“O que houve, Katniss?” – perguntou Peeta.

“Eu matei os pais daquela garotinha, como se não bastasse ela vai morrer também agora.”

“Você se sente culpada. Verdadeiro ou Falso?”

“Verdadeiro.”

“Você não precisa se sentir assim, Katniss. Afinal não é sua culpa que os pais da menina estão mortos, e não é culpa sua que ela foi sorteada.”

“Será Peeta?”

“Não tem será Katniss. É pela Prim. Eles merecem.”

“Sim, tem razão.”

Ele me abraça fortemente, Peeta deve ter sofrido mais do que qualquer um de nós. E ainda assim, continua como sempre foi. E nem o telessequestro pôde muda-lo completamente. Ele se afasta de mim e me dá um beijo na testa e diz:

“Katniss, você é o Tordo, você é aquela que superou tudo, tudo mesmo. Mas mesmo assim, prevalece firme.”

“Matar de novo, me traz pesadelos.”

“Não é só para você.”

“Não é só a garotinha que me sinto culpada, todos os nossos companheiros morreram pela merda de Tordo.”

“Eles morreram pela rebelião, pela liberdade.”

Eu sinto lágrimas transbordarem de meus olhos, pois me lembrar de que todos morreram por minha causa, é duro demais. É como se de tudo que você já imaginou de ruim acontecesse na realidade, não saber o que é mentira ou verdade. A mentira,melhor que a realidade, pois a realidade é o pior dos Jogos, é a vida.

“Não chore pelos que estão mortos, chore pelos que estão vivos, mas sem amor.”

“Como você consegue?”

“O que?”

“Ser tão perfeito com a mulher dos seus pesadelos.”

Ele apenas riu.

Me abraçou mais fortemente e disse quietamente nos meus ouvidos:

“A questão é que mesmo que você seja a mulher dos meus pesadelos, sempre será a mesma Katniss que me salvou um milhão de vezes da morte.”

Não sei o por que toda a vez que dizem que não sei o impacto que causo, fico triste. Me dá uma sensação de não me conhecer, como se talvez minha vida estivesse mais fora de meu controle e no controle de outras pessoas.

No dia seguinte, acordei sozinha e tarde. Peeta não estava deitado ao meu lado, o que é muito estranho. Vesti uma blusa, calça, botas e a jaqueta de caça de meu pai. O único ser vivo que estava naquela casa, além de mim era Buttercup. Que estava em frente á lareira apagada se lamentando pela morte de Prim. Olhei pra ele e perguntei:

“Não é só você que está á lamentar, Buttercup.”

Ele fingiu que não tinha me ouvido e continuou á miar baiinho.

Peguei o arco e flecha e sai de casa, nenhum ser vivo lá fora também. Fui á casa de Haymitch, nada do bêbado maldito. Só um bilhete:

“Katniss docinho,

Eu, Gale, Peeta, Effie e mais todo mundo foi para a Capital. Querem gravar entrevistas com as crianças, mas da mesma maneira que gravaram o seus vídeos da rebelião. Pedi para Peeta, lhe dar algum remédio para dormir muito. Desculpe, docinho você iria pirar se falasse sobre mortes com crianças que vão morrer.

                                                            Haymitch.”

Li diversas vezes o recado e não acreditei.