‘Fique comigo. E eu serei a sua proteção, você vai ser minha amada. Eu estou aqui para manter você aquecida, apesar de eu ser frio como o vento que sopra. Então me segure em seus braços.’

Kiss Me – Ed Sheeran

            Rachel estava deitada com a cabeça escondida no pescoço de Quinn, que segurava firmemente o pequeno corpo contra o seu. Estavam em um silêncio tranquilo, que em nada lembrava o que haviam trocado no carro enquanto voltavam para o hotel.

            Aquele silêncio havia sido tenso, espelhando exatamente o ambiente do qual tinham saído. Mas tão logo entraram no imenso quarto do hotel, seus muros ruiram, e elas voltaram a ser as mesmas pessoas que eram quando saíram de lá.

            Não seria Russel Fabray que abalaria aquele relacionamento.

“Ei, você está bem?” A loira perguntou fracamente, fazendo a morena mudar de posição, passando a encará-la nos olhos.

“Só um pouco assustada com o que seu pai fez, mas bem.” A morena respondeu calmamente e viu Quinn morder o lábios inferior nervosamente. “Eu juro pra você que estou bem. Não precisa se preocupar, amor.”

“Eu... só não entendo.” Quinn suspirou e se estabeleceu melhor contra a cabeceira da cama, trazendo o corpo da namorada junto. “Eu sabia que ele ia reagir assim, mas acho que não contava com o modo que tudo ocorreu.”

“Não é sua culpa, baby.” A morena a tranquilizou, depositando um singelo beijo nos lábios cheios e sentindo a loira relaxar com o carinho. “Seu pai é um – desculpe o uso da palavra – homofóbico de merda.”

            A loira riu suavemente. “Não tem problema Rach, é verdade.”

“Que bom que entramos em um acordo.” Rachel abriu um sorriso pequeno antes de morder carinhosamente o queixo da loira. “Mas a sua mãe a a sua avó são um sonho.”

“Eu tinha que puxar a alguém, não é?” Quinn responde dando de ombros e uma risadinha sacode todo o seu corpo. “Mas é sério, se não fossem essas duas grandes mulheres, acho que eu nunca teria conseguido me levantar contra ele tantos anos atrás e hoje não teria feito isso novamente. Elas duas são os maiores exemplos que eu já tive em toda a minha vida, tanto de força quanto de superação.”

“Assim como você, amor.”

            Elas voltam a ficar em um silêncio confortável. Quinn tinha a morena encaixada de costas para seu corpo e depositava singelos beijos no ombro coberto da namorada. Rachel segurava os braços da loira contra o seu corpo, em um abraço confortável e do qual ela já estava acostumada a compartilhar com Quinn.

            Sua mente começou a reproduzir a cena daquela noite. Voltou a repassar cada palavra que Quinn usara para defender o relacionamento que tinha, e sentia cada vez mais orgulho dela. Viu a loira crescer ferozmente diante daquele homem, que acabou encolhendo perante a grandiosidade da filha.

            Lembrava do olhar de orgulho que Judy e Charlotte vestiram e a admiração em todo o rosto de Frannie. Isso só a fazia amar mais ainda aquela loira que agora a segurava firmemente em seus braços.

“Quinn, eu estava pensando.” A morena começou e recebeu um resmungo em tom de pergunta por parte da loira. “Você estava falando sério quando disse que um dia queria casar e ter filhos comigo?”

“De onde isso saiu, baixinha?”

“Eu só estava pensando.” Rachel murmurou e sentiu o aperto em seu corpo relaxar, até ter desaparecido. Seu rosto foi virado em direção a Quinn, que a encarava com as sobrancelhas levantadas e os olhos avelã totalmente confusos.

“É claro que um dia quero me casar com você!” Sua voz saiu em um murmurio levemente indignado. “Eu sonho com isso desde o dia que meus olhos cairam em você pela primeira vez. Não falei isso só pra contrariar meu pai. Eu amo você, e se um dia tiver a honra, gostaria de casar com você sim.”

“Isso é um pedido?” Rachel mordia o lábio inferior e tinha um olhar esperançoso nos olhos castanhos.

            Quinn respirou fundo. Não era assim que pretendia pedir a mão da mulher que amava. Rachel esperava uma resposta, quando uma ideia cruzou a mente da loira. “Ainda não. Mas quando for, espero ouvir um sim.”

            Rachel sorriu e isso fez a loira sorrir também.

            Horas mais tarde Quinn ainda rolava na cama. Não conseguia dormir nem se tentasse. Ao contrário de Rachel, que ressonava tranquilamente, agarrada ao corpo de Quinn e usando seu ombro como travesseiro. A loira não pode evitar o sorriso terno que abriu em seu rosto.

            Rachel era todo o seu mundo e isso só a trazia mais certeza do que faria.

            Quando a morena acordou, se viu sozinha na imensa cama de casal do hotel. As sobrancelhas bem feitas arquearam em um gesto que pegara de tanto olhar Quinn isso fazendo e então ela viu uma pequena nota anexada no travesseiro ao seu lado, na letra fina e cursiva da loira.

Você sabia que eles tem um enorme piano de cauda aqui? Desça até a recepção. Quero te mostrar uma coisa! Amo você ;) – Q

            Mesmo confusa com o pedido da namorada, Rachel resolveu checar o que ela pedira. Ao chegar na recepção, encontrou a loira sentada em um banquinho, exatamente em frente a um enorme piano de cauda negro que não havia notado antes.

            Rachel se aproximou lentamente e antes que pudesse chegar à Quinn, a loira vira em sua direção com um pequeno sorriso enfeitando as belas feições. Seu cabelo curto estava coberto um uma touca negra e as poucas mechas loiras que apareciam, emolduravam o rosto de um anjo. Pelo menos era o que Rachel pensava.

“Quinn? Você queria me mostrar o que?”

“Senta aqui.” A loira deu um tapinha no espaço ao seu lado no banco e a morena sentou. “Eu andei trabalhando em um novo arranjo e queria te mostrar.”

“Um novo arranjo?” Rachel a encarou levemente confusa e viu o sorriso no rosto da namorada se tornar mais pronunciado.

“Isso!” Quinn piscou e suas mãos ganharam as teclas no piano. “Agora, fica tranquila e aproveita a música.”

            Quinn tocava com maestria a introdução da música só com o som suave que saia do piano. Em um primeiro momento, Rachel não reconheceu a canção, mas assim que a voz doce da loira começou a entoar as palavras, um sorriso terno se abriu em seu rosto.

Look at the stars

Look how they shine for you

And everything you do

Yeah, they were all yellow

I came along

I wrote a song for you

And all the things you do

And it was called Yellow

So then I took my turn

Oh what a thing to've done

And it was all Yellow

Your skin

Oh yeah, your skin and bones

Turn into something beautiful

Do you know?

You know I love you so

You know I love you so

            A loira tocava com os olhos fechados, deixando a música fluir como o vento. Seus dedos ágeis acariciavam as teclas com delicadeza e a morena sentia seus pelos arrepiarem quando as palavras que saiam dos lábios rosados atingiam cada nervo de seu corpo.

I swam across

I jumped across for you

Oh what a thing to do

'Cos you were all yellow

I drew a line

I drew a line for you

Oh what a thing to do

And it was all yellow

And your skin

Oh yeah your skin and bones

Turn into something beautiful

Do you know?

For you I'd bleed myself dry

For you I'd bleed myself dry

            Os olhos castanhos digitalizavam a linda loira. Quinn era uma das pessoas mais talentosas musicalmente que conhecera em toda a sua vida, e isso justificava o imenso sucesso que ela vinha fazendo como produtora musical. As vezes se perguntava porque a loira nunca tentara investir em uma carreira de cantora, já que era dona de uma das vozes mais doces e agradáveis de ouvir que tivera o prazer de escutar.

It's true, look how they shine for you

Look how they shine for you

Look how they shine for...

Look how they shine for you

Look how they shine for you

Look how they shine...

Look at the stars

Look how they shine for you

And all the things that you do

            Quando as últimas notas se perderam no ar, Rachel começou a aplaudir audivelmente. Quinn a olhou levemente corada e a morena a puxou para um longo abraço.

“Baby, isso ficou lindo.” Secou uma lágrima que acabara escorrendo contra sua vontade dos olhos chorosos.

“Porque você está chorando, Rach?” A loira perguntou com uma voz engraçada e se apressou em secar outra lágrima que escorria do belo rosto a sua frente.

“Fiquei emocionada.” Rachel deu de ombros com um sorriso aguado e Quinn beijou os lábios carnudos levemente. “Sério, isso ficou incrível. Quanto tempo você ficou fazendo esse arranjo?”

            A loira pensou por um segundo. “Acho que umas duas horas. Bom, pelo menos eu sai do quarto a duas horas.” Respirou fundo uma vez e voltou os olhos avelã para a morena. “Quando eu estava no Glee Club da minha escola, nós sempre faziamos tarefas e cantávamos sobre o que sentiamos. A música sempre expressou melhor as coisas que eu queria dizer. As vezes, até com o meu vasto conhecimento de palavras, elas acabavam falhando em dizer exatamente o que eu queria e eu encontrei na música um meio de mostrar como eu me sentia.”

            Conforme falava, as teclas do piano iam sendo pressionadas de forma aleatória pelas mãos pálidas e esbeltas de Quinn. Ela tentava organizar os pensamento e tomar a coragem necessária para o que pretendia fazer.

“Baby, você está nervosa.” Rachel colocou as mãos em cima das de Quinn, efetivamente parando a sequencia que ela fazia. Quando as sobrancelhas bem feitas se juntaram em confusão, ela complementou. “Você está criando padrões. Quando fica nervosa, você não toca nenhuma música e só fica pressionando as teclas aleatoriamente, até encontrar um padrão.”

            Quinn mordeu o lábio inferior corando. Ela realmente fazia o que a morena falara e isso só mostrava o quão bem Rachel a conhecia, e sanava qualquer dúvida que pudesse estar cruzando sua mente.

“Desculpa.” Murmurou timidamente e ganhou um sorriso em troca. “Tudo bem, me deixa começar de novo.”

“Ok.”

“Você sempre diz que eu conheço palavras demais e está certa. Durante muito tempo, elas foram o meu único modo de defesa e eu nem sempre as usei para o bem.” Deu um pequeno sorriso quando a morena tentou conter o seu. “Eu já machuquei muitas pessoa com elas, e por isso resolvi começar a usar a música. A música não machucava, pelo menos não intencionalmente, e não doia como as palavras. Quando eu entrei no Glee Club, encontrei meu verdadeiro eu. Encontrei pessoas que me aceitaram mesmo com meu jeito meio nerd, com minhas escolhas um tanto alternativas de músicas, mesmo com a minha preferência sexual. Eles foram os primeiros a saberem que eu gostava de garotas, e não me arrependo nem um pouco de ter compartilhado com eles esse pedaço tão importante de mim. Afinal, eles são minha pequena família de coração.” Rachel a encarava ternamente, absorvendo tudo que saia pelos lábios rosados e que vinha do coração da loira. “Durante muito tempo, eles, minha mãe e avó e Frannie foram a única família que eu tinha. E então eu te conheci.”

            Quinn já tinha os olhos avelã levemente marejados.

“Quando eu te conheci, minha vida voltou aos eixos. É claro que eu tinha minha pequena família, meus amigos, fama e sucesso no que escolhi, mas faltava alguma coisa. Faltava você.” Agora quem chorava era Rachel, emocionada com as palavras lindas da namorada. Seu coração batia erratico no peito e a respiração começava a se agitar. “Por toda a minha vida procurei exatamente você, que é aquele encaixe perfeito em mim. Você é a emoção quando eu sou racional demais, o sorriso quando estou triste, a música quando me faltam as palavras, a inspiração quando estou sem esperanças, é o calor quando me sinto gelada, é a calmaria durante minhas tesmpestades, é minha baixinha, minha morena, meu abraço perfeito. É aquele carinho gostoso nas noites que só o que nós queremos é ficar em casa enrolada nos cobertores, é aquele toque que queima a pele. Você é meu tudo Rachel Berry.”

            A loira ficou em silêncio por alguns instantes e então começou a procurar alguma coisa em um dos bolsos do casaco. Tirou de lá de dentro uma pequena caixinha negra e estendeu em direção a uma morena trêmula.

“Isso é o que eu estou pensando?”

“Eu comprei essa aliança a semanas mas nunca encontrava o momento perfeito pra fazer o pedido, porque você merece todo o romantismo desse mundo.” Quinn agora a encarava de forma séria, enquanto a morena revezava os olhares de deslumbramento para seu rosto e para a delicada aliança que repousava na caixinha. “Minha avó sempre me dizia que existe uma pessoa que é perfeita pra você no mundo. Não importam os defeitos que os outros vejam nela, ou os que você tenha e te tornem quebrada. Tem uma pessoa que vai ser seu grande amor e vai remendar cada parte danificada do seu coração. Que tem um beijo mais doce que o mel e que pode acalentar as almas mais perturbadas. E você é essa pessoa, Rachel Berry. Você é o grande amor da minha vida, a constante dos meus dias, é aquela que eu vou sempre amar. Não posso te prometer o felizes para sempre dos contos de fadas, afinal, não sou o principe encantado, mas posso prometer que te amarei até meu último suspiro, até a última batida do meu coração.” A loira respirou fundo e segurou as mãos trêmulas da namorada contra seu próprio coração, que batia descompassadamente. “Rachel Barbra Berry, você me daria a honra de passar os meus dias acordando ao seu lado? Me daria a honra de poder chamá-la de esposa? Você casa comigo?”

            Rachel sentiu seu coração falhar uma batida. Nem em seus sonhos mais felizes, imaginava que a loira a dirigiria palavras tão belas em um pedido de casamento. Nem em seus mais secretos devaneios imaginava ser pedida em casamento por Quinn, com o discurso mais bonito que já ouvira na vida, em uma pequena cidade perdida em Ohio.

            Quinn ainda a encarava expectante – os olhos avelã brilhando, um leve sorriso desenhando os lábios finos, as maçãs do rosto coradas. “Baby?”

“Oh meu Deus, sim.” A morena pulou nos braços da loira, que quase caiu do banquinho que sentava com o impacto. “Sim. Sim. Sim. Sim. Sim. Eu caso com você!”

            A loira soltou um suspiro aliviado e teve os lábios atacados por uma morena indomável, que havia roubado sua sanidade e seu coração.