The Truth About Love escrita por Melanie


Capítulo 3
Capítulo 3




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‘Salve-me de minhas superstições. Agora estou livre, desta velha condição[...] Me segure, para que eu seja obrigado a ouvir. Não me deixe ir, porque eu não sou nada sem você.’

Muse – Save Me

“Ei, baby?” Quinn chamou sentada na imensa cama de casal do hotel. Rachel saiu do banheiro enrolada em uma toalha branca e a olhou interrogativamente. A loira levantou os olhos do computador e os deixou passear pelo corpo bronzeado da namorada.

            Rachel soltou uma risadinha ao perceber que Quinn havia perdido a linha de raciocínio. Ela achava adoravel o olhar abobalhado que a loira a dava nesses momentos. “Q? Você queria me perguntar?”

“Oh, sim. Certo.” Quinn sacudiu a cabeça, espantando todos os pensamentos sujos que corriam pela sua mente e voltou a se concentrar no rosto de Rachel, que era adornado por um sorriso malicioso. “Eu acabei de falar com a minha mãe, e ela gostaria que nós ficassemos essa noite por lá. O que você acha?”

“Não vai ter problema?” A morena sentou na cama e a olhou apreensivamente. Não conhecia os parentes da namorada, fora Frannie, e não sabia como iriam recebê-la. “Eu não quero forçar minha presença por lá.”

            Quinn pensou por alguns segundos. Realmente não sabia se era uma boa ideia, não por causa do temor da namorada, mas porque teria que suportar seu pai as olhando torto e tornando o ambiente desconfortável. “Porque não fazemos assim, vamos pra lá e se tudo der certo e você se sentir confortável, nós ficamos. Caso contrário, temos um quarto de hotel pra voltar.”

“Tudo bem.” Deu um sorriso brilhante e voltou a se arrumar.

            A morena não demorou muito tempo para ficar pronta e logo as duas sairam do hotel rumo a mansão Fabray. Rachel encarava extasiada a paisagem da cidade. Era tudo tão diferente de Nova York – as casas espalhadas onde lá teriam prédios, o trânsito quase inexistente, as pessoas mais pacientes. Aqui você conhecia seu vizinho. Em Nova York a morena não sabia o nome das pessoas que moravam no mesmo andar que ela.

            Em determinado momento as pequenas casas que via pelo caminho foram ficando cada vez mais escassas, dando lugar a imensos casarões. Quinn parou o carro em frente a uma mansão branca, que tinha alguns outros veículos estacionados na frente.

            Rachel viu a postura da namorada enrijecer levemente, antes de um suspiro ser liberado e seu corpo voltar a relaxar.

“Quinn, tudo bem?” Perguntou preocupada e a loira a olhou inexpressivamente.

“Porque não estaria?” Sua voz não transmitia nenhuma emoção e isso deixou Rachel em alerta. A namorada tinha se fechado em seus próprios muros e ela não gostava disso. “Vamos?”

“Q, por favor.” Rachel resmungou e a loira deu um pequeno sorriso em sua direção. Sabia que a morena havia percebido a sua tensão, mas não queria falar sobre o assunto. Não ainda. Não quando teria que encarar seu pesadelo por horas.

“Conversamos sobre isso depois.” Quinn implorou e pela primeira vez deixou alguma emoção infiltrar na casca de gelo que havia criado. Rachel percebeu a pequena rachadura na sua voz e resolveu deixar o assunto para mais tarde. “Podemos?”

            A morena deu de ombros.

            Quinn segurou sua mão firmemente enquanto caminhavam até a entrada da casa. Antes que pudesse tocar a campainha a porta foi abruptamente aberta e elas enfrentaram uma Judy sorrindo largo em sua direção. Seus olhos azuis pairaram sobre Quinn por alguns segundos e então desviaram para a morena amedrontada.

“Oh, meu Deus! Frannie estava certa.” Sua voz pingava entusiasmo e ela puxou a pequena morena para os braços magros e quentes. “Você é tão linda.”

“Mamãe?” Quinn encarava a mulher com os olhos confusos. Então pegou um vislumbre de sua irmã sorrindo culpada um pouco atrás de sua mãe e mirou seu rosto naquela direção, estreitando os olhos perigosamente. “Fran, o que você disse pra mamãe?”

“Nada.” A loira de olhos azuis levantou as mãos em rendição, olhando para todos os lados, menos para os olhos avelã da irmã. Se sentiu encolher quando Quinn continuou sustentando o olhar que parecia queimar buracos em sua pele. “Talvez eu tenha deixado escapar algo sobre a Rachel.” Admitiu por fim e viu a irmã se preparar para brigar.

            Judy finalmente soltava a morena de seu aperto e começa a observar a troca de acusações das filhas. “Quinn, seja boazinha com sua irmã. Ela só me contou que você estaria trazendo a namorada para o jantar.”

“Baby, deixa para lá.” Rachel murmurou corada, não querendo aquela atenção para si.

“Mas eu queria ter contado para a mamãe.” A loira resmungou e tanto sua mãe quanto sua irmã reviraram os olhos azuis.

            Judy puxou a filha mais nova e a pequena morena para dentro da casa e as duas foram engolidas pelo calor que o sistema de aquecimento e a lareira emanavam. Logo as quatro mulheres chegaram na sala de jantar, onde a família de Quinn as esperava. As conversas cessaram em conjunto quando elas apareceram para todos, que encaravam de forma curiosa a pequena morena que segurava firmemente a mão de Quinn.

            Rachel ficou rídiga ao lado da loira, e sentiu o aperto em sua mão se tornar tenso. Quinn havia avistado Russel. O homem olhava para a filha com um claro desgosto estampado no rosto que outrora pertenceu a alguém cheio de alegria. A expressão logo se transformou em nojo e ele saiu a passos duros da sala.

            O silêncio podia ser cortado com uma faca. Ninguém ousava respirar ou mesmo o quebrar.

            Charlotte observava tudo de forma pesarosa. Sabia que a possibilidade de algo assim acontecer era alta, mas torcera fervosamente para que estivesse errada. Já tivera uma prévia naquela manhã, mas somente agora que via as coisas definitivamente descarrilhadas. Era sua missão pessoal zelar pela paz naquela casa.

“Prontos para o jantar?” Sua voz quebrou o silêncio incomodo. Charlotte sentiu o olhar de agradecimento que Judy e Quinn a davam e devolveu um pequeno sorriso triste. Todos os presentes concordaram com um pequeno aceno de cabeça e tomaram seus lugares na mesa.

            Russel não voltou em nenhum momento durante o jantar.

            As anfitriãs fizeram o possível para amenizar o clima estranho e tenso que havia se apoderado do ambiente, e logo a mesa era tomada por conversas alegres. A família de Quinn queria saber tudo sobre como ela e Rachel se conheceram e a morena respondia alegremente cada uma das perguntas. As mais entusiasmadas eram a mãe e a avó da namorada, que faziam pergunta em cima de pergunta, mal dando tempo para que elas respirassem.

            Apesar do começo errado da noite, tudo corria perfeitamente bem. Isso até que um já visivelmente alterado Russel Fabray irrompeu pela sala e fez as conversas cessarem abruptamente.

“Não parem suas conversas só porque eu entrei.” Sua voz pingava cinismo e ele caminhou a passos duros até o lado de Judy. “Podem continuar perguntando o que quiserem sobre essas aberrações. Eu não me importo.”

“Russel.” Judy o advertiu e ele só deu de ombros.

            Então seus olhos verdes grudaram e faiscaram em direção a Quinn e Rachel. “Não vai me apresentar, Quinn? Isso é falta de educação.” E quando a loira não fez menção de cumprir, se adiantou e caminhou até a frente delas. “Russel Fabray. É um imenso desprazer conheçe-la.”

“Filho!” Sua mãe guinchou horrorizada, já sabendo que aquele comentário de Russel havia atingido o limite que sua neta aguentava de insultos do pai.

            A loira sentiu seu sangue ferver. Era um bastardo desgraçado. Colocou seu corpo protetoramente em frente a namorada e ergueu o rosto, encarando com ódio o homem que antigamente chamava de pai.

“Quem você pensa que é para ofender minha namorada?” Sua voz saiu rispida e as pessoas a sua volta se encolheram. Já sabiam o que iria acontecer, e não viam como impedir.

“Sou seu pai.” Ele rebateu sem se abalar. “E você está na minha casa, então eu falo assim com quem eu quiser.”

“Essa não é sua casa. É a casa da vovó.” Quinn retrucou, se aproximando um passo do homem. Sentiu Rachel tocar seu braço levemente e o sacudiu. “E você não é mais meu pai. É só um infeliz com o qual infelizmente eu tenho que dividir o sangue e o sobrenome.”

            Ele rosnou – os olhos arregalaram e os lábios se fecharam em uma linha dura e fina. “Olha como fala comigo.”

“Se você pode falar com as pessoas como quer, eu também posso usar a mesma gentileza com você.”

“Quinn.” Rachel murmurou as costas da loira, e isso fez a atenção de Russel desviar.

            Ele agora encarava com raiva a pequena morena. Ela era a causadora de todo aquele tormento. Ela havia desencaminhado sua filha e a levava para um caminho de pecados. Era por causa daquela aberração que sua Quinn havia mudado.

“Você!” Russel apontou de forma acusatória para Rachel, que encolheu sob o brilho ensandecido de seus olhos. “A culpa disso tudo é sua. Aberração. Você levou minha filha de mim. Se não fosse por você, hoje minha Quinnie estaria morando aqui e casada com um bom homem.”

“Meu Deus, será que você está ouvindo as palavras que saem da sua boca?” Quinn perguntou enojada, antes que qualquer um pudesse falar algo. “A Rachel não tem nada a ver com o fato de eu ser gay. Ela não me transformou em gay. Eu nem a conhecia quando você soube. Então para de tentar jogar a culpa da sua fraqueza e homofobia em cima dela.”

“Quinn, não.” Judy tentou a parar, mas a loira precisava desabafar. Precisava tirar tudo aquilo de dentro de si, ou não conseguiria ser completamente feliz.

“Eu preciso mamãe. Eu não posso deixar ele desprezar desse jeito a melhor coisa que me aconteceu.” Quinn deu um suspiro derrotado, e então sua voz assumiu um tom duro enquanto olhava para o pai. “Sabe o que é mais triste? Eu realmente pensei que uma dia nós dois pudessemos voltar a viver pacificamente, mas cada dia mais, você prova que isso nunca vai ser possível. Será que você não consegue entender que isso não algo que eu possa mudar com um estalar de dedos? É quem eu sou, e se eu não deixei todo o preconceito que já sofri na minha vida me fazerem tentar mascarar meu verdadeiro eu, não vou deixar o senhor fazer. Não é sua opinião e nem mesmo a sua aprovação que eu busco. Nunca foi, e não é agora que vou mudar minha mente. Eu amo a Rachel, e um dia nós vamos nos casar, e eu sinto muito mesmo que seu preconceito cego vá te impedir de conhecer os netos que poderiam desfrutar de mais um avô.” Russel engoliu em seco ao ver sua filha crescer ferozmente a sua frente. “Eu sinto pena de você, por não querer conhecer a pessoa incrívelmente linda, talentosa e humilde com a qual sua filha quer dividir a vida. Eu sinto pena de você por não conseguir entender que o amor não pode ser definido pelo sexo e sim pelo sentimento das pessoas. Eu só tenho pena de quem você se tornou."

            A sala caiu em um silêncio colossal. Ninguém ousava falar uma palavra depois do discurso apaixonado que Quinn dera. Russel sentia as palavras da filha mais nova cravarem dentro de seu cérebro e se sentia estúpido por ser colocado no lugar por alguém tão mais nova que ele. Mas ele não entendia, não podia entender. Não era aquilo que queria para sua pequena princesa, nunca quis.

            Já a mãe, a avó e a irmã mais velha de Quinn a encaravam de forma orgulhosa. A loira falara tudo que elas queriam dizer a Russel a muito tempo, mas não se achavam no direito de fazer. Era Quinn que devia colocar o homem em seu lugar, já que era a felicidade dela que ele tentava impedir.

            Rachel ainda estava congelada às costas da namorada. Seus grandes olhos castanhos estavam arregalados e temerosos, mas ela se sentia infinitamente orgulhosa com o modo protetor que Quinn havia agido em relação ao seu relacionamento.

            Quinn respirou profundamente uma vez e virou para a pequena morena. “Você está bem?” Sua voz saiu baixa e preocupada, que em nada lembrava o tom antes empregado. A morena assentiu uma vez, querendo tranquilizar a namorada, mesmo ainda aterrorizada com o que havia acontecido. “Você quer ir embora?”

“Por favor.”

“Tudo bem, baby.” Quinn sorriu tranquilizadora e então virou para sua mãe. “Mamãe, eu e Rachel vamos voltar para o hotel. Acho que não tem mais clima para continuarmos nesse jantar. Você se importa?”

“Não minha querida, vocês podem ir.” A loira mais velha concordou com o pedido da filha e viu com pesar as duas sairem rapidamente da casa.

            O clima era pesado e só foi quebrado quando Frannie recebeu uma mensagem em seu celular.

Diz pra mamãe que eu não sei se vou no almoço da vovó amanhã. Não sei se aguento outro embate como o de hoje com o Russel. – Quinn.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham curtido! Deixem um comentário ;)



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