer e me proporcionar uma oportunidade nessa grande faculdade.

Oliver suspirou profundamente. Há minutos atrás pensava que era ele que escondia um segredo, mas agora o jogo mudava e era Louise que estava escondendo um. E o dela não tinha uma solução que incluísse ele junto. Talvez até pudesse ir junto com Louise para França, mas sentia que não era o certo a fazer. Poderia atrapalhar a reconciliação dela com a família.

Click.

Um sorriso sem jeito tomou conta de seu rosto. Louise secou as lágrimas e olhou confusa para o namorado que sorria.

— Por breves minutos Louise, esquecemos que estamos marcados para morrer. Estamos discutindo coisas que talvez nem vivenciaremos... É engraçado esquecermos disso.

Então foi a vez de Louise ouvir o click em sua mente. Aquilo era verdade, então a garota sentiu um aperto no peito por pensar que nunca pudesse ter a chance de um dia conhecer sua família.

— O que a gente faz agora Oliver? Com isso... Com tudo isso?

Oliver pensou por breves instantes, e então respondeu.

— Nós lutaremos. Lutaremos para viver... Pra continuarmos essa conversa, decidirmos o que faremos amanhã, daqui a uma semana, daqui um mês, daqui á um ano! Não pensaremos mais nisso, de viajar ou não, só nos concentraremos em nos salvar dessa maldita lista! Salvar a Angel e... O Wen também!

Louise sorriu e assentiu com a cabeça com os olhos brilhantes.

— Também vai ser pela Shani, pelo Carl, pelos nossos pais... Nós não deixaremos ela vencer, não mesmo!

Os dois sorriram e se abraçaram fortemente. Ambos com um sorriso de esperança em seus rostos, estavam dispostos a tudo. Desde de procurar fóruns na internet sobre alguma coisa parecida ao que estavam vivendo, até ir à bibliotecas e pessoas que lidavam com maldições. Estavam com tudo isso em mente, e dispostos a acabar com essa história de vez.

XX-XX-XX

Phil estava com um sorriso radiante no rosto, e com uma expressão alegre e contente em sua face.

Wen ficava mais calmo quando via a imagem dele daquela maneira.

O ex-cadeirante segurava com as duas mãos o porta-retratos com a imagem do irmão. Wen estava sentado na sua antiga cadeira de rodas enquanto olhava para a foto. Nem ele mesmo entendia o porquê de não ter dado um fim à cadeira de rodas, e por que não conseguia se livrar dela.

Suspirou.

Também não sabia dizer a si mesmo por que estava ali sentado nela, em plena madrugada, com a foto de seu falecido irmão nas mãos.

A verdade é que queria pensar, refletir, entender tudo que estava acontecendo. Agora não podia contestar mais, mesmo que quisesse. Seu irmão, Jeff, Leonel, Shani e todas as outras pessoas que saíram do St. Mary naquela maldita manhã do desabamento, estavam mortas. Se sentia um idiota por não ter acreditado em toda essa história meses atrás. Não foi uma ou duas pessoas que morreram, foram sete! E ele só acreditou quando a sétima foi levada.

Shaniqua.

Não sabia o que sentir naquele momento. Não tinha uma relação intima com ela, mas a amava, sabia disso. Ela podia não o amar de volta, mas ele sabia que o que sentia por ela era amor. Talvez esse sentimento o tenha deixado cego no momento em que Leonel e a tal advogada o contaram sobre a lista meses atrás, na lanchonete do Hospital do Centro. Aquela conversa aconteceu exatamente após a conversa com o Dr. Willians, e o recebimento do sinal verde para a sua cirurgia. A vontade de voltar a andar e impressionar Shaniqua o deixara cego a tudo a sua volta. Era tão óbvio que o que estava acontecendo com os sobreviventes do desabamento não era normal, mas ele não notou. Não quis notar...

Agora, as imagens de Shaniqua morta, dilacerada no chão da calçada daquela rua, não saiam da sua cabeça. Uma lágrima caiu de seu olho, ela não merecia uma morte tão cruel assim. Não após ter passado por tanta coisa ruim nos últimos meses...

Wen se levantou da cadeira rapidamente. E então pela primeira vez se sentiu com medo do que estava acontecendo. De nada adiantara ter feito a cirurgia para voltar a andar, de nada adiantara ter conhecido melhor Jeff ou Shaniqua. Ele morreria mesmo assim. Não havia ganhado uma nova chance, havia ganhado uma ilusão. Mas por que isso? Quem seria tão cruel a ponto de fazer isso?

Então a imagem de Carl veio a sua mente. O garoto havia tido a visão que os alertara do acidente naquele hospital. Se ele não os tivesse alertado, todos os sobreviventes teriam morrido naquela manhã. E não haveria ilusão, não haveria dor... Uma raiva tomou conta de seu interior, não sabia se sentia raiva de Carl, mas ao pensar que ele e todos os outros foram iludidos era ensandecedor. Sentia que os meses que se passaram eram como meses falsos, criados para fazê-los sofrer. Relembrou a imagem do casal de garotos sentados na sala de estar do apartamento de Angel, e sentiu uma sensação estranha. A mesma coisa sentiu ao lembrar-se do semblante de Angel, após a morte de Shaniqua. Por mais que não gostasse de Angel ou não conhecesse Oliver e Louise sentia-se conectado a eles, ambos os cincos compartilhavam da mesma dor, da mesma ilusão.

Wen olhou mais uma vez para o retrato de Phil em suas mãos, e então não se aguentou mais em pé. Caiu em lágrimas.

Enquanto chorava lembrou do corpo do irmão prensado dentro daquela cabine telefônica, meses atrás. Ele não tinha que ter passado por aquilo, não teria que ter morrido daquela forma, justamente após pensar que tinha recebido uma nova chance para viver. O mesmo pensou quando lembrou de Johanna, Jeff e todos os outros. Não teriam que ter passado por isso se tivessem morrido no desabamento.

Wen ainda com os olhos cheio de lágrimas, colocou o porta-retratos de volta a estante na sua sala de estar. Caminhando lentamente seguiu-se até seu quarto, abriu a gaveta do criado-mudo perto de sua cama e retirou uma pequena caixa de lá. Voltou até a sala e olhou sua cadeira de rodas novamente. Então finalmente percebeu o porquê de nunca ter dado um fim a ela. Sentia que era para nunca ter se levantado dali.

Respirou profundamente.

Abriu os olhos e olhou fixamente para a caixa em sua mãos. Tinha a total certeza de porque estar vivo até agora, enquanto pessoas boas como seu irmão e Shaniqua morreram. Era o único capaz de entender o que Carl fizera ao ter a visão, e ver que aquilo não era o certo. Podia salvar a ele, Angel e os dois jovens.

Wen tossiu e coçou levemente seu nariz.

Era o único com coragem para isso.

XX-XX-XX

Angel acabara de acordar, estava próxima à janela de seu apartamento. A loira contemplava a paisagem daquela manhã, mas não necessariamente contemplava, apenas observava. O céu estava escuro e com poucas nuvens, as pouquíssimas nuvens que se via, eram negras e carregadas de chuva. Era notável que uma tempestade estava a caminho.

Fechou a janela.

Uma parte de si queria se jogar na cama novamente e continuar chorando por dias e dias. Lutava contra si mesma para não se entregar a dor, e não ouvir as vozes em sua mente: Sua mãe estava certa. Você sempre vai ficar sozinha.

Os lábios de Angel tremiam, parecia que a qualquer momento desabaria em lágrimas novamente. Elas não iam embora de seus olhos desde a tarde anterior, desde a morte de Shaniqua. A loira não sabia explicar o que sentia ao pensar que nunca mais veria o sorriso da amiga ou sua voz novamente. Era cruel demais ter essa absoluta certeza em sua mente. Já havia sentido isso com a morte da sua madrinha, de Selly e a de Carl, mas agora essa sensação estava gritante dentro de si. A sua parte fraca, a mesma que queria voltar para cama e se entregar ao choro, dizia para ela que aquilo fora sua culpa. Que o destino estava a punindo por ter abandonado seus pais, e nem sequer ter notícias deles desde então. Por isso sua nova família fora levada.

Angel não queria ouvir aquela parte. Então prestou atenção no que a sua outra parte queria dizer. Você ainda pode tentar se redimir...

Louise e Oliver haviam saído do aparteamento no inicio da manhã, ambos se despediram de Angel e foram embora prometendo novas alternativas para deter a lista. Mas a loira não contara que havia ouvido a conversa do casal na madrugada anterior. Havia acordado com a discussão deles e então acabou ficando no corredor, ouvindo a conversa na sala de estar.

Angel ouviu tudo.

Desde o momento que eles discutiam o que fariam em suas vidas, até se lembrarem de que estavam na lista e de que morreriam antes de realizar suas ambições. Angel sentiu uma dor no peito quanto ouviu e viu ambos abraçados prometendo um para o outro, que tudo ficaria bem. Eles são tão jovens... Não merecem morrer. A loira parou para pensar que Carl também não merecia, assim como Shaniqua, Selly, Leonel, Rosie... Mas por algum motivo ela, Wen e os dois ainda estavam vivos. Então lembrou-se de Wen, ele era o próximo da lista antes dela. E por mais que não gostasse dele, achava que era cruel demais ele ter acabado de voltar á andar e... Então morrer.

Respirou profundamente.

Sabia o que teria que fazer para salvar a todos. Era a única forma de se redimir consigo mesma... Mas antes tinha que fechar um ponto em aberto.

XX-XX-XX

Oliver encarava a tela do seu computador.

Este era o antigo computador que seu pai usava para o trabalho entre outras coisas, ele ainda ficava no quarto dele. O rapaz estava lá sentado, enquanto Louise deveria estar tomando banho ou algo do tipo. Ambos estavam na antiga casa de Oliver desde que saíram do apartamento de Angel, por voltas das nove da manhã. Agora já era quase meio-dia, e tudo que Oliver queria era tempo. Tempo para poder encontrar alguma solução que tirassem os quatro da lista, mas de uma maneira que todos ficassem vivos.

O rapaz entrou no navegador, e entrou num site de pesquisa. Então se afastou do teclado, não tinha ideia do que pesquisar. Suspirou levemente. Então teve a ideia de entrar na sua conta no facebook para espairecer a cabeça. Por um momento se sentiu um completo idiota por fazer isso, não podia perder tempo com nada. Você está prestes a morrer e vai entrar no facebook?

Havia algumas notificações pendentes, já que fazia certo tempo que não entrava no site. Curtidas de fotos, solicitações de amizade e algumas mensagens de seus amigos do colégio. Antes que pudesse ler as mensagens, se distraiu vendo que várias pessoas publicaram mensagens de despedida na linha do tempo de Shaniqua. Oliver não pode deixar de sentir um aperto no peito ao ver a imagem da negra, parecia que todo aquele sentimento de angústia viera novamente. Resolveu abrir a página do perfil de Shani, e de cara pode ver sua foto de capa. Era uma foto dela e de Angel juntas, fazendo caretas. Oliver sorriu de lado. Era linda a amizade das duas, e mais uma vez pode imaginar a dor que Angel estaria sentindo.

Desceu a página até ver o resto das publicações, eram mensagens muito bonitas e algumas até tinham fotos de Shaniqua ou imagens tão belas quanto a moça. Oliver desceu mais a página e se deparou com a última publicação da negra, a última antes dela morrer.

Se arrepiou por completo.

Era a imagem de um coração dividido em três partes, em cada uma delas estava escrito uma palavra. Na primeira: Friends; na segunda: Love e na terceira: Strong.

Oliver pode sentir aquelas palavras, mais do que qualquer uma das 179 pessoas que curtiram aquela imagem, tinha certeza. Então curtiu o post, arredondando o número.

Louise entrou no quarto onde Oliver estava, fazendo com que o garoto virasse a cadeira para olhá-la.

— Oliver, eu já disse pra você não deixar seus sapatos espalhados por aí... Eu quase caí tropeçando em um deles lá na sala.

— Ah... Desculpe. — O rapaz perguntou ainda um tanto desconexo da conversa, ainda pensava em outras coisas.

— Você não vai acreditar quem está na cidade, Oliver...

— Quem? — O rapaz então começou a prestar mais atenção no que Louise falava.

— Meu pai. Ele está hospedado num apartamento num prédio do outro lado da cidade. Eu falei pra ele vir aqui, mas ele não quis. Eu... Não tenho a mínima ideia do que quer.

— Ué, vai falar com ele. Pode ser importante.

Louise parou para pensar por alguns segundos.

— Na verdade, eu voltaria no apartamento da Angel para ficar com ela, sabe? Eu sei como é perder alguém, e não quero que ela pense que está sozinha.

— Mas a própria Angel disse que era melhor nós ficarmos procurando alguma solução pra isso tudo. Você sabe como ela é teimosa, acabaria nos expulsando de lá. — Oliver sorriu de lado, Louise fez o mesmo.

— Bom, eu vou me arrumar e falar com meu pai. O pior é que... Não sei se falo sobre a viagem pra França, já que eu nem sei se eu vou...

Oliver sentiu novamente aquela sensação estranha de quando soubera da tal viagem pela primeira vez. Mas tinha que fazer o melhor por Louise.

— Conta sim, amor. É melhor ele ficar sabendo dessa possibilidade, daí você também já vai saber a opinião dele quanto a isso.

— Você tem razão. — Louise se aproximou e deu um beijo na testa de Oliver e outro em sua bochecha, se despedindo e saindo do quarto.

Oliver notou que Louise não estava tão carinhosa quanto antes, talvez realmente estivesse pensando em ir embora para França. Era como se estivesse se despedindo aos poucos...

O rapaz sacudiu a cabeça. Não podia se deixar dispersar naquele momento, tinha que tentar achar uma solução para lista. Afastou novamente a cadeira da escrivaninha onde ficava o computador, e esticou os braços enquanto bocejava. Não havia dormido o suficiente no apartamento de Angel, embora o sofá fosse até confortável.

Fechou todas as abas do navegador e desligou o computador. Se levantou da cadeira e deitou-se na enorme cama de casal do quarto de seu pai. Foi fechando os olhos aos poucos... Foi quando se lembrou novamente do casal, que teoricamente, morreram no lugar dele e de Louise no acidente no acampamento. E de que então, ele e Louise talvez estivessem salvos. Aquilo era totalmente insano, mas será que ele e Louise realmente estavam salvos da lista? E se fosse assim, Angel e Wen continuariam a serem perseguidos pela morte? Era muita coisa para se pensar. Mas seu psicológico estava abalado demais para isso.

Adormeceu aos poucos.

Enquanto isso seu celular em cima do criado-mudo próximo à cama, vibrava intensivamente.

Kiara estava ligando.

XX-XX-XX

Kramer chegou no apartamento de Angel. Estava totalmente atônito, havia acabado de saber que Shaniqua havia morrido. A loira havia ligado para ele e dito para ele vir até ali, para dar apoio. Mas não somente por isso...

— Angel eu... Eu sinto muito! Eu sei o quanto vocês eram próximas, isso é horrível, eu... — Kramer tocou os ombros de Angel e abraçou-a fortemente. Não sabia o que dizer. — Você não está sozinha, Angel. Eu vou sempre estar com você, você sabe.

Angel sorriu.

— Não, não vai. Mas não é sua culpa. Talvez a culpa seja minha... Talvez se eu não tivesse vindo até essa cidade, tudo teria sido diferente... Mas valeu a pena, sabe? Ter te conhecido, conhecido a Shani, a Selly e tantas pessoas maravilhosas... Eu só sinto por você, Kramer. Você não tem absolutamente nada a ver com isso.

— Eu não estou entendendo, Angel.

— Eu não quero que você entenda. Eu só não quero que você se sinta mal, mas isso é inevitável... Ao mesmo tempo que eu queria que tivesse acontecido aquilo entre nós dois ontem, agora eu sinto que era melhor não ter acontecido nada.

Angel então se lembrou do fato de ter feito amor com Kramer, e até atrasar-se para a ir ao Hospital do Centro recepcionar Shaniqua na sua alta. Mas assim como o fato de ela ter colocado a prateleira com as placas de titânio próximas a janela do hospital na noite anterior, esse era mais um plano orquestrado pela morte para levar Shaniqua. O irônico era justamente Angel ser a principal peça na morte da sua melhor amiga.

Sacudiu a cabeça e respirou fundo. Tinha que ser forte e continuar aquela conversa. Kramer ainda não entendia nada, apenas a olhava com aquele olhar confuso e triste que sempre a chamou atenção.

— Você me fez sentir amada como eu nunca senti por homem nenhum, Kramer. É clichê disser isso, mas é a verdade... Mas a vida prega algumas peça, sabe? As pessoas esperam a felicidade absoluta, mas a verdade é que ela não existe. Eu sou grata por tudo o que eu vivi nessa cidade, principalmente por ter te conhecido. Mas eu sinto que eu não pertenço mais... Aqui.

— Você vai embora da cidade, Angel? Agora? Mas...

Kramer perguntou ingenuamente e olhou pro chão ainda sem entender aquela situação. Angel o olhou sorrindo, no fundo ficou feliz em saber que ele não tinha entendido que o "aqui", não significava a cidade.

Angel se levantou do sofá decidida. Estava pronta para o que havia planejado, havia colocado a sua roupa favorita (uma jaqueta preta, uma calça jeans e diversos acessórios que tanto gostava) pouco antes de Kramer chegar ao apartamento. Olhou à sua volta. Olhou a sua enorme tv, sua coleção de cd's, o papel de parede do apartamento, a cozinha... Sabia que nunca mais veria aquele lugar novamente. De repente vários flashbacks vieram a sua mente: As noites em que ela e Shaniqua ficavam acordadas até de madrugada assistindo filmes de terror; as visitas que Selly fazia e as horas que elas ficavam conversando sobre a vida sentadas em seu sofá; e até as visitas de Carl onde ficavam ouvindo rock enquanto Selly prepara uma de suas deliciosas receitas na cozinha...

Angel sorriu, e deixou escapar uma lágrima. Pensou novamente em Oliver e Louise, e de que eles mereciam passar por momentos tão bons quanto ela passou na vida. Faria o sacrifício por eles.

Iria se suicidar.

Esse era o plano. Sentia que não tinha mais o que fazer nesse mundo... E também sabia, que não seria fácil arranjar outra maneira melhor do que essa para tirá-los da lista. Oliver havia contado sobre o suicídio falho de Leonel, e de como o seu pai havia se deixado enganar ao pensar que a sua vez na lista tinha passado. Angel sentia que tinha que fazer isso à Leonel também, não queria que sua morte fosse em vão. Mesmo dando errado ele havia sido muito corajoso.

Kramer encarava a loira em meio aos seus pensamentos, estava perdido tentando entender o que acontecia. Lembrava que da última vez que isso ocorreu, Angel estava planejando desmascarar Dora, e ele até ligou para a polícia à pedido da loira... Naquela ocasião, ela estava atônita e com raiva nos olhos. Já agora, Shaniqua havia morrido e então Angel parecia calma e serena. Algo estava acontecendo. Pensou ser algo haver com Dora novamente, mas então descartou. Dora estava presa e prestes a ser condenada. Era carta fora da mesa.

— Angel o que está havendo? Você tá me assustando.

A loira se envolveu em volta do pescoço de Kramer e lhe deu um caloroso beijo.

— Eu te amo. — Sussurrou ao seu ouvido.

Tudo o que aconteceu a seguir foi em rápidos segundos, Kramer não pode reagir. A loira se desvencilhou do médico e saiu do apartamento, fechou a porta com a chave trancando Kramer lá dentro. Não queria que ele a impedisse de fazer aquilo, sentia que por mais que ele não soubesse o que fosse, poderia querer ir junto com ela. Angel tinha tudo em mente, e obviamente sabia que Kramer não ficaria preso lá para sempre, mas ficaria o tempo necessário para ela ir embora do prédio.

Angel correu até o elevador, estava disposta à se entregar ao seu destino final.

XX-XX-XX

Wen ainda pensava na decisão que havia tomado. Parecia completamente insano tudo isso, mas ao mesmo tempo tão correto...

Encarava a pequena caixa de madeira, que estava em cima da mesinha de centro da sala de estar do seu apartamento. Olhava a de longe, ainda refletindo sobre a sua decisão. Com o rosto encostado na grande vidraça da sua varanda, olhou lá para fora. Já era quase quatro da tarde, mas pelo clima e pelas nuvens no céu, parecia que estava prestes a anoitecer. Então Wen se lembrou do diálogo que teve com o irmão naquela manhã do acidente no St. Mary, e de como em contraste com Phil, ele preferia o clima daquela forma: Fechado, escuro. Para Wen, aquele clima transmitia uma serenidade absurda. Ainda olhando para as nuvens, sentia que estava voltando no tempo de volta àquela manhã do acidente. Tudo parecia tão igual...

O telefone fixo tocou e Wen atendeu rapidamente, saindo de seus pensamentos.

Era a Angel. Não se lembrara de dar seu o número à ela, mas depois recordou de que havia passado para Louise, então fazia sentido. Wen se esforçou para ouvir o que ela dizia, já que havia muito barulho e vozes ao fundo.

— Você tá bem, Wen?

— Sim. — Wen respondeu sem ainda entender o porquê da ligação, mas notara que a moça estava com um tom diferente na voz... Mais doce.

— Eu consegui achar um jeito de acabar com a lista, e assim salvar você e os garotos. Mas eu não podia ligar pra nenhum deles, tive medo de eles tentarem me impedir... Então liguei pra você, Wen. Tinha que contar para alguém o que iria fazer, além de saber se você estava bem e de que ainda era sua vez na lista.

— Fazer o quê? Nos salvar?! Do que você está falando, Angel?

— Eu vou morrer no seu lugar, Wen. Eu já me decidi... Assim, a lista acaba e vocês estão salvos.

— Angel! Não! Você não pode, eu não...

— Eu já me decidi, Wen. Nada do que você me disser vai me impedir agora. Eu só quero me desculpar por todas as coisas que eu te fiz, e principalmente do que eu disse uma vez... A verdade é que eu nunca me arrependi de ter te salvado aquele dia no estacionamento. Eu sempre soube, dentro de mim, que jamais me arrependeria disso. E ao contrário de mim, você merece aproveitar a nova chance que a vida está te dando. Cara, depois de tantos anos, você pode andar! Isso é incrível! Eu... Manda um abraço pro Oliver e pra Louise, tenho certeza de eles vão ser muito felizes.

Wen continuava estático no telefone, não acreditava que Angel estava disposta a fazer aquilo. E aquelas palavras... Aquelas palavras pareciam facas que apunhalavam seu peito. Era tudo o que não queria ouvir.

— Angel, não! Eu não quero...

Tututu...

Angel havia desligado.

O ex-cadeirante sentou no sofá totalmente estático. Tinha duas certezas: A primeira era que Angel iria se suicidar, e a segunda, de que isso poderia atrapalhar seu plano.

Olhou para a pequena caixa em cima da mesinha. Tinha que ir atrás de Angel e impedir que ela cometesse suicídio, mas aonde ela estaria? Pensou que ela talvez ainda estivesse em seu apartamento, mas então descartou. Lembrou que na ligação estava muito barulho à sua volta. Deveria estar num local com muitas pessoas, e era óbvio que não seria ali que ela se mataria.

— Um ônibus. Ela ainda está dentro de um ônibus! Mas indo pra onde, droga!

Wen se levantou do sofá e correu rapidamente para seu quarto, abriu o guarda-roupas enquanto ainda pensava aonde Angel poderia estar indo. Tirou o pijama que estava, e colocou uma calça jeans e uma camiseta cinza de manga comprida. Foi então que avistou no fundo de seu guarda-roupa uma jaqueta amarela. Esta era da época que era o capitão do time de basquete no colégio, lembrara que nunca mais a usara desde o acidente que o fez ficar paraplégico. Olhou para a janela do quarto e viu novamente aquele clima fechado. Era bizarro como tudo naquele dia estava remetendo ao passado, à coisas que não voltariam. Pegou a jaqueta em mãos, a virou e viu seu nome escrito na parte de trás dela. Quando terminou de vesti-la, teve a certeza quase que absoluta, de onde Angel estava indo.

Foi até a sala e pegou a pequena caixa em mãos, coçou levemente seu nariz e então retirou um revólver dela. Wen o tinha desde que o seu irmão morrera, tinha medo de viver sozinho, não se sentia seguro ainda mais quando ainda estava na cadeira de rodas.

Mas nada disso importava mais. Wen colocou a arma por dentro da calça e fechou o zíper de seu casaco amarelo.

Saiu do apartamento sem olhar para trás.












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Notas finais do capítulo

Bom, eu sugiro que não demorem muito para ler o capítulo 12 (que já está postado!). Porque continua bem do ponto que este parou. Mas se demorarem para lê-lo, sugiro que voltem nesse e releiam o último parágrafo. É apenas uma sugestão...

E se você vai ler o próximo cap agora mesmo, respire um pouco e vai fundo. XDD