Sakuraku escrita por maroto_10


Capítulo 3
Capítulo 3 - O julgado


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, demorei. Demorei muito. Mas está aqui o capítulo. E a fic já está quase concluída, então acho difícil voltar a atrasar. Boa leitura!



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Sasuke sentiu as costas doerem pelo desconforto de estar deitado imediatamente sobre o chão amadeirado. Tentou mudar de posição para amenizar a dor, mas sentiu uma pontada aguda no lado esquerdo do corpo. A julgar pelo enfaixe e pelo local dor, ele parecia ter tido algumas costelas quebradas. Só restava a ele ficar parado, admirando o teto forrado em madeira, sentindo a fina brisa que entrava pela janela com o doce aroma de arroz recém-colhido.

Ouviu o barulho de uma porta se abrindo mais uma vez. Desde que recobrara a consciência, o rapaz ouvira as pessoas entrarem e saírem inúmeras vezes do local em que estava. Elas falavam sobre “os forasteiros encontrados à beira do rio”, falavam no temor de que o exército do imperador estivesse perto, falavam em como julgariam os dois forasteiros pelos hediondos crimes contra a tradição ou simplesmente não falavam. Lembrou-se da garota de cabelos róseos que viera visita-lo duas vezes, acompanhada por um jovem rapaz loiro. Da primeira vez em que ela o visitara, ela havia apenas murmurado um breve agradecimento. Da segunda, nada disse. Para todos os visitantes, permaneceu em silêncio. Não acreditarão em mim. Como cumprirei minha missão?

- Você precisa voltar a caminhar agora. – era a mulher de cabelos loiros que havia cuidado de seus ferimentos. Ela ajoelhou-se ao seu lado e observou os curativos. – Parece que as costelas quebradas são a única coisa que vão impedi-lo de fazer isso sem dor.

A mulher pegou em seu pescoço e apoiou-o sobre a mão. Sasuke não pode conter o pequeno gemido de dor. Sem aviso, ela empurrou o tronco do rapaz para a frente e ele gritou.

- Sentar agora não será mais problema. – ela disse. – Agora, apoie-se em meu braço e se levante.

Sasuke obedeceu e se levantou. Incrivelmente, a dor não fora tão desagradável quanto achou que seria. Ela me fez sentir uma dor tão grande que agora as outras não vão parecer mais tão fortes.

Em pé, colocou a mão direita sobre as costelas quebradas e caminhou vagarosamente até a porta, a mulher loira a seu lado. Lá fora, a luz do sol ofuscou sua visão. Fechou os olhos e voltou a abri-los vagarosamente até que estivessem adaptados à claridade. Desceu dois degraus até sentir o chão de terra batida. Sentiu falta dos sapatos. Só haviam dado a ele o kimono surrado que vestia naquele momento.

Enquanto caminhava, sempre em frente, Sasuke sentia os olhares dos habitantes daquele vilarejo caírem pesados sobre ele. Não falavam nada, mas o rapaz sabia que pensavam nas crianças mortas deixadas entre as Vilas Senju e Kyoto.

Chegaram a um muro espesso, com um portão amadeirado bem no meio. Passaram por ele e chegaram a um pequeno pátio, com três construções. Caminharam em direção ao prédio da direta. Parecia ser um grande salão.

Lá dentro, quatro homens altos, vestidos adequadamente como ninjas, armas em mãos, esperavam em pé, na extremidade do salão, os olhares severos voltados para Sasuke. Sobanki, o outro forasteiro, encontrava-se ajoelhado no meio do salão, de cabeça baixa, sussurrando coisas só para si. Sasuke foi colocado ao lado dele, mas permaneceu em pé.

- Traidor, traidor, traidor. – disse Sobanki, ensandecido, mas sem levantar o olhar do chão. Ele havia ficado nervoso com a presença de Sasuke.

- Silêncio! – falou um dos ninjas à sua frente. Devido à acústica do salão e ao fato de todos eles estarem usando máscaras, não era possível identificar de qual dos quatro viera o comando. – Soldados do Imperador, vocês são acusados por crime de atentado à tradição, assassinato de crianças e destruição de patrimônio ninja.

- Traidor, traidor. – foi o que Sobanki respondeu.

- Algum dos dois tem algo a dizer em sua defesa? – a voz soara novamente, como se não houvesse sido interrompida.

- Traição é paga com traição. Você não vai encontra-lo, não vai encontra-lo. – Sobanki se pôs de pé e jogou os ombros contra Sasuke, derrubando-o no chão. Mais uma vez o rapaz gritou de dor.

Um dos ninjas jogou uma pequena faca na direção de Sobanki, acertando-o a perna esquerda. Ele perdeu o equilíbrio e caiu. Sasuke conhecia aquela técnica. Um ninja deveria ser muito bom para acerta o ponto de equilíbrio de alguma parte do corpo sem prejudicar nenhuma parte a mais.

- Seus comportamentos deveriam ser punidos com a morte. – disse um ninja.

- No entanto, isso não nos faria melhor que o exército real. – o ninja que havia jogado a faca retirou a máscara e caminhou até Sasuke, no chão. Era um homem alto, esbelto e loiro. Por um momento achou que fosse o rapaz loiro, mas aquele homem parecia bem mais velho. Estendeu a mão e levantou o garoto. - O conselho debateu e achou melhor que o forasteiro denominado Sobanki permanecerá trancado em uma cela, será utilizado como fonte de informações. Quanto ao outro... – ele olhou para trás. – Parece que salvou um de nós, masprecisamos fazer algumas perguntas. Por que saiu do seu acampamento?

- Estava fugindo. – Sasuke respondeu.

- Por quê? – Minato perguntou.

- Cinquenta e oito crianças mortas, abandonadas na estrada, sem um funeral adequado, tratadas como escória. Considero motivo suficiente para desertar.

O homem loiro examinou-o por um momento.

- Sente remorso pelo que seu exército fez? Arrependimento?

- Sim. Não estou mais do lado do exército dele. – Sasuke apontou para o homem caído no chão, que continuava a murmurar sobre a traição.

- Poderia ter fugido para qualquer lugar. Por que escolheu uma vila de ninjas? Eles virão atrás de você.

- Quero vingança. Se vocês lutam contra eles, eu também quero lutar. Ouçam. – ele olhou para os demais ninjas do salão e continuou em tom suplicante. – O mensageiro que chegou aqui ontem trouxe informações falsas. O exército que está atacando as vilas não possui mais de dez mil homens. O Imperador agora está preocupado com a ameaça de outros países e só colocou pouco mais de mil homens para lutar. Estão tentando vencer vocês pelo medo. Sei que cada ninja é páreo para até vinte soldados, então vocês ainda possuem chance. Quero pertencer ao lado que vencerá esta guerra.

Sobanki gritou e agitou os braços para agarrar as pernas de Sasuke, ainda com os gritos de traidor, mas ele estava longe demais para alcança-lo e com a perna ainda imobilizada.

O homem loiro olhou para os companheiros ninjas, como que a espera de algum questionamento sobre a história do jovem forasteiro. Um deles falou.

- Você trouxe perigo à nossa aldeia. Pôs a vida de uma garota em risco. Quando o exército souber que há um desertor aqui, irá atacar com fúria a nossa vila.

- Mas então estaremos preparados. Ele nos deu informações preciosas. – argumentou o homem loiro. Voltou a olhar para Sasuke. – Será livre para andar pela vila, mas jamais deverá sair dela. Usará correntes nos braços e nas pernas. Ajudará na colheita. Ganhe nossa confiança e então poderá nos ajudar.

Sasuke assentiu e tentou fazer uma reverência. A dor nas costelas, porém, o impediu de curvar-se adequadamente. Agora, para completar o que tinha de fazer, só precisaria ganhar em confiança e perder em correntes.

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Naruto, encostado no portão da Vila, trajando um kimono verde com o laço prateado, olhou para o forasteiro tentando colher legumes, acorrentado. Estava tentando avaliar quando seria a próxima vez que ele iria cair. Das outras três vezes em que isso havia ocorrido, ele havia podido rir como nunca desde que as preocupações com a guerra do Imperador haviam começado. Apesar de acha-lo um completo palhaço, Naruto não confiava em Sasuke. Tinha medo de que ele pudesse atrapalhar na promessa que havia feito, no dever que tinha de cumprir.

Quando viu Sakura voltando do rio pelo bosque acompanhado por seu pai, desencostou do portão para que não parecesse preguiçoso. Deveria parecer um ninja sempre alerta. Gostava da garota. Tinha se afeiçoado a ela mais que a qualquer um na vila.

A garota de cabelos róseos passou, então, com o pai. Ambos fizeram uma breve reverência ao loiro e ele retribuiu com igual respeito, sem deixar de notar que a amiga lançara um rápido olhar ao forasteiro antes de enveredar pela rua principal. Sakura estava diferente desde a chegada de Sasuke, isso era completamente perceptível. Provavelmente estava encantada por ele. Mas seria perigoso para ela dar esperanças ao que sentia. Ninguém tinha certeza sobre a confiabilidade dele. Torceu para que estivesse do lado certo.

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Depois de abastecer a família com mais um balde de água, Sakura saiu de casa e caminhou até a colheita. Naruto já havia deixado o portão, provavelmente para treinar um pouco mais, o que a deixou um pouco mais confortável para fazer o que iria fazer. Ela percebeu que o amigo não gostava de Sasuke e muito menos iria gostar de ver os dois conversando mais uma vez. Ele havia dito a ela para que não confiasse nele, mas seu instinto dizia o contrário. Lembrou-se de ter implorado ao pai que fosse misericordioso, afinal Sasuke tentara salvá-la, e escutasse o que o rapaz tinha a dizer. Terei eu feito o certo?

Quando o avistou, viu sua cesta cheia de legumes. Seu kimono azul, velho e surrado, estava pior do que já estivera algum dia, cheio de terra, folhas e arroz. Sakura não pôde deixar de rir. Ao fazer isso, o garoto olhou para ela. Para sua surpresa, ele também sorriu.

- Um adulto não costuma se sujar tanto durante a colheita. – a garota disse.

- Acho que eles geralmente não fazem isso acorrentados. – ele indicou as correntes nas mãos com os olhos. – Espero poder me livrar delas o quanto antes.

- Você vai. Eu sei que devo confiar em você. – ela lembrou-se das palavras dele, na tentativa de fazê-la correr na noite anterior. Saia. Corra... Por favor...

- Não deveria confiar em mim tão facilmente. – fazendo um breve muxoxo de dor, pelas costelas em recuperação, ele apoiou a cesta de legumes com o braço direito e fez sinal para que caminharem pela estrada principal da vila. – Tenho sua permissão para entrar?

- Claro. – ela sorriu. – Sabe, eu sei que você tentou me salvar naquela noite e é nisso que acredito.

Juntos, caminharam pela rua e dobraram na primeira viela. Sakura indicou o lugar em que os legumes recém-colhidos deveriam ser deixados para que fossem devidamente lavados e apropriados para o consumo. Assim que terminaram, Sasuke depositou a cesta e fez uma breve reverência (ou o mais próximo que se pode chamar disso, dado o ferimento) à senhora que fazia esse trabalho e voltou para a rua principal com Sakura.

Àquela hora o sol já anunciava seu descano. O céu estava púrpuro e as primeiras estrelas começavam a despontar no oeste. A fina e doce brisa estava fria e seca, o que dava a Sakura uma vontade de estar em casa tomando alguma para aquecer o corpo e apaziguar a mente. As crianças não pareciam compartilhar do mesmo desejo. Brincavam e corriam a toda volta. Entravam e saíam das vielas, rindo, como se a última coisa que quisessem fosse voltar para casa.

Naquele momento, os lampiões, dispostos nas entradas de cada casa, começavam a ser acesos. Sakura adorava passear pela vila à noite por causa deles. No céu, as estrelas completavam o festival de luzes.

- Na cidade não é possível ver um cenário tão lindo. – disse Sasuke, depois do longo silêncio.

A garota ficou em silêncio. Não se sentia confortável em conversar sobre as terras sob o domínio do Imperador. Parecia um lugar sombrio e infeliz. As luzes de um lugar assim de fato nunca seriam como as luzes que agora iluminavam seu caminho.

- Lá não é tão ruim quanto devem dizer por aqui. – o rapaz disse, como que lendo os pensamentos da garota. – É só um modo diferente de vida. Tudo depende do modo como você vê a coisa toda. Mas eu entendo. Sempre temos daquilo que não conhecemos. Lá as crianças também brincam, as mulheres conversam alegremente, os homens trabalham. As pessoas se apaixonam.

Ela se sentiu ofegar. Pensou em levantar o olhar para tentar avaliar se o que ele estava dizendo poderia fazer referência a ela, mas naquele momento um grito de horror reverberou pela Vila. As crianças pararam subitamente de correr. Os habitantes que estavam dentro de casa saíram para a rua. Dois a dois, quatro a quatro, até que todos estavam fora de casa, os rostos cheios de preocupação. Sasuke imediatamente colocou uma mão à frente de Sakura e virou-se para o portão da vila. Ele então analisou a multidão. Parecia estar procurando alguém.

Mais à frente, um amontoado de pessoas começou a se formar. Sasuke e Sakura caminharam o mais rápido que puderam para ver o que estava atraindo a atenção. Quando chegaram ao local, Sakura prendeu a respiração e segurou firmemente no braço de Sasuke.

À primeira vista, Sakura achou que o homem estava flutuando à frente da janela. Mas então percebeu que havia uma corda amarrada a seu pescoço, segurando-o. A cabeça estava abaixada e ele não dava sinal algum de mover-se O homem parecia ter pulado da janela, com a corda amarrada, cometendo então o suicídio.

- Sobanki. – disse Sasuke, identificando o homem.

Sakura sentiu um frio na espinha. Aquele era o nome do forasteiro que a atacara na noite anterior.

- Sakura, você está bem?

A garota sentiu uma mão no ombro. Virou-se e viu Naruto. O garoto estava ofegante.

- Assim que ouvi o grito, corri à sua procura. Fiquei preocupado. – ele disse, abraçando-a.

Naruto olhou para o homem morto, estendido na janela. Dele, mudou o olhar para Sasuke. Os dois se encararam por um momento. Sakura pensou se aquele olhar seria alguma desconfiança do loiro sobre Sasuke, mas como poderia ser? Era evidente que aquele homem havia se matado. Além do mais, Sakura esteve com Sasuke durante a hora do ocorrido.

A garota então lembrou-se do que o jovem forasteiro havia dito a ela mais cedo. “Você não deveria confiar em mim tão facilmente.” Sentiu Naruto apertar o abraço. Abraçou-o mais forte.


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Notas finais do capítulo

Mas então, você que acabou de ler, confia no Sasuke?